Luíochán
'Seu avô estaria decepcionado com você.'
Poucas coisas teriam me machucado mais. Eu vi nos olhos de daídi o arrependimento de imediato. Os gritos que havíamos trocado ainda ecoavam nas paredes da sala.
'Minato!' a voz da mam estava horrorizada na porta, onde segundos antes ela tentava acabar com a nossa discussão.
Daídi nunca havia levantado a mão para mim, mesmo nos últimos tempos. Mesmo ao encontrar a bebida no meu quarto, as expulsões e a ficha na polícia. Ele nunca havia precisado, seu olhar decepcionado sempre fora sua arma mais potente em mim.
Agora, eu preferia que ele tivesse me dado uma surra. Teria doido bem menos.
A verdade, afinal, sempre dói mais.
'Naruto...desculpe isso foi...'
'Tudo bem.' Eu mereci.
'Eu só...eu não sei mais quem você é, Naruto. Eu juro que eu não sei.'
Somos dois, daídi.
Eu também não sei mais quem eu sou.
ITACHI HAVIA DORMIDO APENAS DUAS HORAS DE SONO QUANDO OUVIU BATIDAS NA PORTA. Suspirou, estalando os ossos do pescoço e ombros, depois de longas horas na mesma posição lendo os arquivos. A única pessoa que o procurava àquela hora da madrugada era Sasuke, sendo que Kimimaro já havia o avisado na segunda fuga dele horas antes.
Seu irmão era um teimoso irremediável.
Quando abriu a porta, no entanto, não era seu irmão. Naruto se encontrava na sua porta, vestido apenas com uma calça leve apesar do frio e um capuz sob os cabelos loiros. Estava descalço. Bastou uma breve olhada em seu rosto quando ele o ergueu para saber que algo havia dado muito errado. Seus olhos estavam vermelhos, cansados. Seu lábio partido, e uma marca arroxeada em um dos lados de seu rosto, de um tapa. E havia sangue seco nas suas mãos, em um lenço com que ele as prendia. Seu rosto estava vermelho, o olhar distante, febril. Se encararam por alguns instantes, até que o garoto falou.
—Preciso de Kimimaro. O ferimento do Sasuke abriu e ele não está acordando.
Os olhos dele estavam apagados, nos seus, como se apenas estivesse no automático.
—Vocês brigaram?
O outro ficou tenso, e então deu de ombros.
—Onde ele está?
Perguntou terminando de abrir a porta, dando espaço para o outro entrar enquanto pegava o telefone na mesinha, já digitando a mensagem para o outro vencedor.
—No...meu quarto.
A voz de Naruto saiu trêmula, e Itachi ficou tenso, voltando a cabeça e olhando para o outro que se sentava no sofá, com uma expressão de dor no rosto enquanto colocava a mão nas costelas, antes de desviar os olhos para o chão.
Oh não.
Mandou a mensagem e jogou o celular de lado, aproximando-se de Naruto para ver uma de suas mãos. O outro a puxou quando a pegou, mas segurou firme, abrindo o lenço. Os pontos estavam todos arrebentados, com sangue seco impregnado. Ergueu a outra mão, colocando na testa do outro que estava muito quente. Alguma coisa havia dado errado, muito errado.
—Naruto...quem fez isso com você?
Os azuis se focaram nos seus finalmente, e havia uma tristeza tão absurda ali, mágoa, dor, que o fez tremer internamente. A voz do outro saiu em um sussurro.
—Noland.
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—Eu não acredito que ele...
—Não era Sasuke. — A voz do outro o cortou enquanto terminava de fazer a bandagem nas mãos feridas. — Não era ele.
Ele repetiu com a voz menor, soltando sua mão de Itachi e se encolhendo ao redor de si mesmo no sofá. Itachi ouvira tudo sem demonstrar toda a raiva que sentia, de Sasuke, da situação e principalmente de si mesmo. Se o que Naruto dissera era verdade, assim como Aeron, Noland também estava mais presente do que pensava dessa vez.
Da última vez que Noland se manifestara havia sido a pior tragédia. Ele ainda era uma alma cheia de rancor, que apenas germinava a cada vida. Sem alívio, sem saber de toda a verdade. Sentindo-se traído, usado. Fora assim que ele morrera da primeira vez afinal: Sozinho e abandonado, acreditando nas suas mentiras.
Talvez ele fosse o pior monstro de toda aquela tragédia, por permitir que seu irmão, a pessoa por quem deveria dar a vida, retirasse a própria vida por conta de uma mentira. E tudo por ciúmes e medo.
Ainda assim... mesmo que Noland houvesse ferido Naruto agora, fora Sasuke que entrara no quarto, sabendo o quanto Naruto estava fragilizado por tudo que acontecera. Fora Sasuke que não soubera ouvir o não, sempre tão certo que suas vontades eram absolutas, como o garoto arrogante que era. Sempre tão possessivo, e esse sempre fora seu maior medo. Essa semelhança grande de Sasuke com Noland, como nunca antes, talvez isso que o trouxesse para a superfície dessa vez, assim como acontecera na Alemanha. Assim como acontecera com Albert.
E veja como aquela história acabou...Eles haviam chegado tão perto daquela vez. E então Albert...
Balançou a cabeça, tentando apagar a tragédia da sua mente, pois havia outra ali, logo na sua frente. Naruto havia escapado de morrer naquela noite, talvez ele não tivesse nem ideia do quão perto chegou de morrer. Aquela dor nos olhos de Naruto não fora causada por Noland, mas por Sasuke. No fim de tudo, era ele que tinha o poder de o quebrar mais do que todos nessa tragédia. Apenas Sasuke poderia aniquilar Naruto, e ele dera um grande passo para isso.
Seu telefone tocou e viu a mensagem de Kimimaro. Apesar da raiva, sentia-se aliviado.
—Sasuke está bem. Ele perdeu algum sangue, por isso irá ficar em observação por algumas horas. Ele estará novo para a prova de hoje. Agora precisamos cuidar de você.
—Eu estou bem. — O garoto murmurou, escondendo o rosto nos joelhos. — Já estou curado. Não dói mais.
Mentiroso.
—Itachi, quem é Noland?
A voz saiu abafada nos joelhos. Soltou o celular devagar, os olhos no outro. Naruto ergueu a cabeça um pouco, parecendo exausto.
—Por que ele me odeia tanto? Os olhos dele... havia tanta raiva. — Ele abaixou os azuis com tristeza. Então, de tudo isso, era o que havia ficado na cabeça do outro? Ele havia quase sido abusado e morto, magoado, traído, e tudo o que o preocupava era o olhar de raiva de Sasuke...de Noland sobre si.
Itachi não devia estar sentindo tanta raiva com isso. Ele sempre dissera a si mesmo, que dessa vez não iria se meter entre os dois. Havia aprendido sua lição. Sempre seria Noland. Sempre seria ele, e ele seria sempre apenas o guardião tentando redimir seus pecados. Mas isso não impedia a raiva que sentia pela falta de controle do seu irmão, por magoar tanto Naruto, que já havia sido quebrado tantas vezes. Não se impedia de pensar que Sasuke não merecia Naruto.
E isso era um pensamento muito perigoso.
—Aeron tem medo dele. — Naruto continuou, a voz abafada, quebrada. — Ele não voltou mais, e me sinto sozinho sem ele. Me sinto tão sozinho...por favor Itachi, eu preciso saber. Eu preciso saber por que eu mereço tudo isso...Se eu...
Sem se conter, colocou a mão nos cabelos loiros suados pela febre.
—Você não merece nada disso, Naruto. Nada. — Passou os braços ao redor do outro ao ouvir um soluço baixo, contido. Aeron nunca chorava. Por mais que o quebrassem, ele nunca chorava. A raiva era sua saída, mas Naruto era tão emotivo que o ajudava a diferenciar os dois mais ainda. Naruto era bom.
—Eu não quero vê-lo. Eu não consigo olhar para ele. — O outro falou, ainda baixo, a febre o deixando sincero. — Eu não consigo agora... Eu não queria que fosse assim. Eu não queria... — a voz do outro saiu baixinha, as mãos soltaram os joelhos e se agarraram a sua camisa com força. — A gente não merecia isso...
Ele não sabia se ele falava de Aeron e ele, ou Sasuke e ele. Suspirou, apenas consolando o outro.
—Vou lhe contar tudo. — falou quando os soluços quietos diminuíram. — Foi culpa minha, eu devia ter contado antes, mas...eu não queria que me odiasse. Por Deus que eu não quero isso, mas eu vou entender se você fizer isso. — Hesitou, sentindo o corpo quente contra o seu. Ele era tão egoísta. Nunca aprendia. — Apenas...durma um pouco antes. Vou cuidar de você.
Achou que ele fosse protestar, mas ele apenas assentiu, e em segundos, estava ressonando contra seu corpo. Exausto, febril e quebrado. Talvez mais desmaiado do que dormindo.
Afastou-o de si, para olhar o rosto agora sereno. Ele ganharia apenas algumas horas, antes de ele o odiar. Pensando nisso, o pegara nos braços com cuidado e o levara para cama, também se sentindo cansado por tudo. Depositara a preciosa carga no colchão, e sem querer pensar muito, deitara a seu lado, olhando para o rosto adormecido, querendo velar por ele enquanto esperava o remédio para a febre fazer efeito.
Os olhos azuis se abriram, cobertos na névoa do sono, e ele se aproximara de si, procurando calor. Mantivera seu corpo estático enquanto o outro praticamente se deitava por cima de si, a cabeça em seu peito, as pernas se enroscando nas suas, as mãos agarrando seus ombros, o utilizando como colchão. Seu coração acelerou, olhando para o teto.
—Sasuke... — a voz sonolenta sussurrou e sorriu tristemente.
Claro.
Sempre seria ele.
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Sasuke caminhava pelo corredor rapidamente, quase correndo, sem se importar em bater nas pessoas em seu caminho, ou nas possíveis advertências por não estar na aula, já que parecia melhor o bastante para correr daquela forma.
Acordara na enfermaria. E por um momento pensara que tudo fora um sonho, mas o médico albino tratara de jogar em si a realidade ao falar onde o encontrara, e como o encontrara. Ele não economizara nos detalhes. Na verdade, se pensasse bem, o outro parecia querer que se sentisse exatamente como se sentia: um monstro.
Seguira para o quarto de Naruto e o que vira fizera seu coração doer. Por sua sorte, era cedo demais para o Shimura houvesse retornado, ainda na enfermaria.
Havia roupas espalhadas pelo chão, e no colchão da cama de Naruto havia...tanto sangue. Uma maldita mancha cobria todo o lençol. Fechou os olhos com força, e era como se pudesse ver novamente os olhos azuis quebrados, o rosto machucado, as lágrimas, o rosto contorcido pela dor, sua mão tapando seu nariz e o boca, o sufocando, tentando o fazer se submeter.
Se eu não tivesse voltado a mim, eu teria o matado?
Fora tudo um frenesi naquele momento. Ele lembrava do sangue, de Naruto abaixo do seu corpo. Ele nem mesmo conseguia ter certeza se havia retornado a si a tempo de ser tornar mais um Obito na vida de Naruto. Se havia se impedido de terminar de quebrar qualquer coisa boa que havia conseguido naquele tempo.
Arrancou os lençóis com ódio de si, e catara suas roupas, fazendo uma trouxa, pronto para jogar aquilo no incinerador, no caminho de onde já sabia onde procurá-lo. Ele sempre sabia onde encontrá-lo, e aquilo não era diferente.
Ele tinha que ver Naruto. Tinha que pedir desculpas, implorar perdão, ver se ele estava bem. Por Deus que ele tinha que vê-lo e descobrir se já não era tarde demais, se havia estragado tudo de vez. Logo depois que Naruto o havia dito pelo que havia passado quando criança, e depois de Obito. Ele agira da mesma forma. Ele não o merecia.
Ele não o merecia.
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Quando a porta do quarto de Itachi entrou em seu campo de visão, foi como um impulso a mais para acelerar o passo e acertar um murro na porta. Seguido de outros mais afobados.
Não demorou mais que cinco segundos para Itachi atender a porta com uma cara nem um pouco amigável. As olheiras já tão naturais para ele pareciam piores, um olhar gélido.
— Sasuke.
— Cadê o Naruto. — Tentou olhar por cima do ombro do mais velho, mas Itachi fechou mais a porta, se colocando no caminho, impondo todos os seus dez centímetros a mais de altura.
— Ele não quer te ver. — disse categórico o que Sasuke já sabia. — O deixe em paz pelo menos por um dia, Sasuke.
Era razoável. Se estivesse pensando racionalmente perceberia isso. Sasuke estava se sentindo tudo menos racional naquele momento.
Ele o quer para si, sempre quis. Por isso não te deixa vê-lo.
Sentiu uma raiva cega e irracional. Seus ouvidos apitavam e sua visão se sentia nublada. Por que Itachi tinha que ter tudo e ainda querer o pouco que Sasuke considerava precioso?
— Não! Preciso me explicar, e não será você quem vai me impedir.
Aquilo era um aviso, tentou deixar bem claro isso com o olhar, mudando inconscientemente sua postura. Não queria uma briga de verdade com Itachi, há tempos ambos vinham com a relação aos trancos e barrancos, mas sempre evitavam algo físico. Mas dessa vez Naruto estava no meio, e isso mudava tudo.
— Sasuke, pare de ser um idiota pelo menos uma vez e pense. Você fez merda entendeu? Entenda que nem tudo é como você quer. Há coisas que não tem conserto. Nem que dê sua vida, não consegue remediar o passado. — Seu tom antes elevado abaixou consideravelmente na última frase, os olhos que antes estavam fixos nos do irmão desviaram para um canto qualquer do corredor. Sua mão apertando a maçaneta com força. Itachi, sempre tão calmo, parecia realmente abalado. O que deixava tudo tão pior. — Deixe-o, Sasuke. Vocês só estão fazendo mal um pro outro agora.
Sasuke quase recuou com isso. Itachi conseguia o fazer se sentir mal tão facilmente, e não era mentira o que ele falava...
Não é? Ele só diz isso porque quer o que não é seu. Ele sempre quer o que não é dele.
— Eu... Não posso. — E antes que Itachi pudesse reagir teve o ombro seguro e puxado, Sasuke o tirou do caminho com uma facilidade que o deixou ofendido.
Ele entrou na sala de tons tão monótonos e foi em direção do corredor. Avançaria mais, mas teve o braço seguro com força. Se virou com raiva para o mais velho, puxando o braço sem sucesso.
— Me solta! — sacudia-se, tentando acertar um soco no outro, mas teve a mão segura, levantou o olhar para Itachi, que estava sério demais, o corpo próximo ao seu. Ambos tensos. — Itachi-
— Sasuke, não me faça fazer o que não quero. — O outro tentou fugir do agarre, mas sentiu o aperto mais tenso. — Você não vai vê-lo agora. Ele não quer ver você.
— Por que simplesmente não pode me deixar falar com ele? Pare de se meter no que não te diz respeito. — Se encaram novamente, os olhos de Sasuke faiscando de raiva, iria falar com Naruto nem que tivesse de acertar a cara de seu irmão. — Itachi!
— Eu sempre deixei fazer o que quisesse, disse que não iria me meter, mas esse foi meu erro. Talvez se tornasse uma pessoa melhor se alguém tivesse te colocado em seu lugar. — Os olhos pareciam brilhar de raiva em si como nunca antes, e quase deu um passo para trás, mas não o fez. — O irmão de que me lembro não é assim.
— Quem é você para falar?! Que irmão você foi para mim, hein, Itachi? — Com um safanão se livrou das mãos do outro. Se virou para ele, apontando o dedo indicador para sua cara, as palavras ferinas vieram em uma torrente. Ambos com os olhares rivais fixos. — Eu vejo como olha para ele. Está tentando a todo custo tomar o Naruto de mim, já que está acostumado a ter tudo! Quando eu consigo algo você quer! Só que não vou deixar!
— Olhe o que está dizendo! — Itachi aumentou o tom. — Naruto não é um brinquedo seu, Sasuke, para alguém querer tomá-lo. Ele não é uma propriedade sua! Saia daqui, já deve até ter acordado ele. Saia daqui agora! — Tentou segurá-lo novamente, mas Sasuke desviou, a raiva aumentando de forma quase descontrolada.
Ele está mentindo. Ele está mentindo, os dois estão mentindo.
Como na noite anterior, uma névoa parecia cobrir sua visão, o sangue lhe subindo a cabeça. Perdeu o olhar preocupado de Itachi quando fechou os olhos e respirou fundo, seu coração muito acelerado. A mera sensação trazia a lembrança da noite anterior e todo o desastre que seguiu isso.
Uma mão tocou suavemente seu ombro e gritou.
— Não me toque ou acabo com você!
—Quero ver tentar, Noland!
A raiva quase evaporou com isso, a confusão a substituindo. Os olhos de Itachi também se arregalaram e ele pareceu que ia falar algo, mas uma voz os interrompeu.
— Chega.
Os Uchihas olharam em direção ao corredor que ia em direção ao quarto em sincronia. Naruto estava de pé de braços cruzados, o rosto em feições hostis.
Um arrepio correu por ambos os irmãos, podiam ver a ameaça, toda a força opressiva que vinha do outro garoto. Ele encarava Itachi, mas devagar os azuis claros foram em sua direção, fixando em Sasuke, intensos.
Sasuke sentiu sua raiva sumir de vez, seu corpo murchar da posição de luta de imediato. Aquele olhar dele...
— Naru...
— Fora.
Itachi mudou o peso de uma perna a outra, curioso repentinamente pela interação dos dois. Sasuke ergueu uma sobrancelha, como de praxe, irritando ainda mais o o outro garoto, que trincou o maxilar.
— Fora daqui. — disse entre dentes.
— Eu quero conversar, desculpe por te acordar...
— Não quero ouvir nada agora, fora!
Não só Sasuke recuou como Itachi também, ambos sentindo a urgência de cada palavra que o outro proferia, era uma ordem.
— Saiam! Os dois. Para fora!
Algo nos dois irmãos os comandou aos tropeços para fora. Naruto estava puto, e quando os dois foram jogados do lado de fora, a porta bateu em suas costas com força, o som alto e em seguida a porta foi trancada.
Entreolharam-se.
— É... — Suspirou Sasuke, coçando a nuca. De repente, com o choque tomando conta e a raiva indo embora, se dava conta do que tinha falado ao irmão.
Os absurdos que dissera o deixaram vermelho.
—O que diabos há de errado comigo? — sussurrou perplexo.
Itachi suspirou, batendo no ombro do mais novo, em entendimento, os dois ainda caídos sentados no chão.
— Vou tomar café, já que fui expulso do meu quarto mesmo.
—Quero o meu puro sem açúcar. Você paga.
—Moleque abusado.
Sasuke deu de ombros, a expressão tão confusa e triste que Itachi sentiu sua raiva diminuir.
—Precisamos conversar, Sasuke.
—Eu sei.
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—Eu não lembro de muita coisa.
A voz de Sasuke era confusa. Itachi fitou a estátua no centro do labirinto e sentiu seu coração se comprimir, mas ficou calado, enquanto o outro parecia tentar colocar ordem nos pensamentos confusos.
—Eu lembro de acordar na enfermaria. Eu lembro da raiva que eu estava sentindo, por Naruto não ter me contado sobre o jogo.
—Ele não sabia.
Sasuke o olhou, a expressão surpresa, e então dolorosa. Sua voz saiu pequena e baixa.
—Não?
Suspirou, voltando os olhos para a estátua: — Não. Ele não sabia sobre você. E sim, eu sabia, mas não podia contar, Sasuke. Eu teria sido expulso daqui se ao menos desconfiassem disso.
Ou morto, o que era mais provável. Havia apenas tanto que Madara podia fazer se saísse da linha, se desconfiassem do seu verdadeiro papel ali.
Para sua surpresa Sasuke não forçou o assunto, ele parecia tão triste, os olhos desviaram dos seus para o céu, e se fecharam enquanto ele continuava a falar.
—Eu estava com raiva, confuso, frustrado com ele. E então ele não veio me ver, e tudo foi piorando. Era como se...uma voz ficasse me falando coisas, o tempo todo.
Uma voz? Merda.
— Eu fui ao quarto dele, ele estava dormindo, mas acordou quando eu entrei. Nós começamos a discutir, eu fui um babaca com ele. Eu disse tanta...merda para ele, Itachi. — Viu pelos cantos dos olhos Sasuke tentar limpar as lágrimas com a manga do casaco, mas elas continuavam caindo. — E no momento não parecia. É tão...confuso. E tudo foi piorando. Agora eu vejo...eu noto o quanto ele estava desconfortável, com medo até. Todo o tempo. Ele parecia também tão...triste.
O melhor amigo dele tinha acabado de ser morto, Sasuke ferido, ele havia falado com o pai e nem pedir ajuda podia. Claro que ele estava triste. Triste era uma palavra pequena para descrever.
—E.eu comecei a forçar a barra. Eu queria que ele... eu não sei o que eu queria. Talvez me sentir menos frustrado? Talvez...provar para mim mesmo que ele realmente me amava, que ele não estava só me usando como essa maldita voz ficava repetindo sempre e sempre. Então eu lembro...a última coisa que eu lembro, eu perguntei se ele me amava.
Itachi virou para o irmão, que fitava agora as próprias mãos, as lágrimas caindo silenciosas.
—Ele disse que não.
Itachi sabia que Naruto havia mentido, mas não sabia o que dizer, não depois de tudo o que havia acontecido.
—E.eu acordei, eu abri os olhos... — Sasuke continuou, a voz mais baixa. — Com a voz dele, dizendo que me amava. E havia tanto sangue ao redor, e ele estava chorando e com tanto medo...ele estava aterrorizado, Itachi. Eu estava o sufocando e eu quase...Eu acho que consegui parar a tempo de fazer o mesmo que Obito, mas, no fim das contas, faz alguma diferença? Apenas o fato de que eu tentei...Depois de tudo...
—Sasuke...
—Eu sou um monstro, como eu posso ter... feito isso com ele? Por que eu faço tanta merda? O que tem de errado na minha cabeça!?
Itachi não sabia o que dizer. Ele nunca havia visto o irmão assim antes. Sasuke nunca, nem quando criança, agira de forma tão vulnerável.
—Eu estou sempre magoando ele, sempre o ferindo. E na hora parece...parece que é o certo, mas não é! Ele não merece isso, ele não merece nada disso e eu não o mereço...Eu sou o pior, eu não o mereço...
Sem saber o que fazer, Itachi fez a única coisa mais lógica. Abriu os braços no banco, e Sasuke praticamente se jogou em cima dele, já soluçando.
Fechou os olhos com força, tentando não chorar também.
As coisas só pioravam.
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—Naruto! Adivinha quem veio visitar você?
A voz animada da mulher ruiva encontrou o silêncio do outro lado da porta de madeira. Ela suspirou, já haviam se passado dias desde o enterro de Jiraya, mas a porta continuava fechada. No começo, eles lhe deram seu tempo, mas logo o fato de que toda a comida que eles lhe traziam voltava praticamente intacta foi se tornando mais preocupante.
Não havia pedidos, ordens ou ameaças que o fizessem sair do local sagrado que ele escolhera. Ele não falava muito mais que monossílabas com ninguém, desde que o haviam encontrado do lado do corpo na cabana. Mesmo o interrogatório não se mostrara com sucesso. Ele estivera em choque, e Minato mesmo não permitiria que o pressionassem muito, depois de tudo. Ninguém fora contra sua ordem.
Minato estava com medo de que ele voltasse a piorar, e Kushina tinha que admitir, que ela também. Tsunade também estivera lá, mas pouco pudera fazer, também imersa na perda recente. Eles não sabiam o que fazer.
—Naruto? Abre a porta para a mãe, amor. Karin está aqui, ela está louca para te ver.
Nada. As duas ruivas trocaram um olhar preocupado, sua sobrinha com lágrimas nos olhos. Ela não gostava de ver Naruto daquela forma. Era muito errado. O primo era o pequeno raio de sol dela.
—Ele não saiu ainda?
A voz as fez virar e encontrar Minato. O marido não estava respondendo muito bem também a perda, ela mal o vira nos últimos dias. Ele tinha olheiras profundas por trás dos óculos de grau, os cabelos bagunçados por ter dormido no escritório. Ela sabia que ele estava firme na investigação sobre a morte do pai, imerso, aéreo. E entre um e outro, Kushina estava perdida sem saber o que fazer.
—Já são sete dias. — A ruiva falou encostando a testa na porta. — Eu...não sei mais o que fazer. Ele está definhando, Minato.
O marido suspirou, colocando a mão no ombro da esposa, o apertando com carinho e segurança, pedindo passagem. Se sentia culpado, com o coração apertado. Ele estivera tão imerso, que negligenciara algo tão importante quanto o estado de Naruto depois de tudo que acontecera. Por que ele deixara a situação chegar até aquele ponto?
Talvez a vergonha de encarar o filho depois de ter falhado com ele pela segunda vez enquanto ele era tão machucado.
—Naruto? É o pai amor, vou entrando.
Não esperou resposta, que sabia que não teria. Se a saúde de Naruto estava em jogo, ele não ia esperar mais nada.
O quarto estava na penumbra, as janelas fechadas, mesmo assim, ele conseguiu notar algo anormal ali. Tudo estava muito...limpo. Naruto era um bagunceiro por natureza, como a mãe, mas quando ele se encontrava com algo o perturbando, ele desenvolvia um estranho senso de limpeza. Por vezes, quando as coisas estavam muito ruins, ele limpava tanto o chão que suas mãozinhas sangravam por conta da força e do alvejante. Era sempre uma prova de que algo estava muito errado quando seu quarto estava cheirando a alvejante e pinho daquela forma.
Acendeu a luz e como pensara, encontrara tudo arrumado. A cama lisa, a se pensar que ninguém havia mesmo dormido ali há dias. Todos os pôsteres haviam sumido da parede, que se encontrava estranhamente vazia sem todos os seus ídolos de Hockey ali. Sua estante de livros, geralmente bagunçada, não tinha nada fora do lugar. A única coisa desarrumada no lugar eram os baldes e esfregões na porta do banheiro, e foi ali que o encontrou, muito mais magro do que lembrava, vestido em uma camisa velha, grande demais para si e que reconhecia sendo do pai. Os cabelos loiros estavam úmidos pelo banho. Ele devia estar tomando muitos durante o dia, eles não podendo ver com ele trancado ali dentro.
—Naruto... — se aproximou e só então o garoto levantou o olhar distante para si. Os olhos azuis estavam vermelhos, Minato não sabia se pelo choro ou pela falta de sono. Foi preocupante a forma como ele o fitou por segundos, a sobrancelha franzida como se não o reconhecesse, até piscar e se voltar a tarefa que fazia, sem lhe dar mais atenção.
—O que está fazendo?
Perguntou gentilmente. Só então notou que lavava as mãos com uma força absurda na pele já sensível. A pele estava vermelha, quase em carne viva, e ele não sabia se pela limpeza e os alvejantes, ou pelo sabão e a força que ele empregava para limpá-las.
Segurou os pulsos dele.
—Chega. — Ordenou e recebeu o mesmo olhar vazio de antes. Minato se ajoelhou na frente da sua pequena criança machucada, o tirando de perto da água.
Tentou segurar as lágrimas enquanto o erguia com facilidade, o sentando na pia. Naruto estava leve demais para um garoto de 11 anos. Normalmente seu filho já parecia no mínimo um ano mais novo, e agora, se alguém lhe dissesse que ele tinha nove anos podia acreditar.
—Estão sujas. — O garoto balbuciou, parecendo confuso pelo ato de Minato.
—Não estão não. Você já as lavou bem. — Falou gentilmente, enxugando as mãos machucadas.
—Não, estão sujas. Não vê? — Ele sussurrou, erguendo as mãos para o rosto do homem. — Tem...sangue em tudo.
Minato pegou os pulsos finos com gentileza ao ouvir isso. Podia sentir a presença de Kushina atrás deles, na porta, mas o loirinho parecia a ignorar também, a voz vazia. A mesma voz de quatro anos atrás. Lembrava bem quando sua mãe havia falado sobre o TOC do neto, sobre como ele tomava banho, esfregando a pele até sangrar, dizendo que sempre estava sujo.
Ninguém merecia algo assim. Nenhuma criança merecia esse tipo de sofrimento, e muito menos a criança deles. E parecia que depois de mais aquele trauma, Naruto regredia, não podia deixar isso acontecer, todo o trabalho do pai se perder.
—Naruto...
— Eu toco nas coisas e elas ficam sujas de sangue. Tenho que limpar tudo, mas daí eu toco e sujo de novo... Eu tenho que limpar tudo...
Não suportou mais e o abraçou com força. O corpo se retesou no seu, e então começou a tremer, ou ele que estava tremendo, não sabia dizer de certeza.
—Não foi sua culpa. Nada foi...nada.
— Eu não consegui fazer nada... — a voz finalmente quebrou, reagindo. Sentiu os braços nas suas costas o abraçando. —Se eu tivesse sido mais forte...Me desculpa...
—Meu Deus Naruto! Você é só uma criança! Eu deveria ter chegado a tempo...Eu deveria...
Sentiu o aperto aumentar nas suas costas, e só então percebeu que estava chorando. E seu filho o estava consolando. E aquilo tudo era tão errado. Pelo espelho viu Kushina lutar no lugar, sem saber o que fazer, querendo correr para os dois. Negou com a cabeça e ela saiu, devagar, o rosto também coberto de lágrimas, levando Karin que olhava tudo espantada, machucada, sem saber o que fazer ao ver todo mundo tão triste.
—Daídi?
A voz sussurrou em seu ouvido após um longo tempo. E parecia ainda mais distante.
—Oi, filho. — Sua voz quebrou, mas tentou parecer calmo.
—Eu matei eles. — A voz saiu baixinha. — Eu matei os homens que mataram o vovô.
Minato se retesou com isso, os olhos muito abertos. Naruto dissera isso no interrogatório, mas ninguém achava possível ele ter feito algo assim. Não estando machucado, contra alguém que havia sido forte o suficiente para pegar Jiraya, um dos melhores agentes que eles já tiveram, mesmo que aposentado. Ninguém pegaria Jiraya facilmente. O lógico era que ele havia matado alguns atacantes antes de cair. Mas a voz do filho, no momento, era tão...verdadeira, que começava a duvidar da conjectura de antes por um instante.
—Mas ele matou o vovô antes... — o loirinho sussurrou. — E tinha sangue deles em toda parte...Tinha tanto sangue...Tem tanto sangue.
O filho deles não merecia nada disso. Nada.
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Naruto piscou, voltando a realidade, seu corpo tremendo levemente. E como se ainda estivesse preso a lembrança, ergueu as mãos e se horrorizou quando as encontrou cobertas de sangue. Sentia as mãos quentes, as faixas empapadas do líquido que escorria pelo seu braço como pequenas e finas cobras serpenteando. Sua respiração se acelerou e não conteve o grito, chutou tentando se afastar de maneira involuntária quando seu olhar foi de encontro ao colchão que também tinha o tom vermelho e brilhante.
Caiu da cama dolorosamente no chão do quarto, sobre o ombro direito, e sentiu algo molhar suas costas. Nem soube como, mas se pôs de pé com um grunhido, em pânico. O sangue era como um espelho grotesco no chão, estava por toda parte. Começou a hiperventilar e se abraçou, seus passos foram incertos para trás, suas costas bateram contra a porta, o corpo tremendo compulsivamente. Os olhos azuis tão claros arregalados, dilatados, vidrados. E não se conteve mais.
Gritou.
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Eles haviam sido movidos para dormitórios isolados, todos os jogadores. A escola ainda estava um caos buscando se organizar, e depois das informações que foram vazadas fazia sentido que eles fossem cautelosos, mas...era estranho. Tudo, aquele jogo inteiro era muito estranho.
Onde estavam Temari Sabaku e Sora Kazuma? Ele não conhecia a garota, mas lembrava que ela havia desaparecido e fora dada como morta há semanas. Depois do tiro, lembrava do tigre saindo carregada da floresta. Sora Kazuma era de sua aula de esgrima, e ele não aparecia desde a prova em que fora desclassificado, agora conseguia perceber.
Eles diziam que os perdedores eram expulsos, mas um deles ser dado como morto? Queria perguntar a Itachi, mas já havia desistido de ganhar respostas dele há algum tempo, e no momento não achava que merecia. Havia prometido ao irmão que deixaria Naruto sozinho por um tempo, e sem a nuvem estranha de raiva em sua cabeça, o pedido fazia sentido.
Ele havia...machucado Naruto. Profundamente. Ele lembrava de estar com raiva, da briga, de achar que convenceria Naruto a seu modo. E por Deus, como havia achado que aquilo seria uma boa ideia? Por que era tão fodido da cabeça para fazer algo assim?
Mesmo que não estivesse sob controle das suas faculdades mentais em algum ponto, que sequer lembrasse do que havia acontecido perto do fim, ele devia ter recuado quando Naruto disse não a ele. Quando viu seu desconforto. Mesmo com seu orgulho ferido, coração partido, ele deveria ter feito o que era certo. Ao invés disso havia agido como Obito: Apenas tomado o que achava que era dele, antes que alguém o fizesse.
Ele prometera que daria espaço a Naruto, os dois tinham muito o que pensar, e não se sentia em sua total sanidade no momento, com seu humor vagando em extremos como nessa manhã, sua cabeça lhe mandado fazer coisas que sabia que eram má ideia, e ainda assim de alguma forma faziam sentido no momento, o que era perigoso demais.
Por Deus, precisava de terapia. Para o resto da vida.
Ele prometera, mas quando sentira aquela dor em seu peito, o chamado, o choro em sua cabeça — definitivamente precisava de terapia, céus — seus pés agiram por vontade própria. Por sorte já estava na ala dos vencedores, nos novos alojamentos, e em minutos estava invadindo o quarto do irmão (desde o primeiro ano ali tinha a chave de lá), porque havia algo de errado com Naruto.
Olhou ao redor com a respiração alterada. Estava tudo vazio, os cobertores da cama de Itachi no chão da sala. Sua inspeção foi parada pelo som que veio do banheiro. A porta estava aberta, mas hesitou na soleira.
Aproximou-se e ouviu com mais clareza, era o som do chuveiro e... choro. A dor em seu peito só aumentava e seus olhos arderam.
— N.naruto? — Deu um passo hesitante e foi recepcionado por uma nuvem de vapor, o banheiro todo cheirava a pinho e sabonete, olhou para além do box e pode distinguir um corpo ali, que se mexia ritmicamente. — Naruto? Está tudo bem? — Engoliu seu orgulho, era a última coisa que queria dizer, mas sabia que era o certo. — Posso chamar o Itachi se precisar.
Nada. O choro ainda era constante, e um barulho ritmado.
Aproximou-se devagar do box, relutante, e empurrou a porta de vidro devagar. Ficou estático quando seu olhar se fixou no rapaz. Naruto esfregava os braços com tamanha força que onde passava a bucha ficava um rastro vermelho, seu tronco riscado. Ainda vestia uma calça de moletom, molhada, por estar debaixo do chuveiro. Soluçava baixo, seus ombros tremendo, e Sasuke notou sangue nas mãos machucadas, seu olhar desceu encontrando uma poça de vomito no chão do box, mas que já sumia ralo abaixo.
— Naruto... — gemeu, sentindo o peito afundar, o garoto soluçou alto, parecendo sequer notá-lo ali, olhava fixamente para a parede do banheiro enquanto soluçava, gemendo algumas vezes, o lábio inferior tremendo. — O que... Está fazendo?
Ele parecia quase...como se não estivesse realmente ali.
Como naquele dia na enfermaria.
Lembrava de encontrar Itachi assim algumas vezes quando criança. O olhar vidrado, andando pela casa no meio da noite. Falando coisas sem sentido, assustando todo mundo. Sonambulismo, terrores noturnos acompanhavam seu irmão desde que lembrava. Se piscasse os olhos podia ver Itachi ali, e não Naruto, e isso o assustava tanto que não sabia o que fazer, além de ficar parado, os lábios tremendo, a garganta apertada.
Quando o outro ergueu uma mão e socou o box com um grito frustrado saiu da sua inércia e entrou debaixo do chuveiro o abraçando, se encharcando totalmente no processo, tentando o conter, mas Naruto foi mais rápido e tentou o afastar, e tinha de admitir, ele era muito forte.
— Naruto! É o Sasuke. Você tem que acordar! — O segurou com mais força ainda, conseguindo prender os pulsos do rapaz para trás, puxando o corpo dele para colar em seu peito. Não conseguia decidir se isso iria piorar a situação depois de tudo, mas tinha que fazer alguma coisa. Era como seu pai continha Itachi, era a única coisa que sabia o que fazer. Ele estava trêmulo e a respiração ofegante em sua camisa molhada.
— Eu tenho que limpar... O sangue. Tem tanto sangue...— Naruto disse baixo, mas o tom aumentando gradativamente. — Tanto sangue...
— Naruto, pare, não há nada para limpar, você já está limpo. — disse, a voz trêmula, mas calmo, como se estivesse convencendo uma criança. — Já está limpo.
— Não... — ele gemeu e soluçou ao mesmo tempo, e como temia, ele começou a hiperventilar. Um ataque de pânico. — Tem sangue em mim, vou te sujar, no quarto... Em tudo...
— Naruto... Você tem que respirar.
Sua voz saiu assustada, Naruto parecia prestes a desmaiar.
— Eu tenho de limpar...
Sasuke, na hora, só pensou em uma maneira de parar o ataque. O puxou pelo queixo e levantou seu rosto, selando os lábios de maneira rápida, o fazendo controlar a respiração.
Ele enrijeceu e aos poucos seu corpo voltou ao normal em seus braços. O selinho foi longo, até sentir uma das mãos do outro agarrar sua camisa molhada. Se separaram devagar e reabriu os olhos escuros, encarando os azuis, que pareciam ter voltado ao normal, e o encaravam confusos.
— Sasuke...? — sussurrou. — O que...?
— Você estava... — parou por um minuto, e o outro se afastou de suas mãos, os cabelos loiros pregados ao rosto. Os olhos estavam cautelosos e sentiu seu peito se comprimir. Naruto estava com medo dele. — Você parecia tendo um ataque de pânico, não sei...Desculpe, foi o único jeito que me veio à cabeça, para...ajudar na respiração.
Ele se ergueu sem o olhar, saindo do box devagar e o deixando debaixo do chuveiro sem falar nada. Ficou alguns segundos ali, debaixo da água. Sentiu seu coração se partir mais um pouco.
Mas, realmente, o que esperava?
Ergueu-se se se apoiando no box e desligou o chuveiro.
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Naruto não conseguia olhar para Sasuke, mas não somente pelo os motivos que ele pensava. Sasuke era a última pessoa que queria que o visse daquela forma. O último surto que tivera assim foi semanas atrás, ao acordar do pesadelo de Castiel. Lembrava do fogo no quarto, de olhar para Sai e Itachi e ver os rostos derretendo. Lembrava do sangue na cama da enfermaria ao acordar.
Sinais da linha tênue que o prendiam a sua sanidade e diminuíam a cada dia que passava. E sabia que nada daquilo tinha ligação com misticismo, com o que quer que estivesse acontecendo desde que pisara ali. Aquilo, aquele surto era algo da sua mente quebrada.
— Aquilo não foi nada. — Sussurrou, mais para si mesmo. Tentando se convencer. Agarrou uma toalha que estava pendurada no gancho e se enrolou nela, indo até o quarto. Parou por um momento na porta, esperando achar ali o mar de sangue de antes, mas não, tudo estava como deveria estar. Foi até o guarda-roupa do Uchiha mais velho como se fosse o seu, para procurar algo e para evitar olhar Sasuke.
— Aquilo foi algo, Naruto. — Sasuke murmurou as suas costas. Pelo contado do olho o viu ensopado na porta do banheiro, os olhos escuros confusos, de uma vulnerabilidade que nunca havia visto antes.
O mande embora.
A voz de Aeron o pegou de surpresa, e sentiu certo alívio. Menos sozinho. O que era preocupante. Ainda assim o que ele disse o deixou confuso. Não havia a sensação errada de antes ao fitar Sasuke, e sabia que seu desconforto tinha outros motivos.
É Sasuke.
Eu sei, o mande embora.
Havia tanto ressentimento na voz de Aeron.
Me preocupa o fato de achar que não é justificado.
Não era ele.
Aeron se calou, mas podia sentir a raiva dele como um pano de fundo. Era diferente do que havia sentido quando...quando aquele nome havia surgido. Noland.
Naquela hora Aeron parecia tão assustado. Com tanta dor.
— Você estava se machucando, esfregando os braços com força como se tivesse com algo impregnando a pele. — Sasuke interrompeu seus pensamentos. A voz dele parecia mais recomposta, a expressão mais determinada. — E tinha vômito...eu acho que... deveria ir à enfermaria ou...chamar Itachi...ou se quiser...
— Eu só passei mal. — Ele o interrompeu — Obrigado por ajudar, pode sair agora.
Naruto não o olhou ao falar isso, e por um instante pensou que Sasuke iria reclamar como de costume, mas ele não fez. Tudo ficou silencioso.
Quando voltou o rosto, ele já estava na soleira. As costas dele parecia tremer minimamente antes dele sair do quarto.
—Eu sinto muito.
Foi só um sussurro, tão baixo que não tinha certeza se imaginou.
Sentiu as lágrimas nos cantos dos olhos, já descendo pelo o seu rosto enquanto se vestia.
—Eu também.
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Quando Itachi retornou, Naruto não estava mais em seu quarto. Seu quarto inteiro estava estranhamente limpo, cheirando a pinho, e havia uma nota na sua cama, dizendo que esperava encontrá-lo depois da prova, para que ele cumprisse sua promessa e contasse tudo.
A conversa com Sasuke havia sido difícil, e os conselhos que havia lhe dado ainda lhe queimavam a garganta. O choro de Sasuke, a voz autodepreciativa...Havia sido uma conversa tão dolorosa.
Aquela ia ser muito mais.
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Naruto nessas horas agradecia por ser tão bom em suprimir trauma, ou não conseguiria estar ali naquele momento. Estavam novamente enfileirados, quietos, às vezes algum deles se movia, olhando para os demais. Estavam todos apreensivos pelo rumo que o jogo iria tomar depois de terem os nomes revelados. Mas ainda assim, tiveram a ordem de permanecerem ocultos atrás das máscaras.
Para Naruto, o último da fila da direita para a esquerda, aquilo já estava ficando ridículo. Embora não pudesse negar que seu estômago estava gelado por estar parado perto de Sasuke, Hinata estava entre eles os separando.
Até se sentia melhor assim.
Rebecca chegou à frente, seus passos eram curtos, mas rápidos, ela passou por eles e parou de frente a Naruto. Vestia um macacão jeans e tinha uma bolsa em mãos. Séria e sem nenhuma palavra, abriu o zíper e retirou de dentro da mala uma pedra. Era redonda e branca, pode a ver com facilidade pelos holofotes colocados ali, ela a entregou em sua mão enluvada.
Ergueu os azuis para a garota, mas ela não deu nenhum sinal, somente deu um passo para o lado e entregou a Hinata um rolo de corda, não parecia ser muito grande.
Ergueu uma sobrancelha quando a viu se afastar e colocar a bolsa no chão. Uma pedra e uma corda, o que diabos aquilo queria dizer?
Pense que você descobre.
Assim você dá a entender que já sabe o que ela quer com isso.
Concentre-se apenas na prova.
— Como todos já sabem, houve uma quebra de segurança com os nomes de vocês, algum aluno invadiu nosso sistema e roubou o nome dos jogadores e espalhou pelo colégio. Garantimos que ele ou ela será descoberto, e punido devidamente. Mas isso não quer dizer que o jogo vai mudar. Ainda é proibido retirar a máscara, e falar durante as provas, isso acarretará uma punição e ou expulsão. Não é permitido nenhum tipo de motim, ou que um jogador ajude o outro. — Ela passou o olhar pelos últimos três. — Isto é, a partir de agora não iremos tolerar nenhum deslize, se burlar uma regra, fora do jogo automaticamente.
Naruto trocou o peso do corpo para a outra perna, apertando a pedra em sua mão. Só queria terminar com aquilo.
— A prova de hoje será simples e terá dois ganhadores, diferente das outras provas. O raposa e o leão já estão com os dois utensílios que serão necessários para obter os dois amuletos, então basicamente, terão que tomar isso deles se quiserem conseguir. Eles estão escondidos na floresta, em lugares altos e baixos. Sigam as pistas que esses itens representam.
Naruto não sabia que diabos de pista que teria em uma pedra lisa, mas já havia desistido de entender aquela gente.
Ela olhou no relógio, e Naruto viu Hinata se remexer levemente e colocar a corda transversalmente pelo corpo.
— Terão meia hora para voltar.
Ela mal fechou a boca e ouviram o som parecido com um tiro. O sinal.
Naruto foi o primeiro a reagir, seus pés afundaram no chão tomando impulso, passando pela garota num segundo. Os outros logo o estavam seguindo para dentro da floresta escura.
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Agora Google, me diga já que você suspeitava da prova, onde está esse maldito amuleto?!
Olhe pra cima, procure nas árvores, idiota.
Naruto o fez, andando agora normalmente, forçando a vista naquela noite sem luar. A floresta não passava de sombras escuras. Apertou a pedra em sua mão, droga, o que faria com uma pedra?
Ah, e o que você faria sem mim? Nada provavelmente. Ceart go leor, vamos usar um truque para achar essa porcaria de amuleto. Feche os olhos.
Pra quê? Você disse para eu não usar os poderes, está ficando com perda de memória com a idade?
Muito engraçadinho, meu pequeno. Talvez não precise de ajuda.
Desculpe.
Melhor. E quanto a sua pergunta, há alguns aspectos dos poderes que não lhe farão mal. Eu prefiro os chamar de...truques.
Como o charme?
Para sua surpresa ouviu a voz dele baixa e divertida.
Foi assim que chamou! Reclamou com um pequeno bico.
Sim, a lure. Ele deu ênfase a palavra. É um truque puramente mental, e muito envolvido com a percepção da sua aparência. E não é algo que vem apenas de mim, mas da sua própria descendência, minha presença apenas a amplificou.
O que quer dizer?
Agora não é hora. Feche os olhos.
Naruto fechou os olhos: — Ok, e agora?
Sinta, a natureza lhe dirá onde está.
Fez um trejeito balançando a cabeça e ouviu um rosnado vindo de sua cabeça. Tentou fazer o que o outro disse, se concentrar na natureza.
Isso é ridículo, o que diabos eu-
Parou. Aos poucos foi como se não estivesse mais em seu corpo, como se estivesse sendo puxado para uma direção, atraído por uma força invisível.
— Sim! — sibilou abrindo os olhos finalmente, virou-se para a esquerda e se pôs a correr, já sabia onde estava o amuleto.
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— Aeron, me diga que eu tenho algum poder de subir em árvores como um gato. Pode até envolver garras enormes, não me importo. — Sussurrou olhando para cima, podia ver a moeda grande pendurada por uma fita no alto de um pinheiro, na beirada de um galho. Os únicos galhos ficavam no mínimo há uns dois metros do chão, e já não tinha uma altura muito favorável para alcançá-los.
A árvore era do lado dos declives rochosos, e aquela deveria ser sua pista? Essa gente era ridícula.
E falando em ridículo, não obteve resposta. Devia o ter irritado.
Balançou a cabeça negativamente e olhou para os lados, não parecia haver ninguém o seguindo, o que era estranho já que ele era um dos únicos que tinham uma "maneira" de conseguir o amuleto.
Claro, eles preferiam enfrentar um adversário mais "fácil". Hinata.
E falando nisso, abaixou o olhar para a pedra. A única coisa que pensava em fazer com ela era tentar acertar o amuleto lá em cima, mas aquilo não parecia ser possível... Ou era?
Deu dois passos para trás e ergueu o punho, mirando com um olho só, se concentrando. Tinha só uma chance...
Levou o braço para trás num movimento leve e atirou a pedra com força.
E a acertou, de raspão. O amuleto somente girou lá em cima.
— Puta que pariu. — Gemeu.
Ruim de mira.
Agora você aparece.
Temos quinze minutos, droga, odeio ter que contrariar minhas próprias ordens, mas você precisa continuar no jogo. Nós precisamos. Feche os olhos.
De novo?
Quantas vezes eu quiser, só faça.
Rabugento.
Fechou os olhos, e sentiu aquilo, como um arrepio na coluna, não sentia mais o próprio corpo. Ergueu a mão suavemente, e moveu o dedo indicador.
Somente aquilo foi necessário para que ouvisse um barulho na madeira. Arregalou os olhos quando viu a árvore despencar ao chão, que tremulou com a força do tronco na terra, tronco esse que parecia ter sido rasgado de fora para dentro. Farpas estavam espalhadas para todo lado.
Aos poucos seu corpo voltou da dormência estranha.
Era para derrubar o amuleto, não a árvore.
E como eu poderia saber?
Argh. Vá pegar o seu amuleto. E isso, foi só uma pequena exceção a aquilo que eu disse a você, ouviu?
Tá. Mas eu estou curioso. Por que me deram uma pedra? Em comparação a o que deram a Hinata...parece inútil.
A voz de Aeron não tinha humor mais quando ele falou.
Uma teoria? Porque eles queriam que você usasse meu poder.
Ficou paralisado. Isso quer dizer que...eles sabiam?
— Você acha que estou aqui por isso?
Perguntou com sua própria voz, quietamente.
Aeron não respondeu, mas não precisava.
Correu por entre os galhos, folhas e pinhas, tropeçando até achar o amuleto no chão. O agarrou e passou a fita pelo pescoço.
Só esperava que Hinata tivesse tanto êxito quanto ele.
E Sasuke... Bem, não queria pensar nele no momento, só, voltar e acabar com aquilo.
Aparentemente, tinha algumas coisas que precisava saber sobre esse jogo ainda.
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A garota tentou permanecer o mais calma possível.
Ok, tudo vai acabar bem, pensou.
O amuleto estava no fundo de um buraco, devia ter uns três metros de profundidade e cinco de diâmetro. E como havia o encontrado, bem isso parecia estranhamente bizarro, mas, ela simplesmente foi naquela direção. Como se já soubesse.
Se virou olhando para as sombras da floresta, não sabia o que queriam com aquela atitude de terem escolhido somente ela e Naruto para pegarem os amuletos. Mas de uma coisa tinha certeza, eles queriam que lutassem, que se enfrentassem, era um desafio.
Com um suspiro resignado a garota foi em direção a uma árvore próxima ao buraco e amarrou a corda em seu tronco, quatro nós por precaução. Suas mãos estavam trêmulas em nervosismo, seus olhos claros corriam para a floresta a cada segundo. Sentia um olhar sobre si, estava sendo vigiada.
Sua respiração ficou presa em sua garganta quando ouviu o som abafado como se algo bastante pesado caísse de cima de uma árvore.
Arregalou os olhos puxando a corda com mais força para se certificar que estava bem presa, para uma descida, se preparando para entrar ali, tentando ignorar o som que havia ouvido.
E então aquela voz.
— Você vai morrer, seu maldito.
Foi algo baixo, mas que fez os pelos da nuca da garota eriçarem. Ouviu sons abafados, uma luta, por perto. Naquela floresta de silêncio absoluto, qualquer som parecia ecoar com uma intensidade incrível.
Ficou tentada a ir ver quem eram, mas se conteve, não era da sua conta, mas... E se fosse Naruto?
Maldita consciência.
Tomou fôlego e correu em direção ao som, não demorou muitas passadas para que ouvisse um gemido dolorido. Se escondeu atrás de uma árvore e olhou de soslaio, estava escuro, mas podia identificar bem quem estava no chão.
Sasuke, aquela máscara não enganava. E de pé, com uma lâmina fina na mão, o lontra, com toda sua altura, corpulento e forte. Ao seu lado o cobra, com as mãos na cintura. O que mais estranhou naquela cena foi que Sasuke não se levantou, não reagiu, ele gemeu, se inclinando sobre a perna. Estava machucado. Eles já deviam estar lutando há um tempo.
Uma emboscada.
— Só tem marra, não presta pra nada. Nem presta para foder aquele loiro. —O cobra riu desdenhoso. — Assume logo, Uchiha, tá tão na cara que dá nojo.
— Cala a boca seu maldito! Juugo, seu traíra! — Olhou-o, a voz firme, se colocou de joelhos, começando a se levantar. Se apoiou nas próprias coxas, era visível que ele devia ter sofrido uma contusão no tornozelo, mal conseguia ficar de pé. — E não torne a falar do Naruto com essa boca suja!
Hinata viu-o se colocar em posição de luta, mesmo com o tornozelo magoado, ele estava se colocando pronto para uma briga. O cobra parecia estar se divertindo com a teimosia do Uchiha, o lontra se mantinha calado e quieto, observando com a faca nas mãos.
Então eles haviam feito uma aliança. Pensando nisso agora, seria óbvio que aquilo aconteceria em algum momento.
— Eu sempre quis te pegar de jeito e amassar essa tua carinha. — O cobra falou, ainda com as mãos na cintura enquanto o outro ergueu a lâmina nua que tinha na mão, ameaçadoramente. — Vamos te cortar todinho.
— Vai se foder.
Antes que ele pudesse se recompor totalmente, o lontra atacou.
Hinata piscou, dando um passo para trás. Não sabia o que fazer. Suas mãos tremiam, seu coração acelerado, sua boca se entreabriu inconscientemente. Ela podia sentir a tensão, podia ver cada movimento com uma nitidez que só a adrenalina no sangue poderia proporcionar. O brilho da lâmina cada vez que passava a centímetros de acertar Sasuke. Cada golpe com força e gana que Juugo desferia, cada desvio lento de Sasuke.
Se... Se eu não fizer nada... Ele vai matá-lo!
Sasuke recuava, não contra-atacava ainda, e quando o cobra se juntou a eles, tudo piorou. Eram dois contra um.
Hinata estava em um dilema. Mas o que ela faria? Era só uma garota inútil, como todos diziam. Sempre eram os outros que a salvavam, ela nunca salvou ninguém. Mas... Por Deus, ele iria morrer por sua causa!
Juugo conseguiu acertar um soco no estômago do Uchiha, que caiu de joelhos sem fôlego, os olhos arregalados, agarrado ao tórax. E em seguida uma cotovelada no meio das costas, justamente sobre o ferimento da facada.
Foi demais para ele. Sasuke caiu sem ar, sem respirar, sem conseguir gemer de dor, a boca num grito mudo. Ainda o via ir em sua direção a lâmina pronta, a máscara lhe tampava as feições e a impedia de ver seu desespero.
O brilho assassino nos olhos de Juugo não podiam ser ocultos nem com isso
.........................................
— Ei!
Quando os olhos de Sasuke foram em direção ao som, Kabuto já estava caído, com algo sobre ele. Alguém. Eles rolaram pelo chão por um momento, desviando a atenção de Juugo também para o que acontecia.
Esses segundos foram precisos para que Sasuke voltasse a respirar, mesmo com dificuldade, e começasse a se levantar. Sentia-se tonto desde o começo da prova, e agora tonto e com dores, estava pior. Seus sentidos não pareciam estar em ordem, seu equilíbrio estava afetado pela perda de sangue.
— Não me esqueci de você. — disse o maior ao se virar, deixando os outros dois de lado.
Respirou fundo, tinha de ter calma, tinha certeza de que era Hinata, Naruto teria um ataque mais efetivo do que ela.
Naruto.
Engoliu em seco e se colocou em posição de luta, que fosse o que Deus quiser.
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Hinata passou o braço pelo pescoço do rapaz, prendendo a respiração dele dolorosamente. Seu joelho o segurava contra o chão. Podia sentir o corpo tenso dele, as mãos agarradas a seu braço. Ouviu um silvo, iria o deixar desmaiar para o soltar, mas para sua surpresa ele levou o braço para trás, agarrando o coque de seu cabelo e empurrou sua cabeça para frente.
Sua testa bateu contra a cabeça dele com força, e Hinata sentiu o choque em seu crânio, ficando zonza. Aquilo doía ainda mais por causa da máscara de acrílico. Soltou-o, caindo para trás, a mão indo a sua cabeça que começou a latejar. Sentiu algo escorrer pelo seu nariz. Sangue provavelmente.
— Oh, merda. — Sussurrou, mas antes que se desse conta, levou um chute na região das costelas. Caiu de lado, os olhos arregalados.
— Piranha. — Ouviu-o falar antes de levar outro chute, agora no estômago, ficando sem ar.
Kabuto se virou, observando Sasuke e Juugo, julgando que ela estaria acabada.
Era o problema deles: a subestimarem. Como se Hinata não estivesse acostumada com dor, seu pai nunca segurou um soco na vida quando a treinava.
— Piranha é a senhora sua mãe.
Foi a última coisa que ela disse antes de acertar um chute na parte de trás dos joelhos dele, Kabuto se desequilibrou e caiu, recebendo em seguida um soco no rosto e um cruzado. Subiu em cima dele.
Ela não gostava de machucar as pessoas, mas podia abrir uma exceção para esse.
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Sasuke conseguiu acertar um soco no lontra, mas não escapou do punho cruzado do outro, que acertou seu maxilar por cima da máscara. Desequilibrou-se em um passo e tentou se recuperar. Estava se sentindo cansado. Sabia que se a luta se prolongasse seu corpo não aguentaria. Seria massacrado. Tinha de pôr um fim naquilo rápido.
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Quando o cobra conseguiu reagir, segurando o punho da garota, já tinha levado mais golpes do que poderia contar. Ela era rápida, ágil, e sempre tentava o atingir pelos pontos cegos. Ele sabia que se fosse um mano a mano legitimo não teria chance, afinal ela era uma Hyuuga por um motivo. Por isso optava por seu melhor jogo: O sujo.
Hinata sentia-se mais confiante a cada golpe, focada na luta, tentando ignorar os outros dois, apenas queria que o Uchiha estivesse saindo-se melhor agora. Se algo acontecesse a Sasuke, Naruto nunca a perdoaria.
Desviou de uma rasteira, saltando ligeira para o lado e se agachando, armando um soco que apagaria o outro de vez, mas nesse momento, quando ele virou algo saiu de sua mão e foi para seu rosto. Hinata ouviu o chiado, o calor, e gritou, caindo no chão na mesma hora.
Suas mãos foram rápidas para a máscara, a removendo de imediato, tentando livrar-se do ácido que a corroía. Rasgou parte da blusa, sentido a pele queimar por baixo onde o líquido havia escorrido. Ele havia jogado ácido nela.
Se não fosse pela máscara eu estaria morta!
Eles realmente estavam sérios, eles queriam matá-los.
Aquilo não era apenas um jogo.
Tossiu, tentando respirar melhor, de quatro no chão, e foi quando sentiu um chute forte na região das costelas que a fez gritar.
—Hyuuga!
Ouviu o grito de Sasuke, e então o barulho de uma pancada forte, e outro grito de dor. Tentou erguer-se, os braços queimados, ácido havia escorrido por parte do seu peito e a dor era medonha. Sentiu que alguém a forçava no chão, sua cabeça na lama. Olhou para cima e viu o grandão, lontra, em cima dela.
Onde está Sasuke?
Mesmo em meio a dor, seus olhos alertas o procuravam, mas sua cabeça foi empurrada com mais força no chão. Sentiu seu braço sendo puxado para trás, o som era apenas da sua respiração forte e a do outro. E então a dentada e ainda mais agonia.
—NÃO!
Ouviu dois gritos distintos, um era esganiçado, desesperado. E era seu.
O outro era de Sasuke, e sentiu quando o grandão foi jogado para longe de seu corpo. Continuou caída no chão, se arrastando, tentando segurar o braço inútil e mantê-lo no lugar. Seu corpo inteiro estava trêmulo e não conseguia parar de chorar.
Mal conseguia distinguir Sasuke posto a sua frente em uma posição defensora, a dor a deixava enjoada demais. E agora sentia-se pior do que tudo. Eram dois contra um, e ainda com Sasuke tendo que defendê-la.
—Saia daqui. — falou entre soluços. — Fuja daqui!
—Você só pode ser uma idiota. — Foi a resposta seca do outro, que apenas analisava os outros dois, parados a sua frente. Eles estavam apenas brincando com eles. Eles estavam ali realmente pensando em matar, e aquilo agora era claro. Se ela não estivesse pronta para isso também, ela nunca venceria.
—Um de nós tem uma chance. — Ela tentou ponderar.
—Droga! Não pedi sua ajuda antes! — Sasuke rosnou, os olhos desesperados, tentando formular um plano rápido. — Eu nunca pedi sua ajuda!
Maldito orgulho Uchiha. Hinata teve vontade de socá-lo.
— Não fiz por você Uchiha! Naruto nunca vai me perdoar se algo...
—...acontecer com você!
Os dois falaram ao mesmo tempo. Então pararam, a respiração forte.
E Hinata sabia que não adiantava insistir.
E foi quando as coisas apenas começaram a piorar.
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Estava voltando para a clareira, o medalhão pendia em seu pescoço, balançando de um lado a outro em seu peito. Era estranho o silêncio da floresta, uma quietude incomum para uma noite de jogo, pois geralmente já teria sido atacado. Aquilo tinha sido fácil, fácil demais, dava até para estranhar.
Mas tudo em sua mente se esvaiu quando em sua cabeça, uma voz cansada sussurrou.
Por favor... Não.
E então a dor, algo dilacerante que parecia aumentar. Ouvia as vozes, sentia o desespero.
As imagens surgiram em sua cabeça em uma velocidade alarmante. Viu Hinata no chão, viu seu braço sendo forçado para trás e o barulho agourento, e os gritos desesperados.
NÃO!
Aquela voz...era de Sasuke. Estava vendo pelos olhos de Sasuke...e aquilo era...NÃO!
Caiu de joelhos, com as mãos na cabeça.
Era muita dor, mas havia algo mais forte do que a dor, aflorando dentro de si.
Uma fúria homicida.
Quando voltou a erguer seus olhos, eles estavam cinzentos.
...........................
Sasuke tentou livrar-se dele, mas seu braço era seguro firmemente para trás, a lâmina em seu pescoço. Sentiu-o aproximar de seu rosto, a respiração gelada bateu ali e ergueu o olhar para o outro, um de seus piores olhares. O cobra riu sacana a sua frente. Hinata não se movia há alguns minutos, provavelmente havia desmaiado pela dor.
Que esteja apenas desmaiada.
— Sabe essa faca, Uchiha? Foi ela que eu afundei nas suas costas... E que agora, vou dar um fim na sua vida insignificante.
Sentiu a raiva quente correr em suas veias. Então fora ele! Esse maldito que o esfaqueou por trás, covarde.
Iria responder, mas Juugo segurou-lhe a nuca apertando uma de suas artérias dolorosamente. Trincou o maxilar, a lâmina apertou sua pele. Queria o encarar, amaldiçoando-o, mas não conseguiu, e fechou os olhos.
Sentia-se cansado, febril, sem esperanças.
Desculpe Itachi, pai, mãe. Desculpe Naruto, mas não consigo mais.
Sentiu a dor fina rasgando sua pele, Kabuto começou a deslizar a lâmina devagar na sua bochecha, superficialmente. Claro que o maldito aproveitaria cada instante. Onde diabos estavam os vencedores? Por que ninguém fazia nada para ajudá-los? Eles iriam matá-los, e eles não estavam fazendo nada!
A faca afundou mais, tentou erguer o pescoço para fugir, mas o agarre de Juugo era firme atrás, o prendendo.
—Primeiro, vamos fazer um serviço nesse rosto. Vamos ver se alguém vai achar você bonito depois disso Uchiha-
A voz dele parou de forma abrupta. A faca sumiu.
Ouviu um silvo surpreso atrás de si e abriu os olhos ao ouvir o som de algo cair com força no chão.
Juugo o soltou de repente também, e caiu de cara. Ergueu o rosto da lama, e foi quando viu, no momento que ele se erguia de onde caíra agachado. O corpo de Kabuto fora jogado a certa distância pelo impacto, ele tentava erguer-se e a máscara dele... estava quebrada. Havia sido quebrada, pelo o que quer que tenha sido o objeto de impacto que o retirara dele.
A silhueta não deixava dúvidas, ainda assim, seu coração acelerou ao ver a máscara branca e laranja, ao sentir os olhos cinzentos por trás dela, sabendo que ele estaria olhando seu corpo quebrado, Hinata desmaiada na lama. O corpo tenso, empertigado em uma posição tão ameaçadora que sentiu que se pudesse, havia recuado passos como Juugo fazia agora.
E então, se não bastasse, aquela voz desceu sobre eles, fria e afiada como uma lâmina.
— Parece que fizeram meus amigos de saco de pancada. — A voz saiu quieta, Sasuke olhou hipnotizado para a lâmina que estivera antes em seu pescoço, girando na mão habilidosa do outro, e então parando. — Hora da retribuição.
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Luíochán: Emboscada!
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