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Oileáin - a haon

Mam me falou sobre o amor quando eu tinha 4 anos.

Eu lembro de estar sentado em seu colo, Karin correndo no jardim com tio Naa e daídi, e eu ter perguntado, na maior seriedade que uma criança de quatro anos pode ter:

— O que é o amor, mam?

Os olhos dela haviam se aberto em surpresa, e então ela havia dado aquela risada que eu amava e beijado minha cabeça.

—Amor é ver alguém e pensar que a pessoa é o lar.

—Lar? Como casa?

—Lar é o lugar para onde você sempre quer voltar, é onde se sente seguro e querido. O lar da gente nem sempre é casa.

E eu havia pensado nisso. E me veio à mente mam e daídi. Me veio à mente meus avôs e Karin e tio Naa.

—Amor é a sensação de que tudo vai ficar bem, se a pessoa estiver bem também. — Mam sussurrou, os olhos nos meus muito sérios. — Entende?

Eu assenti, com toda a finalidade do meu conhecimento novo.

—Amar é ter pra onde voltar.

Mam havia rido de forma gostosa.

—Sempre vou voltar pra mam.

—Acho bom.

E eu nunca duvidei disso.

................................

ELE O ENCONTROU NO TOPO DA COLINA, ONDE SE PODIA VER A FLORESTA INTEIRA. Havia sido a mesma colina que semanas atrás havia visto ao longe Aeron e Noland se beijando.

Ele lembrava da sensação. Do medo por seu irmão ao fazer algo que era proibido. Da tristeza que sentia, sem saber ao certo a razão.

Nunca esqueceria da forma com que Aeron segurava o rosto de Noland entre as mãos com carinho imenso, o abraçando como se ele fosse algo extremamente precioso, e do sorriso do seu irmão em resposta. Havia medo do proibido ali também, mas a excitação, o amor em seus olhos parecia o fazer ir contra suas crenças ao menos em alguma coisa em sua vida. Estava orgulhoso.

Então por que se sentia tão amargo? Por que a satisfação com o que havia presenciado no dia anterior no riacho?

—Ewen.

Aeron sempre o percebia. Ele sempre sabia.

—O que você é? — sua voz era suave, mesmo sabendo que não seriam ouvidos dali.

Aeron sorriu, sem o olhar, os olhos cinzentos tristes na floresta ao longe.

—Você lembra. — Não era uma pergunta.

—Não poderia esquecer. O que aconteceu com você? Como veio parar com Davlin?

—Me responda algo antes, e saberei se estiver mentido. — A voz dele não deixava margens a objeções. Como se pudesse se negar a Aeron, de qualquer forma. — Concorda com Noland? Sobre o meu povo?

O meu povo. Os pagãos.

—Foi o que aprendemos no templo, Aeron.

—Não foi isso que perguntei, Ewen. — A voz dele era firme. —Seu irmão acredita, não há dúvidas no coração dele que queimar pessoas por suas crenças, destruir suas casas, derramar sangue nessa terra que sempre foi deles é algo certo. Concorda com ele?

—Não.

Aeron o fitou e então suspirou.

—Não me parece...certo. Mas é o que aprendemos.

—A matar quem tem uma opinião diferente?

—Eles também matam os nossos, Aeron.

—Para se defender. — Aeron rebateu, e não teve como negar. — Eu não sou tolo, Ewen. Eu sei que meu povo não vai vencer o que está por vir. Logo tudo o que foi ensinado não vai passar de escrituras e lendas. Os deuses... os deuses estão sendo esquecidos.

A voz dele foi amarga.

— Mas eles vão partir lutando. E tratar isso, esse massacre como se não fosse nada...

—Foi o que ele aprendeu. — Defendeu de modo fraco.

—Foi o que você aprendeu também. E mesmo Davlin. Davlin está mudando as convicções dele aos poucos.

—Por você. — Ewen notou. Ele notou o tio desviando dos seus afazeres aos poucos. Como ele parecia em dúvida. Embora desde que Noland e Aeron haviam ficado mais próximos, ele parecia mais violento.

—Ainda que seja, há uma chama de dúvida nele. A mesma que o fez pegar uma criança na estrada, sozinha, e ir contra todos para a deixar viva. Essa chama de dúvida, que há em você, em Davlin. Não existe em Noland.

A lealdade por seu irmão falou mais alto nesse momento, e rebateu, sem pensar direito.

—Se fosse a verdade, ele não teria o beijado.

Ele não parecia surpreso por saber disso. Seus olhos brilharam um pouco, cinzentos.

—Ele diz que sou um anjo. — Aeron sorriu pela primeira vez na conversa. — Foi o que o convenceu que o que fazia não era impuro. Colocar em mim o que ele deseja ver, para que se sinta confortável. Eu não o culpo por isso, Ewen.

Os dois ficaram em silêncio após isso, por um longo tempo. As palavras remoendo em sua cabeça, havia muito a ser dito e perguntado. Queria defender seu irmão, mas ao mesmo tempo não. Era a primeira vez que tinha Aeron só para si em muito tempo.

—Você ia nos contar a verdade ontem, não ia?

—Era o certo a se fazer, agora não tenho tanta certeza. Eu amo seu irmão, Ewen. — Seu coração se comprimiu ao ouvir. — Eu o amo desde que vi sua alma tão pura anos atrás, chamando a minha, e eu apenas sabia. Eu o amo tanto, que me prendi nessa terra na esperança que o encontrar de novo. O amo mesmo sabendo que foi o sangue de vocês que destruiu minha pessoa mais preciosa e me levou a essa existência vazia, sendo menos da metade do que eu era. Eu o amo, mesmo sabendo que se ele soubesse o que sou, ele me odiaria e não hesitaria em me jogar na fogueira.

—Isso não é...

—Você não vê o que eu vejo, Ewen. Ele faria. E ainda assim eu o amo, mas... eu não gosto da pessoa que ele se tornou.

Os dois ficaram em silêncio depois disso.

Haveria o tempo certo para saber toda a verdade.

.......................

Os olhos azuis estavam no teto branco, despertos. Não conseguia dormir.

Não queria dormir.

Sabia que seu sono seria repleto de imagens que não queria ver.

Minutos antes ao fitar os lençóis havia visto o sangue que não estava lá, e mordido a língua para não gritar.

Estava enlouquecendo.

Foco, preciso de foco.

No que está pensado?

A voz de Aeron era baixa e calmante, e por isso agradecia. Apesar da dor de cabeça que ele causava, quase podia sentir sua mão em seus cabelos como caricia. Segurança.

Era estranho.

Em Sasuke.

Claro que estaria pensando nele.

Ele não parecia feliz, mas estava pouco ligando. Sasuke estava em seu pensamento desde mais cedo, depois do que havia aprendido sobre Madara.

O objetivo de Naruto ali era apenas eles verem do que ele era capaz. Nunca foi um jogador. Ele conhecia Madara. Ele havia estudado sobre ele antes, era fascinado pelo homem.

Ele não arriscaria Sasuke.

Sasuke era o vencedor daquele jogo, e todos eles já sabiam disso.

Itachi, Obito, Sasuke.

O que tem?

Três Uchihas, dois vencedores. Um deles filho adotivo de Madara. O jogo sempre esteve na mão de Sasuke. Eles nunca pretendiam matá-lo.

E o que está pensando?

Que é a melhor estratégia seria contar a ele nessa situação. Ele está mais envolvido nisso do que pensava. A família dele está mais metida nisso do que eu sabia. Ele nunca teve uma chance de não se envolver.

É arriscado.

Por quê? A vida dele? Ele está mais seguro do que Itachi. Eu estou com medo. Admitiu. Do que ele vai pensar de mim. Mas arriscar ele por isso não é o certo, não é o que daídi faria.

Você confia em quem ele é agora?

Eu confio em quem ele pode se tornar, Aeron, além das escolhas estúpidas. Você não vê o que vejo nele. Não vou abandoná-lo.

Para sua surpresa, Aeron deu uma pequena risada.

Você é diferente de mim.

Vejo como elogio.

Para sua surpresa, a voz dele se tornou nostálgica, triste.

Eu nunca disse que não era, pequeno.

..........................

— Você deve ser o cara novo.

Nagato piscou ao som da voz desconhecida, erguendo a cabeça de sua bandeja no refeitório e encontrando um sujeito um tanto diferente. A saudação em si já era uma coisa extraordinária. Desde que entrara na agência, dias atrás, recebera olhares hostis ou indiferença.

O estranho tinha cabelos pintados de laranja, e nem mesmo a farda sóbria da agência o fazia chamar menos atenção. Ao lado dele, havia uma mulher de cabelos igualmente chamativos, azul, e ambos tinham piercings no rosto. Nagato piscou, aturdido. Eles eram um pouco mais velhos do que ele. E ambos possuíam feições orientais.

Então olhou para a mão que lhe era estendida pelo sujeito sorridente, e ergueu—se, a aceitando de forma hesitante.

O aperto foi forte, e acompanhado por um tapa de leve no ombro. Se eram orientais, com certeza não haviam crescido com o costume e a cultura.

—Sou Yahiko, essa é Konan.

Sem sobrenomes. Aquilo pegou Nagato de surpresa ainda mais. E somente ao receber um olhar inquisitivo do outro, e curioso da linda mulher, que acordou do devaneio.

— Sou Nagato Uzumaki.

O homem sorriu.

— Um nome oriental? — o outro passou a mão no queixo, o analisando, e ignorando todos os outros no refeitório que olhavam a troca de palavras. Nagato sentia vontade de sumir. Não queria chamar tanta atenção. Sua associação com Minato já fazia o suficiente. Ninguém conseguia entender por que ele havia vindo para aquela agência, quando já teria uma vaga garantida com Minato. Todos desconfiavam de suas intenções.

Ninguém aceitava que ele queria apenas se provar merecedor.

— Você não parece oriental. — a mulher falou, a voz suave, e Nagato jurou que era a voz mais linda que já ouvira. Ficou ainda mais constrangido.

— Não sou. É uma longa história. — Balbuciou olhando para o chão.

— Temos muito tempo, Naa-chan!

Os olhos de Nagato se arregalaram, então o olhou aborrecido.

—Não sou japonês. Eu nasci no Texas...

O homem o ignorou, e o surpreendeu ainda mais ao passar os braços por seus ombros.

—Vem Naa-chan, você se senta com a gente de agora em diante.

—Mas...

A mulher negou com a cabeça para ele, como se dissesse que era impossível discutir com aquele sujeito escandaloso. Nagato ficou vermelho, suspirou e seguiu.

E aquele foi o começo de tudo.

................................

Abriu os olhos de rompante, ainda atordoado pelo sonho-lembrança de tanto tempo atrás, sentindo o peito de comprimir de tristeza, como sempre acontecia quando se lembrava de seus velhos amigos. Toda a dor, o luto, e a raiva que sentia. Tudo o que o transformara, e como tudo saíra de forma tão errada.

— Estava sonhando com eles?

A voz baixa o assustou e virou o rosto para a cama, ainda sentado na poltrona onde cochilara, para encontrar um par de azuis profundos na penumbra. Naruto não parecia sonolento, o que provava que ele não havia dormido de forma alguma.

Ele estava deitado de lado, um lençol o cobria até o peito, as mãos na frente de seu rosto, da mesma forma que se deitava desde criança. Seu cabelo estava jogado sobre o colchão e seu rosto, enquanto ele o analisava.

Era a primeira coisa que Naruto falava desde que o tirara da sala de tortura e o trouxera para seus aposentos. Nagato o deixara tomar banho sozinho, ajeitara suas bandagens, mas em nenhum momento eles conversaram. As perguntas que esperava ser bombardeado não vieram. E nem tão pouco tivera coragem de falar. Ele teria que lhe explicar sobre a ilha. Os jogadores geralmente não recebiam explicação sobre as tarefas, mas todos sabiam que Nagato iria contar para Naruto, assim como Madara acabaria contando para Itachi, que contaria a Sasuke. Ninguém esperava um jogo limpo.

Seacht era um jogo de astúcia. As regras pouco valiam. Se valessem, o ataque ao Uchiha e a Hyuuga não teria ido tão longe. Danzou queria testar Naruto naquela prova. Sabiam que ele iria interferir. E acabaram com dois corpos por isso.

Seus devaneios foram cortados quando o que Naruto lhe perguntara chegou finalmente a sua mente.

—Quem?

—Yahiko e Konan. Você chamou o nome deles enquanto dormia.

Nagato tentou não aparentar estar chocado. Então seu rosto ficou frio.

—Seu pai lhe contou.

O menino negou com a cabeça, e então virou na cama, olhando o teto.

—Eu pesquisei. Queria saber por que tinha me abandonado.

Foi como um golpe em Nagato, direto no coração. Seu rosto ficou pálido e desviou os olhos para o chão. Ele havia abandonado Naruto, mas de algum modo, ouvir aquilo fazia tudo bem pior.

—Daídi não teve culpa na morte deles. — Abriu a boca para protestar, seu rosto virando rapidamente, raivoso. — Mas sei que não vai acreditar nisso. Ele fez uma escolha infeliz, assim como você fez. — Naruto se sentou na cama devagar.

Nagato sentia-se atordoado. A voz de Naruto era calma, sem emoção. Tão diferente do que lembrava. Não sabia como reagir.

—Você quer tanto se vingar dele, que esqueceu de tudo mais. Esqueceu da mam. Esqueceu de mim. Esqueceu do vovô.

—Eu não tive nada a ver com a morte dele! — rebateu, sentindo ânsia de fugir do olhar frio. Nunca imaginou que veria o dia que Naruto, sempre doce, sempre frágil, falaria daquele modo consigo. Era irreal.

—Mas está envolvido com as pessoas que estão.

Arregalou os olhos, e recebeu um olhar curioso do sobrinho.

—Você não sabia?

Não. Claro que ele não sabia. Ele nunca soube que o que teria acontecido com Jiraya tinha algo com aquela bagunça. Tobirama havia lhe dito que...

Gelou.

Tobirama.

— Eu vi tudo. — O garoto agora tinha os pés para fora da cama. O corpo pequeno parecia ainda menor nas roupas grandes demais, o rosto o encarava profundamente, os olhos azuis pareciam ler sua alma. — Eles torturaram a gente por horas. Pareceram horas para alguém de onze anos. Eles o espancaram tanto, e ficavam dizendo o tipo de coisa que fariam comigo para ele...

— Naruto... Pare... — podia sentir o desespero em cada palavra.

— Chegou uma hora em que eu apenas queria que eles matassem a gente logo. Eu queria que eles matassem vovô para ele parar de sentir dor.

—Naruto... — Nagato caminhou rapidamente até o outro, segurando seus ombros, sentindo seu corpo tremer. Sacudiu o garoto, mas ele parecia não lhe ouvir, apenas falando aquilo, a voz no mesmo tom sem vida.

Naruto o estava punindo.

— Então eles o colocaram de joelhos, na minha frente, e meteram uma bala no que tinha restado dele. Eu vejo a cena todo o tempo. O tempo todo.

— PARE!

O garoto piscou, o olhando com curiosidade. A respiração de Nagato tremia, ofegante.

—Eu não quero ouvir isso.

—Mas é por isso que você está aqui. Eles mataram vovô. Eu os matei. E agora eles querem que eu continue matando, para eles. Eles querem que eu vire o monstro deles. Você quer isso.

—Não! Naruto, o que...

—Você me trouxe até aqui.

Pela primeira vez, a voz do garoto estremeceu, os olhos frios mostraram algo mais além da frieza. Mágoa. Nagato o soltou devagar, ainda de joelhos na frente do outro.

— Você me entregou a eles de bandeja.

—Naruto, eu não sabia que você viria aqui até você chegar, eu juro que eu não sabia.

Aquilo estava totalmente fora de controle. Totalmente. Não imaginava aquela conversa daquela forma.

—Mas não fez nada. Uma vez você me disse, que não fazer nada para ajudar alguém, era o mesmo que fazer algo muito ruim contra ela. Nesses meses... — ele respirou fundo. — Nesses meses todos, eu fui torturado, eu fui estuprado, e eu matei uma pessoa. Eu sofri todos os dias, e você estava vendo tudo, não estava?

Nagato continuou de cabeça baixa, levou as mãos ao rosto. Céus, ainda bem que havia removido todas as câmeras de seu quarto.

—Você odeia tanto meu pai assim? Você me odeia tanto assim...

—Você não tem nada com isso!

— EU TENHO! — o grito o pegou de surpresa, e olhou para cima, encontrando os olhos duros de seu sobrinho. Do menininho que ajudara a criar. Que pegara no colo. Que jurara proteger. — Não diga o contrário, não depois de tudo o que passei. Vou dizer apenas uma vez, Nagato Uzumaki. Prefiro morrer a me tornar o que eles querem. Nunca vou trair meu pai. Não vou trair minha família!

O "como você" não precisou ser dito. Nagato se sentia destruído, como há muito não sentia. Ergueu-se devagar do chão onde ainda estava ajoelhado, soltando os braços do sobrinho. Sua respiração mais calma.

— Você não vai morrer, Naruto.

O garoto o encarava. Os olhos azuis o julgando. E aquilo foi pior do que qualquer coisa que já havia ouvido. Era como ter sua irmã ali lhe olhando.

Ainda odiava Minato, por ter deixado Yahiko morrer, por ter voltado atrás na sua palavra. Nunca o perdoaria.

Mas amava Naruto e Kushina ainda mais.

Ele iria dar um jeito, de alguma forma. Virou as costas, mas parou quando uma mão se prendeu a sua blusa. Olhou para baixo e Naruto havia se erguido mais rápido do que poderia ver, a mão agarrada a sua manga. Os olhos estavam vazios como antes, aas era como se estivesse gritando: "Não me abandone de novo."

Nagato sentiu as lágrimas encherem seus olhos, mas não as deixou cair, apenas abraçou o sobrinho. O sentiu ficar tenso, os braços não se moveram para retribuir. Não se importou.

— Eu vou consertar tudo isso.

Murmurou contra os cabelos loiros. Sentiu-o relaxar.

Não iria mentir e dizer que tudo ficaria bem. No fundo, Nagato sabia que nada iria ficar, nunca mais. Mas ele tiraria Naruto vivo dali.

Se ele sairia vivo, era outra história.

............................

Sasuke ouvia seu irmão falar, calado. Nada das perguntas ocasionais. Ele apenas olhava a parede branca do quarto, os olhos com bolsas escuras mostravam que pouco havia dormido, e estava ainda mais pálido do que de costume.

Ele parecia destruído.

Nem mesmo parecia preocupado com todos os perigos dos quais seu irmão falava que ele enfrentaria em Exos. Sasuke apenas parecia...morto. E aquilo fazia Itachi querer sacudi-lo. Se Sasuke fosse assim para aquela prova, ele voltaria morto. E Itachi não permitiria isso.

—Sasuke! Você precisa me ouvir.

—Estou ouvindo. — A voz foi tão morta quanto sua aparência. — Eu entendi.

—Não, você não entendeu. Se não dormir e comer direito nesses dias, você não vai durar um minuto nessa prova! Não é brincadeira, Sasuke! É um lugar onde qualquer planta ou animal pode matar você!

—Então eles estão querendo mesmo matar a gente.

Congelou ao ouvir isso, se dando conta do que havia falado. Os olhos do irmão, negros como os seus, estavam o encarando atentamente agora. E Itachi sabia que ele estava ligando os fatos. Sasuke não era estúpido. Parecia cego ultimamente, por Naruto, mas não era estúpido.

— Eu sei que não vai me contar nada. — Soltou a respiração que prendia ao ouvir isso. — Mas eu sei que um jogo normalmente não teria tantos incidentes. — Se surpreendeu com a dor repentina no olhar do outro. — Naruto... Ele está...

Seus olhos se arregalaram ao entender o que o outro perguntava.

—Não! Ele não está morto. — O outro relaxou. — Mas antes que pergunte, eu já disse que não posso lhe contar onde ele está. Ou nada do que está acontecendo. Ele tem que decidir se vai lhe contar ou não. Você não pode ajudá-lo agora Sasuke, e não vai ajudá-lo se estiver morto.

Esperou mais réplicas, como sempre, mas Sasuke apenas assentiu. Não sabia o que havia acontecido entre os dois, antes do incidente com os Hyuuga. Mas Sasuke havia mudado.

Isso o assustava. Temia muito que Sasuke se tornasse alguém como Noland. Temia onde estaria o ponto que ele se quebraria, como Naruto estava se quebrando. Mas quando o irmão o olhou, havia algo lá, diferente, algo que era do Sasuke, e apenas dele.

Determinação.

— Ele vai me contar. Ele vai confiar em mim, Itachi. Seja o que for que estiver acontecendo, se é decisão dele, ele vai me contar. Eu sei que vocês dois estão sofrendo por isso, e eu realmente quero te surrar até você me contar, mas sei que não adiantaria de nada.

Itachi sorriu. Aquele moleque...

—Mesmo que ele me odeie.

—Naruto não te odeia, Sasuke. — O outro o olhou, pronto para replicar, mas Itachi o impediu com um gesto, e se sentou em frente ao irmão. Que parecia ainda mais novo agora. — Naruto ama você, de verdade. Eu vejo isso. Ele pensa em você, o tempo todo. Ele faz tudo pensando em você, mesmo que seja te afastar para seu bem. Ele te ama... Eu apenas sei disso.

Os olhos do Uchiha mais novo o analisaram.

Sasuke sabia que Itachi também amava Naruto. Como sabia que Uchihas só amavam uma pessoa a vida toda. E apesar de todo o ciúme, ele sabia o quanto devia doer dizer aquilo.

—E você também o ama. — Itachi continuou.

—Com minha vida. Itachi, eu morreria por ele. — O mais novo falou com fervor.

Itachi balançou a cabeça em negativa.

— Ele não precisa disso, Sasuke. Por isso ele não confia em você. — Sentiu o irmão o encarar pronto para contestar, mas foi calado quando Itachi acariciou seus cabelos. — Você precisa viver por ele. Ele quer você vivo. Ele não quer que você corra para o perigo se ele lhe confiar algo. Naruto...já perdeu gente demais. Entende, irmãozinho?

O outro não respondeu, apenas abaixou a cabeça, pensativo. Itachi sentia seu coração doer, quase fisicamente.

Ele tinha acabado de entregar tudo nas mãos de Sasuke. Tudo.

Só esperava estar certo.

— Itachi.

O outro o acordou dos pensamentos após alguns segundos. Tirou a mão da cabeça do irmão, e o viu olhar a colcha da cama com atenção.

— Hinata Hyuuga, ela está morta?

Itachi foi pego de surpresa pela pergunta. Escolheu não mentir.

— Sim.

Os olhos do irmão subiram rapidamente para os seus. Os lábios partidos, os olhos por segundos mostraram uma dor rara, uma dor que só vira por algum membro da família e Naruto. Aquilo o surpreendeu, mas a Hyuuga havia salvado seu irmão no fim das contas.

Em momentos como aqueles, vendo a dor velada nos olhos dele ao ter as notícias sobre uma menina que mal conhecia, Itachi se dava conta que talvez ele realmente não conhecesse Sasuke. Havia muito mais em seu irmão do que imaginava.

Sasuke era mais diferente de Noland do que havia se dado conta no fim.

Então ele voltou a face séria, voltando a encarar a parede.

— Entendo.

..................................................

— Você entende?

O garoto assentiu, o rosto duro. Nagato penteava seus cabelos, uma tesoura nas mãos.

— As regras gerais serão explicadas a todos no avião, mas você estará em um sozinho, vão isolá-lo completamente dos outros. De longe adianto que as regras anteriores, não se aplicam a esse caso.

Naruto franziu a testa, tentando pegar o significado disso. E então seus olhos ficaram frios, encarando o chão onde alguns pedaços pequenos de seus cabelos caíam enquanto o mais velho manuseava a tesoura.

— Podemos matar uns aos outros. Não que não estivessem fazendo isso antes.

— E podem formar alianças dessa vez.

Naruto pareceu pego de surpresa por isso, o rosto ficando novamente pensativo.

— Não que vá servir para você, os jogadores, como disse antes, ficarão do outro lado da ilha.

— Quer dizer que Sasuke vai estar sozinho contra aqueles dois?

Nagato o olhou duramente, parando o que fazia.

—Você tem mais o que se preocupar. Vai estar preso com monstros naquela ilha. Monstros que se pegarem você, irão te torturar e o matar sem pensar duas vezes. — Advertiu.

Para sua surpresa Naruto riu. Uma risada sem humor.

—Nenhuma novidade para mim. Eu sempre atraio os monstros.

Nagato não soube como responder a isso.

.................................................................

Naquela noite Naruto sonhou. Isso não era nenhuma novidade, mas ao se ver em um templo de arquitetura oriental se viu confuso. Não havia gritos, ou sangue, ou fogo, e isso, por mais que fosse bem-vindo, era estranho.

Havia algo a mais, algo estranho. Olhou as pessoas ao redor seguindo seu fluxo, vestidas em quimonos, andando quietamente a sua frente, e que pareciam não lhe ver.

—Aeron?

Questionou desconfiado, mas só o silêncio lhe respondeu.

Sentiu um impulso, uma sensação estranha em seu âmago e suspirou resignado. Sabia que era um sonho, e ainda assim não conseguia acordar, mas não era a coisa mais estranha que havia lhe acontecido.

Resolveu seguir esse impulso, caminhando em direção a essa sensação. O ar parecia puro ao redor, o silêncio lhe dava certa paz. Viu estruturas como arcos avermelhadas e enormes acima da sua cabeça, sinalizando um caminho, que finalizava em um templo em uma subida, de cor avermelhada e em detalhes dourados.

Quanto mais subia, menos pessoas via ao redor, e mais a sensação o tomava. Ao olhar para trás viu que a paisagem havia ficado mais obscura, um vento frio e gelado o fazendo caminhar mais rápido. Se focasse a audição podia ouvir choro de pessoas, lamentos.

Ao chegar na porta, olhou fascinado para cima, os detalhes eram incríveis, o que era ainda mais estranho, tinha certeza que nunca havia visitado um lugar assim, e geralmente suas visões não era tão agradáveis.

—Tire os sapatos para entrar.

Tomou um susto e olhou ao redor em busca da voz. Havia um velho na porta, sentado em posição de lótus. Um olho apenas aberto, e um sorriso sem dentes.

—Ah...hn certo.

Olhou para baixo, removendo seus tênis, notando pela primeira vez que usava as roupas com que havia entrado no colégio pela primeira vez. Enquanto removia as meias pensou se era verdade que quando se tinha noção que sonhava alguém podia manipular seu próprio sonho, como voar, por exemplo.

Aquele impulso estava mais forte e entrou, fazendo uma reverência desajeitada ao homem na porta, que respondeu com o mesmo sorriso sem dentes.

Aquilo ficava cada vez mais estranho, e adentrou nas paredes austeras, sentindo cheiro do incenso.

—Você aqui de novo.

A voz conhecida e cansada o fez dar um pulo. Era Sasuke, sentado nas próprias pernas ao lado do que parecia um poço no centro do pátio. E era realmente Sasuke, não uma versão estranha dele, o que era uma novidade.

Ficou paralisado, fitando o quimono escuro, os cabelos dele pareciam mais curtos, mas sem dúvidas era ele. Ele lhe sorriu de modo triste, e então o ignorou e voltou a olhar o poço.

Sentiu a sensação no ar, um breve desconforto, mas não tão intenso como da última vez que havia o visto. Ainda havia certa amargura e medo, mas pareciam tão insignificantes ali.

Foi até ele e se sentou ao seu lado.

—O que está fazendo?

—Eu perdi algo aqui dentro quando era criança. — Ele falou com naturalidade.

—Onde estamos?

Ele o olhou de forma estranha, mas falou.

—Templo Kiyomizu-dera, um templo budista. Você acha que devo entrar e pegar?

—No poço?

—Sim?

—O que você perdeu?

Sasuke franziu a testa.

—E.eu...não lembro. Era importante. — E então a expressão dele ficou mais centrada, menos distante. — Naruto? O que faz aqui?

—Eu não sei.

Que sonho mais estranho.

Sasuke assentiu, como se fizesse sentido.

—Às vezes eu ouço uma voz na minha cabeça. — Sasuke falou, fitando o poço novamente. — Ela grita todo o tempo, eu venho aqui para ter paz. Eu não...eu não acho que essa voz é só minha consciência mais.

Naruto sentiu seu coração comprimir. Isso era realmente um sonho?

—O que ela te diz?

—Que você me odeia, que mente para mim, que meu irmão vai me matar, que eu tenho que machucar ele primeiro. Que eu devo pular da torre do colégio...e tanta coisa mais. Eu não quero machucar o Tachi. — Naruto se surpreendeu com a forma como ele chamou o nome do irmão. Nunca havia ouvido Sasuke chamar Itachi assim. Era adorável. Quase sorriu, apesar da situação.

Os olhos escuros o fitaram.

— Eu não quero te machucar mais.

—Não foi sua culpa, Sasuke.

—Mas foi. Eu não quero mais fazer isso. Eu realmente...eu realmente amo você. E eu amo Tachi. — A forma que ele falou isso foi tão vulnerável que tocou a mão dele. Era fria, mas macia. Tão real. — Eu não sei quando eu comecei a ser uma pessoa ruim.

—Você não é uma pessoa ruim, Sasuke.

Ele não respondeu, olhando de volta o poço com o olhar triste.

—Eu só queria um pouco de paz.

—É... — Apertou a mão dele, os olhos nas águas escuras abaixo. — Eu também.

....................

Sasuke piscou acordando na escuridão do quarto, onde dormia desde que saíra da enfermaria. Não havia voltado as aulas, e sabia que nenhum jogador havia tido permissão de sair do quarto ou interagir com qualquer pessoa além dos vencedores.

Estavam isolados.

O sonho estava vívido na sua mente. Não era a primeira vez que sonhava com Naruto, longe disso, mas dessa vez parecera diferente.

Parecia real.

.........................

Aeron? Isso não foi um sonho, foi?

Não. Não foi.

Como?

Eu...não faço ideia, pequeno.

..................................................................

Sasuke estava no poço novamente, olhando para baixo.

—Você chegou. Acha que posso puxar com uma corda?

—Talvez. — Sentou-se ao lado dele novamente. O rosto bonito dele estava concentrado, mas ao menos ele parecia menos triste do que da última vez. — A voz te deixou em paz?

—Ela continua aqui, mas está mais baixa. — Ele o fitou, piscando confuso. Parecia tão estranho ver tantas expressões em Sasuke. Era como se fosse outra pessoa. Ou como se tivesse tirado uma máscara estranha de porcelana do rosto e mostrado o seu rosto. Preferia a última opção. — Eu gosto quando você vem aqui.

Naruto sorriu com isso.

—Tachi e eu caímos daquela árvore uma vez. — Sasuke apontou uma cerejeira. — Oka-san brigou com ele por ter me deixado cair, mas eu sempre o seguia para todo lado. E então... — ele franziu o cenho. — Algo mudou.

— O que?

—Um dia ele ficou diferente. Era ele, mas não era. Tachi nunca mais voltou a ser como antes.

.............................

—Você lembrou do que perdeu?

—Eu não tenho certeza. — Os olhos muito escuros fitaram os seus, a mão estendida em sua direção que aceitou. Parecia natural agora.

Queria ouvir mais histórias de Sasuke, era como se o conhecesse de verdade pela primeira vez. Não o Sasuke estoico e temperamental, que sempre tinha o que queria e invejava o irmão, mas o Sasuke que gostava de templos e silêncio, que queria ser escritor um dia e morar fora da cidade. O Sasuke que chamava o irmão de Tachi e sempre sorria quando falava da mãe.

—Eu sei que caiu aqui. — Sasuke falou, concentrado. — E que eu não consigo achar. Você está muito bonito hoje.

Naruto olhou encabulando, fitando a si mesmo. Estava o mesmo de sempre.

Os dois ficaram em um silêncio cômodo, o que não era ruim também. Podia ouvir as preces dentro do templo, e elas cobriam o barulho dos lamentos e choro que ouvia sempre que caminhava até ali. Como se apenas ali dentro fosse o lugar seguro.

—Naruto?

—Sim?

—Eu acho que lembro o que eu perdi. — O fitou, o olhar dele parecia tão triste. Abriu seus braços e ele veio até ele, colocando a cabeça em seu peito. Ficava feliz em não sentir medo daquele Sasuke como sentia do outro.

—O que foi?

—Fui eu. Eu me perdi ali dentro. Como vou me achar?

Sentiu seu coração se comprimir.

—Eu te ajudo. E Tachi.

Ele suspirou em seu peito, e então sussurrou de forma incerta.

—Isso...não é um sonho, não é?

—Não. — respondeu com um suspiro. — Eu acho que não.

.........................

Eu não tenho certeza do que acabou de acontecer.

Nem eu.

Mas...fico feliz que tenha acontecido.

Aeron não respondeu, e virou na cama, fitando Nagato dormindo na poltrona.

Não voltou a dormir.

.................................................................

As estúpidas máscaras não entravam na cabeça de Sasuke. Como se eles já não soubessem quem era quem.

Tentava manter-se calmo, impassível até, mesmo que estivesse sentado de frente aos dois que haviam tentado o matar há uma semana, um deles mais de uma vez. Ao lado das pessoas que haviam causado, ele sabia, a morte de Hinata.

Tentava manter-se calmo mesmo que Naruto não estivesse ali. Itachi havia lhe dito, antes de entrar no avião, que ele não estaria, mas que não perdesse o controle por isso. Que Naruto iria em outro avião. Mas não lhe contara a razão disso, e nem tiveram tempo.

Ao menos sabia que ele estava bem. Por mais irracional que fosse, os sonhos que estava tendo nas últimas 3 noites...sabia que não eram apenas sonhos. Se sentia mais centrado, calmo. Se sentia mais ele mesmo do que havia se sentido há anos. E sabia que era graças a Naruto.

Bem, nem tão calmo naquele momento, embora tentasse, mesmo que aquela roupa o incomodasse, um macacão negro apertado, que dependendo do lugar poderia lhe camuflar totalmente, ou apenas lhe entregar a localização. Apesar de estar indo para uma ilha onde tudo poderia lhe matar, e tudo o que eles lhe davam era um mapa, uma bolsa com suprimento para um ou dois dias se racionasse.

As armas estariam na ilha, teria que encontrá-las antes dos outros. E ainda sabendo que ele estaria sozinho, até encontrar Naruto, contra aqueles dois. Sabia que com as regras de não terem regras, podia ser morto assim que pisasse no local. Teria que ser esperto. Como vantagem, sabia mais do local do que os outros, assim como sabia que apesar de estarem no mesmo avião, teriam que saltar em lugares diferentes. Só teria que ficar atento onde os outros saltariam, e poderia evitá-los.

Ou...

Sorriu por trás da máscara.

Vingar o que havia acontecido com Hinata parecia bem mais interessante no momento.

Só teria que encontrar Naruto primeiro. Naruto era sua prioridade. Se quisesse tirar os dois dali vivos.

.............................................

Naruto poderia ter morrido antes mesmo de pisar naquele inferno, graças ao paraquedas. Devia ser apenas a pessoa mais azarada da face da terra. Lembrava de estar no avião, ouvindo Rebecca falando sobre as regras, fingindo que já não sabia de tudo. Lembrava de olhar a ilha de cima, de ver a grande cerca que a dividia. Eletrificada, de acordo com Nagato. Era tudo o que o separava de Sasuke.

E parecia um mundo inteiro.

E então lembrava de pular quando lhe mandaram. O vento violento que bateu contra si, o puxando para baixo e empurrando para cima ao mesmo tempo, comprimindo seus pulmões pela pressão, o medo que sentiu ao ver que ia em direção ao mar. O fio do paraquedas enroscou quando o tentou puxar, o secundário falhou até o último momento, e mesmo quando aberto, o impacto havia sido grande o bastante na água para pensar que poderia ter quebrado alguns ossos. O choque forte demais o deixando zonzo enquanto afundava cada vez mais na imensidão azul.

Pelo menos o pouco de sorte, parecia inteiro ao nadar fora da água e se arrastar pela areia da praia até desmaiar.

................

Abriu devagar os olhos, sua visão embaçada e embaralhada não ajudava muito, tentando reconhecer onde estava, moveu a cabeça. Mas tudo piorou, uma dor latejante alastrou por toda sua cabeça o fazendo gemer baixo. Na verdade, somente naquele momento notou que todo seu corpo estava dolorido, e forçou a visão novamente.

Era um lugar bem claro, tinham algumas imagens verdes e marrons alguns metros que, para si estavam embaçados demais para serem identificados. Piscou, enquanto gemia novamente pela dor de cabeça incessante. Só então seus ouvidos começando a trabalhar revelando um som para si muito conhecido.

O som das ondas do mar a quebrarem sobre a praia.

Essa conclusão o fez despertar mais, a visão ficando mais nítida a cada segundo, enquanto piscava na tentativa de acelerar o processo. Não conseguia se mexer e isso, além das dores, o estava incomodando.

Foi então que todas as lembranças o alcançaram. A ilha. Certo.

Era uma praia, a areia tinha um tom dourado brilhante, à frente demarcando os limites dela, a vegetação verde rasteira. Que se estendia por poucos metros até um conjunto de palmeiras e árvores de porte médio.

Mova-se.

Juntou todas suas forças para conseguir girar o corpo, mudando de posição sobre a areia quente. O sol ofuscante acima de si era uma sensação boa depois de todos os dias sem sequer o ter visto. Mas não podia se dar ao luxo de ficar ali e apreciar o calor.

Não quando sabia que estava exposto ali, não sabia há quanto tempo desde que desmaiara. Era um milagre não estar morto.

Moveu os braços, usando seus antebraços como apoio para se sentar lentamente. Cada músculo retesando e doendo pelo movimento. Sentia como se tivesse sido espancado por horas a fio, e agora só que restavam as dores.

Olhou para si mesmo. Ainda vestia o macacão preto horrível de power rangers, e sua bolsa de mantimentos estava há alguns metros. O paraquedas, que havia soltado quando tentara sair da água estava há alguns metros também. Precisava se livrar dele, se por sorte alguém não havia dado conta de sua presença, aquele troço estúpido que quase o matara o entregaria.

Moveu devagar os ombros, começando um aquecimento nos músculos doloridos. A dor de cabeça não havia parado, mas não tinha nada a fazer quanto a isso.

Enquanto massageava as panturrilhas observava o mar a frente, o azul límpido contrastava com o azul do céu. Terminou o aquecimento improvisado e resolveu se levantar. Não podia ficar ali a mercê de sua sorte, mesmo que a maresia lhe trouxesse boas lembranças, não poderia ficar ali o dia inteiro. Mais do rapidamente pegou a bolsa e o pano negro do paraquedas, alerta. Era como estar novamente na floresta com seu avô. Podia sentir a terra em seus dedos. Podia sentir que estava ligado a cada coisa viva, e diferente daquele tempo, isso parecia ainda mais forte assim que entrava nos limites da mata.

Aeron?

Estou aqui, Naruto.

Essas simples três palavras, era tudo o que ele precisava. Compassou sua respiração, e se entregou, apesar de todo o perigo da situação, aquela liberdade.

Era como nos velhos tempos.

As instruções de seu avô apareciam em sua cabeça.

Precisava achar uma fonte de água potável, atento que cada ser vivo daquele lugar poderia estar perto dela, então teria que dar preferência, se possível a uma menos evidente. Precisava de um abrigo. E de uma arma. Recebera um mapa com a localização delas. Segundo Nagato, haviam as alocado em um lugar seguro na noite anterior, mas não descartava a possibilidade de seus companheiros daquele lado da ilha não terem achado, ele achava aquele passo bem estúpido. Iria apenas observar de longe, caso uma armadilha tenha sido armada. Poderia fazer uma arma, não o suficiente para matar facilmente alguém, mas serviria para caçar. Era o terceiro passo.

Não procuraria lutas, a regra era sobreviver. O que não era tão complicado. Era um sobrevivente. Se ninguém ficasse em seu caminho, tudo daria certo...

É um bom plano.

Mas claro, tinha um fator que não lhe saia da cabeça: Sasuke.

Retiro o que eu disse.

Ele está sozinho do outro lado, com aqueles psicopatas!

E você está sozinho aqui, com uns cem no mínimo. O Uchiha vai se virar. Preocupe-se com você.

Naruto não revidou. Mas deixou sua conexão aberta. Todos esses dias, ele podia ouvir Sasuke, pouco, mas podia. Era como algo no fundo da sua mente. Depois de todas as coisas horríveis que havia dito a ele, não se surpreendia de estar tão fraca. Havia melhorado depois dos...sonhos.

Esperava que fosse o suficiente, como todas as vezes que ele precisara de si, ele ouviria Sasuke. Ele não o abandonaria.

Teimoso.

.............................................

Quase tudo naquela floresta era feito para matar. Havia armadilhas, as plantas eram venenosas, e haviam tantos corpos nas águas, que demorar horas para achar uma fonte que não estivesse envenenada.

Era como uma zona de guerra.

E pelos corpos que achara no caminho, Nagato estava certo, eles eram modificados de alguma forma. Alguns totalmente deformados, com três olhos, quatro braços. Lembrava das aulas de história, sobre Chernobyl, e sobre como os animais mesmo de fazendas distantes podiam ser afetados. Não havia sido radiação, no entanto, que causara aquilo nos habitantes da ilha. Havia sido uma toxina nova, que mesmo com anos, ainda causava danos. Por isso, na sua mochila, na mochila de todos eles havia respirador e oxigênio. Segundo Rebecca, mesmo que não fosse certo que eles pudessem sofrer danos, já que passariam pouco tempo, deviam usar aquilo e a injeção que haviam provido durante a noite, onde, por algum motivo, o ar ficava mais rarefeito e difícil de respirar.

Naruto resolvera que não comeria nenhum animal daquela ilha. Segundo Aeron, apenas os peixes pareciam não causar danos, e alguns pássaros. Mas para isso, tinha que esperar noite cair para não ser pego. Não tinha problema de caçar a noite, e sabia que naquele horário os pássaros estariam nos ninhos, mas fáceis de serem pegos.

Por essa noite, os mantimentos tinham que dar.

O fato de não ter armas o incomodava. Como presumira, elas haviam sumido do local, e nem mesmo saíra de cima da árvore onde estava, já sabia que havia pessoas nos limites do local, aguardando a presa. Esperava que Sasuke tivesse mais sorte com as dele.

Fizera um arco simples com a faca que Nagato colocara em sua bolsa. Construiu uma lança para longo alcance, para pescar. Com o paraquedas, fizera um cobertor, protetores para suas mãos e um turbante que cobria seu cabelo chamativo e boa parte do seu rosto, deixando apenas os azuis de fora. Não era quente o suficiente, ainda mais porque subira em uma árvore, encontrando uma toca segura e com uma boa visão dos arredores. Graças aos protetores com os panos e folhas, suas mãos não sofreram tanto com a escalada. Desde o que havia acontecido naquela noite, todo o progresso de cura nelas tinha ido por água abaixo, e elas doíam sempre que as movia.

Encolheu-se no local, olhando o céu noturno, alerta. Tentou captar algo de Sasuke, como durante o dia inteiro, mas não parecia haver perigo nenhum. Ele devia estar indo bem também.

E assim terminava a sua primeira noite.

Naruto.

Abriu os olhos, que mal havia percebido que havia fechado. A voz de Aeron estava séria. Como durante todo o dia.

Há algo de errado nessa floresta.

Não me diga. Não havia percebido. — Murmurou, com sarcasmo, por trás da máscara posta.

Há morte nela, em todos os lugares. Consegue sentir?

Sentiu um arrepio lhe percorrer o corpo. Ele conseguia. Durante o dia inteiro. Ou talvez fosse apenas a ansiedade de Aeron que lhe causava essa sensação.

É como uma zona de guerra. Os espíritos presos, sem terem onde correr, sem serem vingados.

Como sabe disso?

Ele pareceu em silêncio, por um tempo, até a voz, se poderia ser chamada assim, falar.

Eu já estive em muitas guerras. Por meu povo, ou não. A primeira delas para mim parece tão distante, que não sei se o tempo era tempo.

Naruto ouviu calado, encolhido. Lembrava das palavras de Itachi, sobre Aeron.

Você é mesmo um deus irlandês.

Não era uma pergunta.

Eu era um deus. Hoje sou apenas um eco. Um pedaço de alma preso a um ciclo sem fim.

Era a primeira vez que Aeron lhe falava aquelas coisas. Naruto sentia seu coração palpitar. Ele lembrava da história. De Aeron ser banido por ter assassinado muitas pessoas. E de Itachi ter contado sobre ele ter escolhido envelhecer, porque havia se apaixonado por um humano e queria o encontra.

Então Aeron, era aquele Aeron. De verdade. Não estava louco.

"E então ele foi traído, e assassinado." Foi o que Itachi havia dito.

Como você morreu?

Você viu como eu morri, como meu eco sempre morre.

Aqueles sonhos...

São ecos do passado. Sempre foram. Você sempre soube disso Naruto, só queria esquecer. Como quis esquecer de mim.

Franziu a testa. Ele realmente não lembrava de ter tentado esquecer Aeron de propósito. Lembrava que sua avó tentara, muitas vezes, mas então um dia, ele apenas fora embora.

Eu não entendo.

Aeron não respondeu mais. Por mais que tenha chamado. No fim, apenas adormeceu.

......................................................

O segundo dia fora como o anterior, e Naruto realmente achara que tudo acabaria bem se continuasse assim. Conseguiu acordar de madrugada e caçar alguns pássaros e peixes, apenas o suficiente para carregar, e apenas depois de Aeron, quietamente, analisar o alimento.

Fizera uma fogueira longe do abrigo, preparara tudo e apagara o mais rápido possível, tomando um caminho mais longe para o abrigo, mapeando o lugar. Ao longe podia ver a cerca que separava a ilha. Quando mais se aproximava dela, mais os pensamentos de Sasuke pareciam mais vivos. Não havia sonhado com nada na noite anterior, e estava tentado a falar com ele, mas não sabia as consequências disso, e tão pouco Aeron parecia aberto a conversa depois da outra noite. De alguma forma, o deus parecia magoado, e não entendia o que havia feito. Não lembrava, de verdade.

Não deveria existir ninguém mais sentido do que Aeron, tinha certeza.

Deus Irlandês da guerra o cacete, está mais para o rancor.

Dividira o alimento, fazendo suficiente para não estragar, criar formigas ou chamar a atenção de outros animais. Comera o que pudera, e enterrara o restante.

No fim do dia, havia conseguido evitar encontros indesejados, alimentado, tinha água e abrigo, e as coisas iam bem. Ainda mais se evitasse lembrar ter visto a morte de três homens deformados, agora sabendo como tantos corpos inundavam os rios.

E o silêncio de Aeron ainda era incomodo.

Mas conseguira dormir bem rápido. Só acordara quando amanhecia.

Quando o grito de Sasuke ecoou em sua mente.

Apenas pulara da árvore e correra, o coração disparado, as pupilas se dilatando ao sentir a força aumentar em suas pernas enquanto ouvia a voz do outro.

Sem pensar.

E foi quando tudo dera errado, de alguma forma.

Mal havia corrido em direção a cerca, alguns minutos, e encontrara o primeiro monstro.

............................

Naruto corria desesperadamente pela floresta, a respiração difícil. Seus cabelos que caiam sobre o rosto dificultavam sua visão em demasia, enquanto seus olhos vagueavam pela floresta. Sua única arma era a faca, a única coisa que pegara na pressa. Aeron voltara a xingar na sua cabeça, por sua estupidez.

Não sabia se a ansiedade que sentia era dele ou de Sasuke. O medo.

Viu mais a frente, entre as árvores uma iluminação mais clara aparecer. Estava chegando nos limites da floresta.

Aquela era a direção da cerca.

Faltavam poucos metros...

Não viu como, nem quando, mas somente sentiu algo enrolar em seu tornozelo, o puxando. Seu corpo foi ao chão, num baque surdo, sua cabeça batendo no chão com força enquanto sentia ser arrastado. Por um momento ficou desnorteado, tanto pela velocidade do ato, quanto pela pancada na cabeça. Zonzo, ofegou auditivamente, logo tomando conta da situação, sentindo o chão se mover abaixo de si.

Ou não, seria ele que se movia no chão.

Com esse pensamento foi que despertou, arregalando os olhos, vendo algumas árvores passarem por si, enquanto sentia-se ser arranhado por galhos velhos e pedras do chão enquanto era arrastado. Moveu ambos os braços, tentando se segurar em qualquer coisa, virando o tronco aterrorizado para fitar o que lhe puxava.

Sua respiração falhou assim como seu coração.

Era gigante, talvez dois metros e meio, o corpo forte, lhe lembrava os gigantes que sempre apareciam em histórias e filmes. Vestia uma calça jeans rasgada e uma camisa sem mangas do mesmo tom de cinza. A pele era morena, careca, e com tatuagens que cobriam ambos os braços; mas eram bem visíveis as cicatrizes que lhe rodeavam o pescoço por completo. Estava de costas para si, por isso não podia ver seu rosto. E nem queria ver.

Naruto observou em agonia a grossura dos braços do homem, os músculos davam a espessura de suas duas pernas juntas, notou em desespero.

Desespero este que o fez se mexer. Tentando se livrar do chicote de couro que havia se enroscado em sua canela. Esperneou, movendo os braços desengonçado, se encurvando para desenrolar o chicote de sua perna, mesmo estando ainda em movimento.

Então o homem parou.

Naruto sentiu o estômago gelar, erguendo o olhar, mas sem parar de forçar o couro para o desenrolar.

A face era grande, os olhos pequenos e pouco puxados, o nariz continha uma cicatriz que rasgava todo o rosto da direita para a esquerda. Os lábios rachados e machucados.

O loiro se arrepiou somente ao olhar, e mais ainda quando o homem abriu um sorriso.

Mo dia! — sussurrou, os olhos arregalados, e com a faca começou a tentar cortar o couro, tendo pouco êxito.

Não notou o outro pausar com a frase, o rosto se virando em curiosidade e reconhecimento.

Mordeu o lábio e viu o maior retirar uma faca do cinto que usava, as não era uma faca qualquer, era muito maior, a ponta bifurcada. Por um momento Naruto imaginou o estrago que aquilo poderia fazer em si. E se arrepiou, mas antes que pudesse pensar em algo, viu o outro avançar contra si e descer a faca em sua direção.

Rolou para o lado, o facão passando pelo couro do chicote o cortando, parando somente quando encontrou a chão, onde cravou. Se viu livre, e aliviado se levantou, ofegante. Viu-o pegar o facão e lhe olhar novamente, olhos frios que lhe gelaram a alma por momentos. Se pôs em posição de combate, crispando os olhos azuis, vendo o outro se virar em sua direção.

Queria adivinhar o que o outro faria, seria melhor se esquivar, já que não conseguiria derrubar um homem que era o triplo de seu tamanho.

Teve de praticamente se jogar no chão, caindo dolorosamente sobre o braço direito, para evitar o grande facão que havia sido arremessado em sua direção. Mal caiu, teve de rolar para não ser pisoteado, gemeu de dor pela costela quebrada há dias, que agora parecia lhe ferir mais. Se levantou, apoiando nos joelhos, olhando o homem, agora à poucos passos de si. Achando estranho toda aquela falta de ação do outro.

Achou melhor o acalentar por momentos, até que pudesse pensar em algo, ou em até uma rota de fuga.

— Calma grandalhão, não quero te machucar, e você não quer me machucar.

Que ótima estratégia.

Agora você aparece! E se não tem ideia melhor, cala a boca!

Claro, continuei falando com o gigante com a faca afiada, vai ajudar.

Naruto queria dizer que nem todos eram assassinos, mas não ia arriscar irritar ainda mais o outro. Apenas respirou fundo.

—Você não quer me machucar, grandão. — Removeu o pano de seu rosto, mostrando seu melhor sorriso calmante.

Colocou todo o poder de ordem em sua voz, mas tudo o que o outro fez foi lhe olhar com o que parecia curiosidade. Aquilo era estranho. Ele não parecia mesmo querer lhe machucar, apesar de com certeza, sem dúvidas nenhuma, poder fazer isso facilmente.

Um som pareceu chamar a atenção do outro. Naruto piscou, também ouvindo o que pareciam ser tiros, não muito longe, dentro da floresta. O grandão lhe lançou um olhar, ainda curioso. E então ergueu a faca alto, com um rosnado. Naruto fechou os olhos, protegendo o rosto.

Mas a dor não veio. Abriu os olhos e a faca estava enfiada fundo na terra ao lado da sua cabeça. E apenas viu o grandão sumir pela floresta, em direção aos tiros.

Aquilo havia sido realmente muito estranho.

Porém não tivera muito tempo para pensar nisso. Não com a voz de Sasuke em sua cabeça. Ergue-se rapidamente, pegando a faca que lhe foi dada e correndo para a cerca, olhando de modo frenético pelo perímetro enquanto corria entre as árvores, ainda escondido, mas tendo toda a visão da clareira do outro lado, que dava entrada para uma floresta como a do seu lado, assim como a clareira que separava sua floresta de seu lado da cerca.

E foi quando o viu, vindo da floresta, correndo de vultos estranhos atrás dele.

Sua respiração parou.

Era Sasuke.

Era ele mesmo.

A pele de porcelana estava suja, em contraste evidente com o tom da tez excessivamente branca. Mais magro visivelmente, com um ferimento na perna, onde o macacão estava rasgado. Os cabelos em uma bagunça sem igual, arrepiados. E quando os olhos negros finalmente encontraram os seus, no momento que ele saia da floresta, viu que havia dor, cansaço, e agora esperança neles.

Uma plenitude maravilhosa tomou conta de Naruto, era como se mais nada existisse, somente a bela visão que tinha de Sasuke.

Foi o momento em que o achara mais bonito desde que o encontrara.

E aconteceu. Por segundos, pareceu enxergar pelos olhos do outro, como naquele fatídico dia. Conseguiu ver a si mesmo. Imundo, o cabelo loiro, depois que havia arrancado o lenço, estava sujo e grudado ao redor do seu rosto, as pontas da franja caiam sobre os olhos, a barba havia crescido. Seus próprios olhos pareciam atormentados e cansados. Sua boca machucada, o macacão rasgado levemente no tronco e braços. E, no entanto, aquele sentimento era o mesmo de Sasuke, era como se ele nunca o tivesse visto melhor.

Ele corria em sua direção, agora ainda mais rapidamente, um sorriso sincero brotado nos lábios finos. Naruto continuava parado, aturdido, perdido nos olhos negros. Ele estava bem perto.

Então os azuis se arregalaram. Perto demais! E pelo impulso que ele dava, ele não parecia querer parar, mas se jogar na cerca e a escalar.

Uma cerca elétrica.

Sasuke não sabia disso!

Abriu a boca para gritar, puxando o ar, mas ele já estava perto demais da cerca. Quanto a si nem ainda havia alcançado a clareira.

Correu, erguendo a mão desesperado. Os segundos passaram como horas, sem saber o que fazer. Foi quando o metal de uma das torres de sustentação dos fios tremulou e retorceu, explodindo em faíscas e pedaços para todos os lados, num curto-circuito, as cordas se arrebentaram em toda a extensão em que os olhos do rapaz podiam ver.

Sasuke foi jogado para a clareira pela força da explosão, o som foi alto, Naruto foi também jogado para trás de maneira violenta por uma energia que desconhecia, sem saber o que havia acontecido, a não ser que seu poder, no desespero, havia feito aquilo.

Desmaiou por instantes quando seu corpo se chocou com força no chão, batendo com a cabeça. Quando acordou, havia uma dor absurda em suas mãos trêmulas. Sentia o sangue empapar os panos que a protegiam, e não sabia como havia acontecido isso. Devia ter apagado apenas por segundos, pois ainda havia faíscas por todo o lugar e fumaça.

Tentou se erguer mesmo com a dor de suas mãos no chão, forçando seu corpo que parecia mais pesado que o normal, as articulações doloridas de uma maneira que não havia experimentado desde que entrara na ilha. Ficou de quatro e tossiu, sentindo os pulmões arderem, a costela fraturada lhe incomodava, cuspiu sangue e com dificuldade que se ergueu por completo, se arrastando em direção a cerca destruída.

Em direção a Sasuke.

........................

Nagato se inclinou sobre a tela do computador quando o sinal das câmeras foi cortado. Seu corpo girou com rapidez junto a poltrona para o outro monitor que exibia um painel que delatava a falta de energia em toda a ilha, um curto-circuito em toda extensão tão bem planejada do complexo Exos.

E isso era, definitivamente algo muito, muito ruim.

Apertou a ponte do nariz fechando os olhos com força, ele sabia que isso poderia acontecer em algum momento, estava tudo indo bem demais. Naruto estava se saindo bem se esquivando dos problemas, mas claro, de alguma maneira que não conseguia explicar aquele Uchiha sempre chamava a atenção de Naruto, sempre o desviava do caminho certo.

Sempre arranjava problemas.

Levantou-se como um raio da poltrona e avançou, chutando a porta com força, assustando Sasori que estava monitorando os participantes em uma sala praticamente idêntica.

— Me coloque com Madara agora! — sua voz austera deixou o outro ruivo surpreso.

— Mas, o Senhor Uchiha disse...

— Não me importa, quero ele no vídeo nesse momento! E se não conseguir eu juro que vai ter uma das minhas balas na sua cabeça mais rápido do que você possa sequer piscar!

Sasori não era de temer a alguém, mas naquele momento, encarando aqueles olhos acinzentados escurecidos e completamente fora de si, ele sentiu que deveria abaixar a cabeça e rezar para que Madara não estivesse em mais uma de suas viagens diplomáticas.

.......................................................

Quando viu o corpo caído sobre o braço esquerdo, quase de bruços perto de alguns destroços, seu coração já acelerado quase parou de vez. Apressou os passos trôpegos, diminuindo gradativamente os metros entre os dois. Sua respiração se alterando ainda mais, sentindo a dor de Sasuke cada vez mais presente em si, como se ele a irradiasse. Podia sentir perfeitamente a cabeça que doía, o corpo cansado e ferido, algo que perturbava sua mente e o forçava a querer reagir do chão.

Chapinhou pelos últimos metros, caindo de joelhos ao lado do corpo maltratado do Uchiha, um vento forte passou pela clareira, trazendo uma ótima sensação à pele suada e suja do rapaz.

Esticou o braço, a mão trêmula ensanguentada, tocando o ombro do rapaz para virá-lo, mas não foi preciso. O corpo vibrou abaixo de seus dedos e ele pareceu tomar um choque, se virando. Os olhos negros e levemente repuxados estavam arregalados de uma maneira que Naruto nunca vira, e lhe encararam de uma maneira tão intensa que Naruto se sentiu desprovido de qualquer segredo, qualquer pensamento.

Depois de tantos dias sem contato... A velha conexão entre ambos parecia mais viva do que jamais fora, e por impulso, levou a mão ao peito de Sasuke, tocando o lado esquerdo onde seu coração batia desenfreado.

E foi como se pudesse sentir seu próprio coração batendo no mesmo ritmo, em sincronia, como nunca.

Ele... Eu sinto o coração dele...

Naruto ouviu com perfeição a voz de Sasuke em sua mente, como se estivesse falando consigo naquele momento, seus olhos fixos tomaram um brilho devoto de admiração e amor.

Também sinto seu coração, como se fosse o meu.

Ele pareceu ter ouvido, e entreabriu os lábios em choque, sua mão direita agarrando o pulso que ainda mantinha em seu peito. Seus lábios tremeluziram e o Uchiha sussurrou quase em contemplação:

— Isso é... Incrível...

Foi interrompido por um uivo seguido de uma torrente de rosnados que se aproximavam, os tirando da bolha que ambos pareciam residir sempre que se encontravam. Se viraram, e Sasuke viu com agonia os cinco animais que o perseguiram.

Eles tinham a pele clara e sem pelos, da altura de labradores, mas não tinham focinho e sim uma grande boca arredondada e adornada por fileiras de dentes afiados, grandes e sujos da última refeição. Os olhos opacos denunciavam a cegueira eminente, mas as orelhas pontiagudas se moviam para captar qualquer som.

Sasuke forçou o corpo a se sentar, mas não soltou o pulso de Naruto, que mantinha os olhos nos animais. Eram mais das experiências mal-sucedidas que Nagato lhe dissera.

— Naruto... Eles não morrem...

Naruto nada disse, somente olhou nos olhos desesperados de Sasuke enquanto ele continuava a pensar em maneiras de fugir daquele lugar em segurança apesar de estarem quase encurralados e debilitados.

Virou-se para os animais e respirou fundo, erguendo a mão que estava livre.

— ÉIrigh as!

Não foi preciso falar duas vezes.

........................................................

Nagato olhou irritado para Madara através da tela do computador, o Uchiha não parecia se incomodar com o que acontecia na ilha.

— Deveríamos abortar por aqui essa prova, a não ser que queira perder todos os participantes. Arruinar o garoto seria um grande problema, concorda? — disse entre dentes, tentando parecer no mínimo certo do que dizia. Madara encarou-o com tédio explícito no olhar.

— Sabe que uma decisão deste porte não se restringe a nós dois, e não, não cogito essa opção de um conselho. Temos o rastreamento de satélite de todos, o mapa da ilha, nada é melhor que isso. — Deu de ombros. — Mesmo que algo acontecesse lá, vendo ou não pelas câmeras, não poderia se fazer algo. Exos não é um parque de diversões. É real, Nagato. Já deveria ter se acostumado.

— Madara, você não quer que nada aconteça ao seu sobrinho, nem eu ao meu, vamos entrar em um consenso...

— Sem mais nada, Uzumaki, eu confio em Sasuke. Você deveria confiar em Naruto também, diz tão bem dos dotes do garoto, tenha fé no seu taco.

Ao que parecia para Nagato só restara isso mesmo, ter fé em Naruto.

.........................................

Eles pararam de súbito à dois metros de ambos, os rosnados cessaram, e pareciam atentos e fixados na imagem de Naruto. Sasuke olhou-os com surpresa e se virou para o Namikaze, que mantinha a mão levantada e o olhar altivo, novamente se voltou aos animais de pele pálida e com perplexidade os viu voltar correndo para a floresta.

— Meu Deus... — sussurrou.

Naruto pendeu o braço ao lado do corpo, sangue escorreu por sua mão abundantemente, sentindo uma exaustão sem cabimento lhe apossar. Viu Sasuke olhar-lhe abismado. O rosto dele tinha um corte leve na bochecha esquerda, seu olhar desceu cansado e notou que queimaduras nos braços expostos dele, provavelmente causados pela explosão.

Abriu a boca para lhe dizer sobre o ferimento, mas não encontrou a própria voz. Um calor abrasador lhe subiu pelas faces, seu estômago se revirou e perdeu as forças, seu corpo desfalecendo sobre o de Sasuke.

..............

A ilha - um

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