Liathróid
Eu nunca fui o mais esperto de qualquer grupo, estava longe de ser um gênio. Se não fosse meu avô e meu pai me forçando a pensar desde cedo, eu teria dificuldades de me ater por tempo suficiente em qualquer coisa.
Meu avô havia me dito uma vez que minha mente era preparada para batalha: eu tinha o hábito de pensar rápido em situações de pressão e montar estratégias, mas sentar e estudar era uma tortura. Era um dos meus únicos talentos na minha opinião. Isso, e em ser um bom mentiroso quando preciso, depois de anos montando uma máscara para não preocupar ninguém, você fica bom nessas coisas.
O fato era, eu não era o mais inteligente e nem o mais bonito. Eu havia herdado traços dos meus pais que eram bem atraentes neles, mas a mistura os tornava algo mais exótico do que atraente em mim. Minha boca parecia muito larga, meus olhos eram grandes e nunca tinham uma cor definida. Eu tinha sardas demais ao redor do nariz, que me parecia muito feminino e eu sempre fui o mais baixo dentre os garotos de qualquer turma em que estudei.
Isso era óbvio demais para mim, então eu nunca entendi a atenção, o fascínio estranho que recebia. À primeira vista eu conseguia passar quase despercebido, mas com o tempo, parecia que todos os olhos migravam em minha direção. Não era natural e, mais que tudo, não era seguro.
Em uma época na vida que queria que me notassem.
Rápido eu decidi que mais que tudo, queria ser invisível.
..........
ALÍVIO.
ALÍVIO FORTE, QUE CONSUMIA TODO O SEU CORPO.
Quando saiu, olhou a neve como se fosse a primeira vez. Tudo parecia mais puro, tudo parecia novo. Depois de tanto tempo vivendo em medo, por si e por aqueles que devia proteger.
Eles festejavam a seu modo. A guerra havia acabado e deixado seu rastro de destruição, mas eles haviam conseguido sobreviver.
Parou de caminhar na entrada das árvores, longe o bastante para ninguém o ouvir da casa, mas perto o bastante para vê-la. Anos de vigilância não iriam acabar fácil. Quase riu histericamente ao pensar nisso. Uma risada que logo se transformou em soluços e lágrimas. De alívio, do medo que nunca pode demonstrar enquanto estava tentando ser forte por outros. As lágrimas que segurou todas as vezes em que a Gestapo ficou perto demais de descobrir as pessoas que escondia no porão. Quando Sr. Aaron ficou doente e achou que não fosse conseguir os remédios sem levantar suspeitas. Pelo o medo quando começou a sentir aqueles...poderes estranhos se manifestarem sempre que sentia raiva.
Chorou pelos soldados que teve que matar para defender os seus. Não foram poucos, a Gestapo sempre parecia encontrá-los para onde fossem.
Não sabia quanto tempo demorou com as lágrimas caindo e os soluços seguros pela mão enluvada. Quando parou, seu rosto molhado estava gelado. Sorriu aliviado. Tudo ficaria bem. Talvez...talvez até mesmo Alfred e ele pudessem ficar finalmente juntos. Ainda estaria muito longe de ser permitido, mas...eles conseguiriam dar um jeito. Eram sobreviventes.
Com isso em mente acendeu um cigarro e olhou a floresta, sentido a fumaça esquentar seu corpo. Brincando com o isqueiro, focou nas chamas, as vendo aumentar a seu comando. Era pequeno, estava longe de controlar aquilo, mas era alguma coisa. Talvez um dia conseguisse entender de onde eles viam, o porquê de sempre estarem ligados a nomes estranhos que lhe vinham à mente: Aeron, Davlin, Ewen, Noland.
O porquê de as vezes olhar no espelho e se ver como outra pessoa.
Teria tempo para descobrir tudo isso. Sorriu, apagando o cigarro, pronto para retornar aos seus. Abraçar Edgar, as longas conversas com Sr. Aaron. Beijar Alfred sem medo de ser a última vez.
Foi quando ouviu o disparo. Por um momento não entendeu, assustado. Até sentir a dor lancinante nas costas. Se apoiou na árvore mais próxima e olhou para baixo, vendo o sangue de onde a bala havia saído, os dedos incrédulos tocando a ferida. Antes que pudesse gritar ouviu outro disparo. Dessa vez o impacto fez com que caísse.
Sentiu a neve em seu rosto, o gosto de sangue subindo em sua garganta, espirrando com uma tossida por ar e sujando a neve. Seu corpo se moveu, se arrastando, tentando se afastar dos passos logo atrás em uma última tentativa de luta. Cuspiu mais sangue, se preparando para gritar em aviso aos outros, aviso que o perigo ao que parecia não havia acabado.
Tudo parou quando alguém o virou de frente na neve sangrenta e viu o rosto do seu assassino. Nesse momento todo a luta fugiu do seu corpo. Seus olhos, incrédulos, se encheram de lágrimas ao fitar os olhos escuros no rosto frio e pálido.
Ele se agachou na neve ao seu lado. Uma mão segurando a arma ainda quente, a outra tocando seu rosto. Ouviu gritos vindo da casa, mas não conseguia focar em nada mais. Levantou uma mão, confuso, tocando o rosto dele de volta com dedos trêmulos, querendo quebrar a ilusão, porque não poderia ser verdade.
Em meio ao sangue alojado em sua garganta e preenchendo seus pulmões, não conseguia vocalizar a pergunta que lhe queimava a garganta.
Sentiu a mão deslizar sem forças, deixando um rastro de sangue no rosto do outro. Ele lhe olhava com tanta raiva.
— Eu te amava.
"Por que, então?" Tentou perguntar, mas sua voz saiu em um som estrangulado por ar, de dor, agonia e confusão.
Rodolfo morreu sem entender o que tinha feito de errado.
Naruto acordou com um grito preso em sua garganta. Imediatamente olhou para baixo, procurando o sangue. Esperava o ver jorrando pela saída das balas, conseguia sentir o seu gosto na boca.
Não havia nada.
Não conseguia lembrar todos os detalhes do sonho, apenas de morrer. Apenas do sentimento de enorme confusão e traição que sentia em seus últimos momentos.
Controlou sua respiração, sentindo o medo e a tristeza que o seguiu mesmo ao acordar se esvaindo aos poucos, o deixando estranhamente...vazio.
O que está acontecendo comigo?
Sentou-se na cama, removendo os cabelos úmidos de suor com a respiração trêmula. Olhou ao redor do quarto e viu a cama de Sai vazia e ouviu o barulho do chuveiro em funcionamento. Calculou que já seria tarde. Era domingo e não havia aula, apenas algum treinamento para os clubes.
Quando chegou no quarto na noite anterior havia entrado no banheiro rapidamente, ignorando as piadas do seu colega. Depois se enfiara na cama tentando dormir, falhando de forma miserável até tarde da noite, sua mente a mil por hora. Naruto corava só de lembrar o que havia acontecido. E empalidecia também ao lembrar do que podia acontecer se alguém os houvesse visto, se Obito soubesse.
A situação já estava se tornando em algo completamente ridícula. Não era de sair chorando por qualquer coisa, e havia perdido as contas de quantas vezes já havia o feito desde que pisara naquele maldito lugar.
Considerando minha situação pode ser perdoável, certo?
— Então a bela adormecida acordou!
A voz irritante de Sai o vez virar o rosto para o outro que o analisava com um sorriso falso, saindo do banheiro com uma calça frouxa e a toalha no pescoço.
— Vai se foder, Shimura. — Resmungou, se levantando e pisando no chão gelado. Se pudesse não sairia da cama o dia inteiro, mas não podia mais ficar padecendo daquele jeito.
— Alguém está de mau-humor. — Sai cantarolou. — De qualquer forma, espero que a festa de hoje anime essa sua cara de exterminador do futuro.
Isso fez Naruto parar na porta do banheiro e se virar curioso.
— Festa?
Sai vestiu uma camisa e então suspirou, dramático.
— Você já está tão intrincado na crença popular dessa escola que me esqueço de que é novato. A festa antes do início dos jogos. Todo ano tem uma no domingo para todos os alunos no salão principal.
Eles fazem um baile antes de matar os alunos. Que lindo. Pensou sarcasticamente. Deve ser a versão deles da última refeição.
— Divirta-se, eu não vou. — Falou entrando no banheiro.
— Oh, que pena. — Sai parecia tudo menos com pena. — Estava todo mundo apostando que você seria a atração principal, se perguntando o que você aprontaria dessa vez. Eu apostei dinheiro em você, sabia?
O nível da audácia desse filho da puta quase me impressiona.
— Vai pro inferno, Shimura! — Gritou do banheiro.
— Mas Naruto, eles colocaram até um tema em sua homenagem.
Naruto abriu a porta colocando a cabeça para fora, curioso.
— Do que diabos está falando?
— Apareça e descubra. — Sai piscou e saiu do quarto.
Esse merdinha. Tenho até medo de descobrir do que ele está falando.
Naruto não seria o entretenimento de um bando de adolescentes.
Você é um jovem também, sabia? Ainda um filhote.
— Que ótimo, você voltou. Agora cala a boca.
Resmungou em voz baixa, porque agora além de ouvir vozes falava sozinho também.
— Estou enlouquecendo.
Posso te assegurar que é completamente são, pequeno.
— Me sinto assegurado, a voz que ouço na minha cabeça disse que sou são.
Tomou seu banho, tentando desviar o assunto de pensamentos nada castos com pessoas se agarrando em labirintos e bibliotecas. O que foi em vão. E aquela voz irritante na sua cabeça não ajudava. Deveria se preocupar com aquilo, estava acostumado demais com sua voz da insanidade, não era normal, achar normal ouvir vozes.
Só concluiu isso agora?
— Muito bem, ou você cala a boca eu vou em um psiquiatra de novo arrancar você espertinho.
Boa sorte com isso. Vai precisar, já que falhou da última vez.
— Não falhei, tanto que você estava bem caladinho até agora. – Esperou em expectativa – Há! Nada a dizer com isso, né espertinho?
Resmungou em vitória, saindo do banho, só para encontrar um pacote em sua cama. Olhou desconfiado para a caixa de presente cinza. Secou os cabelos com a toalha e se sentou na cama, olhando aquilo como se fosse lhe morder. Tinha o símbolo da escola nele.
Medroso
Pegou a caixa e abriu antes que perdesse a coragem, rasgando o laço e encontrando lá um manto negro com capuz. O virou entre as mãos, curioso. Por dentro havia um veludo vermelho e atrás um número sete. O colocou na cama e olhou dentro da caixa. Havia mais coisa lá dentro: A primeira máscara branca, semelhante à de carnavais venezianos. Cobria todo seu rosto, deixando apenas o espaço para seus olhos e para respirar. Os desenhos intricados formavam um rosto de um animal em laranja e vermelho. E reconheceu a ironia disso.
Era uma raposa.
— Maldito.
Pegou o terceiro objeto que era um envelope e o abriu sem cuidado, já movido pela raiva, rasgando o selo do colégio e amassando o papel delicado.
Naruto Uzumaki
Compareça na data de segunda-feira sete na ala sul do colégio, sala 23 à meia-noite. Vá portando sua máscara e vestimenta. O descumprimento dessas ordens ou compartilhar essas informações com alguém está sujeito a severa punição.
Atenciosamente, a direção.
Amassou o papel fazendo uma bola com raiva e jogando de volta na caixa junto com a capa e a máscara. Não queria ver aquilo até amanhã, quando seria obrigado a os usar.
Apenas quando tampou viu mais uma coisa caindo dela, era um envelope menor que estava dentro da capa. O pegou e abriu. Iria saber logo o que era, a situação não poderia piorar, certo?
Encontrou uma letra bem desenhada e pequena em um pequeno cartão em branco.
Olá minha raposinha, espero que tenha gostado de sua máscara, achei apropriada.
Irei vê-lo hoje à noite no salão. As roupas dos alunos para o baile estarão disponíveis da recepção. A sua já está a sua espera, eu mesmo a escolhi, quero que a vista.
Isso não é um pedido.
E sempre pode piorar.
Não havia uma resposta apropriada para isso.
.................................................................................................................................
Sasuke descontava tudo no saco de areia.
Geralmente aos domingos ficava no grêmio onde fazia parte, ou estudando na biblioteca, adiantando matérias para continuar em primeiro lugar no quadro de notas. Dessa vez, não tinha concentração nenhuma para estudar. E bibliotecas se tornaram um lugar perigoso para sua sanidade.
Queria ver Naruto e entender o que diabos acontecia na cabeça daquele dobe para ficar fugindo como uma donzela. Estar gostando de um cara podia ser confuso, mas se ele, Sasuke Uchiha, já havia admitido para si mesmo, não devia ser tão difícil assim, deveria?
Se ele fosse uma garota, não seria tão complicado. Ele deve ter algum problema sério na cabeça. Pensou irritado dando outro soco no pobre saco de areia. Claro que eu tenho que gostar da pessoa mais insuportável do lugar.
Para piorar, havia recebido pela manhã as roupas para a cerimônia de convocação. Um falcão, número cinco. O general. Ele devia estar se concentrando nisso, no jogo, nas possibilidades do que seria a primeira prova, mas novamente aquele dobe atrapalhava tudo.
Por que ele tem que ser tão...irritante? E tão...tão fofo.
Sasuke pausou, incrédulo e horrorizado. Agora estava achando pessoas fofas.
Chutou o saco de areia com novo vigor, o suor descendo por suas costas.
E ainda tem o baile.
Geralmente ele não iria para esse tipo de besteira, mas queria ver Naruto. E mais uma vez, por causa daquele dobe, foi assediado na fila de roupas para pegar a sua para o baile, uma veste de lona que tinha uma aparência puída, mas que lhe caia bem. Uma calça bege e uma camisa azul escura que se abria um pouco na frente. Se assemelhava as roupas de antigos viajantes marítimos, com direito a botas pretas de cano longo e até mesmo uma espada falsa e uma argola dourada de pressão.
Era ridícula.
Ele se prestaria realmente aquele papel.
O que eu não faço por ele. Pensou com desgosto. Estou mesmo condenado a maldição dos Uchihas de sofrer por um idiota. Quase me sinto mal por zoar Shisui por todos esses anos.
Se aquele maldito não aparecesse, não responderia por si mesmo. Afinal, o tema era para ele, escolhido pelos alunos. Tinha vontade de rir disso. De novo. Naruto já havia se tornado uma lenda popular de tanta confusão que causava.
E eu fui gostar justo...disso.
Pausou, abismado. Não havia o que se feito. Ele se resolveria com Naruto naquela noite. E o puniria por estar o fazendo esperar tanto e imaginar com que roupa ele iria aparecer.
Iria punir aquela boca insolente até não querer mais...
Ai meu Deus, se controla, cacete!
Com o rosto em chamas, deu outro soco no pobre saco, quase sendo acertado no rosto de volta quando ele ricocheteou com o impacto. O segurou, olhando ao redor, desconfiado, para ter certeza de que ninguém havia visto isso.
— Eu devo estar enlouquecendo, só pode.
................................................................................................................................
Obito não costumava ficar olhando as câmeras de monitoramento, mas nos últimos dias isso havia se tornado seu passatempo favorito. Podia por meio delas, sem sair de sua poltrona confortável, vigiar o Uzumaki de perto. Assim poderia saber cada passo que ele dava. Era prudente o fazer, visto o que ele era capaz.
Infelizmente não era tão desocupado para poder ficar o dia todo o olhando, tinha coisas a mais para fazer do seu trabalho.
Desligou o notebook, fechando-o, e suspirou enquanto passava as mãos pelo rosto cansado. Estava sendo bastante pressionado por seus superiores. Os velhos eram exigentes em se manter informados de tudo, mesmo sempre recebendo relatórios, mandavam que lhe enviasse fitas de vídeo das câmeras de segurança. Mesmo que Obito achasse tudo aquilo exagerado demais, como se não confiassem nele, ele entendia.
Eles temiam que algo saísse de seus comandos. Temiam que o garoto se tornasse uma bomba relógio em potencial dentro do castelo de cartas deles. Sendo ele filho de quem era, o envolver era um risco tremendo. Obito realmente não esperava que eles o colocassem no jogo, eles sempre haviam sido cuidadosos nas escolhas por isso, ninguém iria querer lidar com a repercussão de alguém importante sumir. Poderia ser o fim de todo o esquema. Estavam pisando na areia movediça. Se ele morresse no jogo, desencadearia uma série de investigações. Sua morte não ficaria em segredo nem impune, Namikaze iria vir atrás de sangue. Precisariam de um jogo de cintura bastante arquitetado para se safarem dessa.
Obito sabia que estava perdendo alguma coisa, havia algum detalhe que não estava sendo compartilhado com ele, tinha que ter, porque não fazia sentido. Eles claramente queriam algo do garoto a qualquer custo, pensara que era a morte dele, mas começava a ter suas dúvidas
Faria o possível e o impossível para que Naruto não morresse, não somente pelos problemas, mas também porque não conseguiria saber que ele não existia mais. Seria a mesma coisa que matar a si próprio, depois de tanto tempo o esperando.
Aquele garoto, antes mesmo de o conhecer pessoalmente, era a única coisa que havia o mantido são por todos esses anos, por todo o inferno que passou. Obito não iria perdê-lo.
Olhou o relógio de mesa que marcava quase seis da tarde. Desviou o olhar para um de seus vários animais empalhados na parede, tentando se acalmar. Sempre conseguia, ao fitar os olhos inexpressivos dos animais que um dia já viveram.
Iria vê-lo naquela noite. Sentia o coração palpitar no peito, ansioso para vê-lo vestido com sua fantasia. Seria uma boa distração para sua cabeça. E se estivesse certo, lhe cairia muito bem.
.................................................................................................................................
Ele se prestou mesmo aquele papel, depois de muito hesitar. Se iria ser mesmo obrigado a ir, que fosse rápido, assim podia voltar cedo e dormir, que era o que precisava. Passou o dia vegetando na sala de tiro ou no tatame com Itachi, que manteve sua sanidade não perguntando nada. E saber que Itachi estaria naquele baile, por mais que não quisesse admitir, era um alívio.
Apesar dele não lhe contar também que maldito tema era esse de que Sai tanto falava. Nem mesmo ver sua roupa o ajudou a descobrir.
Era um tecido grosso. Uma calça negra apertada que não deixava muito a esconder, para sua irritação. Acompanhava botas de cano longo da mesma cor e uma túnica verde musgo apertada, quase negra e de mangas longas, por cima até as coxas. Para complementar um cinto também negro e uma lança dourada de um material duro e resistente, com um cabo de madeira.
A túnica possuía detalhes dourados de símbolos que sabia serem celtas e junto a si havia um saco de lona escura para colocar de lado, como uma bolsa de viajante. Para completar a palhaçada, uma capa negra com um capuz.
Naruto conhecia aquele personagem, não sabia de onde. Acabou desistindo de entender, tentando ignorar a importância para esse circo. Sai já havia saído há algum tempo quando saiu do banho e se vestiu. Deixou o cabelo molhado, desarrumado e retirou a barba de dias. Se olhou no espelho e novamente aquela imagem lhe lembrou algo, uma figura da infância, que seu avô lhe contava.
Foi pensando nisso enquanto caminhava pelo corredor vazio, até chegar ao salão onde havia música e burburinho. Assim que entrou, distraído, o burburinho cessou e sentiu muitos olhos sobre si. Olhou ao redor, intimidado e inquieto.
O salão era amplo, com algumas vigas emolduradas para suportar o teto com o mesmo adorno, a sua direita ficava algumas mesas com petiscos e ponche, onde alguns alunos com suas roupas estranhas pegavam porções. Perto das amplas janelas ficavam as mesas redondas, com quatro cadeiras cada, de madeira envelhecida. No meio, via a pista de dança com ladrilhos coloridos e um globo de vidro em cima. No teto, havia grandes faixas com símbolos desciam pelas paredes junto as janelas que tinham cortinas em tom musgo.
A sua direita ficava a bancada do DJ e uma grande porta de vidro bem ornamentado que dava para a sacada, grandes caixas de som espalhadas pelo local. As luzes baixas, brilhantes e coloridas pendiam do teto, dando uma diversificada no ambiente que era decorado de maneira mais rústica.
Foi então que seus olhos caíram na grande faixa sobre a entrada do salão.
"Dia da Irlanda"
Naruto bufou. Era isso? Sabia agora do que era sua fantasia, o nome surgindo na sua mente com clareza.
Bando de idiotas. E que decoração cafona.
Tenho que concordar dessa vez. Me sinto ofendido.
Eles eram dois. Pelo menos sua voz da insanidade concordava com alguma coisa dessa vez. Para algo que existia nele, geralmente ela era bem do contra.
Ignorou a risada em sua cabeça e tentou caminhar rápido pelo salão, fugindo dos olhares, que mesmo com a música voltando, ainda estavam em sua figura. Abaixou o capuz, rodando a lança em sua mão, mal-humorado com toda a situação ridícula.
Podia ver um amontoado perto da escadaria. Um grupo de garotas rodeando alguém, algumas esticando a cabeça do grupo em sua direção. Pelos gritinhos só podia ser uma pessoa presa ali e Naruto realmente não queria envolvimento na situação.
Olhou ao redor, querendo encontrar um canto para ficar quieto e amuar, mas claro que fora logrado ao esbarrar em alguém, braços o segurando segundos depois. Sentiu uma sensação desagradável ao olhar para cima e encontrar os olhos de Obito, que o encarava com um brilho estranho. Naruto se livrou das mãos dele imediatamente, a expressão cautelosa tomando seu rosto.
— Tal como eu pensei que ficaria. Você está... — O homem suspirou. — Perfeito.
— Dispenso seus elogios. — Rebateu de maneira seca, tentando passar pelo mais velho, que o segurou pelos ombros. Teve as mãos chacoalhadas dali, recebendo um pequeno rosnado do garoto, que surpreendeu a ambos. Naruto não sabia que poderia produzir um som assim.
— Hn. Isso foi...interessante.
O homem pareceu terrivelmente divertido, depois da surpresa com o som. E Naruto só queria tirar essa expressão da cara dele.
Naruto tinha plena consciência de que estava sendo olhado por todo o salão. Tinha que se refrear. Apontou para a própria roupa e ergueu uma sobrancelha de forma inquisitiva: — Lugh?
O rosto de Obito se iluminou com isso.
—Achei que fosse adequado. Lugh significa...
— Belo como o sol. – Interrompeu. — Deus Lugh, um dos grandes heróis da mitologia irlandesa. O guardião da lança invencível, um dos quatro tesouros dos Tuatha Dé Danann, o povo das fadas. Eu sei mitologia irlandesa, obrigado. Não sabia que alguém como você soubesse.
O homem não pareceu irritado com seu tom ácido, apenas divertido.
—Tive bons motivos para aprender. — Ele deixou um sorriso travesso aparecer, ainda o fitando.
A maneira como ele o olhava era enervante. Só havia tanto que conseguia aguentar de conversa com o homem que estava ameaçando as pessoas que amava de morte.
— Anotado. Agora sai da frente. — Cuspiu entredentes, tentando desviar do outro pela segunda vez.
— Ora, que educação é essa? Pensei que estivéssemos em uma conversa civilizada agora. — O homem caçoou. — Esqueceu que só está assim tão bonito, pois fui eu quem escolheu sua fantasia?
Naruto fez questão de demonstrar apenas como um olhar em como não estava agradecido por isso.
— Eu odiei essa merda, agora, me deixe passar, ou vou fazer você sair da frente. — A voz baixa e ameaçadora, desencadeou uma gargalhada do Uchiha. Naruto trincou o maxilar e fechou as mãos em punhos.
Era fácil demais perder o controle com Obito.
— Você é tão encantador quando está com raiva, Naruto. — Colocou a mão sobre a barriga, recuperando o fôlego. – Mas deveria diminuir seu tom ofensivo comigo garoto e lembrar com quem está falando. Só vou deixar passar impertinência até certo ponto e não sou um dos seus colegas para me intimidar com isso.
Obito endureceu o olhar, o fitando por cima. Naruto sentiu seu instinto de perigo ainda mais ativo, os pelos da sua nunca se arrepiando e ouviu um rosnado feroz em sua mente, bem mais ameaçador do que o que havia emitido. Apesar de cada célula do seu corpo o mandar fugir, se manteve no lugar, sem recuar.
— Nem você é meu pai para mandar em mim.
Viu um sorriso de canto aparecer no rosto do mais velho, que iria dizer algo, quando uma figura parou ao lado de Naruto.
Era surpreendente e preocupante como relaxou no mesmo momento ao perceber Itachi ali.
— Naruto, algum problema? – Não foi preciso palavras para que Itachi dirigisse um olhar ao tio, e então ao redor.
Todo o salão parecia olhar disfarçadamente na direção deles.
Estavam chamando atenção demais.
Obito percebeu isso também, sua postura relaxando, recuando.
— Não, Itachi querido, estava somente o elogiando pela sua fantasia. Já estou de saída. – Sua voz saiu amarga, o olhar com uma sombra que para o sobrinho tinha significado. — Passem bem e boa festa!
Em um segundo ele sorriu, como se aquela conversa não tivesse se tornado pesada. Antes de sair, ele lançou um último olhar furtivo ao adolescente, que tentou não estremecer.
Aquele cara era insano.
E perigoso.
E eu não sei disso?
— Itachi. — Virou-se para encarar o outro rapaz e pausou, o observando. Ele vestia uma grande capa negra com capuz, que cobria todo seu corpo deixando somente seus sapatos sociais à vista. Os cabelos longos presos num rabo-de-cavalo frouxo, suas olheiras pareciam ainda pior do que o normal. — Obrigado e o que diabos está vestindo?
Apesar da situação, o outro sorriu com a pergunta abrupta, uma sobrancelha se erguendo em questionamento. Naruto apenas piscou, nenhum pouco arrependido.
— Por baixo estou com uma túnica. Sou um sacerdote. — Por um momento Naruto sentiu-se zonzo, as palavras de Itachi lhe despertando um sentimento, como se já as tivesse ouvido. Itachi tocou-lhe o ombro, ao notar o olhar oscilante dele. — Está bem?
— Não é nada. – Desvencilhou da mão dele, se sentindo incomodado. — E então. Que palhaçada é essa?
Dessa vez Itachi deu uma pequena risada, murmurando algo baixo que não conseguiu ouvir com o som da música eletrônica que começou de forma abrupta. As luzes se tornaram mais mórbidas para dar ênfase as coloridas na pista de dança e Naruto já queria ir embora.
— O que disse?
— É uma espécie de homenagem a você. — Itachi falou alto e abaixou o olhar que antes viajava pelo salão, mirando os olhos azuis. Naruto percebeu com desagrado que o outro estava terrivelmente divertido com a situação. O traidor. — Todos aqui estavam já ansiosos para sua chegada. — Naruto bufou cruzando os braços, logo após ter encostado sua lança a parede. Os lábios carnudos formaram uma carranca. Ou um bico. — Afinal você até perdeu o discurso de iniciação...
— Esses idiotas... – Soltou o murmúrio, se virando para olhar ao redor. Sentindo as bochechas queimarem ao notar que realmente, todos o olhavam. — Parece que nunca me viram.
— Eles estão somente te admirando. — Itachi conteve uma risada ao ver a cara que o loiro fez com isso.
E agora Naruto sabia que ele estava mesmo o zoando.
Esquece, não estou aliviado em ver esse desgraçado aqui.
Naruto franziu a face e caminhou de braços cruzados até a sacada, sendo seguido de perto pelo mais velho. Esquecendo-se totalmente da lança no processor. O saco de viagem também já havia sido perdido.
Devolver a fantasia seria uma aventura na manhã seguinte.
Quando se viu abaixo do céu escuro coberto por nuvens, o som mais ameno agora que estava fora do salão, deixou-se tranquilizar mais, se encostando a mureta que os separava do jardim atrás de si.
— Você não quer comer nada? – Itachi o fitou se aproximando, parando a sua frente. Seu andar manso, parecia mais flutuar, ainda mais usando aquela capa.
— Não tenho fome. Mas talvez beber algo cairia bem...
— Eu se fosse você não colocaria uma gota de algum líquido daqui na boca. — Itachi olhou para trás, como se procurasse alguém, ato que não saiu fora do radar de Naruto.
– Por quê? — Ergueu uma sobrancelha, olhando para cima, tentado fitar o mais velho.
— Nada de importante. — Ele deu de ombros, voltando a olhar Naruto. – Você realmente ficou bem com estas vestes.
Itachi riu da cara mal-humorada do adolescente que lhe virou as costas em uma atitude totalmente madura.
— Estarei por perto. — Ele falou se afastando, tão silencioso quanto viera. Naruto bufou, escondendo um sorriso pequeno.
— Claro, parece um fantasma. Me sinto em Hogwarts.
Itachi não conteve uma risada baixa, fazendo o sorriso de Naruto aumentar ao se ver sozinho.
Naruto sentiu a brisa gelada bater em seu rosto, jogando seus cabelos em seus olhos. Se não fosse toda aquela situação, o fato de não gostar de lugares frios e de ter um tarado ameaçando matar sua família... E ter que participar de um jogo onde poderia morrer e tudo mais... E aquelas visões que lhe davam a certeza de que seu destino seria um psiquiatra e uma clínica o resto da vida, isso se saísse vivo daquele lugar... Enfim, se não fosse tudo isso ele poderia até achar o lugar bonito.
O jardim imenso, as estátuas de pedra que via ali da sacada, uma fonte mais a frente, brilhante pelo luar que escapava em fendas pelas nuvens pesadas. O lugar parara no tempo com os pinheiros e a floresta ao longe que parecia tão intimidadora.
Claro amaid, lá tem cabanas com adolescentes apodrecendo.
Voz de insanidade estúpida que não o deixa nem devanear sem estragar sua paz.
Sentiu uma presença atrás de si antes mesmo de ouvir a voz rouba perto demais.
— Se pensar demais vai sair fumaça.
A voz profunda fez seus pelos da nuca arrepiarem-se e se virou com a mão no coração. Sasuke estava recostado na porta aberta da sacada, saindo do salão onde se ouvia as risadas e música.
Ao que parece, ele havia finalmente se livrado das fangirls.
Abriu a boca para lhe chamar de bastardo, mas parou, os olhos avaliando a aparência do Uchiha. Ele estava muito bonito, tinha que admitir, mais ainda do que o normal. Com uma roupa dos viajantes marítimos irlandeses, com direito a uma argola que o deixava parecendo um pirata, o que combinava bem com o sorriso malicioso dele no momento.
A calça não deixava muito o que imaginar sobre os músculos das pernas dele, e a blusa caia bem no tronco magro, um pouco aberta no pescoço, deixando à mostra a pele branca... Imediatamente a cena da biblioteca no dia anterior fez seu rosto esquentar e virou as costas rapidamente.
Claro, ignore o problema e ele vai embora, sempre funciona.
Que ótimo, sua voz da insanidade estava se tornando sarcástica também. Fechou a cara, mas claro que ela estava certa, pois logo sentiu a presença atrás de si, próxima demais.
— Você acha que Itachi é melhor do que eu?
A pergunta o pegou de surpresa e voltou a se virar rapidamente, quase se arrependendo ao ver que Sasuke estava perto, muito perto. O empurrou com a mão, a deixando entre eles e olhando para os lados nervoso. Não havia ninguém por perto, todos pareciam estar comemorando aquela maldita festa pelo início dos jogos.
Se soubessem que seis deles vão morrer...
Balançou a cabeça.
Ótima hora para pensar de forma positiva.
Sentiu a mão de Sasuke envolver seu pulso e voltou a realidade encarando os olhos negros no rosto estoico.
Esperando a resposta.
— Estava espiando, sotalach? — Perguntou desconfiado
— Claro que não. Só passando. Mas aí vi o cara que anda fugindo de mim como uma garotinha virgem depois que eu o masturbei na biblioteca conversando com meu irmão e dando risadinhas e tive que parar para bater um papo.
Naruto deixou a boca levemente aberta, e só então percebeu que o rosto pálido de Sasuke estava levemente corado.
— Sasuke, você bebeu?
O outro deu de ombros.
— Eles deixam entrar bebida no colégio? — Perguntou, verdadeiramente curioso.
— Claro que não, dobe. — Sasuke sorriu de lado. — Mas regras foram feitas para serem quebradas e Obito para ser feito de trouxa. E você não me respondeu.
Naruto piscou atordoado. E então gargalhou.
— Quem diria, você fica super sincero quando bebe.
Sasuke revirou os olhos e Naruto se acalmou, ainda respirando tentando conter a risada.
— Que idiotice tentar se comparar, vocês são muito diferentes. Não tem sentido ver quem é melhor que quem, sotalach. — Respondeu sincero e o outro soltou sua mão se recostando na bancada, o olhando enquanto Naruto virava para continuar fitando o jardim, estranhamente tranquilo com o outro ali. — Sei lá, é tipo Yoda e Anakin.
O outro ergueu uma sobrancelha fina, curioso com a comparação.
— Itachi é o Yoda? — Perguntou tentando soar sério, mas sorrindo de leve com a comparação infantil do outro. E ao imaginar Itachi verde.
— Ele tem uns conselhos na ponta da língua. — Naruto soltou com um pouco de desgosto. — E quase sempre não entendo.
É, isso é bem Itachi. Sasuke pensou, quase divertido. E quem diria que Naruto era tão geek. Era bonitinho.
— Então sou Anakin. O Darth Vader. — Falou franzindo a testa.
— Antes de Darth Vader. Sempre achei Anakin o mais fodão. — Ele sorriu, mas logo arregalou os olhos e mordeu o lábio ao soltar aquilo.
Olhou Sasuke de soslaio, ele o olhava surpreso, e logo com um sorriso malicioso no rosto que o fez fechar a cara.
— Hum, interessante.
Perto, ele está mais perto. Oh droga.
Sasuke se pós atrás dele o prendendo com as mãos na bancada, enquanto Naruto continuava olhando para frente, engolindo em seco.
— Eu posso ser Anakin, se você for Padmé. — A voz muito perto da sua nuca o arrepiou, ainda assim se virou indignado.
— O que disse, seu bastardo?!
— O que ouviu. — Sasuke riu se colando mais a seu corpo e beijando seu pescoço. Naruto olhou para a porta, assustado.
— Eu estou mais para Han Solo. Me larga Sasuke... — Pediu baixo.
— Nesse caso eu sou a Léia. E você não parece tão certo. Você geme tão gostoso Naruto, passei a noite sonhando e acordei duro.
Naruto arregalou mais os olhos. Sasuke estava mesmo muito bêbado.
Escondeu um gemido ao sentir uma mordida na sua orelha, seus pelos se arrepiando.
— Você não sente vergonha nessa cara? E não, você não é a Léia. Você não é tão legal assim.
Sasuke removeu a cabeça do seu pescoço, o olhando quase ofendido.
Naruto imaginou se o álcool o deixava tão expressivo assim, era quase divertido de ver.
— Ouch. E não. E na verdade, estou duro agora só de lembrar.
Aquela conversa estava muito confusa. E se Naruto ficasse mais vermelho poderia ser confundido com o cabelo de sua mãe.
— Isso não é novidade, que eu tenha percebido você é bem sensível, sotalach.
Sasuke estreitou os olhos, Naruto o fitava com falsa inocência, os olhos azuis brilhando divertidos. Dessa vez foi o Uchiha que ficou vermelho
— Isso porque é você. — Falou, voltando o beijar o pescoço longo do outro já com a expressão maliciosa novamente.
— Do que...hn... — Naruto quase se bateu mentalmente com o pequeno gemido quando sentiu um joelho do outro entre suas pernas. — Está falando, sotalach?
Por que eu não me livro dele? Se perguntou quase em desespero.
Porque está ocupado demais gemendo. Pensei que fosse óbvio.
Voz irritante.
— Não percebe? — Sasuke murmurou, a voz em um tom ausente, mesmo enquanto beijava seu ombro, uma mão tocando sua cintura. — Você morde uma caneta na sala e o Inuzuka vai bater uma no banheiro.
— Mas que porra é essa que você tá falando?
— Que você é mais popular do que revista pornô aqui dentro.
Naruto ainda o olhava chocado.
Sasuke franziu o cenho.
— Hn, você é mesmo distraído.
Muito rápido, Naruto segurou o braço direito do Uchiha e girou o corpo graciosamente para trás, se colocando atrás do outro garoto, chutando seu joelho, o desequilibrando para frente. Nesse momento Naruto puxou os braços do Uchiha por trás, o imobilizando curvado de joelhos no chão.
— Quem é distraído?
Sou voz sussurrou no ouvido do outro garoto, que estava imóvel, surpreso demais com a ação que o deixou rendido em segundos.
Sasuke respirou rápido, sentindo o pico de adrenalina subir. Um sorriso se rendeu em seu rosto, sentindo o corpo quente atrás. Naquele momento Sasuke Uchiha percebeu uma verdade em sua vida: Ele tinha uma kink, e ela era por pessoas perigosas e competentes.
Em outro momento ele analisaria isso.
Nesse momento ele só conseguiu formar um pensamento coerente em palavras ao se sentir rendido nas mãos de quem começava a pensar que seria a pessoa mais perigosa naquele colégio: — Naruto, quando eu foder você, e eu vou, vai ser tão forte que não vai andar por dias sem lembrar de mim.
Naruto se engasgou soltando, o Uchiha rapidamente, que se ergueu com um estranho brilho de devoção no rosto.
— Mas que merda, Sasuke!
— Você é mesmo puritano, Dobe.
— E você um pervertido! E... e estranho! — Naruto o olhava assombrado, o rosto vermelho, os olhos azuis arregalados. — Puta que pariu, Uchiha!
— Sem kink shame, Naruto.
— Do que diabos está falando agora?
Naruto perguntou quase em desespero.
Sasuke sacudiu a mão com um 'deixa pra lá', um sorriso pequeno em seu rosto. Talvez fosse o álcool que tivesse deixado seu humor tão bom, mas talvez fosse Naruto e como era divertido o irritar.
Naruto bufou e cruzou os braços, irritado, voltando a se recostar na bancada mais afastada e escura do outro lado, ignorando Sasuke.
Sasuke o seguiu, ainda olhando o joelho machucado, disfarçadamente analisava o perfil corado de vergonha do garoto mais velho. Um sorriso carinhoso se desenhou em seus lábios sem que percebesse, vendo as bochechas infladas do outro. Ele preferia assim, o Naruto irritado ao Naruto triste e aéreo.
— Hey, Dobe.
O loirinho o ignorou com um pequeno resmungo.
Sasuke balançou a cabeça, se chegando devagar. Quando Naruto deu por si, sentiu o corpo do mais alto atrás de já bem perto. Virou-se para esmurrá-lo dessa vez, já cansado de lidar com bêbado, mas se deparou com o olhar brilhante nos olhos escuros, o fitando de uma maneira que fez seu coração disparar. Lembrou de repente das visões. Uma em especial, que fez um calor subir em seu peito, o amolecendo.
Sorriu sem perceber, toda a irritação sumindo. Deu um suspiro e balançou a cabeça.
— Você é estranho, Sasuke.
— Olha quem fala.
Sasuke se inclinou, tomando seu rosto entre as mãos quando viu que não seria rejeitado. Com os dedos, acariciou as bochechas coradas: — Eu não vou desistir, Dobe. Mesmo que você fique fugindo de mim como uma virgem, eu sei que você também sente algo por mim.
— Sotalach... — Começou. irritado pela comparação, mas não acabou.
Seus lábios foram pressionados contra o do outro rapidamente. Quando deu por si, havia os entreabertos e o beijo se tornou profundo, o esquentando. Quando acabou se encararam com os olhos nublados, duas feras enclausuradas. Naruto se ergueu na ponta dos pés o puxando pelo colarinho da blusa verde com violência e o beijando irritado, faminto, por pouco não os jogando para fora da sacada.
Sasuke gemeu surpreso, o puxando para si e quando deram conta, Naruto estava jogado contra a parede mais escura do lado oposto da bancada, o corpo quente contra o seu, em um beijo ainda mais impaciente.
Uma mão boba entrou pela túnica do outro, impaciente, a infiltrando e recebendo um gemido entre o beijo. Naruto soltou sua boca, uma mão puxando os cabelos da sua nunca, os lábios quentes foram para seu pescoço e Sasuke sentiu que recebia uma marca dolorosa ali.
Sasuke se deu conta que Naruto sabia exatamente o que estava fazendo e que era muito bom nisso.
— E eu sou o pervertido. — falou sem ar.
—Calado. — Naruto o cortou, mordendo seu queixo e recebendo um arfar surpreso com um sorriso.
Naruto sentiu uma mão fria subia arranhando a barriga bronzeada. Guiado pelos instintos, quando deu por si sua própria mão havia entrado por dentro da calça bege de lona do Uchiha, que gemeu contido ao sentir a carícia atrevida em uma parte de sua anatomia que estava mais do que animada com isso, enquanto a boca travessa do outro dava uma risada perto do seu ouvido.
— Sensível demais. — Naruto provocou, fazendo um movimento de masturbação lento.
Sasuke tirou a mão da barriga do outro e com ambas alcançou o traseiro do atrevido, o apertando, ouvido um gemido de surpresa com o ato. Sasuke mais do que depressa o impulsionou para cima contra a parede, as pernas enlaçaram em sua cintura para não cair. Eles se viram cara a cara, corados, as ereções se tocando de forma dolorosa.
Olharam-se, arfando. Sasuke passou o olhar para os olhos azuis enevoados, ficando na boca carnuda entreaberta, e voltou a atacar recebendo um gemido manhoso quando o movimento fez as ereções entrarem em mais atrito. Começou a erguê-lo, o manejando e o impulsionando para cima, imitando movimentos de penetração, os dois ignorando suas costas se arranhando na parede atrás.
As pernas de Naruto se apertaram mais ao redor dele, as mãos infiltradas em seus cabelos pela nuca enquanto se beijavam entre gemidos. Perto, estavam tão perto, podia ver o clímax chegando, o sentir se aproximar...
— Toniiiiiiiight. We are youuuuuung. So let's set the world on fiiiiiiire. We can burn brighteeeeeer than the suuuuuuuuuuun...
As bocas pararam os movimentos ao ouvir a voz desafinada acompanhando a música que tocava na festa. Uma voz que estava entrando na varanda.
No mesmo instante Naruto arregalou os olhos azuis e tentou se soltar do Uchiha, que ainda com a mente enevoada pelo quase orgasmo, ele estava tão perto, o agarrou com mais força, apertando-o. Naruto se desesperou e vendo que não tinha jeito, apertou um ponto específico do pescoço do mais novo e outro perto do tórax, que caiu no chão, paralisado, e o levando junto.
O barulho alertou os intrusos e Naruto se xingou mentalmente.
Se Obito descobrisse isso, as coisas iriam ficar feias.
— Naruto?
Naruto pensou que deveria ter feito algo muito ruim na vida para merecer aquilo, ao virar o rosto da escuridão e encontrar um par de olhos escuros curiosamente bêbados, seguido de um par de azuis surpresos. Ino havia estava muito vermelha e Sai com uma mão na cintura da loira, olhava o colega de quarto com um sorriso malicioso.
A cena não era por menos. Lá estava ele sentado na barriga de Sasuke. que se encontrava de olhos abertos. ainda paralisado. As roupas bagunçadas e uma ereção que mal se disfarçava completavam a cena.
Não havia uma boa explicação para isso, mas ainda assim tentou.
— Eu, hun... — Olhou o Uchiha. — Eu estou tentando acordá-lo! — Falou com falso desespero — Caralho, acho que ele bebeu todas mesmo, caiu durinho aqui.
Como que para comprovar deu um tapa na cara de Sasuke, que não podia reagir, a não ser lhe mandar um olhar mortal antes de fechar os olhos para compactuar com a atuação.
— É mesmo? — Sai assumiu um olhar de falsa preocupação. — Engraçado, que o Uchiha é conhecido por ser o mais forte para bebidas do colégio.
Naruto desviou o olhar para Sasuke brevemente, uma sobrancelha erguida ao ouvir isso.
— Até os macacos mais fortes caem do galho. — Falou se erguendo, um pedido de desculpas mudo em direção ao Uchiha. — Agora cala a boca Sai, e vem me ajudar a levar sotalach para o quarto dele.
— Tudo bem exterminador, eu ajudo a cuidar do seu namoradinho.
Naruto corou e olhou Sai com os olhos azuis estreitos.
— Sai, não teste minha paciência hoje. — Avisou em tom escuro ao que o outro riu novamente fazendo sinal de paz. — E Ino, você está linda.
Ino deu um sorriso, ainda vermelha: — Você não está nada mal também, Uzumaki.
Os três ignoraram o rosnado que saiu do corpo no chão.
..........................................................................
Voltavam pelo corredor, depois de largar Sasuke na cama com ajuda de Shikamaru, que reclamou o caminho todo até lá, e na volta, dessa vez sobre a injustiça naquele colégio, porque Sasuke realmente tinha um quarto só para ele.
Naruto dessa vez o acompanhou na reclamação. Ele quase havia esquecido de desbloquear os pontos nervosos de Sasuke, ocupado demais com sua revolta de ter que dividir um quarto com Sai, de todas as pessoas, enquanto Sasuke se banhava em privilégio.
Já perto da entrada para o salão, que ainda tinha muitos estudantes se divertindo, Naruto deu um falso bocejo.
— Obrigado pela ajuda. Pois é, acho que vou dormir. — Se virou dando um tchau mais que rápido.
— Naruto, espere!
Se virou, encontrando Sai com a porta aberta o olhando com um sorriso falso.
— Que foi, Shimura? — perguntou impaciente querendo se livrar logo da situação embaraçosa.
— Nada garotão, só para avisar que apesar de ter ajeitado as roupas, seu zíper está aberto ainda.
Naruto arregalou os olhos mais do que depressa, os virando para baixo para encontrar sua calça intacta. Nem mesmo zíper ela tinha.
— SAI!
Antes que fosse assassinado o outro entrou no salão, deixando para trás um loirinho mais do que envergonhado, que correu para o quarto, só querendo se enfiar nas cobertas.
.................................................................................................................................
No dia seguinte, Naruto teve de aguentar as provocações de Sai e os olhares de Ino. Na verdade, os olhares de todos os que passavam por ele. Toda aquela atenção estava se tornando incomoda, ainda mais que sempre era por um novo rumor que espalhavam. Dessa vez, por ter sido flagrado carregando Sasuke até o quarto, mesmo estando acompanhados. Eles pareciam ter ignorado o fato de Shikamaru e Sai estarem junto.
Apesar de tudo, o dia passou rápido. Naruto não viu Sasuke nenhuma vez, nem entre as aulas, nem nelas. Itachi havia notado a aflição do garoto e afirmado que não devia se preocupar com Sasuke, que ele sabia se cuidar.
Quando caiu a noite, Sai, como sempre foi o último a ir dormir. Naruto esperou até que a respiração dele ficasse mais leve para que se levantasse sorrateiramente. Vestiu-se com o uniforme e colocou o manto por cima. Para sua sorte este lhe cobria por completo, quase arrastando no chão. Voltou à cama, a ajeitando de uma maneira que parecesse que continuava ali deitado.
Só colocou a máscara quando já estava em uma das passagens.
........................................................................................................................
A sala 23 não tinha nenhum móvel, diferente do que imaginava, e somente um rapaz de longos cabelos loiros estava ali. Este usava uma máscara de gato e o pingente de sua corrente pendurada ao pescoço dizia bem o que era: Um vencedor.
Ele o guiou para dentro de uma passagem secreta por dentro da parede, utilizando uma lanterna para iluminar o caminho. As paredes úmidas deixavam o ambiente gelado e agradecia pelo manto naquele momento.
Depois de passarem por vários entroncamentos, chegaram a uma sala também vazia, iluminada por uma tocha na parede. Todos estavam ali: os seis competidores a sua espera. Em fila e de costas para a entrada, cada um ao lado de um vencedor.
Seu olhar parou no vencedor com máscara de corvo. Era Itachi.
Sorriu por baixo da máscara e foi empurrado para trás da fila para que caminhasse mais rápido. Quase xingou o de máscara de gato por ter feito isso, ainda mais ao ouvir o que tinha certeza ser uma risada baixa vindo dele, disfarçada de uma tossida.
Todos começaram a andar. Naquele momento, sentindo o nervosismo e medo do que vinha a seguir. Eles seguiam pelo corredor escuro, iluminado apenas por archotes nas paredes antigas em fila indiana. Naruto era o último, e todos usavam a mesma capa negra de veludo com capuz que cobriam nos pés à cabeça e máscaras brancas, parecidas com as de carnavais venezianos, que escondiam os rostos, deixando-os com feições de animais.
Ele não precisou se esforçar para saber que a pessoa que caminhava a sua frente era uma garota ou uma criança, apesar da penumbra. Ela tinha o corpo pequeno e magro e o andar era sinuoso, além das mãos pálidas e pequenas. A máscara era de um leão em detalhes azuis e brancos, foi o único que conseguiu observar. Tentava não pensar que em sete semanas talvez seis deles estivessem mortos e que apenas ele sabia disso. Ele e os vencedores que os guiavam.
O loiro de cabelos compridos de antes sumira de sua vista, devia estar na frente do grupo, enquanto outros se postavam atrás. Não pode não pensar que eram como prisioneiros, sendo guiados como ovelhas para o abate.
Apertou os punhos e sentiu uma mão em seu ombro para que caminhasse mais rápido. Foi o que pensou ao menos, até sentir um leve aperto calmante.
Itachi.
Foi pego por um estranho conforto ao sabê-lo ali consigo e seus passos ficaram mais seguros.
Alcançaram o fim do corredor e dois dos vencedores abriram uma porta dupla vermelha, fazendo sinal para que entrassem. Naruto seguiu a possível menina e se encontraram em um salão oval de paredes vermelhas. Parecia uma sala antiga medieval. Havia sete cadeiras de alto espaldar perto das paredes, cada uma com um número de um a sete, distantes uma das outras. Foram guiados a sentarem nelas, ele sendo levado a número sete. Com a luz do lustre de cristal, pode ver melhor os outros em uma análise rápida, inconscientemente tentando reconhecer alguém.
O número um parecia ser magro e usava uma máscara de cobra em detalhes verdes. Ele parecia fazer contato visual com Naruto, de modo fixo, no momento que este também lhe analisava. Naruto sentiu uma sensação ruim com aquilo, desviando rapidamente. Aquele ali, Naruto sabia, seria alguém que teria que ficar de olho.
O dois era muito alto e sua máscara era de uma lontra. Ao menos achava que aquilo era uma lontra. Força bruta provavelmente seria seu forte e ele se postava de forma confidente, mas agressiva. Pelo tamanho dos braços daquele sujeito, não seria alguém que iria querer pegar em um confronto direto, mas ele parecia confiante o bastante em si mesmo para ignorar os demais, o que não o tornava o mais perigoso.
O três parecia novamente uma garota ou uma criança e a máscara era de um tigre. Cada movimento do corpo dela era calculado para parecer tranquila e confiante, mas Naruto podia observar a forma como os punhos dela se apertavam. Aquela participante, assim como ele, não parecia feliz em ter sido escolhida. Naruto poderia admirar bom senso, mas isso não seria bom para a sobrevivência dela.
O quatro não conseguiu reparar em muito além de que parecia com medo e sua máscara era um javali. Ele não conseguia disfarçar, diferente da três, esse nervosismo. O que era ruim, podia perceber claramente que todos os outros haviam notado isso, como tubarões na água ao sentir o cheiro de sangue. Naruto, com o estomago pesado, percebeu que aquele sujeito não chegaria longe e logo estaria morto.
O cinco era alto, quase tanto quanto o dois. Algo nele prendeu seus olhos, uma sensação que o deixou inquieto, como um peso em seu peito. A presença era familiar, então provavelmente ali estava alguém que conhecia, o que não era nada bom. Sua máscara era um falcão e Naruto decidiu ali que ficaria bem longe daquela pessoa. Ele não queria ser responsável pela morte de ninguém, mas menos ainda de uma pessoa que poderia ser um amigo seu no colégio, mesmo que não tivesse certeza de quem era.
Desviou para o número seis, o leão, que cada vez tinha mais certeza ser uma garota. Naruto pausou, curioso, ao perceber que não conseguia ler muito sobre ela. Alguém que conseguia esconder tanto era alguém a se ater. Alguém que poderia ser muito perigosa.
Exceto por três e seis, todos pareciam mais altos e mais fortes do que ele, ou ao menos terem mais massa física. Exceto o quatro, todos pareciam tranquilos, imóveis.
Naruto se pegou pensando no que aconteceria se soubessem que a maioria ali poderia morrer.
— Seacht.
Uma voz retumbou na sala e viu Obito entrando por uma porta lateral, andando de forma elegante para tomar o centro em um tablado de pedra. Não havia microfone, e nem precisava, todo o som ecoava audível pelo salão.
Os olhos do homem correram ao redor, enquanto olhava um por um, parando ao ver a máscara de raposa. Um sorriso leve tomando seus lábios. Naruto se controlou para não apertar seus punhos, se mantendo imóvel.
— O mago, o cavaleiro, a ninfa, o eremita, o general, o arqueiro e o gladiador. Cada um de vocês foi escolhido por serem os melhores naquilo que são. Agora vocês têm que provar quem é o melhor dos melhores. Sete provas, sete jogadores. Apenas um vencedor.
Ele pausou, observando sua audiência cativa.
— A partir desse momento não terá volta. Vocês farão o que for pedido, tudo o que for necessário, tudo em nome da glória. Poderão desistir quando quiserem, mas resultará em perda e expulsão.
Em morte, ele quer dizer. Naruto pensou amargo.
— Agora, nos damos a liberdade de colocar rastreadores. Para a segurança de vocês, em vista que algumas provas têm o risco de os perdemos, e não queremos isso. Mas não dói nadinha mesmo. — Ele sorriu, carismático, enquanto pegava uma pequena pistola de armação transparente, igual à que os outros vencedores portavam.
Naruto olhou para o lado e viu que o loiro de máscara de gato colocava o cano da pistola no braço branco da seis e injetava algo sobre a camada de sua pele.
Sem fuga. Desgraçados.
— Vejam só, uma raposinha.
A voz o fez virar o rosto de imediato para a frente e encontrar Obito sorrindo torto com a pistola na mão. Não respondeu, se controlando. Sentiu a mão gelada pegar a sua, ao tentar a puxar de volta teve o pulso seguro. A manga da capa foi levantada e o cano gelado tocou sua pele. Foi uma dor fina, não insuportável. Pior foi sentir a carícia no local após, os dedos gelados contornando a pele avermelhada.
— Lembre-se do que falei. — Obito sussurrou com um tom grave, ajeitando a manga de seu casaco devagar. — Não esqueça nem por um minuto.
A expressão nele estava séria ao o fitar por segundos, antes de se afastar, para seu alívio. Procurou Itachi com o olhar e o encontrou injetando o rastreador no braço do cinco.
— Em três noites, vocês receberão a convocação da primeira prova. Estejam prontos e sigam as instruções à risca. Ela será fora dos muros do colégio e terão que fazer absolutamente tudo o que for ordenado. Cada prova terá suas regras e algumas não terão regras. Tenham em vista, que ao entrarem nesse colégio assinaram um contrato. E esse contrato nos dá toda a liberdade do que vai acontecer nesses jogos. Agora, tudo o que precisarem será explicado antes de cada prova. A partir de agora, vocês são inimigos uns dos outros. Piedade, não existe.
Ele deu um sorriso doentio que apenas Naruto percebeu.
— Perder, meus caros. — Olhou para o loiro diretamente. — Não é uma opção.
.........
Liathróid – Baile
Arte do capítulo de CrazyClara
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro