Oileán - a trí
Aeron fora o deus caído. Abandonado por os seus, preso em seus segredos, e dividido em suas lealdades e escolhas até o fim.
Castiel fora o anjo traído. Ele havia escolhido a quem colocar sua lealdade desde o início. E havia morrido sozinho e em agonia por isso.
Ian era o sobrevivente. Ele havia feito a escolha que desafiava todo o seu destino, mas nesse ponto havia sido tarde demais.
Isaak era o lutador. Ele só havia conhecido dor a vida inteira, e ainda assim amara com tudo o que pudera, até o último minuto. Sua ruína foi confiar na pessoa errada.
Steve era o excepcional. Ele havia feito tudo contra o destino, tudo o que não se esperava dele. Ele sempre seria o meu favorito, e sempre partiria mais meu coração. Porque Steve lutara até o último segundo, e não havia sido o suficiente.
Rodolfo era o benfeitor. Ele amara os três, ele cuidara dos três. Ele lutara pelos três. Ele perdoara os três. O destino daquela vez, no entanto, não estava nas suas mãos.
E eu?
Eu era o teimoso. E acreditem ou não, a teimosia Uzumaki pode ser uma arma mais poderosa do que a maldição de uma deusa do destino rancorosa.
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A PORTA SE FECHOU PESADAMENTE ATRÁS DOS QUATRO. Davlin mantinha um agarre forte no braço de Aeron, andando em passos largos durante todo o caminho desde que saltaram dos cavalos. Noland vinha logo atrás, Ewen com uma mão calmante em seu ombro, tentando o impedir de interferir e piorar toda a situação.
—Por que interferiu? O que pensas que estás a fazer, Aeron?!
A voz de Davlin era fria e cortante, como vinha sendo nos últimos tempos. A expressão de Aeron não mudou com isso. Os olhos azuis pareciam ainda mais cinzentos, a boca em uma linha reta irritada.
Atrás dele, Noland parecia incerto entre concordar com o tio ou ficar irritado pela forma como ele segurava o braço do outro rapaz com violência. Ele também estava irritado como Aeron. Ele havia tirado sua autoridade em frente a todos, interferido com uma punição e ainda humilhado todos os soldados ao redor.
As pessoas já comentavam sobre ele. Havia rumores sobre sua influência com o líder de templo, sua influência em todos eles. E agora ele piorava tudo, e pelo quê?
—Aeron, era só um selvagem. Ele havia nos contestado!
—Um selvagem? — a voz dele era fria. Os olhos saindo de onde encaravam os furiosos de Davlin para o seu rosto. — Davlin contou de onde eu vim, Noland? Que eu também sou um selvagem, como tanto falam?
—Você não é um deles, Aeron. — Davlin puxou seu braço novamente, em um aperto forte. — Vocês dois, saiam.
Ewen que até então estava calado fitou Aeron de forma preocupada. Ele o conhecia bem o bastante para ver a expressão homicida por trás daqueles olhos.
—Eu não acho que...
—Saiam! — O grito os fez pular levemente. A expressão de Davlin era de puro ódio, e sabia que não era apenas pelo que havia acontecido essa manhã. Era um acúmulo de muitas coisas. Ainda assim não temia por Aeron, como Noland fazia: Ele temia por seu tio. Ele não fazia ideia do que Aeron era capaz.
Quando a porta se fechou atrás dos dois, Davlin empurrou o outro contra a estante, o rosto ainda mais furioso. Aeron nem mesmo piscou, os olhos nos seus eram frios como uma geada, e isso o deixou ainda mais irritado.
—Isso é um jogo para ti? Meus sobrinhos a teu lado, mesmo Noland hesitou hoje, por tua causa.
—Não faço de um hábito jogar com a vida de ninguém. — A voz dele foi cortante. — E Noland nada tem a ver com o que aconteceu, sabes disso.
—Então agora faz de hábito desobedecer-me?
—Quando suas ordens não fazem sentido. Como torturar um homem em praça por não se ajoelhar a teu Deus.
O empurrou mais forte, a cabeça dele batendo contra a estante. Sua mão segurou o pescoço do rapaz, e podia sentir na sua palma ele engolir. Os olhos, no entanto, eram desafiadores.
—Agora ele é apenas meu Deus? Esqueceste de tudo o que fiz por ti, Aeron?
—Eu não estava ciente que iria me cobrar depois.
—Então me desafias? — A voz dele era mais baixa em seu ouvido. — Devia esperar que me morderia, víbora. Eu vejo a forma como meus sobrinhos olham a ti, eu vejo como desvia Noland do caminho, como o tenta fazer deixar o que é dele de destino. Como o jogou no caminho do pecado, como um demônio vindo do inferno.
Aeron o fitava em silêncio, a expressão indecifrável, mesmo quando apertou o pescoço dele com mais força. Ele sempre o desafiava, sempre.
—Devia ter o deixado naquela floresta para morrer ainda menino, teria me poupado de todo o caos que causas. Eu vejo a ti, não penses que... — seus olhos foram de forma involuntária para a boca vermelha. Podia sentir o hálito dele em seu rosto, o corpo quente contra o seu. Uma de suas mãos saiu do pescoço macio e desceu pelo ombro do outro, que se retesou com o toque. Sua voz baixou para um sussurro, a respiração mais descompassada. — Eu vejo como...o que fazes comigo. O que faz com que eu...
—Davlin... — a voz soou cautelosa dessa vez, os olhos cinzentos se abaixando para a forma como eles estavam tão próximos. Sentiu o nariz de Davlin abaixo de sua orelha, tocando de leve sua bochecha, o corpo se colando mais no seu. — Me largue.
Davlin piscou e sua mão se abriu, o outro saindo do seu agarre, afastando alguns passos, o rosto cauteloso e arisco.
—Eu realmente... — Aeron parecia abalado pela primeira vez na noite, suas palavras falhando. Davlin olhava confuso para a própria mão, sua mente enevoada. Seus olhos se arregalando com o que estivera bem perto de fazer. — Eu realmente sou grato por tudo o que fizestes por mim, Davlin.
—Aeron...
—Mas talvez essa seja a hora de partimos em caminhos diferentes.
—O quê? — Seu queixo trincou, a raiva novamente o tomando. — Tu não vais sair desse templo.
Aeron o fitou. E naquele momento sentiu uma força estranho no olhar do outro. Os olhos cinzentos tempestuosos o fitaram como se não fosse nada além de um inseto na parede, que poderia ser facilmente esmagado.
Pela primeira vez na vida, sentiu medo da criança que havia criado, e deu um passo para trás.
—Nunca foi, e nunca será tua escolha, Davlin.
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O gigante era como uma sombra protetora na frente dos dois. Ocasionalmente Naruto conversava baixo com o grandão, na língua natal deles, com uma fluência invejável.
Sasuke apenas olhava fascinado, mesmo que um pouco irritado por deixarem-no de fora do assunto, curioso. Isso era até Naruto apertar sua mão como se se assegurando de que ele estava a seu lado, de que tudo estava correto. Só então Sasuke relaxava, apenas ao som baixo da voz suave de Naruto, cantarolando palavras sem significado algum para si, por entre os túneis gelados.
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Danzou repetia pela décima vez o vídeo, os olhos de um homem já experiente capturando cada detalhe, antes da câmera ser desligada. Na tela do iMac, podia—se ver com nitidez o jovem loiro correr pela relva, completamente em pânico, ele não tinha nada em mãos, nada que pudesse ser uma arma então... Ele erguera o braço e a câmera ficara inoperante. Fora o momento em que toda Exos tivera uma queda de energia forte.
E ele sabia muito bem o motivo.
Se virou na cadeira, para o homem que estava encostado em uma mesa a poucos passos, seus olhos apertados em sua direção, os braços cruzados a frente do corpo, evidenciando os bíceps fortes.
— Acho que eu fui burro em te designar para cuidar desse lugar, Nagato. Você sempre soube que teríamos aqui um grande potencial, e ainda assim não previu um ataque... — foi interrompido pelo ruivo que se levantou.
— Como eu preveria algo assim? Eu fiz sim ajustes nessa parte, Exos sempre deu bons exemplos de ser acima de falhas, mas dessa vez foi algo fora de planilhas, Danzou. O que atacou nosso sistema e destruiu os capacitores de energia da ilha foi uma carga muito mais forte do que poderíamos sustentar. Talvez, mais forte do que qualquer outra carga que eu já tenha visto.
A essa altura Nagato já caminhava pela sala, o rosto iluminado pelas dezenas de monitores que ocupavam as paredes, ligados em dezenas de dados sobre a ilha. Estavam reerguendo todo o sistema devagar.
— Então está dizendo basicamente o que garoto causou uma descarga elétrica descomunal, sozinho? — Nagato continuou de costas para o mais velho, não queria ver como ele reagiria com a informação. Não queria saber o que ele planejava. — Ele teria esse poder?
— Eu não sei. Aparentemente.
Nagato não pode ver, mas Danzou sorriu. Seu olhar indo para o monitor, onde a imagem de Naruto estava pausada, o rosto bonito em desespero, o braço esticado.
Aquilo estava cada vez melhor.
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Com apenas algumas horas eles descobriram porque tinham que ser silenciosos e cuidadosos. Sasuke podia reconhecer aqueles rosnados em qualquer lugar. Eram as bestas que haviam o atacado na floresta. Sentiu seu corpo ficar tenso, eles pareciam vir das profundezas da galeria, ecoando pelas paredes, mas sem aproximarem-se de fato. Sasuke não entendia o porquê, mas ficava grato.
Eles andaram mais depressa.
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Eram errantes. Homens que haviam entrado na galeria buscando alcançar o outro lado da montanha. O ataque foi rápido, e eram muitos, cerca de quinze. O grandão cuidou da maioria, mas foi Naruto que o surpreendeu. De repente o viu escalar um deles, quase tão grande quando o gigante, com uma rapidez e fluidez impressionantes, enquanto Sasuke lutava contra outro, tentando fugir de uma lança aparentemente envenenada da melhor maneira que podia. Ele apenas subiu pelo tronco do outro, rápido e certeiro, as pernas enrolaram-se nos ombros do homem como uma criança brincando nos ombros do pai. Quando as mãos pequenas seguraram a cabeça lateralmente, Sasuke viu um relance dos olhos de Naruto. Não havia nada ali quando ele torceu a cabeça, e quase podia ouvir, acima do barulho da luta, o barulho característico do pescoço que se quebrava. De forma limpa, rápida e assustadora.
Tão distraído estava que foi pego, golpeado por trás. Caiu no chão zonzo e viu os olhos azuis assustados e raivosos de relance, ele já estava ao seu lado quando seu corpo bateu contra as pedras. E então rosnados. As bestas chegavam atiçadas pelos sons da luta. Sasuke ficou paralisado por instantes, lembrando do que passara fugindo daqueles monstros. A luta parou, todos estáticos, sabendo que qualquer movimento atrairia o ataque.
Ouviu um sussurro em irlandês, e virou o rosto no chão a tempo de ver Naruto com uma mão levantada, igual vira perto da cerca, os azuis focados em algo atrás de si, o maxilar trincado. Virou devagar e viu que as bestas tinham parado. Como antes. Como se esperando uma ordem.
E ela veio por um silvo baixo em irlandês.
Viu quando elas se viraram, rosnando, em direção aos atacantes. A mais próxima saltou no homem que o atacara, e antes que fechasse os olhos, viu que ela arrancara um braço, sangue voando pelas paredes iluminadas pelas tochas dos homens, esquecidas no chão. Havia gritos e o som da voz de Naruto, em comando, firme e impetuosa. As atiçando.
Quando tudo acabou, havia sangue em todo lugar.
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Por alguns segundos, Sasuke ponderou quando Naruto aprendera a matar e continuar com o rosto tão frio.
Ele nunca perguntaria isso a ele.
Porém nunca esqueceria daquela cena na vida.
Naruto era poderoso. Muito mais do que jamais imaginara.
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O Namikaze desmaiara depois dessa luta, parecendo drenado.
Quando acordara nos braços do gigante, Sasuke viu que ele tossia sangue, mesmo dizendo que ficaria bem.
Nenhum dos dois acreditava nisso.
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Era o poder. Talvez uma mutação. Sasuke não entendia. Como Naruto parecia ter controle sobre as bestas. Como eles conseguiam por vezes se comunicar sem falar. Olhou para Naruto, sendo carregado pelo gigante ao seu lado. Parecia surreal como alguém tão poderoso poderia ser também tão frágil e delicado. Como não o fazia sentir mais medo, apesar de toda lógica lhe indicar o contrário.
Não sentia medo de Naruto. Sentia por ele.
Os olhos azuis estavam nos seus, cansados e curiosos, mas o observando. Então ele sorriu de leve.
"Venha. Você vai saber de tudo."
Aproximou-se de onde o outro estava aninhado. O gigante os ignorou, olhando para frente, em vigília. Apenas diminuíra os passos, para Sasuke caminhar a seu lado.
—Tudo começou pouco tempo depois que cheguei no colégio, e encontrei uma cabana na floresta...
A voz dele era baixa, embora, segundo o gigante, não houvesse mais bestas ali, ou perigo de invasores. Ele lhe contou praticamente tudo, exceto sobre os dons estranhos, a conexão incomum entre os dois. Parecia ser uma história ainda mais longa e dolorosa, e quando ele piscou os olhos, Sasuke permitiu que dormisse, que ficasse para depois. Fora mais por ele do que por Naruto, se pudesse admitir. Não que já não soubesse, que tivesse percebido que aquele jogo significava mais do que lhes foi dito. Foi todo o resto. Gaara e todo o resto... Já ouvira dor o bastante por hora.
Se sentira impotente demais com tudo o que ele sofrera naquele colégio por uma vida inteira.
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Era estranho para o Uchiha, confiar em outra pessoa assim. Mesmo que ele tivesse salvado Naruto e a ele mais de uma vez agora, não era da sua natureza confiar, mas não tinha escolha no momento. Seguiu o gigante de perto, saltando as pedras enquanto ele abria caminho, com Naruto aninhado como o bebê em seus braços. A falta de contato com ele era quase uma dor física naquele momento, mas sabia que não poderia o levar com conforto como o outro fazia.
A caminhada durou uma eternidade e quase bateu nas costas do outro quando ele finalmente parou. Ficou alerta enquanto ele pareceu farejar o lugar, e então grunhiu algo. Naruto estava calado, talvez dormindo. Ele parecia cansado. Seja o que for que tenha feito no ataque, aquilo pareceu piorar sua saúde mais do que deixava transparecer.
Seguiu o gigante quando ele afastou umas pedras, e o que viu foi uma gruta escondida por entre elas, indicando o fim da galeria e bem mais à frente o início de outra. Entraram lá, caminhando por mais algum tempo, em silêncio. Foi quando chegaram a um lago cristalino dentro das pedras, provindo das profundezas. Havia uma luz tênue que vinha de cima, da abobada, mas era tão longe que apenas chegava a ele por conta dos cristais que a refletiam. Deviam estar bem dentro da montanha agora.
Tinha que confiar que aquele lugar era seguro. Notou que havia alguns pertences perto das paredes de pedra. Armas, mantas, peles de animais. Era ali que aquele cara vivera até então, que sobrevivera todo aquele tempo. Podia imaginar a razão, ninguém acharia aquele lugar tão fácil, sem acabar perdendo-se pela galeria de pedras, ou devorado pelas bestas.
Parou de observar quando o grandão se agachou, colocando Naruto no chão com um cuidado extremo, como se manejasse um pedaço de vidro. Só então notou que o garoto estava acordado, grogue, olhando ao redor. Quase riu da maneira que ele esfregava os olhos, perguntando algo baixo em irlandês ao outro, atordoado pelo sono. Então virando e perguntando o mesmo a Sasuke.
—Não falo irlandês. —lembrou-o, já a seu lado, o apoiando. Naruto fez uma cara envergonhada por isso, tapando a boca. E Sasuke ouviu o grandão grunhir o que pareceu uma risada. — Vem, precisamos de um banho.
Naruto não protestou, o seguindo docilmente, se apoiando em seu corpo. Novamente, tão diferente do ser poderoso que os salvara horas atrás. Ele devia estar mesmo doente para isso.
O despiu com cuidado perto do lago, tentando ignorar os olhos nos dois, deixando Naruto apenas na roupa debaixo. Procurou por ferimentos mais graves, mas ele estava sujo demais para se ver com clareza. Também se despiu, e o colocou nos braços, entrando na água. A cabeça dele se aninhou em seu ombro e suspirou.
Tremeu. A água estava gelada, mas com o movimento foi se acostumando. Isso e a vontade que tinha de um banho.
— Está um pouco fria, mas precisa aguentar. — Avisou suavemente, abaixando Naruto na água. Riu ao ouvir o que pensou ser um xingamento, e ele agarrou-se mais em seu ombro tentando fugir, como um gatinho. — Shh.
— Sasuke... — ele reclamou.
— Precisa ficar limpo.
Por fim conseguiu abaixá-lo. A água que estava um pouco abaixo de seu peito, batia nos ombros de Naruto e tentou não rir com isso. Ele não apreciaria. Com cuidado lavou o cabelo sujo de terra, jogando água, enquanto Naruto se apoiava em seu peito. Depois esfregou a pele, finalmente conseguindo ver os machucados arroxeados pelo corpo, iguais aos seus na verdade. Porém, aparentemente não havia nada tão grave quando suas mãos. Evitou tocá-lo abaixo da cintura, por motivos óbvios, e voltou as mãos. Removeu as faixas ensopadas, e notou que a ferida parecia ainda mais feia do que antes. Uma delas parecia esverdeada. Infeccionada. Tinham que sair dali logo e conseguir antibióticos, antes que chegasse a uma infecção sanguínea.
— Sasuke... — Naruto o olhava, e se recompôs, voltando a limpar o ferimento, ouvindo os gemidos baixos.
—Não está tão ruim, na verdade.
—Mentiroso. — Naruto riu. — E suas queimaduras, elas...
—Estou bem.
Após cuidar das mãos dele, deixando no ponto de enfaixá-las, cuidou de si mesmo, deixando que Naruto lavasse o resto de si. Lavou seus cabelos, catalogou seus ferimentos. Ao cabo de minutos, Naruto voltou a apoiar-se em seu peito, cansado novamente, quase sonolento.
—Quer sair da água?
Ele negou com a cabeça e Sasuke o fitou, o segurando pela cintura. O cabelo molhado estava ao redor do rosto muito pálido. Ele parecia tão jovem assim. Não parecia mais velho do que ele. E tentou não pensar em tudo o que ele tinha passado por conta das chantagens, de Obito e todo o resto. Sobre tudo o que ele sofrera esse tempo, e como fora idiota.
Sentiu uma mão em seu rosto, cuidadosa.
—Você está pensando demais. — Naruto murmurou, com um sorriso cansado. — Não pense nisso agora.
—Você está ouvindo.
—Não preciso para saber que está queimando seus neurônios. — Ele brincou e Sasuke balançou a cabeça, o pegando no braço. —O que...
—Relaxe. — falou baixo. — Confie em mim.
Os azuis o fitaram profundamente, e ele assentiu, fechando os olhos. Sentiu um calor no peito com isso. Ainda não acreditava que ele estava confiando em si. Que lhe contara tudo aquilo. Que contaria ainda mais.
Sasuke o deitou, o fazendo boiar, apenas o apoiando de leve pelas costas. O fez esticar os braços, o movendo devagar. Ouviu um suspiro satisfeito e sorriu. Ficaram assim por alguns minutos. Seus olhos não saiam do rosto satisfeito do outro, até que abaixou-se, o rosto perto.
—Naruto...
Os olhos abriram-se e Naruto piscou surpreso com a proximidade, mas então sorriu, permitindo.
O beijou com calma, os braços agora o sustentando, o puxando um pouco acima da água. Era como se suas forças voltassem. Suas dores sumissem por alguns instantes. Sentiu as mãos abraçando seu pescoço, conseguindo se erguer mais, o beijo se tornando mais intenso, numa mistura de respirações rápidas. Enfim findou o beijo com cuidado, a cabeça do outro indo de volta a seu ombro, dando um beijo leve lá antes de recostá-la, cansado.
Quando Sasuke o tirou da água, ele já dormia novamente.
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—Vá para casa, Ewen.
Fitou os olhos cinzentos com alívio e receio. Havia procurado Aeron por dias na floresta. Tudo estava um caos ao redor. No templo chegavam mais soldados, e naquele ponto Aeron seria preso se fosse encontrado. Mesmo que não tivessem provas sobre quem estava interferindo nas missões, quem estava por trás das rebeliões que ocorriam. E desde quando a igreja precisou de provas para punir alguém?
Aeron que havia o encontrado no fim.
Se colocou firme, fitando o outro com a mesma intensidade.
—Não.
Aeron franziu o cenho.
—Eu estou a teu lado. — Continuou. — Me deixe ajudar.
A expressão de Aeron ficou confusa, e então ele sorriu levemente. Se aproximou hesitante. Estavam em uma parte remota da floresta, e nem mesmo tinha certeza se conseguia voltar sozinha naquele ponto, mesmo que tentasse.
Parou na frente ao outro. As roupas dele estavam diferentes de quando ele partira. Eram escuras, com peles animais. Havia uma barba em seu rosto pela primeira vez. Ele parecia menos civilizado, mais selvagem. Ele parecia mais livre do que o tinha visto desde que o conhecera pela primeira vez.
—Não sei o que faço contigo. — A voz foi suave, a expressão menos repreendedora. A mão quente tocou seu rosto e Ewen fechou os olhos com o carinho. — Realmente não sei.
—Me deixe ajudar. Me deixe ficar.
—Tu escolhes a mim, contra tua própria família. — A voz de Aeron era triste agora. — Não há hesitação nenhuma. Se ao menos...se ao menos tudo fosse diferente.
Quando se aproximou ele não recuou, ou pareceu surpreso. Eram quase da mesma altura, por isso em um passo apenas e já segurava o rosto do outro entre as mãos. Sem hesitar, sem esperar para ver sua expressão, encostou os lábios nos seus, primeiro devagar em tentativa, logo mais intenso.
Era a primeira vez que beijava alguém.
Havia culpa, mas a enterrou fundo, porque Aeron não estava recuando ou o rejeitando. E quando findou o beijo, o abraçou forte, sentindo a mão dele quente em suas costas, o suspiro dele perto do seu ouvido.
—O que eu vou fazer contigo, Ewen? — a voz foi baixa, triste. Seu coração se comprimiu e fechou os olhos. — Tu escolhes a mim acima de tudo, e eu confio em ti acima de qualquer um. Seria tão mais fácil se a escolha não tivesse sido feita por meu coração já há tanto tempo.
Sentia lágrimas no canto dos olhos e apertou o outro mais forte ainda. mesmo que estivesse esperando aquilo, sentiu seu coração se partir em pedaços.
—Há algo que quero que veja. — A voz de Aeron era suave, as mãos acarinhando suas costas. — Quero que veja, e que entenda minha razão. Quero que saiba que no meu coração o que sinto por você é forte o bastante para te colocar a par do meu maior segredo, mas...
—O que sente por Noland é maior. — Sua voz não saiu com a amargura que sentia, mas não conseguia esconder toda a tristeza. Aeron não confirmou, e nem precisava. Ele sempre soube que seria Noland. Mesmo que Noland estivesse do lado de Davlin contra Aeron. Mesmo que Noland não estivesse fazendo nada para impedir aquela caça às bruxas contra a pessoa que amava. Mesmo que Noland não merecesse Aeron, sempre seria ele.
O pior de tudo, é que ele sabia que Aeron estava sendo sincero, e que parte sua realmente correspondia ao amor que sentia. Ele havia visto isso. E havia tido esperanças.
E agora...o que fazer?
Sentiu os lábios dele em sua testa, e então ele o afastou, os olhos cinzentos tristes nos seus.
—Venha comigo, vou te mostrar algo.
E apesar de tudo, ele seguiu Aeron. Para as profundezas da floresta, dentro de grutas desconhecidas, onde seria o guardião do maior segredo de um deus caído.
Ewen sempre seguiria Aeron.
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Estava exausto, mas não dormiria. O gigante havia sumido pelos túneis com uma lança e um facão, e não cometeria o mesmo erro de deixar Naruto desprotegido. Observava o rosto adormecido em cima das peles, agasalhado, e mesmo durante o sono ele parecia tenso. Passava os dedos nos cabelos claros e ainda úmidos de forma automática, enquanto finalmente parava para processar tudo aquilo que acontecera, e tudo o que Naruto lhe contara até agora.
Ele sabia que o outro tinha resumido tudo, amenizado muitas coisas, e ainda assim... era tudo tão horrível. Não imaginava como uma pessoa podia ser tão maltratada pelo destino como Naruto. Todas as coisas ruins aconteciam com ele.
Ele era um ímã para coisas ruins.
Fechou os olhos e balançou a cabeça. Não podia pensar nisso agora, sentia a raiva lhe tomar, e sua raiva era perigosa. Havia aquela fúria dentro de si, que o fazia se descontrolar. Lembrava da fatídica noite com Naruto, como essa raiva o tomou mesmo sem motivo, e como foi acordar dela com Naruto sangrando abaixo de si, os olhos apavorados.
Desde aqueles sonhos...os sonhos com Naruto no templo, aquela voz havia sumido. Suas emoções pareciam mais em controle, mas não podia relaxar. Não cometeria os mesmos erros de antes. Ele nunca mais queria ver aquela expressão de Naru na vida.
—Sasuke...
A voz suave o fez desviar o olhar da parede de pedra para baixo. Naruto o olhava de forma preocupada. O rosto estava corado pela febre, exausto. Ambos estavam muito machucados, nem mesmo sabiam como haviam conseguido se manter até ali, se não pela força de vontade.
No todo estava com algumas costelas trincadas pelo golpe do ruivo, só agradecia por não ter nenhuma fratura. Suas queimaduras doíam, mas estavam bem limpas. Suas costas doíam em demasia devido ao golpe nos túneis, e sentia falta de ar quando se movia demais.
O estado de Naruto o preocupava mais. Sabia que a febre vinha da infecção de suas mãos, mas não tinha certeza em relação a hemorragia. Temia que uma das costelas havia sofrido uma fratura sobre as outras já existentes, e estivessem perfurando algum órgão. Ele parecia tão drenado desde a última luta, que não tinha certeza de que ele conseguiria ao menos andar sozinho se preciso.
Não podiam se meter em mais nenhum conflito até o final daquela prova.
—Ei. —respondeu passando os dedos no rosto quente do outro de forma preocupada.
As sobrancelhas foram franzidas enquanto ele olhava ao redor, confuso. Até que pareceu lembrar de tudo e suspirar.
— Deartháir Beag?
—Saiu há meia hora pelos túneis. Acho que vai caçar, não entendo o que ele fala.
Naruto sorriu com o tom mal-humorado do outro com isso. Sasuke odiava não saber das coisas. E havia tanto que ele não sabia. Seu sorriso morreu.
—Naruto?
Naruto tentou sentar-se e foi ajudado, recostando as costas na parede fria com um suspiro satisfeito com a sensação. Era difícil encontrar um lugar em que não estivesse sentindo dor no momento.
—Sasuke...eu quero te contar algumas coisas sobre... — ele fez um gesto com a mão para os dois. — Sobre tudo isso.
Sasuke sentiu seu coração acelerar, mas manteve seu rosto sério.
— Naruto...se for muito doloroso... — se obrigou a dizer ao ver o olhar angustiado no outro.
— É doloroso. — O mais velho fechou os olhos por alguns segundos. — Muito doloroso. E...absurdo. Mas você precisa saber.
Ele abriu os olhos e focou nos seus, mas pareciam não o ver, distantes.
— Inacreditável.
—Naruto... —suspirou tocando o rosto quente, tentando fazer aquela expressão distante focar em si de verdade. — Eu consigo ouvir o que você pensa às vezes. E eu acho...os sonhos que eu tive antes da ilha. Era você lá, não era?
Os olhos dele ficaram surpresos.
—Você lembra?
Sorriu. Então estava certo: — De cada detalhe, cada segundo. — Naruto também sorriu levemente com isso. — Eu vi você controlar bestas, destruir uma cerca, e começo acreditar que aquilo que aconteceu no colégio quando anunciaram sobre Gaara...Foi você, não foi?
Ele assentiu devagar, procurando algo em seu rosto. Talvez medo. Sasuke estava com medo, mas trancou isso. Lembrava das luzes e janelas explodindo, do caos.
—Então...nada vai me fazer duvidar. Eu tenho crenças Naruto, diferente das suas, mas não sou um cético. Eu sei que há algo...sobrenatural em tudo isso. Se você fosse do meu país, minha mãe diria que você é um yokai.
Sasuke riu sem humor. Os olhos de Naruto ficaram vidrados por um momento.
"— Você é um yokai Steve.
—Não seja bobo, Rymura!"
Piscou e pelo olhar surpreso de Sasuke, ele havia ouvido aquilo também.
—O que...isso...
Naruto balançou a cabeça.
—Eu sei que o que vou te contar agora...Sasuke... — ele tocou sua mão de leve, a voz calma, mas os olhos ansiosos. — Eu sei que vai parecer absurdo. Mas eu preciso que me escute até o fim. Eu sei que pedir para que confie em mim depois de tudo é muito...
—Naruto. — falou tentando parecer calmo, ainda chocado pelo que acontecera segundos atrás. Via um rosto na sua mente, o rosto de Naruto, mas não era Naruto. Os cabelos eram mais escuros, os olhos de um azul esverdeado. Mais alto, com um sorriso aberto que nunca vira em Naruto.
Steve.
Balançou a cabeça ouvindo ainda a risada clara em sua mente. Voltou a fitar seu Naruto, os olhos que haviam fugido dos seus novamente o encarando.
— Eu estou ouvindo.
—Certo. — A mão apertou a sua. — Certo.
Ele ficou calado por alguns segundos, olhando os dedos entrelaçados, e então voltou os olhos aos seus. Decidido a como começar.
— Meu pai nasceu na Irlanda, ele veio para a América apenas um menino, junto com meus avôs. Meu avô fez de tudo para que ele mantivesse parte da cultura do povo dele. Por isso, eu cresci ouvindo histórias sobre fadas, guerras, conquistas, invasões. Eu sabia falar uma língua quase morta, antes mesmo de aprender o inglês...E havia uma delas, que me fascinava. Eu nunca soube o porquê. Sobre o quinto povo que habitou as nossas terras, milênios atrás. Hoje conhecido com o povo de Tuatha de Danann.
Sasuke se pegou absorvido da história, na voz calma de Naruto. Mesmo que ainda não entendesse onde ele queria chegar, a voz dele o prendia nas palavras, os olhos azuis ainda mais misteriosos nos seus.
—Muitas consideram eles como o verdadeiro povo irlandês, e ainda mais...como o povo divino. — Ele pausou, o sondando, para então continuar. — O reino deles findou com a invasão de bárbaros além-mar, o Milesianos. Foi uma luta sangrenta. Sangue jorrou naquela terra, Sasuke...eles resistiram, mas era impossível. Estavam cercados por todos os lados, perderam tantos...E depois de resistirem a tantas outras invasões, eles tiveram que escolher. Morrerem todos no campo, ou terem outra chance. Eles deixaram de habitar esse mundo.
—Eles morreram? — Sasuke perguntou, confuso e curioso. Havia um brilho em Naruto, e a maneira como ele falava...parecia que ele estivera lá, que vira tudo aquilo. Sentiu um arrepio lhe percorrer a espinha.
—Não. Eles passaram a viver em...outra dimensão. — Novamente aqueles olhos os sondando, procurando por algum deboche, que não veio. — Mas eles possuíam ainda a habilidade de transitar entre outras realidades, de romper o véu entre os dois mundos. Para o povo irlandês, eles são deuses, imortais. Com habilidades extraordinárias, de onde descendem os grandes guerreiros da história. Eles eram os protetores de nosso povo, do verdadeiro povo irlandês. Eram cultuados até a invasão dos romanos, onde o cristianismo foi instaurado e o povo perseguido por heresia..., mas isso é outra história. — Ele pareceu desconfortável com isso, então balançou a cabeça. — O povo de Tuatha de Danann, dentre eles havia um guerreiro. E é por causa dele que lhe contei tudo isso, até agora.
Naruto desviou os olhos dos seus dessa vez, olhando o lago. A luz que vinha de cima era da lua, que passava pelos cristais. O resto era penumbra.
— Ele era um dos habitantes que transitavam entre os dois mundos. Um protetor, certo de tentar manter os descendentes de seu povo. Ele, porém, odiava os bárbaros, os invasores. Por terem expulsado seu povo, por terem sangrado a terra sagrada, e aberto as portas para outras invasões. Odiava cada um deles, e esse ódio foi sua ruína. Seu nome... — Ele o fitou, longamente. —Era Aeron.
Sasuke sentiu o nome verberar em sua cabeça. Sua mão foi a seu peito sem perceber. Conhecia esse nome. Olhou Naruto confuso pela própria reação, e o outro lhe olhava de modo triste.
— Seu nome foi quase totalmente esquecido. Meu avô mesmo, dele sabia pouco. E poucos sabem sobre sua tragédia.
Naruto suspirou, parando por quase um minuto. Sasuke não sabia se para juntar suas ideias, ou algo mais. Quando a voz dele voltou, estava mais tensa.
— Havia uma pequena aldeia perto da floresta. Era um povo ainda com a cultura original. Com seus cultos intactos, que permaneciam a suas raízes mesmo ameaçados de heresia pelo novo mundo. Aeron os amava. Ele os amava com todo seu coração. Por isso quando ela foi invadida e destruída, seu ódio pelos invasores ganhou outras proporções...Ele... — Ele passou a mãos enfaixadas nos cabelos, desviando novamente os olhos. — Ele destruiu uma cidade inteira. A afundou no mar. Cada homem, cada criança, cada mulher.... Ele matou todos os que estavam lá.
Prendeu sua respiração, preso cada vez mais na história. Ela lhe era...familiar. De certo modo. Não conseguia entender a razão.
— Isso...esse massacre, era um crime imperdoável para os seus. Por isso ele foi castigado. Eles o expulsaram de seu lar, o exilaram no mundo dos humanos por tempo indeterminado. Ele virou um humano. E embora ainda continuasse praticamente invulnerável, ele agora podia morrer, havia algo que podia matá-lo. Lhe deram uma condição, por tudo de bom que ele já havia feito. Uma chance. Ele podia se manter na sua forma totêmica, o grande animal que o caracterizava, uma raposa. Se assim permanecesse, oculto na floresta, ele não envelheceria, teria mais chances de não ser caçado. Ou poderia manter a forma humana que lhe foi dada, e envelhecer...Ele escolheu envelhecer.
Sasuke franziu a testa, confuso.
—Me parece uma escolha idiota.
Para sua surpresa Naruto riu, uma risada suave, como se tivesse ouvido uma grande piada.
—Talvez tenha sido. Mas o amor nos faz idiotas. — Ele o olhou com carinho e Sasuke desviou os olhos, corado.
—Então ele...
—Amava alguém. Antes de tudo acabar sendo destruído. Aeron encontrara um garotinho na floresta. E no instante em que o vira, ele soubera que ele havia sido feito para ele. Era como se seu mar tempestuoso se tornasse calmo ao redor do menino. Tudo sumisse enquanto eles brincavam pela floresta. Ele o amava da forma mais pura e casta. Mas não mais do que a seu povo...o garoto era um descendente dos bárbaros. Por mais que ele o amasse, olhar para ele lhe lembrava de tudo o que passara, por isso escolhera se afastar.
Sasuke arregalou os olhos, seu coração novamente acelerado, conhecia aquela história...a conhecia.
—A aldeia que ele destruiu...
—Era a do menino. Mas ele havia ido embora com seu irmão e sua mãe, Aeron sabia disso. E quando ele perdeu tudo, quando não tinha mais seu povo, não havia escolha, ele não teria que escolher. Então ele decidiu aceitar sua forma humana, mesmo que pudesse envelhecer e morrer, e encontrá-lo. O nome dele...
—Era Noland.
Naruto ergueu os olhos surpresos para Sasuke, que parecia confuso, como se não soubesse como sabia daquela informação. Tocou a testa sentindo uma leve dor de cabeça.
—O nome dele era Noland. — Repetiu mais baixo. — Deus...Naruto...Como isso é possível...
Naruto suspirou, tocando em seu rosto de leve.
—Você sabe, no fundo...Eu...deixe-me terminar. — Ele tomou ar. — Certo. Aeron não o encontrou logo. Quando ele saiu da floresta, ele estava sozinho, na forma de uma criança, em um mundo totalmente hostil. Ferimentos comuns não o matariam, mas ele poderia ser machucado...ainda assim ele estava decidido. E foi o destino que o levou aquela estrada, onde passava uma marcha em direção ao novo templo cristão. Havia um jovem soldado da igreja, que o encontrou vagando, e achando que ele era órfão de algum dos casais que haviam perecido em um incêndio nas aldeias, que eles mesmo haviam causado, o levou consigo. Aeron não o desmentiu, era conveniente. E havia algo no homem que o lembrava Noland. Ele não sabia na época. Apenas sentia que perto do homem teria chances de achá-lo. E assim Davlin, achando que ele era apenas uma criança inocente que nada sabia sobre o pecado dos pais, se tornou seu protetor.
—Davlin... — Sasuke fechou os punhos, aquele nome...
—Davlin... — Naruto repetiu, seu rosto mais sério. — Ele cuidou de Aeron. Suas intenções não eram ruins, mas Aeron... havia algo nele que era difícil resistir. Seu sangue, sua linhagem. De um amor fraternal, o que o homem começou a sentir se tornou uma paixão que não conseguia controlar. Algo que por ser tão errado em relação a tudo o que havia aprendido, um pecado grande, imenso, aquilo tudo o consumia. E foi nessa época que seus sobrinhos vieram vê-lo. O mais velho estava sendo treinado como soldado na igreja. O mais novo seguiria o mesmo caminho no templo. Eles apareceram em uma tarde de tempestade, batendo na porta do conservatório onde Davlin morava com seu protegido. Aeron que abriu a porta, já guardando certo rancor pelos dois desconhecidos, pelo que se tornariam. Sua surpresa, no entanto, foi encontrar Noland ali, ensopado, ao lado de uma versão mais velha dele. Ele havia crescido, se tornado um homem. O destino havia o trazido para Aeron, mesmo que ele não recordasse de si. Ele havia o reencontrado.
Naruto franziu a testa, o rosto corado.
—Foi...forte. Avassalador. O sentimento que ele sentiu. Ainda mais forte. E Noland não resistiu muito. Ninguém resistiria a Aeron quando ele queria. Os dois se tornaram amantes em pouco tempo. No entanto, havia duas peças sobrando. Davlin, e o irmão de Noland, Ewen. Ewen...se apaixonou. E houve uma parte de Aeron... uma parte pequena mais forte, que sentia o mesmo. Sentia um carinho e respeito por ele, que nem mesmo ele entendia. Ele amava Noland com todo os eu ser, ele era seu escolhido. Mas Noland...Não era o mesmo garotinho que havia conhecido.
—Era egoísta e mesquinho. — Sasuke falou baixo. — Cheio de ciúmes, de escuridão.
Naruto não falou nada, apenas olhando as mãos no próprio colo.
— Ele não conseguia confiar nele totalmente. Não lhe contou quem era. Noland nem mesmo lembrava dele, achava que tudo que havia acontecido quando criança era sua imaginação. Então quando chegou o momento de escolher um dos dois a quem confiar seu segredo, o maior deles, ele escolheu Ewen.
—Segredo?
Naruto assentiu.
—Lembra que falei, sobre o que poderia matar Aeron? Havia apenas uma única coisa. Quando ele foi banido, sua lança, que o caracterizava, foi retirada dele. Se tornou amaldiçoada. Era a única coisa que poderia detê-lo, que poderia matá-lo. Ele nem mesmo podia tocar nela mais. Ele levou Ewen a floresta, lhe contou tudo, lhe mostrou onde a lança estava. Lhe deixou como guardião, enquanto iria embora com Noland. Ele achou que o amor que sabia que Ewen sentia por ele, o faria protegê-lo...
Ele parou, com um suspiro.
—Mas ele se enganou, não foi?
— Ewen não era uma pessoa ruim. Mas aquilo o feria. Noland e Aeron o feriam, e o amor se tornou em rancor, em raiva. E ele acabou contando o segredo de Aeron para a pessoa que menos devia saber. A pessoa que Aeron havia abandonado sem piscar os olhos. Davlin.
—Ele...Ele sabia sobre...
— Os dois? Sim. Estava consumido pelos ciúmes, obsessão, e auto aversão. Ele achou a lança. Ele a pegou. A derreteu. Criou meios de subjugar aquele que estava o fazendo sentir tudo aquilo. Ele criou uma armadilha, e o capturou, junto a outros fanáticos. Noland...
—Ele o esperou. — Sasuke o interrompeu. — No ponto de encontro, eles iriam embora juntos. Ele o esperou a noite toda, mas ele não veio. Ewen veio, ele disse... — Naruto tocou sua mão levemente, e a apertou. — Disse o que Aeron era, disse que tudo o que sentia por ele havia sido manipulado por Aeron. Que ele só havia o usado. Que ele era um bruxo, que ia ser morto por heresia...Ele mentiu...Ele...
Sasuke calou-se, o coração acelerado. Uma imagem em sua cabeça, de um jovem aos pés de um penhasco, desesperado.
—Aeron não confiava em Noland, não podia esperar que Noland confiasse nele. — Naruto falou quietamente. — E a lealdade que Aeron um dia tivera por seu povo, Noland tinha pelo seu. Ele abandonou Aeron a sua sorte, e escolheu a sua. Morrer.
Sasuke fechou os olhos, com força.
—Sasuke...
—Continue. — Respirou fundo. — Continue.
— Davlin prendeu Aeron no conservatório. As correntes, do metal derretido, o deixavam totalmente humano, o enfraqueciam, estavam o matando aos poucos. Ele seria executado, quando Davlin lhe fez a proposta, de ficar ao lado dele. Aeron recusou. E foi torturado com as armas que fizeram com sua lança. Davlin tomou a força o que achava que era dele, e aquele ponto, quando chegou o dia da execução, Aeron já estava quase morto, abandonado pelos seus. Ele sentiu quando Noland se foi. Não havia nada que o prendia a vida. Quando soltaram suas correntes, para levá-lo a humilhação final, a execução pública em meio a turba eufórica por sangue, ele não permitiria. Em seu último movimento de força morreu como o guerreiro que fora criado para ser. Derrubou quantos pode, derramou quanto sangue conseguiu, até que sem saída, se jogou no punhal feito da sua lança que Davlin segurava.
Naruto tocou em um ponto em seu peito, o lado esquerdo. Sasuke olhou curioso enquanto ele afastava levemente o tecido que cobria ali.
—Isso é...
Naruto assentiu. Havia um sinal em seu peito, já havia o visto antes, mas nunca se atentara a ele. Era um ponto escuro de melanina, horizontal. Tocou suavemente com os dedos, após o olhar por permissão. Havia um leve relevo.
— Ewen, que se dera conta do que fizera, havia retornado. — A voz dele fez seu peito se mover acima dos seus dedos. Se afastou levemente, mas segurou a mão fria na sua. — Ele não sabia que Noland havia morrido, o que ele havia feito. E achava que poderia salvar Aeron ainda, para apenas encontrá-lo agonizando nos braços de Davlin, em meio a vários corpos e um conservatório destruído.
—O que ele fez?
— Matar Davlin foi um ato de piedade. O homem já estava morto por dentro. Aeron deu seu último suspiro nos braços de Ewen, não sem antes mostrar a ele o que havia acontecido a Noland. O que ele havia feito, o que ele havia causado, o amaldiçoando ali a sofrer por isso. Sua desgraça atraiu, no entanto, algo pior. Algo mais obscuro.
Os olhos azuis escureceram.
—Ewen não tinha nada a perder quando ela apareceu. Uma criatura, atraída pelo sangue nos destroços, pelo sofrimento. Poderosa, e nociva, um ser mais antigo que qualquer um, que viera para punir.
—Quem? — sussurrou, temendo a expressão no olhar do outro.
—Morrigan. A deusa da morte, da guerra...e do destino. Ela propôs um acordo. Ewen não sabia o que estava fazendo, no desespero. Não podia saber que havia história entre a deusa e Aeron. Era uma segunda chance, que custaria sua vida, mas lhe daria a chance de ter seu irmão de volta, de talvez conquistar Aeron. De desfazer seus erros. E quando a lança dela o perfurou, o destino dele foi selado.
Naruto ficou quieto, e então deu um suspiro, os olhos tristes.
—Apenas na terceira vez ele realmente percebeu. Não era uma segunda chance. Ele não conseguia mudar nada. Era um ciclo infernal. Quatro almas presas, sem nunca conseguirem fugir. Ewen, como fez o contrato, seria o único que sempre lembraria de tudo. Os outros...estavam presos. Um eco da alma, das quatro almas que morreram na Irlanda, sempre sofreriam a mesma sina. O destino sempre seria se encontrarem, se apaixonarem e morrerem. E o de Ewen, assistir a tudo aquilo, sem nada poder fazer. Por seis vidas...seis vidas, e então...a sétima.
A voz morreu. Sasuke não conseguia respirar. Ele sabia que era verdade. Não queria acreditar, queria achar que era só um conto, mas ele sabia que era verdade.
—Nós...somos nós, Sasuke. —falou baixo.
—Itachi, Obito... — Ergueu os olhos atormentados, o outro assentiu tristemente. — Deus. Então o que eu sinto por você, o que nós sentimos, é tudo por causa de uma maldição...Eu não posso...
—NÃO! — Naruto negou rapidamente, tocando seu rosto, o obrigando a olhá-lo. — Não é! Sasuke, é diferente...dessa vez há algo de diferente. O que eu sinto.... isso não tem nada a ver com Aeron. Eu sei, porque eu sei o que ele sentiu. Aquilo não era amor...aquilo doía demais. O que eu sinto por você...Você não é Noland para mim. Eu sei disso. Não é por um eco que eu sinto tudo isso, é pela sua alma, a parte que é você.
Seu coração se normalizou ao ouvir aquilo, o desespero sumindo.
—O Sasuke que ama seu irmão. O Sasuke que lutou ao lado de Hinata. Que está tão cansado de lutar e ferir outras pessoas. Que chorou por mim. Esse Sasuke, que suprimiu Noland dentro de si, sem nem mesmo se dar conta...
—Naruto...
Ele soltou seu rosto devagar, sorrindo de modo triste.
—Tem mais. Aeron... ele está dentro de mim. Presente desde sempre. Ele sempre foi meu protetor, embora cheio de ódio, de raiva.
—No dia da prova... Aquele dia...
—Era ele. — Naruto assentiu.
—Mas como...
—Eu não sei ao certo. Ewen era que sempre saberia de tudo, mas havia algo diferente dessa vez. Talvez meu sangue Irlandês, ou por ser a sétima e última vez. — Ele balançou a cabeça — Quando eu era criança, sempre que eu estava em perigo, ele assumia. Foi ele que me tirou daquele galpão quando eu tinha sete anos. Ele sempre me salvava, e com o tempo, eu aprendi a sempre me segurar nele. Meu avô sabia, ele sabia no fundo o que estava acontecendo... — Naruto franziu a testa, como se estivesse apenas agora lembrando disso — Ele temia que um dia eu apenas sumisse, e deixasse Aeron no lugar. Foi quando ele escavou sobre a história de Aeron. — Naruto piscou. — Céus, eu havia esquecido disso. Por isso Aeron estava com raiva. Por isso disse que eu tentei esquecer dele... foi por isso...
—Naruto?
Tocou no rosto do outro que parecia estar preso em seu monólogo. Naruto o olhou, os azuis arregalados.
— Quando voltarmos, tem algo...algo que quero que fique com você. Eu explico lá. Confie em mim.
O fitou por segundos e assentiu.
"Dessa vez...eu vou conseguir te proteger."
—Isso...—Sasuke franziu a testa apontado para os dois. — Eu ouço você. Eu não entendo...
O sorriso de Naruto morreu e ele suspirou.
—Eu não sei, nem Aeron sabe. Nunca aconteceu antes. Há algo diferente entre a gente. — Naruto sussurrou. Os azuis o encaram, curiosos, como se buscando algo em seu rosto. — Nunca...foi assim.
Os dois ficaram em silêncio, se encarando. Naruto o olhando com curiosidade, Sasuke levemente aturdido com a atenção. Naruto estava muito perto, e devia ser bobo com tudo que já haviam passado, mas seu coração sempre bateria mais rápido com aqueles olhos azuis tão bonitos focados em si, a mão sem soltar a sua. Ele pareceu ponderar algo, apertou sua mão, as sobrancelhas juntinhas em concentração.
— Eu acho, que essa parte não tem nada a ver com Aeron e Noland, se quer saber. — Ele falou sério.
—Como assim? — Não conseguia entender onde o outro queria chegar. Talvez estivesse sobrecarregado com toda aquela informação.
—Eu digo...É como se...houvesse duas almas dentro da gente entende? — Naruto fez uma careta, em uma tentativa de humor. — Isso soou estranho.
—Não foi a coisa mais estranha que ouvi hoje. — Retrucou. E valeu a pena ao ouvir a risada baixa do outro.
—É, não foi..., mas é verdade. Talvez...isso seja entre você e eu, e não eles, apenas eles...eu...não sei explicar. Nunca fui bom em explicar as coisas.
Sasuke riu de leve com o outro se atrapalhando. Naruto balançou a cabeça.
—Você quer dizer, que se Noland era a pessoa escolhida de Aeron, alma gêmea ou o que for, eu sou a sua também. — Disse que um pouco de sarcasmo, mas no momento que a frase saiu, ele sabia que era verdade. Naruto o olhou com os azuis intensos.
—Sim, eu acho que sim. — Sentiu a seriedade do outro. — Eu disse a você, não é a parte sua de Noland que me atrai, bem o contrário. Sempre que algo em você me lembra ele...
Naruto tremeu e Sasuke fez o mesmo. É, ele entendia bem.
Balançou a cabeça e puxou o outro para si. Apesar do absurdo daquela conversa, de ir contra toda a lógica, pela primeira vez não se sentia assustado. Era como se um peso tivesse sido arrancado de seu coração, e não sabia ao certo se esse sentimento era dele ou de Naruto.
—A primeira vez que te vi, eu senti raiva de você. — Sasuke falou, depois de organizar os pensamentos. — Raiva porque meu pai havia pedido para cuidar de você, mas não era só isso. Com o tempo, com os dias, fui me acostumando com sua presença. Eu sentia essa inclinação por você, como todos os outros, por sua aparência, mas depois foi curiosidade, por ser tão diferente, se comportar de forma tão diferente. Você me intrigava. Eu comecei a sentir um incomodo quando os outros ficavam muito perto, comecei a me sentir atraído.
Era a primeira vez que Sasuke falava tanto, e Naruto o olhava atento, o rosto virado para cima no embrace. Sasuke olhava a parede, um leve rubor no rosto.
—Ainda havia raiva e muito ciúmes. Talvez isso fosse Noland, ou talvez fosse eu. Mas sempre que eu te magoava, por segundos parecia cego de tudo, mas depois...eu me sentia um lixo. Eu sentia raiva de Itachi também, e te ver perto dele... era horrível, mas algumas vezes eu pensei que...eu pensei...
—Sasuke... — encorajou, vendo os negros envergonhados.
—Eu pensei que preferia você morto a perto dele. Desculpe.
Naruto ficou petrificado por instantes, e então soltou o ar que segurava.
—Não era você. — Falou suavemente.
—Você não sabe.
—Eu sei sim. Sasuke...você nem mesmo gosta de machucar os outros quando preciso. Eu vi seus olhos hoje, na hora da luta. Eu sei que eu o que fiz...você me viu por um monstro...
—Não! Não Naruto, não foi...
—Shh, tudo bem. Eu também me vejo assim, mas não me importo mais. — Sasuke tentou falar, mas tapou sua boca. Sasuke podia sentir que ele mentia. Ele se importava sim. —Temos que ser sinceros. Eu sei que há algo em mim que te assusta as vezes, que me assusta. Mas eu juro que nunca vou te machucar.
"Não é de você que tenho medo, é por você."
Os azuis o encararam, e ele sorriu de modo triste.
—Você é forte, Sasuke, mais do que eu.
Franziu a testa, duvidoso. Obviamente aquilo era mentira.
—Não falo assim. — Naruto riu do seu pensamento. — Noland está aí dentro de você, todo esse tempo, cheio de ódio, mas você só escorregou uma vez. Eu por outro lado... às vezes nem sei quem eu sou mais.
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Nagato olhava os pontos na tela com uma angústia disfarçada. Ou melhor, a ausência dos pontos na tela. Até horas atrás eles estavam lá, dois deles juntos, então um terceiro se juntou e tempos depois os dois simplesmente sumiram da tela.
—Temos um deles se dirigindo ao Norte. — Um dos vencedores, falou olhando para a tela. Ao seu lado Madara estava estoico, mas pelo aperto que ele dava de modo disfarçado no braço, sabia que ele não estava tão tranquilo assim. Apenas há algumas horas haviam conseguido os sinais dos rastreadores, aos poucos recuperavam a força na ilha, e o que quer que estivesse impedindo o sinal havia sumido. — O outro continua parado, no mesmo lugar.
—Está morto. — Danzou falou de onde estava sentado, o desgraçado parecia divertido. O olhou e com certeza não disfarçou o seu desgosto, pois o outro ergueu uma sobrancelha, batendo a bengala no chão. — Não faça essa cara, Uzumaki. Não foi seu brinquedo que caiu.
Estremeceu com a palavra, mas preferiu não comentar. Para sua surpresa, Madara finalmente falou algo.
— Há cavernas nessa área. As equipes falaram sobre isso antes. Cavernas tem forças magnéticas nelas, podem estar interferindo no sinal.
—Está dizendo que...
—Meu sobrinho sabe bem como sobreviver nesse tipo de lugar e acredito que o garoto Namikaze também, levando-se em conta quem era o avô dele. Na minha opinião, o Lontra os confrontou, e pelo tempo que está sem se mover, ou está muito ferido, preso ou morto. Os dois devem ter entrado na caverna. Onde teriam mais chances de se protegerem de ataques.
—E de se perderem. — Nagato falou baixo, embora sentisse um pouco de alívio com o que fora dito, fazia sentido.
—Sasuke não entraria em um lugar sem ter uma chance de sair depois. — Madara quase rolou os olhos ao dizer isso. Não escondia seu orgulho com isso.
Foram interrompidos por um sinal piscando vermelho na tela. Até uma imagem piscar, com um ruído, aos poucos tomando forma. As câmeras tinham voltado.
Nagato olhou Madara com o canto dos olhos, o homem aliviou o aperto que dava nos braços cruzados. Achava que o entendia, mesmo com toda a confiança, de uma forma estranha, ele parecia se importar com o sobrinho.
—A energia voltou.
—Obviamente.
Queria quebrar Danzou, mas controlou-se, respirando fundo.
—Seria prudente mandarmos o resgate. — Falou pausadamente.
—Não vejo motivo, faltam ainda quase dois dias para o prazo final. — Arregalou os olhos, não aguentaria, iria quebrar aquele velho.
—Não acredito que estou dizendo isso. — Madara falou. — Mas o Uzumaki tem razão. A cerca se rompeu, se não mandarmos um grupo de controle, as cobaias do lado B podem ir para as plataformas, e isso tornaria uma fuga ao continente possível.
Prendeu a respiração com isso. Hiashi, que estava calado até o momento, também falou.
—Concordo. E se um dos garotos morreu, temos que pegar o corpo antes que ele fique em um estado em que não possamos explicar o que aconteceu a família.
—Um incêndio sempre pode ser arranjado. — Tobirama falou entrando na sala. E Nagato dessa vez grunhiu. — Calminha Uzumaki. O menino é meu sobrinho também, se não lembra.
Encarou o outro, que sorria de forma sacana.
—Porém, concordo com o Uchiha. Melhor limpar essa bagunça antes que piore.
Danzou não parecia nada feliz quando todos o olharam. Bateu a bengala no chão e falou.
— Como queiram então.
Nagato mais do que depressa virou para os vencedores que conferiam os painéis.
—Organizem quatro grupos, dois irão agora, outros dois irão no retorno. Extrairemos todos os jogadores, vivos ou mortos. — Olhou para Madara que assentiu. — Caso haja confronto com qualquer outro ser vivo na ilha que não eles, há permissão para eliminação.
A movimentação foi frenética. Nagato virou-se para os outros.
—Ah. — Tobirama estalou os dedos, como se só então lembrasse de algo. —O prazo para Obito sair da escola está acabando, como vamos lidar com ele?
Todos olharam para Madara com isso.
—O que foi? — Ele pareceu aborrecido.
—Ele é parente seu.
O homem grunhiu.
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Em algum momento o cansaço o derrubou. Ou talvez fosse o calor aconchegante, mesmo que febril de Naruto ao seu redor, o carinho que ele fazia de forma ausente em sua cabeça enquanto falava de tanta coisa, das lembranças estranhas, dos lugares que conhecia, mesmo que nunca houvesse ido. Sua voz era triste, ou nostálgica, em uma cadência que o embalou a contragosto ao sono. Quando despertou, não sabia quanto tempo exatamente depois, por momentos apavorou-se por não sentir o calor a seu lado.
—Uhum, assim fica melhor.
A voz tomou seus ouvidos e virou o rosto, ficando aliviado ao ver a figura menor a alguns metros, sentada perto de algumas pedras. O gigante estava sentado à sua frente, os dois em meio a pedaços de madeira, fabricando algo que Sasuke não conseguia ver na pouca luz que vinha do teto.
Ouviu um grunhido em resposta.
— Aqui, tente. — Mais um som. Sentou-se sem que eles percebessem sua presença e os observou. Naruto parecia ainda mais minúsculo perto do outro. O viu estender um pedaço de madeira, e percebeu que eles faziam uma lança ou algo do tipo, armas para caça. Viu quando o grandão pegou o que ele lhe oferecia assentindo.
O loirinho mexeu as mãos com um pequeno gemido e tanto Sasuke quando o outro se alertaram. Ouviu outro grunhido na língua estranha, e quase pulou por reflexo em direção aos dois quando o gigante ergueu a mão para Naruto. Respirou quando notou a gentileza com que ele pegava a mão tão pequena, a olhando na pouca luz.
— Elas estão melhores, depois do que me trouxe. Dói menos. — O loirinho respondeu a alguma pergunta, a voz cansada. — Essa planta suga a infecção, mas ficaria feliz com alguns antibióticos.
Outro grunhido.
—Não, é melhor esperarmos. Estamos no limite, eles virão nos buscar a qualquer momento. Só preciso aguentar mais.
O grandão fez um barulho e o loirinho assentiu seriamente, dando um suspiro. O barulho que o acordou, de madeira recomeçou enquanto o gigante voltou a cortá-la com uma faca, a esculpindo.
—Sim, você tem razão, Deartháir beag. — Naruto ficou com a voz mais leve. — Quando saímos dessa eu venho buscar você.
O grandão parou o que fazia e Sasuke franziu o cenho com isso, mas o garoto pareceu alheio, suas mãos se moviam capturando a luz que vinha do teto. Devia ser manhã já. Ele parecia tão...inocente assim.
— Meu vai adorar você, eu sempre achei que ele precisava de um segurança grandão, daqueles bem intimidadores...não me olhe assim, você é intimidador. — Sasuke não impediu um sorriso em seus lábios e ouviu uma risada do outro, meio grunhida — Vai ser como aqueles filmes italianos! A gente pode se ver todo dia, e você mora lá em casa, nós temos uma casa secundária muito legal... sim, você tem razão! Sem ternos esquisitos, a gente vai comprar umas roupas legais. Gosta de laranja? Legal! Eu também gosto, a gente pode pedir ajuda para minha prima Karin...não, melhor não, ela é uma chata!
Sasuke nunca tinha visto Naruto assim, por um instante, ele pareceu tão...livre. Jovem. A voz rápida, a empolgação. Devia ser assim, ele seria assim se tudo de ruim que acontecera não...tivesse o quebrado tanto. Ficou perdido na voz rouca, falando de forma baixa com o outro, que respondia por vezes. Podia mesmo dali ver um sorriso nos lábios do gigante, olhando o pequeno e tagarela a sua frente com admiração e afeição. Curiosidade. Não entendia porque Naruto não estava usando a língua natal deles, mas o outro parecia entender, apenas algumas vezes ele tinha que falar algo em irlandês, explicando alguma coisa.
—Então a mamãe surrou o vovô por ele me mostrar aquelas revistas. Foi muito engraçado! — Naruto deixou a risada morrer um pouco, os olhos azuis fitando o teto de modo triste. Calado finalmente. O grandão se aproximou largando a lança que fazia, e se sentou ao lado do outro, o cutucando com o dedo. Naruto o fitou, saindo dos pensamentos. — Está tudo bem. Só sinto falta dele.
Sasuke fechou os olhos ao sentir a tristeza que vinha do outro. A sentia em si, de forma forte. Era como se fosse seu coração que estivesse apertado, e, na sua cabeça, de forma estranha veio a imagem de um homem grisalho com um sorriso bobo no rosto, lhe explicando algo sobre plantas. Não...não a ele. Explicando a Naruto. Era o avô dele.
E no mesmo instante lhe vieram imagens do mesmo homem coberto de sangue, de joelhos a sua frente, um cano de arma na testa e um sorriso, o rosto deformado por pancadas.
—Sasuke?
A voz o fez abrir os olhos da visão estranha, e fitou Naruto, pálido, que estava a sua frente. E pelo olhar, ele sabia que ele havia visto aquilo. Os azuis desviaram dos seus, sentando-se na pele em que estivera deitado. O grandão continuava cortando a madeira, agora quietamente.
— Ele nos trouxe comida e tem algumas ervas para os ferimentos. Eu vou...dormir um pouco. Estou um pouco cansado.
Sasuke não respondeu. Nem mesmo se moveu por algum tempo de onde estava sentado, fitando a figura que se encolhia a seu lado, febril. Mal conseguia respirar.
Se aquela dor que havia sentido era um pouco da dor de Naruto, apenas um pouco, ele não conseguia entender como ele conseguira suportar aquilo tudo sozinho.
Apesar de estar realmente faminto, voltou a deitar do lado do outro, o puxando para seu peito. O sentiu tenso. Os olhos azuis semicerrados ergueram-se para fitar seu rosto de forma questionadora. Os cabelos estavam úmidos, o rosto pálido exceto por um pouco de cor nas bochechas geradas pela febre. Ele parecia cansado, exausto, pequeno e perdido naquele momento, de uma forma que era assustadora. Sasuke não se sentia diferente. Tudo aquilo era tão confuso.
Ele só queria sair dali. que saíssem dali vivos. Só queria uma oportunidade de terem um final feliz naquilo tudo.
—Vou cuidar de você agora. — Murmurou trazendo o outro mais para cima em seu peito, para beijar a cabeça loira com carinho. Ele queria que aquela sensação fosse embora. Aquela sensação que sabia ser de Naruto. Aquele medo de perder mais alguém que se ama. — Vou sempre cuidar de você.
O sentiu enterrar a cabeça em seu peito com um som baixo, as mãos relaxando entre os dois.
Ficaram assim até ele dormir.
..................................
—O que pensas que estás a fazer?
Noland franziu o cenho, fitando o homem olhando a floresta abaixo. Aeron não parecia surpreso em o ver. Olhou para trás de forma tensa, esperando algum soldado aparecer.
E por alguns segundos ele cogitou chamar um. Terríveis segundos em que uma lealdade chamou mais forte que a outra, e apertou a adaga em seu sinto com força, como fazia ao estar ao redor de um inimigo.
Isso, até ele o fitar por cima do ombro e lhe estender a mão. Os olhos dele pareciam tão cansados. Ele parecia tão diferente do que havia o visto semanas atrás. Não apenas as roupas, mas sua expressão. E o que sentia por ele — por seu anjo, Aeron sempre seria seu anjo — falou mais alto e tirou a força que tinha na adaga. Aceitou sua mão de forma hesitante.
As coisas entre os dois não eram mais as mesmas desde a briga com Davlin. Aeron havia sumido. Seu tio parecia ainda mais furioso. Um ataque a uma aldeia havia falhado totalmente, quando chegaram ao local ela estava totalmente vazia, e eles sabiam que Aeron tinha algo a ver com isso, mas nada podiam provar.
Isso continuava se repetindo, ao ponto que mais soldados estavam sendo chamados. Eles não viam Aeron há dias, e Ewen havia sumido dias atrás, apenas para retornar com uma expressão que nunca havia visto antes em seu irmão, e que não conseguia entender além do fato que seu irmão não falava mais consigo. As coisas iam de mal a pior.
Ewen havia ficado do lado de Aeron, como sempre ficava. Sentia um gosto amargo em sua boca por ter a dúvida em sua mente. Ele não tinha certeza se as coisas escalassem sobre uma escolha, de qual lado ele ficaria. Aeron estava errado em interferir em coisas que não lhe diziam respeito. Será que ele nunca entenderia isso? O que estavam fazendo? Seu pai havia morrido por esse trabalho.
A mão dele era quente na sua, e ficou surpreso quando os braços dele o rodearam sem aviso. Ficou tenso, e então relaxou, encostando a cabeça no ombro do outro e suspirando. Era um encaixe perfeito e sempre se sentia estranhamente protegido ali, se escondendo no peito de Aeron daquela forma.
Há tempos não ficavam assim. Sentia o coração dele perto do seu, seu cheiro era calmante. A mão acariciava seu cabelo, a outra em suas costas o firmando. Naquele momento a diferença de altura parecia mais significante do que era e se sentia uma criança, se sentia confortado.
—Eu nunca quis te magoar. Tu sabes, não é? Não quero mais discutir e essa guerra nunca foi contigo, Noland.
Não sabia o que dizer a isso. Fechou os olhos, sentindo a dúvida aos poucos se esvair. Era fácil demais esquecer de tudo quando Aeron o segurava assim, como se fosse seu bem mais precioso.
—Eu amo você.
—Aeron...
—Eu quero que venhas comigo.
Seu corpo tencionou e tirou a cabeça do ombro do outro, fitando o rosto de seu anjo de forma surpresa.
—Ir? Para onde? Aeron, tu sabes que eu não...
—Longe de tudo isso. — Aeron o interrompeu. — Eu estou cansado, Noland. De lutar uma guerra perdida. Eu vou morrer um dia, e eu quero passar o resto da vida que me sobra contigo. — A mão dele tocou seu rosto com cuidado. — Esse sou eu, escolhendo a ti. Qual tua escolha?
—Eu...
Podia realmente confiar em Aeron? Depois da forma como ele havia enlouquecido e largado tudo? Da forma como havia traído Davlin? Davlin era sua família. E ele pedia para largar sua missão, tudo o que havia se preparado a vida inteira. Poderia realmente fazer isso? E viver fugindo o resto da vida, com alguém a que a mera possibilidade de ficarem juntos já ia contra tudo o que havia aprendido?
Fitou os olhos cinzentos que esperavam, sua mão tocando de leve os pelos que nunca havia antes visto naquele rosto. E ele viu ali que Aeron também não tinha certeza da escolha de Noland. E ainda assim, ele havia vindo. Arriscado tudo e vindo até ele. Aeron havia o escolhido.
Fechou os olhos. Ele iria confiar. Apenas mais uma vez, ele ia confiar naquele em que seu peito ansiava.
—Eu escolho a ti.
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