Daidí
Avisos: Menções sobre abuso infantil, abuso sexual, ataques de pânico e violência.
Eu nasci dentro de um carro a caminho do hospital, em meio a uma tempestade na noite de ano novo. Daidí estava viajando, tentando chegar a tempo para comemorar a virada, e eles estavam esperando meu avô vir buscá-los para a casa dele e da minha vó, mas a chuva estava muito forte e ele estava muito atrasado.
Tio Naa e ela estavam sozinhos quando as dores vieram, mais de um mês antes do previsto. Na época eles ainda moravam em um apartamento pequeno, recém saídos da universidade; nem mesmo conheciam os vizinhos.
Tio Naa estava ainda trabalhando na provisória dele, mas nenhuma ambulância chegaria a tempo por conta da tempestade. No meio do caminho, para completar tudo dando errado naquela noite, uma árvore estava caída na estrada. Eu fico imaginando o quanto havia sido assustador para ele, só com 15 anos na época, ouvindo a irmã gritando no banco de trás, dirigindo em uma noite de tempestade, igual a que havia matado meus avôs.
Mam guiou ele durante todo o parto, enquanto esperavam a ambulância ao menos chegar até lá, ou meu avô conseguir os alcançar.
Eu nasci faltando 3 minutos para 1998. Meus pulmões não estavam funcionando direito ainda, e não tinha nem forças para chorar. Os dois conseguiram me manter vivo o suficiente para a ambulância chegar com meu avô, e quando ela chegou foi bem a tempo, porque minha mam estava em um estado ruim também. Os médicos não achavam que a gente ia sobreviver.
Tudo deu certo no fim, mas minha mam acabou não podendo ter mais filhos, e eu passei quase um mês internado. Ninguém gostava muito de falar daquela noite, por razões óbvias.
Quando alguém falava, no entanto, meu avô sempre comentava, com o olhar perdido, sobre como o teto do carro deles, apesar da tempestade, estava cheio de corvos.
11 anos atrás
FOI MAIS FÁCIL DO QUE DEVERIA RASTREAR O NÚMERO DA TAL BABÁ. Minato sabia que eles deviam ser sequestradores amadores, só a procura de dinheiro. E este era o pior tipo, inexperientes, que não conseguiam se controlar, se levavam pelos sentimentos, pelo medo. E que se levaram pela beleza de seu filho, e com o olhar erótico de adulto, acabaram destruindo a inocência de seu Naruto, o machucando de uma forma que não sabia se ele um dia seria capaz de se recuperar.
Essa era a pior parte, e a que fez com que ligasse para Fugaku Uchiha e pedisse reforços, queria todos os agentes que conseguisse cercando cada um dos envolvidos. Queria todos presos, ajoelhados aos seus pés, para que pudesse os olhar. E matá-los. Com a maior frieza que tivesse, com o pior ódio que uma pessoa poderia ter.
— Sr. Namikaze! Sr. Namikaze! As tropas estão em ação, pegamos já dois... — seu assistente, Jake Gloudfield, apareceu ofegante na sala de comandos. — Estão sendo trazidos para a área de detenção, Senhor.
— Ótimo. — Respondeu ainda olhando a tela enorme à sua frente, onde era monitorado o telefone da tal babá, Anne. Ela ainda não tinha sido capturada, tudo porque ele não havia permitido. Tinha um plano em mente. Pelas as informações que receberam, ela e o namorado estavam feridos e procuraram ajuda.— Mantenha-os detidos. Na cela especial, quero informações, o mais confiáveis e viáveis possíveis. Quero saber que comandou toda essa desgraça, como, quando e onde. — Se virou ao rapaz que atento e sério, escutando as ordens. — Vou sair com Uchiha, quero cinco equipes comigo. E sigilo, Jake.
Passou pelo rapaz que se manteve de pé, tenso, e logo ao se ver sozinho saiu correndo dali para cumprir as ordens de seu superior.
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Ao entrar no carro, do lado passageiro, olhou para o Uchiha. Fugaku parecia pensativo, enquanto dava partida no enorme 4X4. No banco de trás Tobirama, observava-os, manejando uma metralhadora escura, passado a alça pelo pescoço.
— Como se sente? — Ligou os faróis, era de madrugada, logo amanheceria.
— No controle. — Olhou o outro, tirando o clip da pistola 9mm e Fugaku sentiu, por um momento, um arrepio em sua coluna. — Nunca me senti tão controlado.
Aquele olhar, o olhar homicida, as írises azuis escurecidas, o rosto com uma expressão grave, as sobrancelhas franzidas. Aquele olhar era obcecado, instintivo, assustador demais para Minato. Nunca havia o visto daquela maneira.
O rádio tocou estática, e logo a voz de um dos líderes das equipes soou no carro.
— Todos prontos, câmbio!
Fugaku colocou marcha ré e esterçou o carro, o tirando da vaga, manobrando somente com o braço esquerdo enquanto como direito agarrava o fone. Apertando o botão lateralmente.
— Entendido, todos, iremos sair. Câmbio! — desligou, recebendo a confirmação.
No banco de trás Toribama, colocou metade do corpo do lado de fora olhando para trás, para as equipes, quando saíram pelos portões do estacionamento, acenou brevemente com o braço, indicando as posições. O carro em alta velocidade sendo seguido facilmente pelos outros. O grisalho voltou para dentro do carro escuro, pegando no colo um caríssimo laptop, começando a digitar, usando a rádio frequência do celular da mulher para os encontrar.
Sem sirenes ou giroflex ligados, romperam a autoestrada praticamente vazia, o silêncio do carro era tenso. Fugaku sentia aquela pressão palpável que tinha ao redor de Minato. O Senju o havia contando o que havia acontecido com o pequeno Namikaze. O quão machucado e traumatizado o garoto estava, e que estava no hospital com o avô, pois Minato não havia permitido que contassem a sua esposa, que estava em um congresso, o que havia acontecido.
— Tobirama. — Chamou o Namikaze. — Onde estão?
— No mesmo lugar de meia hora atrás, ao leste da floresta... — olhou a tela. Enquanto o outro fixava o olhar na estrada a frente. A chuva de verão havia acabado, mas deixando para trás uma névoa quente. — Será um longo começo de dia.
Sussurrou Tobirama para si mesmo.
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Girou o volante com maestria, o carro deslizando pela brita, os outros cinco carros fizeram o mesmo, como em uma dança bastante trabalhada. Todos parando em sincronia. A mesma sincronia que aqueles homens tiveram para saltar dos carros e correrem para o perímetro da casa. cobrindo as janelas, dois de cada lado das portas.
Os três superiores desceram do carro, como se nada estivesse acontecendo. Minato parecendo ainda mais agitado. Vendo-os sinalizarem entre si e logo invadirem a casa silenciosamente. Fugaku tomou a frente, seguindo os homens que entravam de um a um na casa, uma gritaria começando. Podia-se ouvir uma voz feminina que berrava lá dentro, desesperada.
Para Minato, tudo não passava de um borrão, não prestava atenção em nada, além do seu propósito ali. Torturar, conseguir respostas, e por fim aniquilar.
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— Agora, você vai me dizer quem te contratou, sua maldita vadia.
A voz de Minato era fria como gelo, parado de frente a mulher amarrada. A perna dela estava enfaixada pelo o que havia descoberto ter sido o golpe dado pelo pequeno Namikaze. Ela sangrava um pouco depois de toda a movimentação, mas não tanto quando o seu cúmplice.
Pelo o pouco que conseguiram descobrir de um dos cúmplices, Naruto havia esfaqueado os dois antes de fugir. Como ele havia conseguido fazer isso, no estado em que eles o deixaram, era um mistério. O fato era, esses dois, ao que parecia, haviam fugido dos planos iniciais do grupo e torturado, mutilado e estuprado seu filho de sete anos.
— Estou esperando, não teste minha paciência.
Pelo rosto assustado da mulher, ela nunca havia visto Minato Namikaze naquele estado de fúria. Nunca teria visto aqueles olhos azuis tão assustadores. A voz geralmente tão gentil, naquele tom que prometia muita dor.
— Sr. Namikaze, e-eu não sei do que o Senhor está falando, isso é um e-engano. — A mulher teve a audácia de falar. Um tapa estalou no rosto da morena, a fazendo virar a cabeça.
—Responda minha pergunta! — Minato gritou, seu rosto a poucos centímetros do da mulher, que já chorava. — Eu sei o que você fez. — Ele acrescentou baixo, quase no ouvido da mulher, os belos olhos azuis psicóticos. — Você achou mesmo que podia mexer com meu filho e não sofrer as consequências? Eu já matei por menos, Anne, muito menos.
— Por favor... Eu não...
— Shh... — Ele encostou o dedo nos lábios machucados da mulher, que já não segurava os soluços — Você machucou meu filho. Então eu vou machucar você. E se você não me disser quem organizou essa desgraça, eu te garanto que você vai pedir, implorar para que eu te mate, antes que eu termine com você. Entendeu?
— E-eu não sei, foi o Thomas... Thomas quem foi contratado, foi ele quem... — Sua voz foi cortada quando recebeu outro tapa, dessa vez mais forte, e teve o rosto segurado pelo queixo, sendo obrigada a fitar a face assustadora do Namikaze.
— Você está mentindo, Anne. — Ele falou, no mesmo tom baixo. — Eu não gosto que as pessoas mintam para mim. Anko! — Ele gritou, ainda sem soltar a mulher.
Uma das agentes se pronunciou da única fileira que assistia aquilo, consistindo de Tobirama, Fugaku e apenas mais sete fiéis agentes, enquanto os outros guardavam fora a cabana.
Essa agente tinha o cabelo pintado de um roxo escuro e feições claramente orientais. Mas o que chamou a atenção do Uchiha não foi isso, mas sim o olhar maníaco que ela vestia no rosto. Claro que ele já havia ouvido falar dela, embora duvidasse que o real dela fosse Anko. A mulher era conhecida na corporação como uma sádica, instável, com um passado repleto de horror, mas todos sabiam que por algum motivo, toda sua fidelidade era para com Minato desde que ele depositara confiança nela. E, claro, isso se estendia para toda a família do Namikaze.
— Sim. — Ela se pronunciou, a voz estranhamente divertida para a situação. Minato largou a babá e deu um passo atrás, dando espaço para a agente.
— Vamos ver se você consegue tirar a cola da língua dela Anko. — Ele disse friamente. A mulher sorriu, estralando os punhos enquanto Anne olhava assustada para o chão. — Eu não garanto de fazer isso sem matá-la antes de ela falar algo. — Minato acrescentou baixo, quase para si mesmo, e provavelmente apenas Fugaku que estava mais perto ouvira isso.
—Passe livre?
A agente perguntou, se aproximando da mulher com um olhar divertido.
—Só não a mate antes de ela falar algo. De resto... Deixo com sua imaginação. E Anko... — a mulher olhou o chefe com curiosidade. — Ela machucou Naruto.
Não foram dois segundos, o movimento foi rápido. A morena recebeu um soco no estômago, ficando sem ar. Seu corpo envergou, mas não podia se encolher, pois estava pendurada pelos braços na parede.
— Sr. Namikaze te fez uma pergunta. — A agente falou baixo, para logo acertar um soco no rosto da mulher, que gritou. Seguindo de outro, mais forte.
Ela cuspiu novamente sangue, junto com alguns dentes, e tossia, engasgada.
— Espero que isso tenha melhorado sua memória. — Minato falou, de onde estava, ao lado das duas mulheres. Os outros agentes apenas assistiam, alguns internamente chocados pela clara tortura naquele interrogatório, sendo que Minato era sempre gentil e educado, sempre correto. Exceto, claro, pelos como Fugaku, Anko e Tobirama, o que sabiam o motivo por trás daquilo.
— Eu não sei, eu juro... — a mulher chorou, engasgada. — Eu não fiz nada com o Naruto...
— Resposta errada docinho. — Anko falou antes de distribuir mais um soco, dessa vez na lateral do corpo da mulher, que se engasgou pela dor. — Mais difícil do que machucar uma criança hn? — Ela acrescentou baixo.
—Naruto...eu não fiz...
— Não mencione meu filho, sua infeliz! Não passa de uma puta, uma puta de merda. — Minato falou baixo, se aproximando da mulher novamente. — Sem vergonha, escória imunda, nem acredito que confiei meu filho aos seus cuidados. Sua desgraçada.
— Ca-cale... — Não teve como continuar, pois recebeu outro soco no rosto dado por Anko, os olhos castanhos claros da agente refletindo o mesmo ódio do homem. Seu rosto virando violentamente para o lado, sangue inundando sua boca. — Vo-você não sabe...
Fugaku trocou um olhar com Tobirama que suspirou. A mulher tinha assinado sua sentença. Não que ela tivesse chances de sair viva dali desde o começo.
—Você quem não sabe o ódio que estou sentindo nesse momento. Então se não abrir sua boca nojenta somente para responder minhas perguntas, vou quebrar cada osso seu lentamente. — A essa altura, seu rosto estava próximo ao da mulher novamente, a olhando nos olhos. Anne se arrepiou por completo, pela primeira vez aqueles olhos azuis tão belos lhe davam um medo aterrorizante. — Quer pagar para ver?
Ela abaixou o rosto, sangue escapando por seus lábios, sentia que a qualquer momento desmaiaria de dor, eles já haviam a espancado quando os encontraram na cabana, e aquilo estava doendo estupidamente, sabia que devia ter uma costela quebrada. Ou muito mais que uma, com certeza.
Minato a olhava, ofegante, seu lábio inferior sendo capturado por seus dentes. Suas mãos em punhos, aquela mulher repugnante, apesar de tudo, ainda não abriu a boca. Seja quem fosse que estivesse por trás daquilo, ao que parecia, provocava mais medo na mulher do que morrer. Aspirou forte, tentando se tranquilizar, mas falhando.
— Hun. Uma pena. Anko.
Ele deu dois passos para trás, e em segundos a mulher sentiu o golpe. Com força, Anko sentiu a cartilagem no nariz da mulher contra seu punho. Ouviu-a gemer, e o sangramento no nariz, agora torto, começar. Obviamente tinha quebrado o nariz dela, e essa constatação só a fez sorrir de maneira cruel.
— Você escolheu o caminho mais difícil, docinho, só lamento.
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O corpo caiu ao chão com um som abafado, os cabelos escuros da mulher espalharam-se no chão, uma poça de sangue se espalhando como tentáculos no concreto. Ofegante, a arma ainda quente, olhava o corpo no chão, uma leve camada de suor pregava seus cabelos a testa e nuca.
Uma onda de alívio passou por si. Ela não respirava mais, e essa conclusão o fazia um pouco satisfeito. Fora um gatilho apenas, o que bastou.
Anko virou o rosto da mulher com o pé, apenas para constatar o óbvio. A mulher fizera o movimento errado, ela falara do filho de Minato, perdera o controle, no desespero para dar respostas e falara do que acontecera naquele galpão em cenas vívidas demais. Anko não tivera tempo para reagir ela mesma antes do chefe dar o bote. Bom, se ele não tivesse, ela teria. Duvidava que a mulher soubesse de algo no fim das contas, em relação ao contratante. Ela falara tudo o que sabia.
Do outro da sala Minato ouviu um grunhido dolorido que mais pareceu um engasgo. Seu corpo tremeu levemente.
— Não me esqueci de você. — Se virou devagar, seus belos olhos tinham o tom azul-gelo quase completamente engolidas pelas pupilas dilatadas. Um sorriso torto nasceu em seus lábios, um sorriso lascivo, selvagem.
Tobirama que estava sentado sobre uma mesa, observava tudo com os olhos brilhantes fixos no sobrinho que agora ia até o homem amarrado no chão. Estavam sozinhos já há algumas horas, o dia já começava a raiar fora daquela garagem empoeirada. Os outros agentes estavam do lado de fora, enquanto alguns tinha recebido ordens de achar provas e outros suspeitos. Ele se abaixou sobre os tornozelos ficando na altura do homem, seus lábios se mexendo, a voz sedosa e baixa, somente para o outro ouvir.
A aproximação fez o homem entrar em pânico. Tentando se livrar das cordas, mas parando com um gemido, o ferimento causado pelo garotinho sangrava abundantemente.
Ou ele morre pela hemorragia, ou por Minato, de qualquer maneira a morte é certa. Cerrou os olhos enquanto o mais novo roçava a arma na bochecha do homem que estava parado, como se hipnotizado. Ele parecia um pouco mais consciente do perigo do que a amante agora morta.
— De qualquer maneira. — Sibilou mais alto. — Sabe que você não ficará vivo por muito tempo, por isso vou te dar algumas horas.
Minato se levantou, e virou para Tobirama, sua camisa branca estava suja de sangue, o colarinho com respingos, a manga enrolada até os antebraços mostravam a pele também suja de sangue seco, os olhos ainda dilatados e vidrados. Ele parou a um metro, a arma presa nos dedos longos.
— Leve-o a Louis. Vou a área de detenção com Anko cuidar dos outros dois.
Foi a única coisa que disse antes de caminhar para a porta que dava à cozinha da casa. Tobirama suspirou e se levantou, seu olhar pairando sobre o homem que ofegava e se contorcia de dor. Pelo jeito, o pequeno filho de Minato havia dado uma bela cortada no homem.
Deu uma risadinha e pelou o telefone no bolso, puxando a antena para logo digitar o número da base.
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Louis Wayne era muito conhecido no submundo de NY como um dos melhores em obter confissões e informações. Ele poderia fazer qualquer um falar, não importasse o segredo. Sua tortura era física e psicológica, aliada a pressão que impunha. Quando queria poderia fazer uma pessoa delirar e falar o que queria, sem armas ou objetos, somente palavras.
Em 2001, quando ocorreu o ataque as torres gêmeas, pentágono, e a queda na Pensilvânia, Minato tinha acabado de assumir o poder da NSDA. O desastre foi gigantesco, com a sede do pentágono parcialmente destruída, ele não tinha muitas pessoas de confiança a recorrer, além de Fugaku e seu pai, que na época era um militar especializado em estratégias e ataques, além de braço direito do presidente.
Minato se viu preso a decisões que poderiam mudar o curso de tudo. E se passaram angustiantes e torturantes dias, a invasão do Afeganistão, os mortos que só aumentavam, os 1,5 milhão de toneladas de destroços nas ruas Manhattan, o incêndio que não se apagava, o abalo psicológico. Tudo demandou que ao conseguirem prender um terrorista no Central Park, ele conheceu Louis.
Ele era amigo de um político, e facilmente comprado por dinheiro, tinha sua idade na época, carregava colares de ouro no pescoço, roupas de cantor de rap e um sorriso fácil. Ele apareceu na porta de seu gabinete dizendo saber como fazer o homem preso falar. Já que ele se recusara veemente a dar qualquer declaração, e mesmo não tendo revelado a imprensa sobre o novo preso, Louis sabia. Minato foi cético e o expulsou dali, pedindo uma ficha do homem aos seus subordinados dois dias depois recebeu uma ligação de um senador que indicava o trabalho de Louis como seguro e confiável.
Resolveu dar uma chance e quando ele voltou, na primeira hora que passou como o preso, Minato já soube os outros planos que os terroristas tinham.
Foi assim que aquele húngaro naturalizado se tornou um dos braços direitos do Namikaze quando o caso era extrair informações. Foi para isso que o chamou, era o único que confiava para conseguir extrair daquele monstro o que queria, ele precisava saber se havia mais sobre aquele sequestro que se aparentava. Ele precisava saber, para que isso jamais se repetisse.
E foi isso que disse a ele quando chegaram a sede. Jake estava ainda mais nervoso, uma pasta em mãos enquanto quase corria pelo corredor que levava aos elevadores. Minato acabava de voltar da área de detenção, com o mesmo resultado que tivera com Anne. Os homens não pareciam saber de mais nada além do que haviam falado, e acabaram em uma poça de sangue aos pés de Anko depois que haviam arrancado tudo deles, incluindo o tal de Thomas. E tudo o que haviam descoberto, era que o único que tivera contato com o contratante havia sido o maldito que atacara seu filho. Ele tinha as informações.
— O que está acontecendo? — perguntou se aproximando, atrás vinha Fugaku que segurava um telefone ao ouvido.
— Senhor! — ele parecia aliviado enquanto ia na direção do superior. — Aquele... Homem está aqui, em sua sala, eu não queria, mas ele entrou e...
— Tudo bem. — Desviou do rapaz que o olhou atordoado enquanto o via entrar no elevador, as portas de metal se fecharam e Jake olhou o Uchiha.
— É o filho dele. — disse ao telefone, começando a andar de um lado a outro no corredor elegantemente branco. O assistente se aproximou de um elevador e apertou o botão, abraçou a pasta e se virou para observar o mais velho, curioso. — Não Mikoto, se ela souber vai surtar... Sim, eu sei, mas... Mikoto... Olhe entenda... — ele fechou a cara, claramente não tendo chance de falar. — Mulher, me deixa falar!
Jake se endireitou, desviando o olhar arregalado.
— Desculpe, por gritar, é só que tudo isso está me afetando também. Minato está de pé na raça, ele está acabado, mas está tão irado que não consegue não lutar... Ele está com o avô no hospital, sedado... Completamente desolado...
Não teve como ouvir mais da conversa pois as portas do elevador se abriram, duas mulheres saíram e entrou, apertando o botão do décimo segundo andar, vendo o Uchiha virar as costas ainda ao telefone. As portas se fecharam.
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A sala era ampla, uma mistura do estilo colonial e modernismo das formas. As paredes cobertas por vidro azulado em toda a extensão, e cobertas por persianas escuras davam a visão para a cidade e ao mar que vidrava como um coração pulsante à quilômetros, seu brilho resplandecente com o sol que nascia devagar. Dois arquivos cinza na parede esquerda e ao lado da porta um quadro branco com várias anotações. Um sofá de couro discreto na parede direita, com uma mesinha ao lado, no teto uma série com cinco luminárias maiores e duas acopladas em cada extremidade. No meio da sala seu gabinete de mogno claro repleto de pastas e arquivos, seu computador e uma quantidade incrível de canetas, duas poltronas negras de couro a frente e sua grande, larga e confortável cadeira almofadada de couro de jacaré estava sendo ocupada por um outro traseiro que não era o seu.
— Às vezes me pergunto a razão que você ainda deixa esse mapa aqui. — Apontou para trás, onde o dito cujo mapa político dos Estados Unidos. — Sério, não seria melhor fazer uma pintura sua vestido de general e fazendo uma carranca e colocar ai não? É mais intimidador e tal.
— Saia já daí. — Sua voz saiu irritada, Louis pulou de pé desviando do homem loiro que passou por si e se sentou. Crispou os lábios e o analisou.
— Aconteceu algo grave, não é? Não, não, não fale! Deixe eu adivinhar. — Minato ergueu os olhos azuis furiosos, pronto para cortar a brincadeira do outro, mas ele foi mais rápido. — É com aquele pivetinho, não é? Consigo sentir o olhar de pai preocupado, você está com os ombros rígidos demais, sua expressão corporal está uma...
— Cale a boca, só por um segundo pare de analisar tudo como se estivesse na porra de um jogo, Wayne.
O homem piscou e se sentou em uma poltrona. Seus cabelos eram lisos e davam em seus ombros, escuros e brilhosos, tapavam metade de seu rosto somente deixando a outra metade a vista. Essa era a maneira que tinha de ocultar a horrível cicatriz que ocupava todo seu rosto do lado direito. Seus lábios estreitos e nariz arrebitado, olhos de tom amêndoas eram grandes e quando precisava, assustadores. Ele aparentava uma juventude que não tinha, com a camiseta preta desgastada e uma calça jeans azul surrada e apertada, o corpo de cintura e quadris finos, mas de bíceps grandes e musculosos, amedrontadores.
— Diga.
Minato pegou uma caneta e começou a girá-la entre os dedos, postergando. Engoliu em seco, iria resumir tudo.
— Pegaram meu filho. Aquela babá desgraçada e mais uns caras. Raptaram ele, abusaram dele, e desfiguraram o rostinho dele. — Louis retesou na cadeira. — Ele foi forte e deu uma facada no cara que... Que o machucou, e fugiu. Veio para cá. Até agora não sei como ele conseguiu isso, no estado em que o deixaram. E agora está no hospital. — Levantou o olhar para o outro, que parecia distante. — Cacei os que fizeram isso com meu filho, peguei os quatro, matei três, o monstro que machucou meu filho está lá embaixo te esperando. Ele sabe quem os contratou. Preciso saber se há mais nisso do que um sequestro por dinheiro. Eles claramente não pretendiam o devolver e tudo me leva a crer que o dinheiro nunca era a razão principal. E isso, só você pode descobrir agora.
O silencio reinou, o sol que nascia começava a iluminar ainda mais a sala. Minato sentia o coração bater contra suas costelas dolorosamente. Louis levantou o rosto, e fitou o amigo com intensidade, seus olhos amêndoa recheados com determinação e uma frieza indescritível.
Todo mundo ali tinha seu calcanhar de Aquiles, aquilo que os tirava do eixo, aquilo não conseguiam perdoar. Para Louis Wayne abuso sexual, ainda mais envolvendo crianças, era seu limite.
— Okay.
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Se encostou a parede, contendo a vontade que sentia matar aquele homem naquele momento, da pior maneira que pudesse. Viu Louis, de cabelos presos, se inclinar para frente, apoiado na mesa de metal, ignorando a cadeira disposta para si, e observou o homem ofegante a sua frente. Ele ainda vestia a mesma roupa que havia sido esfaqueado, só que agora tinha uma faixa adornando o abdômen. Parecia estar sentindo dor gemendo baixinho, o rosto caído.
— Ei. — Chamou, a voz grossa e autoritária. E quando não foi atendido, lascou um tapa na cara do homem. Seu rosto foi virado bruscamente, mas não houve tempo para sequer pensar e teve a mandíbula agarrada e foi obrigado a virar o rosto na direção do interrogador. O rosto sujo de fuligem e sangue, um olho inchado e os cabelos loiros encardidos. Ele encarou o Wayne e sentiu um arrepio subir a coluna. — Agora, cara, vamos jogar um joguinho que eu gosto muito, se chama: Meus dedinhos. Cada vez que você se negar a responder uma pergunta minha, quebro um dedo seu. E quando não sobrar mais nenhum, arranco seus dentes, e quando eles acabarem, posso arrancar uma orelha sua, ou quem sabe um olho. Mas vou preservar sua língua, que é daí que você vai conseguir se livrar dessa, brother. Entendeu?
O loiro acenou, mas teve a mandíbula mais apertada.
— Diga. — rosnou.
— Entendi.
— Certo. — Se endireitou, e olhou-o por cima enquanto o outro abaixava o rosto. — Quem te contratou?
— E-eu, ninguém, foi uma ideia nossa, do Carson...
Louis rodeou a mesa e parou atrás do homem que estancou na cadeira quando o moreno se inclinou sobre ele, sussurrando.
— Pêêh! Resposta errada.
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Bateu na porta e ouviu um consentimento baixo, torceu a maçaneta e colocou a cabeça no vão da porta, esperando.
O quarto era pequeno e pintado de azul bebê, sobre a única cama estava um pequeno calombo abaixo dos lençóis, ao seu lado, sobre a poltrona de azul que imitava couro, estava Jiraya, que o olhava sério.
Entrou, sentindo o coração apertado, e caminhou até a cama. Indo para o outro lado, viu que ele estava deitado como rosto virado para cima, coberto por faixas. Os olhinhos azuis estavam fechados, as mãozinhas abertas sobre os lençóis, no braço direito estava uma agulha intravenosa que guiava a um saquinho de soro que ficava pendurado na parede, um cateter em seu nariz. Agarrou uma de suas mãos e apertou, tão pequena perto da sua.
— Pai, como ele está? — perguntou, seus olhos presos no rosto enfaixado.
— Melhor. — Sua visão nublou-se e mordeu o lábio, se virando ao mais velho.
— Daidí... — gemeu, olhando-o, Jiraya tentou sorrir para reconfortar o filho, mas somente conseguindo um repuxar de lábios. — É tudo minha culpa.
— Não, Minato, não é. — negou, acenando com a cabeça. — Não é culpa de nenhum de nós.
Minato sabia que não era verdade. Depois de tudo o que Wayne havia arrancado daquele cara, ele sabia que a razão daquele sequestro havia sido unicamente para desestabilizar Minato. Eles o queriam ocupado, eles queriam sua atenção em outro lugar, e usaram seu filho.
Ele não podia falar aquilo com seu pai naquele lugar, ou ele nem mesmo sabia se iria o contar a verdade. Eles iriam precisar fazer uma limpa em seu pessoal, tudo estava um caos e seu filho...
— É minha culpa por não ter o escutado. — Sentiu a garganta apertar e o grisalho se levantou, caminhando até o mais jovem. — Ele nem mesmo gostava de ficar perto daquela...
— Escute-me. — seu pai tocou seu ombro e Minato o encarou, com aquela mesma expressão que ele fazia quando criança, quando via alguém ferido. — Tudo isso vai passar, ele vai ficar bem, e nada disso e sua culpa. Não é.
Antes negou enfaticamente com a cabeça, fechando os olhos.
— O senhor não entende.
Jiraya o puxou para perto e o abraçou forte. Engoliu as lágrimas que ardiam seus olhos, tinha certeza de que seu pai também lutava contra as suas. Era bom sentir o apoio dele, mas o que mais queria eram os braços magros e delicados de sua esposa, o corpo pequeno e quente dela, as palavras sábias e sinceras.
Se separaram e novamente olhou Naruto, abaixando o rosto para perto do seu ouvido:
— Meu anjo, papai vai sair, mas já volta. — disse, o nó crescendo como uma bola de espinhos. Era covarde demais para ficar ali por mais um segundo e ver o que sua negligência havia causado.
Se afastou de Jiraya que o observava e foi até a porta. Com uma última e triste olhada para a cama saiu. Como se estivesse embriagado, Minato tropeçou até a parede do corredor, se apoiando no batente da janela, os olhos fixos no chão de granito, sem ar. Uma mão flutuou até seu ombro, tentando-o trazer algum conforto.
— Vamos conseguir, você sabe disso, não é? — perguntou baixo, apertando o ombro sempre altivo do outro, mas que agora pareciam murchos demais abaixo daquele terno de material nobre. — Vai ficar tudo bem.
— Não minta, Uchiha, você sabe que daqui para frente nada vai ficar bem. — Sua voz era baixa, quase um sussurro irônico, teve de se inclinar para o ouvir. — Ele não vai ficar bem, nunca, você entende? Meu filho nunca vai esquecer. Você viu... — o homem estremeceu abaixo de sua mão. — O que fizeram com o rosto dele? O que acha que vai acontecer sempre que ele se olhar no espelho? Ele vai lembrar.
Aquela foi a primeira vez que viu Minato chorar.
— Minato, calma, ele está lá dentro esqueceu? Ele está precisando de você mais ainda agora. De um pai forte.
O outro chacoalhou sua mão do ombro dele e se virou, limpando o rosto quase de forma exasperada. Até que murmurou, olhando para a parede ainda.
— Se fosse um de seus filhos? Sasuke ou Itachi.
— Eu guardaria tudo para mim. Doloroso, mas nesse momento, sem Kushina, ele só tem a você. Só você como o porto seguro dele. Entende?
— Eu só queria... Ter evitado tudo isso. — Ressentido, sentiu o nó em sua garganta apertar, tamanha força que quase o sufocava. — Mo dhuine beag.
— Olhe aqui, Minato, você não é um pai normal. Você é Minato Namikaze, você não pode chorar, não pode demonstrar fraqueza. Você tem uma organização inteira nas costas, que precisa de você no momento. A gente precisa encontrar esses ratos. Por ele. — Claro, nem reunindo toda sua força de vontade Fugaku conseguia ser bom em reconfortar alguém. fez uma careta consigo mesmo, mas quando Minato ergueu o rosto, viu que havia conseguido tocá-lo.
Minato se afastou, passando a manga do paletó nos olhos, enxugando as lágrimas. Seus olhos vermelhos se ergueram, e ajeitou a postura.
— É, acho que tem razão.
— Eu sempre tenho. — Olhou ao grande Rolex que tinha no pulso. — Minato, terei de ir, tenho um voo agendado para daqui uma hora, vou em minha casa. Meu pessoal está com alguns problemas, e parece que Itachi...está com alguns problemas.
— Coitado. — Murmurou, parecendo aéreo de repente. — Então, obrigado por tudo Uchiha. Muito obrigado.
Ergueu os azuis avermelhados, encarando Fugaku nos olhos enquanto trocavam um aperto de mão.
— Vou sempre estar a sua disposição. E, voltarei, talvez na próxima semana, quando Kushina vier também, vou trazer Mikoto.
— Será de grande ajuda. — Tentou sorrir em agradecimento. — Precisarei mesmo de ajuda.
— Adeus.
Acenou enquanto via o Uchiha sumir em outro corredor. E quando se viu sozinho ali, sucumbiu novamente as lágrimas.
Ninguém conseguia ser forte o tempo todo.
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Jiraya fitava o rosto cansado do filho sentado à sua frente. Olheiras escuras rodeavam os olhos azuis que fitavam a chuva no vidro da sala. Ele parecia ter emagrecido nos últimos dias. E não o culpava por isso.
—E Kushina? — o velho homem perguntou, deixando o livro que lia no colo. Desde que entrara para ver o filho que dormia no andar de cima, no quarto que o avô fizera para ele quando o visitava nas férias, Minato não falara nada.
— Ainda está na conferência, ela chega em quatro dias. — falou baixo, a voz cansada. Os olhos azuis encararam o pai de modo perdido. — Não tive coragem para lhe contar ainda.
O homem suspirou. Desconfiava disso. Conhecia a nora o bastante e sabia que se ela houvesse tido notícias do que haviam feito com Naruto, teria colocado Nova York abaixo, mas estaria ali no mesmo instante.
— Não vai conseguir esconder para sempre. Está no... Rosto dele, Minato. — Falou, fechando os olhos ao lembrar do lindo rostinho do neto mutilado. Era ainda difícil acreditar em como alguém tinha coragem de fazer aquilo com uma criança como Naruto. Com qualquer criança.
Havia monstros demais nesse mundo.
— Eu sei! — O filho aumentou o tom de voz e suspirou, passando a mão no rosto. — Eu sei. Eu só não sei como contar uma coisa dessas. E ainda, todo o resto... — Ele voltou a olhar pela janela. Jiraya sabia que o "resto" devia ter a ver com o contratante que eles haviam descoberto.
Minato ainda não havia lhe falado sobre isso. Não tinha dúvidas que Louis havia soltado a língua do homem que machucara Naruto, como igualmente não tinha dúvidas que o homem estava morto agora. Não sabia se pelas mãos de Minato ou do próprio Louis, e, sinceramente, não queria saber. Minato falaria quando estivesse pronto.
— Eu sempre temi tanto isso pai... A maneira como olham para ele... mo dhuine beag...
Minato se calou, deixando as palavras morrerem.
— Ele sempre me dizia, que não gostava dela. Ele chorava quando a gente saia de casa. Eu sempre... Achei que ele estava sendo carente, como sempre... Eu devia tê-lo ouvido.
Jiraya ouviu calado. O neto sempre tivera um sexto sentido, era um abençoado pelos deuses. Jiraya, desde que o pegara nos braços, ainda recém-nascido, soube que havia algo de especial em Naruto. E à medida que o via crescer, tivera certeza.
Todos ao redor simplesmente se inclinavam para ele de algum modo. Ele tinha, mesmo na pouca idade, uma presença incomum, que atordoava. Minato e Kushina eram bonitos, mas Naruto... Era especial. Era mais do que sua aparência, era uma aura, algo a mais. Ele não era comum. Por vezes o pegava conversando sozinho com seu amigo imaginário, e notara algo mais do que imaginação infantil que os pais viam. Não era qualquer criança que tinha um deus irlandês como amigo imaginário, para começar.
Tirou esse pensamento da mente quando ouviram um grito vindo de cima, desesperado. Mal viu quando o filho pulou da poltrona e correu escada acima. Quando chegou ao quarto ele já segurava Naruto no colo que respirava rapidamente, desperto, os olhos azuis atordoados. Ele estava sedado desde que saíram do hospital, mas claro que não podia o manter assim para sempre.
— Daidí...Daidí!
— Shh, foi um pesadelo, acabou. Estou aqui. — Ouviu um soluço baixo e o filho apertou o garotinho com força contra o peito. Se aproximou da cama com um suspiro, para consolar o neto e o loirinho ficou tenso, se enterrando mais nos braços do pai com um pequeno gemido apavorado.
— Hei, tudo bem, meu filho. — Minato falou com suavidade, a voz rouca e cansada enquanto acariciava o cabelo loiro suado do garotinho. — É seu seanathair, ele não vai machucar você.
Os olhos azuis repletos de lágrimas se ergueram para fitar Jiraya, o reconhecendo aos poucos.
—Dia duit, sionnach beag. — Sorriu o acalmando, vendo como por reflexo Minato não removia o abraço possessivo e protetor ao redor do filho em seu colo.
Ouviu um pequeno fungado. Naruto parara de chorar, mas o rosto continuava enterrado no peito do pai, as mãos agarradas na camisa do homem com força. Até que a vozinha saiu baixa, compelida a responder na língua que os dois compartilhavam desde que Naruto começara a falar.
— Dia duit, seanathair.
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Na manhã seguinte, Jiraya entrou no quarto, e se deparou com seu filho e seu neto a dormir na mesma cama. O mais velho acolhia o filho em seus braços possessivamente, o menininho dormia prensado ao peitoral do pai. Seria uma cena fofa, se não dadas as circunstâncias.
Olhou tristemente para os dois, e deu meia volta, fechando a porta, não querendo atrapalhar o descanso dos dois.
Minato estava acabado, isso poderia se ver no rosto do homem. Naruto nem se fala, e a si, claro, sentia certa culpa por tudo aquilo.
Se tivesse sido um avô mais presente, se tivesse ficado com o pequeno para seu filho, nada daquilo teria acontecido. Agora só lhe restava a amargura e o arrependimento, ver os dois daquele jeito lhe doía de uma maneira que não se podia pensar. E o pior seria ter de olhar no rosto dele e se lembrar que tudo era sua culpa.
Desceu as escadas devagar, olhou pela sala como se procurasse algo. Tsunade estava de "férias" na casa de seus sobrinhos, aproveitando sua folga remunerada nos ares românticos da França. Mas naquele momento a queria ali, queria um abraço e as palavras firmes e seguras de sua esposa. Queria o carinho reconfortante que só ela tinha, e sabia que Minato também queria ter sua mãe ali, sabia que ele tinha saudades dela.
Rumou até o telefone fixo, que ficava sobre uma mesinha ao lado do sofá. Se sentou, e discou no telefone o número que já havia decorado. Depois de alguns poucos minutos de espera pela ligação internacional, ouviu a voz que tanto queria ouvir.
— Boa noite para você também, Jiraya.
— Bom dia, querida. — Tentou entornar a voz, para parecer o mais tranquilo possível. — Que horas são aí?
— Eu devia saber que você não tinha olhado no relógio, são quase duas da manhã. — A voz firme da mulher pareceu acalmá-lo de uma maneira surpreendente. Fechou os olhos e apertou a ponte do nariz com o indicador e polegar, se recostando mais a poltrona. — O que foi?
— O que está fazendo acordada a essas horas?
— Não mude de assunto. — Ralhou, e quase pode ver em sua mente as sobrancelhas loiras de Tsunade se juntarem. — Você não costuma me ligar e ficar calado assim, velhote.
— Não é nada, só... Fiquei com saudades.
Houve um silêncio do outro lado da linha, e quando a voz da mulher se fez presente, estava suave e preocupada. De uma maneira que quase nunca se via.
— Jiraya, o que está acontecendo?
Não soube explicar, mas contou tudo, desde a viajem de Kushina até o estado de Minato na cama com o filho. Tsunade ficou calada por todo o tempo, ouvindo a voz do marido transmitir todo tipo de sentimentos. E por fim, quando terminou de contar, aflito, demandou alguma resposta da mulher.
— Tsunade?
— Diga ao meu filho que estou voltando no próximo voo, ele não pode ficar sem mim, nem meu neto. Fizeram certo de não dizer nada a Kushina, ela já está esgotada, e precisa dessa viajem, como vai voltar logo, não a porque adiantar o sofrimento dela.
Pode ouvir a súplica quase implícita.
Ouviu assentindo a tudo, naquele momento se ela tivesse lhe dito para saltar de um penhasco, o faria, desesperado como estava.
— Vou falar a ele... — viu Minato descer devagar as escadas de madeira, o olhar perdido nos degraus, o rosto pálido. — Querida, vou desligar, dê notícias quando entrar no avião.
— Darei.
Colocou o telefone no gancho e se levantou, indo até o mais novo que descia o último degrau. Ainda aéreo. Olhou-o, avaliando-o e concluiu que ele parecia ainda pior que na noite anterior. Tocou-lhe o ombro, o fazendo lhe fitar.
— Vamos, uma boa xícara de chá de erva cidreira irá lhe fazer dormir como um anjo. — O enlaçou com o braço sobre o ombro, o forçando a ir à cozinha.
— Mas não quero dormir!
— Quer que sua mãe te veja com essas olheiras e essa cara de defunto? Você sabe que vai ser muito pior do que uma simples xícara de chá. — O jovem somente consentiu com a cabeça, sabendo o quanto aquelas palavras eram verídicas.
— O senhor contou a ela? — se virou olhando-o com quase ferocidade. — Disse que não queria incomodar ela!
— Se nos dois continuarmos aqui sozinhos, vamos acabar morrendo, Minato, precisamos de uma mente e palavras femininas. Você tão bem quanto eu sei que sua mãe é essencial para nós. E eu vejo o jeito que você está, você precisa de sua mulher também, mas sobre Kushina é melhor não fazer nada.
Minato assentiu, em derrota.
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Naruto continuou ali sentado, abraçado as pernas. Apesar daquela posição doer, não queria fazer nada além de ficar ali.
Os azuis estavam vidrados na porta, por cima dos joelhos ralados, das vezes que caiu no caminho para o trabalho de seu pai. Sequer pensava naquilo. Sua mente infantil não o deixava esquecer de certas coisas; não deixava de pensar que aquilo tudo havia sido sua culpa. Imagens brigavam em sua mente: sangue, dor, o rosto satisfeito do monstro, o desespero, o medo... Lembrava bem das palavras daquele homem, se não tivesse aquele rosto talvez ele não o quisesse, não é mesmo? Talvez não o teria tocado, talvez seu pai não estaria agora chorando sempre, ou seu avô não estaria o olhando daquele jeito estranho. Sua mãe voltaria logo, e não queria ver nos olhos dela o mesmo que via nos do seu pai.
— Se eu não existisse... — o sussurro rouco saiu por seus lábios feridos, os olhos azuis opacos que fitavam a porta branca emoldurada. — Não quero mais existir...
Não foi sua culpa. Nada foi.
Sacudiu a cabeça, pela primeira vez não acreditando nas palavras dele. Mesmo que fosse seu amigo, que o ajudasse sempre desde que conseguia lembrar, ele sabia que daquela vez ele estava errado. Não havia outra explicação.
A culpa é minha, na verdade. Eu lamento tanto...
—Sua? — Perguntou com um traço de confusão na voz aérea. Nada era culpa do seu amigo, ele o tentara ajudar. Ele que o tirara no galpão e o levara para seu pai. Ele que o salvara do monstro, porque Naruto era muito fraco. Muito inútil e indefeso.
É sua herança, minha herança. Eles vão sempre ficar encantados por isso, quererem ver e tocar. Ela desperta o melhor e o pior. O brilho dos Tuanah...sempre foi um dom e uma maldição.
Naruto nada entendeu do que ele falava. Mas sabia que ele o havia salvado, de alguma forma. Quando dera por si, estava abraçado com seu pai e seguro, quando o que ele lembrava era de estar em meio àquela dor com aquele monstro...e tanto sangue...e os olhos dele em cima dele, a voz falando aquelas coisas...
Respire, Naruto.
— Aeron... Não consigo... — sua voz saiu em um lamento baixo e sem ar, os olhos abertos e apavorados. Seus olhos escureceram e a última coisa que viu foi seu pai chegando na porta.
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Quando voltou ao quarto para acordar Naruto e o fazer comer algo, antes de mesmo abrir a porta ouviu o barulho da respiração forçada, e a voz baixa e suplicante de seu filho.
— Aeron... Eu não consigo...
Entrou no quarto abrindo a porta de supetão. Naruto estava encolhido na cabeceira da cama, hiperventilando, tendo um ataque de pânico, como muitos que tivera durante a noite. Em segundos estava com ele em seus braços, para perceber que ele havia desmaiado.
— Naruto!
Testou os sinais vitais, aliviado ao perceber que havia sido apenas um desmaio realmente. Abraçou-o com força, murmurando palavras de conforto, mesmo sabendo que ele não ouviria naquele momento.
Tinha impressão de que seria um dos muitos ataques que viriam ainda daqui para frente.
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Minato olhava para o celular em sua mão, como se fosse uma espécie de granada prestes a explodir. Talvez até fosse. Kushina havia lhe ligado há alguns minutos, avisado que voltaria antes do dia previsto, pois não estava se sentindo bem. E o pior, que voltaria no dia seguinte. Ela parecia pressentir que tinha algo errado.
— Disse que não ia conseguir esconder por muito tempo. Terá de explicar a ela, filho. — Jiraya apareceu pela porta de vidro que dava para a cozinha, duas taças pequenas em mãos, contendo um líquido avermelhado. — Tome. — Se aproximou do homem sentado no sofá, que o olhou ainda perdido. — É licor, vai te ajudar a pensar.
— Álcool não vai me ajudar, pai. — Virou o rosto. O mais velho deu de ombros, e ia se sentar e beber também a taça, mas foi impedido por uma mão que segurou a manga de sua camisa. — Mas mal também não vai fazer.
Aceitou a taça, ao seu lado o mais velho se sentou na poltrona, e observou Minato solver o líquido de uma só vez. Viu-o tossir e fazer um trejeito com a boca pelo gosto. Deu uma risadinha e bebericou o licor, satisfeito com o gosto.
— Você é jovem garoto, tem uma vida inteira pela frente. E Naruto também. Ele é uma criança, já vi muitos casos que a criança esqueceu o abuso, talvez esquecer não seja a palavra e sim, superou. E com ele não será diferente. Aquele moleque é forte, você verá, vamos conseguir.
— Pai. Entenda, não é tão fácil. Eu conheço meu filho o bastante para saber disso. E o fato daquele... — Minato suspirou, rangendo os dentes, sem conseguir terminar. — O fato de terem feito aquilo no rosto dele só torna tudo mais difícil, sempre que ele ver isso...
A sala caiu em um silêncio incomodo, Jiraya pareceu refletir por algum tempo, até sentenciar.
— Me deixe ajudar. — Minato levantou a cabeça, surpreso. — O deixe ficar comigo por um tempo, você sabe que eu posso ajudá-lo.
— Pai, eu não sei se eu...consigo ficar longe dele...e Kushina... o senhor sabe.
— Ela vai aceitar. Ela sabe. E sinceramente Minato, conhecendo vocês e Naruto, eu sei o que vai acontecer. Naruto é sensitivo, e vocês não sabem esconder muito bem emoções de qualquer forma. Isso vai sufocá-lo, ver vocês assim.
Minato abriu a boca para se sentir ofendido por isso, mas foi cortado pelo pai.
— Você sabe que é verdade. Você principalmente.
Acabou suspirando, não havia como negar.
— Não estou dizendo para você dar seu filho para mim. Mas deixá-lo comigo por algum tempo. Vocês têm que trabalhar de qualquer forma, e duvido que deixem mais alguém ficar com ele. Ele pode ficar comigo durante a semana, comigo e com Tsunade. Um tempo longe da cidade vai ajudá-lo.
— E a escola?
— Tsunade pode ensiná-lo, e eu também. Você sabe que ele não iria voltar para escola tão cedo de qualquer forma, com o medo dele das pessoas. E tutoreado em casa não é tão raro assim hoje em dia. Você e Kushina podem vir vê-lo sempre, será só até ele reaprender a não temer as pessoas. E claro... Que eu vou ensiná-lo a se defender.
Com isso, Minato, que ouvia calado, levantou a cabeça e encarou o pai.
— Você quer dizer...você vai ensiná-lo...
—Nós vamos. Ele precisa disso Minato. E nós vamos fazer isso por ele.
Minato nada respondeu, olhando pela janela. E Jiraya sabia que aquilo era seu sim.
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Não conseguia acreditar no que via. Quando recebera a notícia por Tobirama, havia tido a certeza que era uma mentira. Apenas mais um plano de Minato para que se reaproximasse. Mesmo que uma voz estúpida em sua mente lembrasse que Minato nunca usaria o filho para algo assim, mesmo em uma mentira.
Odiava que ainda tivesse algum respeito pelo homem depois de tudo.
Hackear o hospital havia sido um pouco mais difícil que o usual, mas havia aprendido com os melhores. Yahiko, afinal, só havia entrado no programa por seus talentos nisso.
E o que encontrou fez seu estômago embrulhar. Os olhos cinzentos arregalados nas palavras, nas imagens — nas provas — que haviam fotografado. Marcas de mãos na pele pálida em hematomas, sinais de tortura e espancamento, hemorragia interna, necessidade de pontos no canal retal, perto de precisar de cirurgia reconstrutiva em algumas partes.
O rosto...olhou para a foto na sua mesinha, de uma criança de cinco anos loirinha agarrada em seu pescoço, um largo sorriso e olhos velhos demais. E então para as fotos do inquérito. Recortes profundos nas bochechas, assimétricos, os pontos negros em contraste com a pele pálida demais. Desfigurado.
Pegou o cesto de lixo ao pé da mesa a tempo de não vomitar no tapete.
"Tio Naa!"
Fechou os olhos com força, tentando apagar a imagem na sua cabeça.
Minato havia permitido isso. Ele imaginava que apesar de tudo, ele e Kushina sempre protegeriam Naruto. Eles amavam Naruto. E ainda assim, eles haviam permitido aquela desgraça acontecer. Seu sobrinho, de sete anos, havia sido torturado, espancado, estuprado e... salvo a si mesmo.
Voltou ao reporte, saltando as imagens rapidamente, voltando ao inquérito policial. Tentou focar na parte que havia também deixado Tobirama tão curioso. O galpão ficava na zona leste, uma parte menos movimentada. Isso ficava há quase 4 quilômetros da agência. Pela estimativa do tempo, Naruto havia saído de lá as 4 da madrugada, e aparecido na garagem da agência as 6. Testemunhas haviam dado notícias de uma criança em alguns pontos, mas com a tempestade torrencial no dia, ninguém havia tido certeza. Ninguém sabia como uma criança de sete anos, com hemorragia, ferimentos incapacitantes para adultos, havia percorrido 4 quilômetros em meio a chuva e ainda acertado o caminho para um lugar que não ia desde que tinha 4 anos.
Talvez ele tivesse pegado o trem de carga sem que o vissem, ele descarregava próximo, mas isso deixaria mais um milhão de perguntas. Como ele havia conseguido se quer caminhar daquela forma? Como ele havia tido forças para lutar contra dois adultos, os esfaquear e fugir com ferimentos que deixariam qualquer um em pura agonia? Como ele não havia morrido — não queria nem pensar nisso, Deus — com o choque e a perda de sangue nessas duas horas? Como sua recuperação podia ter sido tão rápida, quando a estimativa seria semanas até que fosse liberado do hospital?
Balançou a cabeça de forma incrédula. Um pouco enjoado em perceber que Tobirama parecia mais entusiasmado com isso do que preocupado, e para seu desgosto, ele também estava curioso.
Tentou entrar nos arquivos da agência, para descobrir quem foram os malditos que haviam organizado essa desgraça inteira, mas foi bloqueado em todas as portas. Ele sabia que Minato havia descoberto. Por mais que o odiasse, tinha que admitir que o homem era eficaz em situações menos importantes.
Assim como sabia que quem que fosse, não estava mais vivo.
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Daidí: Papai
Mo dhuine beag: Meu pequeno
Daídi...daidí: Papai...papai.
Dia duit, sionnach beag : Olá, raposinha.
Dia duit, seanathair : Olá vovô.
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