Davlin
Há esse dizer que não há nada mais perigoso do o que o olho maligno; Pessoas que podem fazer extremo mal apenas com um olhar, e nada pode ser feito sem que se invoque o curandeiro das fadas para que ele pronuncie o encanto mágico que pode destruir a influência maligna.
Há várias maneiras com que o olho maligno pode atingir. Você pode encontrar certas pessoas logo pela manhã, e então seguir com o azar o restante do dia. Ou mesmo o olhar pode ser fatal, em uma criança ou animal fitado com a maligna intenção, especialmente se for em uma noite de lua cheia.
'Deus o abençoe' sempre deve ser dito às crianças, vovô sempre me avisava. 'Deus o abençoe' ele sempre falava ao me ver, assim o olho maligno não podia me alcançar.
Pode haver tanta maldade e intenção de dano em apenas um olhar, e nossa alma é como um espinho fino que pode vibrar sob a influência de qualquer força externa. Seja essa a bondade que erradia em certas pessoas, ou o puro mal que as contamina, e que podem matar sua alma apenas com um relance.
'A alma é nossa essência.' vovô me dizia 'É nossa força, e fragilidade. Não deixe o mal ecoar nela, nem mesmo aquele dentro de você mesmo.'
'A alma é como o espinho afiado', eu sempre ia me lembrar, 'e nela ecoa as forças externas' eu nunca poderia esquecer.
Eu nunca iria esquecer.
.........................
DAVLIN DESCIA A ESTREITA ESCADARIA DE FORMA VAGAROSA, A ADAGA NA MÃO, RISCANDO AS PAREDES DE PEDRA EM UM BARULHO AGOURENTO. A penumbra, e tênue luz vinha apenas das tochas nas paredes.
Deixava para trás a cacofonia de fora, das pessoas que se preparavam para a grande execução, sedentos de sangue que seria derramado logo nos primeiros raios da manhã. Sangue impuro.
Desceu o último degrau e parou, não conseguindo deter a leve dor no coração ao ver a cena na sua frente. Ver o garoto que vira crescer e se tornar no homem que amava naquele estado lamentável. As mãos presas pelas correntes na parede, seus pés apenas tocando levemente o chão, o peito subia e descia com rapidez, em agonia. Ao ouvir sua entrada, a cabeça que pendia ergueu-se levemente, o rosto escondido pela máscara de ferro, que permitia ver apenas os olhos cinzentos ofuscados.
Desviou deles, sentindo raiva por se sentir assim, sentir-se julgado por aqueles olhos.
Suspirou e voltou a encará-lo, aproximando-se. O peito nu tentava controlar a respiração agora, ficando parado e tenso. Marcado, torturado. Via que a cura dessa vez estava ainda mais lenta, como se os metais nele sugassem pouco a pouco a magia negra dele - a impureza - através da dor.
E apesar de tudo, ele não queria nada daquilo. Ele não queria Aeron em dor. Depois de toda a raiva, de ter visto a tortura dele por horas, não sentira a satisfação que pensara. Noland estava morto, soubera há pouco. Ewen com certeza não voltaria. Não tinha mais ninguém além dele.
Antes que se desse conta do que fazia suas mãos estavam na máscara, a removendo. O material estava quente, e soltou rapidamente com um gemido. Voltou rapidamente, a removendo. Prendeu a respiração momentaneamente ao ver as queimaduras que ela deixara no rosto antes perfeito. E o quanto apenas segundos depois de removê-la estas começavam a se curar, vagarosamente. Os lábios dele estavam em uma linha reta, os olhos mais focados, nos seus. Podia ver bem ali. Dor, raiva, confusão.
—Aeron. — murmurou, a voz baixa, e triste, de verdade. Não queria vê-lo assim. Nunca assim. Agora percebia.
—Por que fez isso?
A voz dele estava rouca, e por um momento pensou que ele falava da remoção da máscara, que agora estava no chão, até perceber que não era isso.
Suspirou, tocando devagar o rosto, na pouca parte que não estava ferida.
—Meu juramento Aeron, eu tenho que segui-lo.
Aqueles olhos pareciam fitar sua alma e saber que mentia.
Ciúmes. Dor. Amargura.
—Eles vão executá-lo pela manhã.
Os olhos cinzentos se fecharam com isso.
Acariciou o cabelo suado.
—Noland, onde está Noland?
Foi quase como se a máscara o tivesse queimado novamente. Soltou a mão do cabelo loiro e deu um passo para trás. O rosto duro.
—Noland não pode salvar você, Aeron.
Os olhos cinzentos se abriram devagar, o fitando.
— Ele se jogou dos rochedos noite passada.
Dor, muita dor nos olhos dele, mas não havia surpresa.
—Você sabia disso.
—Eu o senti. — Os olhos desviaram dos seus. — Só precisava...ter certeza.
Davlin passou a mão no próprio rosto, frustrado.
—Então deve ter sentido todo o ódio que ele sentia por você ao morrer. O homem por quem você sacrificou sua imortalidade, não foi isso que falou à Ewen? Que por sinal também traiu você. Você só tem a mim, Aeron.
Para sua surpresa o outro riu. Uma risada baixa e triste demais para ser realmente uma risada.
—Você me traiu também, Davlin.
—Eu quero salvar você. — Os olhos perderam a raiva, ansiosos. — Eu posso...tirar você daqui. Saímos daqui juntos, para longe. Podemos ficar juntos, para sempre. Você será meu.
Os olhos cinzentos foram para os seus novamente, o lendo. E então ele balançou a cabeça.
—Eu não posso ser de ninguém, Davlin. — Ele falou calmo. — Acha mesmo que pode subjugar um deus a sua vontade, e assim ter o amor dele? Assim que sairmos daqui você vai usar essas mesmas correntes para me controlar. Eu prefiro não ser salvo assim.
Em segundos tinha o rosto dele bem seguro nas suas mãos, não se importando com os ferimentos mais. O beijo foi amargo, mais amargo do que sempre imaginou. O soltou quando não conseguiu uma resposta, olhando-o com raiva. O rosto dele estava calmo, frio.
—Você prefere morrer...Pois bem, você vai morrer. Mas antes, vai aprender sua lição. Acha que não posso subjugar um deus? — com a ponta da adaga contornou o rosto dele, devagar, sem penetrar. Ele o ensinaria.
Ensinaria Aeron de quem ele era, de fato, e sempre seria.
Dele e apenas dele
...................
O suor descia por suas costas no momento que distribuiu um novo chute no saco de areia. Era muito cedo para qualquer um estar na sala de luta, por isso podia estar tranquilo. Podia treinar como realmente queria, sem esconder seu estilo nem o que sabia fazer, coisa que vinha fazendo desde que chegara ali. E ainda assim, ganhava a maioria das lutas. O que provava que aqueles alunos não estavam ainda preparados para um confronto.
Ou ele que estava preparado demais. Seu avô tratara disso muito bem, e depois seu pai. Até mesmo Anko o ensinara alguns golpes...pouco ortodoxos.
Riu ao lembrar da agente louca do pai. Quando era mais jovem, tinha uma queda por ela. Sempre gostara de pessoas perigosas.
Em três dias seria a última prova. Quando tudo, se desse tudo certo, finalmente acabaria. Havia removido a faixa naquela manhã, para a surpresa de Kimimaro, e estava novo em folha. Agradecia a Aeron por isso. Agora, sem a adaga tão perto, ele parecia ter uma influência ainda maior sobre o seu corpo. E pela primeira vez, não temia isso, de nenhuma forma.
Pela primeira vez, desde que tinha nove anos, Naruto não temia Aeron, mas sim o aceitava como parte sua. E desde esse momento, ironia das ironias, tinha um controle melhor do próprio corpo e de quem era. E desde que Sasuke o resgatou do labirinto em sua mente, das más lembranças que vinha nutrindo há tanto tempo, começou a ter um controle emocional melhor.
Sorriu ao pensar em Sasuke. Mesmo dali, podia senti-lo.
— Esses são uns golpes que não conhecia.
Dificilmente alguém o pegava desprevenido. Tinha que tomar mais cuidado. Seu corpo ficou tenso por segundos, mas quando reconheceu a voz relaxou mais, apenas parando e pegando uma garrafa de água no container, bebendo alguns goles e derramando o resto na cabeça.
—Professor. — Cumprimentou olhando para trás pela primeira vez, desenrolando as faixas nas mãos e pulando do tatame. Kakashi não estava sozinho, novamente com Asuma e seu famoso cigarro. Os dois deviam ser realmente amigos.
Ou se pegarem
Nem sempre dois caras que andam juntos são gays, Aeron. E não fale assim de uma vez na minha cabeça, avisa antes.
Hunf!
— Não achei que teria alguém aqui a essa hora. — Os dois homens acessaram suas muitas cicatrizes que antes não existiam de forma disfarçada. Aeron não podia dar fim nisso, infelizmente, ou as cicatrizes em seu rosto teriam sumido há muito tempo. Ficava grato por eles não comentarem sobre elas.
—Acordei cedo. — Nem mesmo havia dormido. Passara a noite, depois de se despedir de Sasuke, acessando mais passagens no castelo. — Não sabia que teria aula no recesso.
— Um treino foi marcado por alguns alunos que precisam de supervisão.
Kakashi tinha uma sobrancelha erguida de forma curiosa, como se esperasse mais alguém ali. Piscou confuso até entender.
Ele estava esperando Sasuke. Quase revirou os olhos. Talvez estivessem bem...grudados nos últimos dias. Porém isso não queria dizer que eram uma pessoa só, que não tinham uma vida independente e podiam ter suas próprias atividades sem que...
—Hn.
E lá estava Sasuke na porta entrando no ginásio, em toda a sua glória de shorts de luta e toalha nas costas.
O que dizia?
Foda-se.
Segurou o sorriso pelo bem da sua dignidade, mas pela sobrancelha erguida dos dois homens não funcionou.
—Já que os dois estão aqui, podem se aquecer. Recebi ordens da enfermaria de não os deixar lutar, mas podem treinar alguns movimentos um com o outro. Sejam sensatos quanto a isso. — Kakashi comentou, ainda organizando alguns equipamentos com Asuma, que balançou a cabeça divertido.
Voltou a enrolar novas faixas enquanto Sasuke fazia o mesmo. Os dois sorriram um para o outro de forma disfarçada, tentando não olhar o corpo um do outro demais. Depois dos amassos da noite anterior, ia ficar difícil não ter uma resposta...constrangedora.
O torso de Sasuke também estava repleto de cicatrizes na pele antes lisa e pálida. Mesmo ali Naruto sentia certa amargura por isso. Sabia que muitas delas fora na ilha, tentando o proteger. Ele também havia removido a faixa, tendo danos menos severos. Ainda assim, sem movimentos pesados.
Essa restrição, infelizmente, o impedia de fazer outras coisas além da luta.
Sasuke o olhou de forma divertida. Ou como um Uchiha podia olhar de forma divertida.
— O que olha tanto, Dobe?
—De quantas formas diferentes posso te derrubar, Sotalach. — Rebateu de imediato, sorrindo com os olhos. — E como vou te ensinar a evitar isso. Só eu posso te ver no chão.
— E é? — Apesar da cara cética, ele estendeu o braço quando Naruto ofereceu a mão, o ajudando a aquecer. Passara mais tempo parado que Naruto, já que Naruto não obedecia a ordens de ninguém.
—Claro que sim. De preferência debaixo de mim.
Uma tossida os alertou e uma risada de Asuma fez com que ambos ficassem levemente corados, embora Naruto continuasse com um sorriso travesso.
Tanto para quem antes era discreto.
Um puxão o trouxe para mais perto, dessa vez Naruto trabalhava no seu torso. Com profissionalismo. Para variar.
—Você parece...relaxado. — Sasuke murmurou, para que somente ele ouvisse. — Bem tranquilo em relação...a tudo.
—Humm. — Foi a resposta que teve. — Isso foi...porque um pirralho me disse que eu não era assustador.
Sasuke franziu os lábios. Então era isso. Talvez aquela batalha mental tenha significado muito mais do que imaginava. Naruto estava naquele lugar, o tempo todo? Aquela forma de lidar com as coisas, as prendendo, estaria o prendendo junto com elas, e por isso ele vinha definhando, sempre com medo de tudo?
Não imaginava como era viver sua vida sempre com medo, preso naquelas lembranças horríveis o tempo todo.
—Interessante. — Deitou-se no chão, as pernas flexionadas enquanto Naruto fazia peso nelas. Suas costelas não doíam, apenas sentia um leve desconforto agora. Estavam curadas. — Mas você é assustador. — Naruto ergueu uma sobrancelha com isso. — Assustadoramente...sexy.
Uma risada não devia mexer tanto consigo. Teve que respirar fundo.
—Mas não é só isso. — Naruto murmurou, dessa vez colocando braçadeiras nele. — Não quero perder tempo com " eses". Caso tudo saia...do controle, quero ter aproveitado o máximo, com você.
Sentiu uma sensação desagradável com isso, mas antes que pudesse rebater, Naruto estava bem na sua frente, colocando um protetor em sua boca.
—Eu disse caso. Agora fique em posição. — Ele falou mais alto, se aprontando também — Daddy vai te ensinar a lutar de verdade!
—Naruto!!
Pela risada atrás dos dois, dessa vez haviam sido ouvidos.
......................
— Os alunos estão diminuindo, ou é impressão minha?
Os dois estavam deitados em uma mesa de piquenique perto do lago atrás do castelo. Como estavam perto do recesso, tinham aquela manhã inteira livre. Na tarde algumas aulas de reforço pelos dias que perderam.
Shikamaru estava dormindo, como de costume. Sai e Ino tinham sumido, e isso já dava muita margem a entendimentos. Sasuke tinha passado a manhã com Itachi, enquanto Naruto havia se encontrado com Nagato. Sobre isso, ele não havia contado nem mesmo para Sasuke. Apenas pedido para ele não perguntar, que o contaria quando pudesse. Não que não confiasse nele, mas fora um pedido do próprio Nagato. Ninguém podia saber o que acontecia.
Nagato havia lhe contado tudo sobre a próxima e última prova. E pelo que Itachi lhe dissera, o próprio Madara havia tratado de contar tudo a ele, que contara a Sasuke.
Jogo justo. Certo.
Tinha certeza de que a cobrinha tinha encontrado um jeito de ter a informação também. Apenas contava que não chegariam nem mesmo a fazer essa prova. Itachi, naquele ponto já devia ter o que precisava para parar aquele jogo, e sabia que Hinata já devia estar entrando em contato com o seu pai logo. Se chegasse a isso, não tinha dúvidas que seu pai destruiria tudo pelo caminho até o tirar dali; tinham que se preparar.
— Eles estão saindo para o recesso de duas semanas. Nessa época apenas vinte, trinta alunos no máximo ficam por aqui. Aqueles que moram muito longe, ou aqueles que os pais preferem que fiquem no colégio, por ser mais seguro.
Quase riu com isso. Seguro. Certo.
—Eu não sabia disso. — comentou. Claro que Tobirama não havia informado a seu pai esse detalhe. Não tinha dúvidas que sua mãe iria querer uns dias com ele caso soubesse disso.
Porém, essa informação lhe dava ideias. Uma escola inteira dificilmente não teria casualidades caso ocorresse um confronto, e já estava preparado para isso. Vinte ou trinta alunos...ele conseguiria manejar. Seu plano anterior se concretizava na sua cabeça. Precisava saber quantos alunos ficariam, os quartos, os nomes. Na próxima reunião com Nagato iria tratar de pegar essas informações, nem que tivesse que vasculhar o computador pessoal dele sem permissão. Sabia que o tio não estava muito ligando para casualidades, tanto que conseguisse o tirar vivo dali.
Era irônico. Itachi tinha um plano, que achava que ele seguia, o que não estava errado, até certo ponto. Nagato tinha um plano — que não lhe contara quase nada — e achava que ele o seguiria. Nenhum deles sabia que Naruto tinha seu próprio plano, e ainda os de contingência.
—Esse seu sorriso me assusta, sabia? — Sasuke comentou, o rosto virado para ele onde estava deitado, a testa franzida. — Está planejando algo.
—Claro que sim.
—Que não vai me contar.
—Não ainda.
—Você e Itachi me escondem muita coisa.
—Itachi quer te proteger. Ele sempre vai ver você como um menininho. — Sasuke o olhou de forma azeda e riu, erguendo-se. Sasuke o seguiu, sentando-se na madeira, Naruto de pé entre suas pernas lhe abraçou forte. Sempre parecia pensar melhor perto de Sasuke nos últimos tempos. — Eu só quero ter certeza que vai dar certo antes de contar.
—E poupar a vergonha de estar errado? — murmurou afundando o nariz no cabelo loiro, as mãos nas costas do outro por cima dos casacos de frio. A temperatura caia cada vez mais na região, sabia que logo cairia uma chuva forte, ou mesmo uma nevasca.
—Você me conhece bem. — Naruto passou o nariz gelado no rosto de Sasuke, para então o fitar com cuidado. Da barba que ele deixava crescer, aos olhos puxados, e o cabelo que fora cortado durante o tempo em que ficara hospitalizado, que só agora começava a crescer. Ele parecia mais velho assim. E tão menos amargo do que o adolescente que conhecera há apenas meses. Os olhos dele pareciam sempre com raiva, agora, mesmo que mais preocupados, também eram mais suaves quando lhe viam. Quando falavam de Itachi. Aquele era Sasuke de verdade. Com seus sorrisos poucos, mas sinceros. Suas frases curtas.
—O que? — Apenas quando ele falou, notou que passara quase dois minutos apenas o olhando sem falar nada.
— Você é um idiota muito bonito. — falou inocentemente. Antes que Sasuke rebatesse, o beijou levemente nos lábios. De forma casta. Diferente dos beijos que davam na torre durante a noite.
—Você também é um idiota muito bonito, Naruto. — Naruto riu quando recebeu um beijo no nariz. Sua mãe e sua avó sempre faziam isso quando era criança. Sentia falta delas. E sentia falta do seu pai, muita mesma. — Você parece triste agora.
Suspirou, sentindo os pingos que caiam.
—Hora de ir para dentro.
O beijo antes de irem pareceu bem mais triste e doce.
......................
Estou com um pressentimento ruim.
Naruto estava tão imerso que a voz de Aeron realmente o assustou. Ergueu os olhos dos cálculos que fazia, e olhou para a janela. Eram quatro horas da tarde, e ainda assim tudo lá fora estava escuro. Enfrentavam mais uma tempestade. O que não era nenhuma novidade, mas a lembrança da última, do que acontecera na última, lhe dava arrepios. Eles não haviam avisados aos alunos da gravidade da situação ainda, mas Itachi havia lhes chamado e avisado que poderiam ter até mesmo uma queda de energia, e por isso deviam ficar de olho. Pessoas podiam se aproveitar disso, como havia acontecido da última vez também.
Havia observado durante o dia os demais alunos. Chouji, Lee e Sakura não estavam no colégio, provavelmente haviam ido para casa. Nagato havia avisado que queria falar com ele novamente mais a noite, antes do horário do jantar, e seria sua chance de pegar mais informações.
E Itachi havia dito que mais a noite os três se reuniriam.
Esperava também, com ansiedade, ser chamado para atender alguma ligação do seu pai. O conhecia o bastante para saber que no momento em que Hinata entrasse em contato ele iria em busca de confirmação.
Tudo logo vai acabar.
Está realmente acontecendo.
Pensou excitado, o medo e adrenalina em seu corpo. Era quando tudo podia dar certo ou errado. Tinha apenas dois dias para planejar tudo, precisava saber quem estava naquele castelo naquela noite ainda.
Está distraído.
Dessa vez fora a voz de Sasuke. Voltou o olhar e encontrou o seu, algumas cadeiras na frente, perto da parede. Infelizmente, os assentos eram marcados no começo do ano, sem mudanças. Por isso mesmo não tinha um parceiro de laboratório desde que Gaara...depois de Gaara.
Apenas pensando. Respondeu. O rosto de Sasuke estava impassível, mas sabia que ele estava preocupado. Naruto sabia que Itachi iria contar sobre o plano a Sasuke essa noite. Se não, ele mesmo o faria. Sasuke ficar no escuro só faria tudo mais difícil.
Vou na torre depois da aula.
Temos que falar com Itachi depois da aula, Naruto.
Vai ser rápido, encontro vocês no lugar de sempre.
Apenas tome cuidado.
Aeron ficara calado, mas sentia que havia algo de errado também com ele. Algo ia acontecer.
Algo nada bom
...................................
Naruto suspirara aliviado ao ver a quantidade de alunos que haviam saído em recesso. Fora mais fácil do que pensara pegar as informações de Nagato, e isso o deixava desconfiado. Só porque estava aceitando a ajuda de Nagato, não queria dizer que confiava totalmente nele. Não era mais um menino. Desconfiava dessa facilidade que estava tendo em pegar coisas de dele. A chave entendia na primeira vez, ele parecia muito preocupado consigo, o que o deixava um pouco com culpa, admitia, mas essas outras coisas...podia desconfiar que ele estivesse deixado ele as pegar. O fato dele deixar uma arma exposta na última vez, por cima de uma cadeira, já era suspeito o bastante. Checara por rastreadores por horas nela depois que a pegara.
E agora, quando ele questionara sobre o recesso, ele havia apenas lhe passado a lista de alunos sem questionamentos.
O fato era, a maioria dos alunos havia partido no dia anterior, e no momento só havia 20 alunos no colégio. Talvez depois do que ocorrera com Gaara e a tempestade, os pais haviam ficado mais cuidadosos. Desses 20, havia Sasuke, ele e com certeza Kabuto. Desse teria que ter cuidado. Ele não se importaria de eliminar Kabuto caso ele criasse problemas. Isso devia o deixar chocado consigo, mas pela primeira vez entendia como o pai se sentia em uma operação de verdade.
Suspirou, fechando o computador, todas as informações que precisava salvas manualmente. Precisava falar com Itachi, aquela prova não podia acontecer. Havia notado, com cautela, os movimentos dos vencedores, e apenas sabia que Itachi estava envolvido nisso. Caso ele conseguisse parar tudo sem um confronto, seria ótimo.
Caso não... Seu plano precisava de uma polida, mas iria ter que servir.
Ergueu-se do colchonete. Estava gelado, apesar dos casacos. Havia estocado mais coisas ali, coisas que precisariam sem dúvidas. Enrolou-se mais, pegando uma lanterna, entrou em uma das entradas na parede que encontrara na torre. Ainda não havia a mapeado, a descoberto apenas no dia anterior. Tinha quase certeza que havia sentido uma saída de ar de lá, se fosse uma saída do castelo, seria o cara mais sortudo do mundo naquele momento. Isso fariam três, mais do que o bastante.
.....................
Meia-hora depois saia da torre, e quase podia sorrir. Tudo estava dando tão certo, que estranhava. Tinha que falar agora com Itachi e Sasuke, tinha uma hora até se encontrarem. Se afundou melhor nos agasalhos e sorriu.
Caminhara por alguns minutos de volta a sua ala, quando sentiu aquilo.
Uma sensação desagradável que o fez paralisar por segundos, antes de olhar ao redor. Aeron sibilava em sua mente, no mesmo momento que encontrou os olhos de Obito. Não teve tempo de reagir quando sentiu uma dor lancinante que o jogou ao chão. Havia parado o golpe em instinto com o braço, e nele sentia como se estivesse em fogo. Nem acreditava que o grito que ouvia era o seu.
Abriu os olhos que nem notou que havia fechado, segurando o braço com força. Olhou para cima de onde estava caído de lado e gelou. Havia algo de errado, mais do que o usual com o homem. Talvez fosse a aparência mais bagunçada. Ou o olhar, com certeza o olhar, não havia sanidade ali. E a cor deles...era quase como se estivessem vermelhos...realmente vermelhos.
— Precisamos conversar. — A voz dele estava baixa, um tom de sarcasmo evidente.
Naruto, corra daí.
A voz de Aeron parecia mais desesperada agora. E, alarmou-se, mais fraca.
O que...
Na mão dele.
Olhou para onde ele falava e notou que o homem segurava algo...uma corrente de metal. Arregalou os olhos. Sua respiração mais difícil. Ele tinha o atingido com aquilo. Só podia ser...
Isso é...
Uma das peças amaldiçoadas! CORRA AGORA!
—Pare! — gritou em uma ordem com tudo o que podia, o que não funcionou, o homem continuava avançando, o rosto contorcido em loucura. Ergueu a mão que não estava ferida, o jogando longe pelo corredor. Se arrastou, erguendo-se com esforço e já correndo, o pânico de Aeron também como o seu, à medida que sentia que ele sumia de dentro de si, enfraquecido.
Sentia Obito logo atrás. Usando toda a sua vontade tentara o jogar para longe mais uma vez quando vira que ele estava muito perto, mas até mesmo a voz de Aeron havia sumido. Aquelas correntes, de algum modo, pareciam suprimir Aeron muito mais do que a adaga.
Tentou não se apavorar. Seja o que acontecesse, não podia deixar que elas tocassem nele novamente, sabia daquilo. Nem mesmo conseguia encontrar a voz para gritar por ajuda e havia acabado indo parar em um lugar deserto.
Sentiu uma dor lancinante nas costas. Caiu com um grito de dor, como se fogo se alastrasse da ferida. A última coisa que viu antes de apagar, foram os olhos vermelhos de Obito.
......................
Acordara com a mesma agonia, dessa vez nos seus pulsos. Notava que estava com as mãos amarradas, e pela dor, com as correntes. Suor pingava de seu corpo inteiro. Dor, em cada fibra, dor que mal o deixava pensar.
Abriu os olhos devagar.
Estava no chão encarpetado. Conhecia aquele chão. O conhecia bem, e não de uma forma agradável.
Estava na diretoria.
Obito deveria estar mesmo insano.
—Já acordou.
Antes que pudesse falar algo mais era erguido com facilidade. Engoliu um grito de dor quando foi jogado em uma poltrona. O lugar onde fora acertado parecia queimado de alguma forma.
—Estou quase terminando aqui. — Não conseguia ver onde Obito estava, seus olhos continuavam se fechando, exaustos. — E então poderemos sair desse lugar. Eles tiveram a ousadia de tentar se livrar de mim, de me tirar de você. Nós vamos embora, sim, nós vamos, eu tenho um lugar para ficar, teremos que viajar por um tempo, ficarmos escondidos, mas vai ser bom, logo vão esquecer da gente, vão nos deixar em paz...
Ele continuava balbuciando, e, à medida que entendia o que ele falava, se sentia mais desesperado. Tentava falar com Sasuke, mas não ouvia nada. Estava muito fraco, mais fraco do que se sentira na vida. Então era aquilo que Aeron havia sentido quando fora capturado. Aquele era o poder da lança amaldiçoada.
—Não...eu... — tentou murmurar algo, falar qualquer coisa, ganhar tempo, mas tudo parecia em branco.
—Shh, tudo bem. — Obito estava de pé na sua frente. — Vai ficar tudo bem.
Fitou os olhos vermelhos com medo. Uma pessoa insana podia fazer qualquer coisa. Fora quando seus olhos caíram no interfone que finalmente teve uma ideia. Era sua única chance, a única ali. Se Obito o tirasse dali, no meio da tempestade, nunca o encontrariam. Não vivo. Não sabia se sobreviveria aquela dor muito tempo, não era Aeron.
No momento em que o homem voltou as gavetas, ergueu o pé com esforço, tentando apertar o botão ali. O aparelho caiu no chão com mais algumas coisas, e Obito correu para ele. Sentiu a dor do tapa no rosto. Com o rosto de lado, os cabelos molhados de suor, encolhido ali, conseguiu, no entanto, ver a luz vermelha acesa.
— Vou ter que domar esse seu comportamento.
.......................................
Sasuke sentia-se agitado. Apenas minutos atrás, sentira uma sensação nauseante terrível, uma dor que o deixara rígido por segundos. No mesmo segundo pensara em Naruto, tentava falar com ele pela conexão dos dois, mas ela estava estranhamente silenciosa. O procurava pelo refeitório com os olhos no mesmo instante, mas não havia sinal dele. Ele já devia estar ali. Ergueu-se um pouco cambaleante até a mesa onde Shimura e Yamanaka conversavam.
—Você viu Naruto?
O outro pareceu pronto para dizer alguma gracinha, mas ao ver seu rosto apreensivo se deteve.
—Não o vi o dia todo, cara.
Sentiu o aperto no peito aumentar. Procurou Itachi com os olhos, ele estava parado em uma parte mais escura do refeitório, conversando com Sasori.
Tentou ir até ele, mas cambaleou, se segurando na mesa.
—Sasuke! — a garota chamou alerta, os dois se erguendo para o ajudar.
Itachi ouviu o grito e em segundos atravessara o refeitório e estava a seu lado.
—Aconteceu algo com Naruto. — falou assim que ele podia ouvi-lo. Seu irmão o olhou alarmado.
—Sasori acabou de me contar que as câmeras em uma das alas foram desligadas de forma repentina. — Ele respondeu em um sussurro.
Sasuke sentiu seu coração batendo mais forte, a náusea o fazendo empalidecer ainda mais.
—Na ala Leste. — Deduziu. A torre. Naruto devia estar na torre, ele falou algo sobre ir para lá. Seu irmão assentiu. Antes que pudesse falar algo mais, no entanto, uma estática foi ouvida. Os autofalantes ligados, prontos para algum anúncio. Olhou Itachi e ele parecia confuso, como todos.
As pessoas no refeitório, os pouco alunos e os professores que haviam ficado para o recesso também olhavam intrigados. Ainda mais quando nenhuma voz foi ouvida por segundos, apenas o barulho abafado de coisas caindo.
E passos. E então um som estalado de pele contra ele e um gemido baixo de dor. Sasuke arregalou os olhos.
— Vou ter que domar esse seu comportamento.
Os cochichos aumentaram, e viu que os professores pareciam prestes a se erguer. Aquela era a voz de Obito. Se viu rezando para estar errado; aquele gemido, aquele gemido não podia ser...
—Não encosta em mim.
Estava correndo em direção ao corredor antes mesmo de terminar de ouvir a frase na voz fraca e dolorida do outro lado. Nem mesmo viu que mais pessoas o seguiam. Itachi a seu lado, os professores também vinham atrás.
Não podia chegar tarde demais, não de novo, por Deus...
—Eu vou fazer isso o quanto quiser. Tudo seria diferente, se não fossem aqueles velhos o colocando nessa merda. Se não tivesse sido curioso demais e encontrado os corpos na floresta. Eles estragaram tudo. Madara, Danzou, Nagato, o Hiashi, e o maldito Tobirama todos querem se livrar de mim. O que me deixa feliz, é que provavelmente Sasuke não vai sair vivo dessa também, espero que ele morra, por tentar me tirar de você. Hiashi mandou matar a própria filha, não espere que ele vai escapar por causa de Madara.
A voz ecoava pelos corredores e ouviu um xingamento baixo de Itachi. Ele apenas...citara os nomes. Todos eles. Com certeza sem se dar conta do interfone ligado.
Aquilo só podia acabar em desastre.
......................................
Quando a mão dele tocou sua mandíbula, fez a única coisa que podia, apesar da cautela o mandar ficar quieto: O mordeu, com força.
Sugou o ar quando o golpe o atingiu na bochecha, com as costas da mão. Sentiu sangue na boca, mas riu satisfeito.
— Eu vou ensinar a você. Parece que da última vez não foi o bastante. Você ainda não entende que você deve fazer o que eu quiser. Se eu quiser apunhalar você no chão e te rasgar no meio de novo eu faço. Não tem ninguém para te salvar dessa vez. — Os olhos vermelhos estavam ainda mais insanos. Sua respiração ficou forçada.
Alguém, qualquer pessoa, ele precisava de qualquer pessoa naquele momento. Seu corpo tremia e não sabia mais se era de dor ou do pavor que sentia com a situação. Não iria aguentar passar por tudo aquilo de novo, não iria.
—Você...vai me matar... — tentou. Pensou que havia funcionado quando suas mãos ficaram livres, mas em segundos aquela dor infernal estava no seu pescoço. A corrente enrolada nele. Gritou de forma sufocada, até seu ar acabar.
Ele não vai parar.
Nem mesmo percebia que estava o matando. Seus olhos reviraram nas órbitas, e foi quando ouviu o estrondo na porta.
Tudo escureceu no mesmo momento em que o fogo acabou e conseguiu respirar.
..............................
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro