Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

Comrádaí

Pookas são um tipo de fada famosas por causar o caos. Traquinas, em dias bons elas atrapalhariam os animais nas fazendas, pregariam peças; em dias ruins destruiriam plantações, afundariam navios.

Meu avô costumava nos chamar, Karin e eu, de pookas do bem. Sempre causando travessuras. Até o dia em que acordei com uma espingarda na mão e um caçador apavorado de joelhos na minha frente, enquanto meu avô gritava meu nome, para eu parar.

Eu não era uma pooka.

Eu era um monstro.

....................

ELES ESTAVAM EM UMA CAÇADA NOS ARREDORES DA CABANA. Era sexta-feira e seu pai viria para o fim de semana, junto com a mam, e talvez a prima Karin.

Naruto ainda não estava totalmente acostumado a ficar perto de tantas pessoas que não fossem a família, por isso quando eles encontraram aquele grupo acampando perto do rio, se escondeu por trás de seu avô.

Já vivia com ele há mais de oito meses; já havia passado até seu aniversário de oito anos na cabana. Ele já havia aprendido muitas coisas, mas não conseguia não se impedir de tremer um pouco ao ver todas aquelas pessoas o olhando. Havia crianças também, encarando suas cicatrizes, que agora fechadas tinham uma coloração diferente da sua pele. O avô pareceu entender seu desconforto e lhe deu seu chapéu enquanto conversava com o homem do acampamento, passando um braço no ombro dele, o puxando para perto e atrás de si de forma disfarçada. Lhe assegurando.

— Então vocês são parentes dos Clinton. Deve ser David, o filho dele, ele me falou sobre você. É uma bonita fazenda o que Johnson tem ali, mas vocês estão meio longe de lá, e essa floresta não é boa para acampamentos, tem muitos animais selvagens. — O avô falava de forma simpática. — Do outro lado é bem melhor, principalmente para crianças.

— Estamos de férias familiares. Essa é minha mulher Bela, e meu filho John, minha caçula Ellen, e os amiguinhos deles.

Naruto olhou por baixo do chapéu à medida que o homem apontava. Não gostou muito desse tal de David, ele tinha um tom de voz que a vó diria que era... Como era a palavra?

Presunçosa.

Isso! A mulher não parecia ruim, parecia bem... Mãe. A menina Ellen também não. Ela era da idade de Naruto, e embora estivesse olhando sua cicatriz, ela corou um pouco e afundou o rosto no cachorro que ela segurava, que também olhava Naruto com curiosidade. Agora, os outros três meninos que o incomodaram. Deviam ter 10 anos ou mais, e ficavam empurrando uns aos outros. Naruto não queria ficar perto deles.

— Esse é meu neto. — O avô falou sem tirá-lo de trás de si.

— Hum, isso foi uma coisa bem feia no rosto dele ham?. — O homem falou sem tato e Naruto se encolheu.

— David! — a mulher o repreendeu. E então olhou Naruto com pena— Tadinho. Ele é tão calado.

— Se aqui não é bom para crianças, o que seu neto faz aqui?

Homem desagradável.

O avô apenas riu: — Naru conhece essa floresta, quem sabe melhor do que eu. Os animais o conhecem e o respeitam.

O homem olhou o avô como se ele fosse louco. Não era de se estranhar que aquele menino tinha o rosto assim, com certeza atacado por algum animal. Ainda assim... era um rosto lindo.

O homem piscou, tentando disfarçar seu olhar fixo no garotinho escondido atrás do homem maluco. O analisando. Os azuis se encontraram com os seus para logo se esconder debaixo do chapéu.

Aquelas cicatrizes eram um ultraje em macular algo tão perfeito.

..........................................................................................................................

Eles ficaram, teimosamente. E o avô resolveu ficar com eles, para evitar um ataque pelas crianças. Naruto odiou isso. Ele gostava apenas de ser ele e o avô, e embora Jiraya não tivesse tirado as vistas dele quase o tempo todo, Naruto teve que ficar perto da fogueira com as crianças. Ainda ficava desconfortável demais perto do fogo, embora seu avô estivesse tentando tirar esse pavor dele já há algum tempo

Apenas ficou calado ao lado da menina Ellen, que o deixou acariciar o cãozinho o tempo todo, uma das raças dos lobos que ele gostava. Ela era quieta também, não era ruim. Mas isso foi até os meninos grandes começarem a implicar com os dois.

— Ellen arrumou um namorado!

— Não arrumei não! — a menina ficou vermelha, o rosto ultrajado. — John!

— Arrumou sim! E ainda um esquisito. O que foi isso em seu rosto afinal? Parece um ataque de um bicho.

Naruto não respondeu, apenas franzindo a testa.

— Ele é estranho para uma criança. Olha o tamanho dos olhos dele. — um outro garoto falou.

— Olha o tamanho dele! É ainda menor que a Ellen. Ele parece uma menina.

— Eu vou falar para o papai que vocês estão insultando ele! — a menina ameaçou.

— Fica quieta, pirralha. Ou vou jogar esse cachorro na fogueira.

Os olhos da menina se encheram de lágrimas e Naruto sentiu a raiva começar a tomar.

Eu posso cuidar disso.

— Deixa ela em paz. — Murmurou e a menina virou para ele com os olhos arregalados.

— Ele pode falar! — John zombou. — Pensei que ia deixar minha irmã te defender, cicatriz.

— Não me chame assim.

— Cicatriz! Cicatriz!

Acredite em mim, Naruto.

— Deixa ele! Deixa ele!

— Ele vai chorar! Só até ele chorar. Olha a voz dele como é delicada.

Naruto que até agora encarava o garoto em branco tremeu.

"Tsc, garotinho. Se soubesse o quanto me excita com essa voz delicada..."

Naruto... Vou cuidar disso... A dor vai embora, eu prometo.

O garoto que puxava o cabelo da irmã virou os olhos quando viu Naruto erguer, os olhos nos seus. Ele tinha um sorriso estranho no rosto que durante toda a tarde estivera apático.

Você pode tentar me fazer chorar agora. — A voz estava mais firme, o rosto bonito brilhava com as chamas do fogo de um jeito quase sobrenatural que fez os garotos piscarem, atordoados. — Mas vamos ver quem chora primeiro.

Naruto ergueu a mão, e de repente o cão que estava no pé da menina começou a rosnar para os garotos, os dentes para fora, raivosos, os olhos brilhantes. Os garotos recuaram, assustados.

— Dingo?

A menina chamou incerta, caída de bunda no chão, os olhos cheios de lágrimas.

— Ele está atiçando ele na gente! — um garoto falou chocado, pulando para trás do tronco onde eles estavam sentados.

Claro que não. — Naruto riu, a mão ainda levantada. — Sou só um garotinho, com rosto de menina e voz delicada.

.............................................................................................................................

Foi o grito que alertou os adultos. Jiraya estava lá primeiro, seguido pelos pais. O cão da família atacava o garoto no chão, que já tinha a mão sangrando. A menina correu para a mãe, chorando, e os outros garotos pareciam apavorados.

— O que está acontecendo! — David Cliton gritou por cima dos gritos dos garotos — Tire essa peste do meu filho!

Como por mágica, o cão saiu do garoto, indo para perto de Naruto. Jiraya suspirou. Até ver o homem tirar a arma de caça e apontar para o animal.

— Vou matar esse desgraçado!

— Não! Dingo!— a menina gritou.

Mas antes que Jiraya pudesse agir, Naruto havia se metido entre a arma e o animal.

Não.

Os outros não pareceram perceber, Jiraya pensou. Não. Eles estavam encantados demais. A voz foi firme, e os cabelos de seu neto pareceram girar com o vento ao redor do rosto, que parecia mais velho, mas mítico, e mais belo. E havia aquele brilho que não parecia vir do fogo, a voz, arrastada. O homem abaixou a arma.

Vou ficar com ele. — Naruto falou, abaixando para pegar o animal que ficou quieto em seus braços. — É melhor vocês irem para casa.

Todos eles obedeceram, sem nem mesmo contestar. O garoto antes no chão se levantou com a mão machucada e alguns arranhões nas pernas, e saiu atrás dos outros. Quando a menina olhou Naruto atordoada, como se não totalmente certa, pronta para arrumar o acampamento e ir para o carro, o garoto sorriu.

Vou cuidar dele.

E ela se foi.

....................................

Jiraya entrou no Jeep, ainda sem dizer uma palavra. Ligou a aquecedor e colocou a arma atrás. O garoto estava sentado no banco a seu lado, acariciando o cão adormecido em seu colo. O rosto sério, refletido nos faróis da estrada de lama que levava de volta a cabana.

— Onde está meu neto? — o homem falou ao cabo de instantes.

O menino o olhou curioso, e então sorriu. Jiraya suspirou.

— Isso foi cruel.

Eles mereceram. — O loirinho falou, a voz séria demais para uma criança. — O pai era uma imbecil, pretensioso, e que estava olhando Naruto quando ninguém percebia. Com certeza já pensando em uma maneira de levar a justiça o fato óbvio no rosto dele, que talvez você o machucasse e conseguisse sua guarda como um bom cidadão. E assim, daqui a alguns anos, ter o filho adotivo grato na sua cama quando a esposa estivesse no trabalho.

Jiraya apertou a direção com força. Ele havia visto isso nos olhos de David Cliton. E nas perguntas sobre o neto. Ninguém ali sabia sobre quem era de fato o pai de Naruto, eles conseguiam esconder isso bem pela segurança de todos.

A mulher é uma submissa. O filho vai ser igual ao pai quando crescer. A menina teria esperança, se saísse daquela família.

— Ainda assim, você não pode fazer esse tipo de coisa, Aeron.

Faço tudo para proteger Naruto. — O outro retorquiu.

Eles ficaram em silêncio, por um tempo.

— Você não parece pensar como a velha, que Naruto está louco. Que minhas visitas são por causa do trauma. Transtorno dissociativo de identidade blabla. — Ele falou divertido.

— Primeiro, não chame minha esposa de velha. E segundo, eu peguei Naruto no colo quando ele nasceu. Eu estava lá na primeira palavra. E você sempre esteve lá, desde sempre. Eu sei quem você é, eu reconheço as lendas do meu povo. Quero saber o que você quer com meu neto.

Ele sou eu, ou eu sou ele. E isso sempre aconteceu, seis vezes para ser exato. Vocês, no ocidente, chamam reencarnação. Outros chamam de karma. No budismo, roda de Samsara, uma mesma coisa acontecendo sempre e sempre até alguém quebrar o ciclo do karma. Eu sempre estive aqui.

— Você não respondeu minha pergunta. O que quer com meu neto?

O menino riu, ainda acariciando o animal.

Quero ficar livre.

— Você não vai matar meu neto!

Homem tolo — o garoto o encarou sério e Jiraya parou o carro. — Se eu quisesse matá-lo, não estaria o protegendo.

— Então o que... — Jiraya parou, quase sufocado. O ar no carro havia ficado pesado, os olhos do loiro frios. E então a sensação sumiu. — Nós nunca machucaríamos Naruto. Nós podemos protegê-lo.

Eu vi como puderam. — A voz saiu com sarcasmo. — E eu seu soubesse que vocês, um de vocês, pudesse o olhar como os outros o olham, acredite, ele não estaria perto de vocês ainda. O sangue de Eriu e Mac grénie circula em vocês também. Em você, e em seu filho. Por isso vocês não podem o olhar dessa forma. Se não, você ou seu filho... Poderiam ter há muito feito o que aquele homem fez com ele.

— Eu nunca...! — Jiraya empalideceu com o pensamento.

Se não fosse isso, se você não fosse o descendente, vocês poderiam sim. Não estaria no controle de vocês. O encanto de Tuanna, é mais forte nele. Por minha parte, e pela parte que veio da própria descendência de vocês. Ele não sabe usar isso ainda, ao favor dele, como eu usei essa noite. Isso só vai trazer dor, como já vem trazendo.

Jiraya abaixou a cabeça, e ligou o carro de novo, ganhando a estrada de volta para casa. Pensando.

— Você falou em roda e karma. — O homem falou. O garoto olhava pela janela. — O que está prendendo você na terra? O que vai acontecer com meu neto?

Dor. Dor o espera. E morte jovem. Mas dessa vez, graças a seu sangue, a esse acaso, eu estou aqui.

Jiraya sentiu um arrepio percorrer sua espinha, desespero o tomando. Por seu neto.

— Isso vai salvá-lo? Você pode salvá-lo?

Eu não sei. Mas eu vou tentar. E por isso, eu sou capaz de tudo. — O homem encontrou os olhos azuis, frios, tão diferentes do seu neto. — Tudo.

.................................................................................................

Naruto abriu os olhos na escuridão, depois do sonho-lembrança estranho. E de repente, tudo começou a fazer sentido, algum sentido ao menos.

Se assustou um pouco ao sentir o corpo quente ao seu lado, as mãos ao seu redor. Até se acalmar, porque era Sasuke; era o cheiro dele. Era o certo.

Se concentrou na respiração dele, os azuis ainda abertos. Podia ouvir o som do ronco de Sai também, na cama, mas preferiu não se importar agora em o outro acordar e vê-los naquela situação. Depois da noite passada, isso não parecia mais tão importante. O medo de Obito não parecia mais tão importante do que Sasuke o abraçando, consolando. Ele queria um consolo. Em seu sono Sasuke o puxou, o abraçando mais forte, possessivo. Fechou os olhos e se deixou descansar mais um pouco.

.........................................................................................

Fechou a porta, e deixou o outro dormindo. Tinha tomando um banho. Nunca havia levantado tão cedo desde que chegara ali, o sol nem havia nascido. Mas tinha que falar com Itachi. Itachi era o único com quem podia falar sobre isso, enquanto não resolvia se metia Sasuke de vez naquilo ou não. Ele sabia aonde o outro ia sempre pela manhã cedo, por isso seguiu para lá.

..............................................................

Gaara sempre acordava cedo. Agora, nem mesmo conseguia dormir. A escola estava sempre vazia aquelas horas na manhã, então se surpreendeu ao capturar a nuance de cabelos loiros e brilhantes em uma figura pequena, na névoa atrás da escola quando descia a rampa.

Naruto.

Ontem à noite Shikamaru havia vindo falar com ele, sobre Naruto e sobre o que acontecera. Estavam todos tão preocupados, desde que Naruto havia sumido e retornado tudo havia mudado.

Ele havia mudado.

Mudado tão profundamente que era óbvio demais que algo muito mais grave do que um acidente em uma trilha havia acontecido. Ele estava os afastando a cada dia mais. Aquilo estava na sua cabeça, ele tinha que tirar de Naruto o que acontecia, por isso o seguiu.

.........................

Gaara tinha certeza de que não conhecia essa parte do castelo. Claro que ele sabia sobre o labirinto, todos os alunos recebiam avisos sobre as proibições, o que não explicava o que Naruto fazia ali, sentado, olhando para aqueles muros cheios de musgo tão fixamente. Estava a ponto de ir falar com ele quando Itachi chegou, então recuou para as sombras. Eles não falaram uma palavra. Quando Naruto se ergueu pensou que ele iria ignorar o outro como a todo mundo mais e ir embora, mas, não foi bem isso que aconteceu.

Naruto entrou no labirinto. Com o Uchiha, o vencedor. Todos os instintos de Gaara gritavam. A curiosidade, a preocupação. Então ele esperou algum tempo e foi atrás.

...................................

Eles logo alcançaram o centro, aquele mesmo lugar em que Naruto passou a confiar em Itachi. Itachi observou Naruto, ainda com a expressão distante, sem dizer uma palavra se sentar no banco de frente a estátua de pedra e abraçar os joelhos.

Caia uma leve garoa, mas quase indistinta ali. Ainda assim ela fazia parecer que a estátua estava chorando. Esperou quase um minuto, ambos em muda contemplação, até que a voz rouca quase o assustou.

—Estou com medo de mim mesmo, Itachi.

Se virou para o outro de onde estava sentado, observando calado o quanto ele parecia frágil. Tinha ímpetos de o abraçar, mas sabia que seria rejeitado, então apenas esperou ele falar.

— Esse lugar está me enlouquecendo, desde que cheguei aqui.

—Naruto, sua situação... Ontem...

—Não. — Ele chocou com a cabeça. — Você não entende. Você não entende mesmo. — Ele suspirou, se encolhendo mais. — Quando eu tinha sete anos, eu fui estuprado. Desfiguraram meu rosto. Me torturaram. Aqueles garotos ontem, sabiam disso. Eles simplesmente, sabiam e tentaram usar isso... — O garoto balançou a cabeça, soltando o ar. — Eu sobrevivi. De algum jeito eu sobrevivi, mas não sem sequelas.

Itachi estava feliz que ele não olhava para ele, ou veria o choque que não conseguia esconder. Claro que ele sabia disso. Seu pai o havia contado, quando vira os arquivos, logo quando se formou. Ele queria saber tudo sobre Naruto. Fugaku foi vago, ele descobrira quase tudo sozinho por pesquisa própria. Mas ouvir Naruto falar aquilo, em uma voz tão sem vida, tornava tudo muito pior.

Nara havia também lhe dito que um dos garotos havia falado disso para quebrar Naruto. E Itachi os proibira de falar sobre isso de agora em diante, sob ameaças dele e de Sasori. O que sabia que seria mais do que suficiente para eles se calarem. Ninguém queria Sasori no pescoço.

—Meus avôs decidiram cuidar de mim. Me ajudar a sair da concha que isso criou ao meu redor. Eu tinha esquecido de muita coisa dessa época, e agora sei a razão. Eu estou lembrando, depois do que Obito fez comigo.

Ele não o fitava enquanto falava. E Itachi não sabia se era melhor ou pior assim.

—Na época, antes de isso acontecer mesmo, eu tinha um amigo imaginário. Ou eu achava que era um amigo imaginário, mesmo que por muito tempo eu tivesse a certeza de que foi ele que me tirou daquele galpão e me fez andar pela cidade, no meio da chuva, sangrando e ferido e continuar vivo...

Ele pareceu devanear um pouco, até voltar.

— Esse amigo imaginário, quando eu fui morar com meus avôs, ele voltou. Mas não era só mais um amigo imaginário. Minha avó era psiquiatra. Era como se eu tivesse desenvolvido uma outra personalidade que assumia as vezes, e ninguém duvidou que fosse pelo trauma. Desde então, eu passei muito tempo apenas os aterrorizando. Sempre que eu me sentia ameaçado, em pânico, ele vinha. Eu podia ver e ouvir tudo o que ele fazia, como se estivesse lá ainda, o que não é comum nesses casos. Eu tinha noção sobre ele, e ele sobre mim. Ele era meu lado mais escuro, violento, presunçoso e protetor. Seu nome era Aeron.

Itachi gelou, os olhos arregalando. Seu corpo congelou e olhou para baixo, apertando os punhos.

—Eu tinha sonhos. Eu tinha sonhos aterrorizantes, sobre o que tinha acontecido comigo, mas também sobre outras pessoas. Outros lugares que eu nunca conheci. Isso estava me matando, Itachi. E toda essa época é nebulosa para mim. Minha avó conseguiu fazê-los parar, quando eu tinha nove anos. E desde então, Aeron também tinha sumido. E só então eu comecei a melhorar. Então eu vim para cá. E essa merda toda começou. O jogo, os corpos na floresta, Obito começou a me chantagear, ameaçar minha família, Sasuke, Gaara, você. As visões voltaram quando conheci Sasuke. Obito me estuprou, e Aeron voltou. Só que ele está bem mais forte agora. É bem mais difícil dizer não a ele. Eu não quero dizer não a ele, porque é bem mais fácil dizer sim. E eu estou com medo de mim. Porque eu não consigo me controlar mais.

Itachi tocou o rosto do outro, que tremeu, mas o encarou. O rosto do Uchiha estava sério quando segurou seu queixo, tentando fazê-lo focar em si.

—Naruto, você sabe quem foi Aeron? De onde esse nome veio, de onde você o tirou?

—Meu avô me falou, que ele era um deus irlandês. Mas não se sabe muito sobre ele.

Itachi assentiu, sentindo um certo alívio disso.

— Ele era um deus irlandês. Um deus que caiu por ter sentimentos humanos que não poderia: amor e ódio. Um deus responsável por proteger o povo celta da invasão dos cristãos, quando eles consideravam o culto a natureza bruxaria. Uma aldeia que ele protegia foi destruída, pessoas foram queimadas vivas. E veio o ódio. Ele destruiu por vingança uma vila inteira, mais de 200 pessoas, e dizem que por isso foi banido de seu povo, preso entre sua forma animal e uma forma humana. Enquanto estivesse na forma animal ele nunca envelheceria, mas também não poderia voltar a seu povo até cumprir sua pena. Se vestisse sua forma humana ele poderia envelhecer, ele poderia morrer. Ele escolheu a forma humana.

—Por quê?

Itachi estava aliviado pelo vazio dos olhos dele terem sumido. Só havia curiosidade agora. Ele poderia contar aquilo pra Naruto, em forma de um conto, sem medo de machucá-lo mais.

—Porque veio o amor. Ele se apaixonou por um humano, e queria achá-lo e viver o resto da vida com ele. Mas as terras eram vastas, então demorou anos para ele o achar.

—Mas ele o achou?

—Sim.— Falou devagar, acariciando as bochechas do outro.

—E o que aconteceu?

—Eles foram traídos e assassinados.

Naruto tremeu e sacudiu a cabeça, tirando suas mãos de seu rosto para encarar a estátua.

—Que droga. Você tinha que ainda por cima contar uma história tão ruim dessas para mim, seu babaca.

Itachi riu do bico do outro, mesmo que fosse sem humor algum.

Eles ficaram em silêncio, apenas olhando a chuva. Naruto se inclinou para si procurando calor, e passou os braços em seu ombro, o engolfando ali. Ele tencionou, mas relaxou, confiando.

Olhou aquele perfil bonito, aqueles olhos azuis por trás dos cílios longos, o rosto cada vez mais sério, quase uma estátua com pedra de safira.

Cada vez mais parecido com Aeron, como se ele pudesse tomar conta de seu corpo a qualquer momento.

"Eles foram traídos."

Eu lamento tanto pelo o que fiz Noland, Aeron. Só quero salvá-los dessa vez.

..................................................................................

Mesmo depois que eles saíram, Gaara ficou um tempo, sentado no chão do labirinto. Sua cabeça um caos com tudo que ouvira. Seus olhos sempre frios, tumultuosos.

"O jogo, os corpos na floresta..."

"Obito começou a me chantagear, ameaçar minha família, Sasuke, Gaara, você. Obito me estuprou..."

—Naruto... — sussurrou sentindo os olhos marejando em choque.

Ele tinha que salvar Naruto. Ele tinha que fazer alguma coisa.

...............................................

Quando voltaram à masmorra, Itachi o acompanhou até o quarto novamente, o fluxo de alunos tinha aumentado e agora eles se espalhavam devagar, como zumbis, pelos corredores. Era sábado, o que queria dizer que teriam atividades extracurriculares. O que diminuiu ainda mais o humor de Naruto. Itachi parou ao seu lado, dando um simples repuxar de lábios.

— Então, te vejo mais tarde?

Confirmou com a cabeça, seus cabelos meio úmidos caindo sobre os olhos claros que encaravam a maçaneta da porta.

Itachi esperou por alguma palavra, mas quando notou que ele não falaria nada saiu devagar, olhando-o de soslaio.

Suspirou e abriu a porta, esperando que Sasuke já tivesse ido para o próprio quarto, já que estava perto da hora do café da manhã.

Droga.

A primeira coisa que viu foi o corpo nu e molhado de costas para a porta, costas largas e pálidas, os cabelos negros pregados na nuca. Ele parecia não ter notado sua presença, enquanto analisava uma calça social xadrez azul, da qual sabia pertencer a Sai.

Seu olhar desceu, despudorado, até o traseiro redondo e de pele ainda mais clara. Era realmente uma bela bunda.

Seu olhar vagueou pelo quarto e pode notar que o chuveiro estava ligado. Fechou a porta devagar e pigarreou.

Uma gargalhada ficou presa em sua garganta quando viu-o dar um leve salto de susto, levando a peça de roupa para suas partes baixas, se tampando.

— Naruto! Onde estava? — disse constrangido.

Sasuke constrangido?

Os portões do inferno se abriram! Corram para as colinas!

Não é pra tanto.

Espere e terá certeza de que não estou errado.

— Por aí. — Deu de ombros indo até a cama, onde estava uma... — Essa cueca é minha?

— É, peguei ela, vou vesti-la só até ir ao meu quarto sabe. — Tentou parecer despreocupado, mas não estava dando certo. — Vai ficar apertada, mas ainda sim...

— O que está insinuando? — Naruto cerrou os olhos, olhando-o através dos cílios espessos, sua testa enrugando. Sentou-se na cama, se apoiando nos braços que foram esticados para trás.

— Nada que já não saiba. — Sasuke inclinou, seu rosto a centímetros do rosto do outro, pegando a cueca e se virando de costas. Um sorriso apareceu nos lábios do Uchiha. Jogou a calça na outra cama e se abaixou, vestindo devagar a cueca boxer, que quando chegou na altura do torneado das coxas, já começou a apertá-lo. — Olha, eu disse. — Rebolou levemente, para que a peça subisse mais. — Que quase não me cabe.

Naruto olhou hipnotizado para aquela "parte" da anatomia de Sasuke, afinal, sendo ou não bissexual ou o diabo a quatro antes, sempre gostou de bundas. Sempre gostou de bundas como a de Sasuke.

Quando ele terminou seu pequeno show para entrar dentro da boxer, se voltou ao loiro sorrindo, Naruto engoliu em seco e se endireitou.

— Coube.

— É. Mas está desconfortável. — Apontou para baixo, fazendo uma leve careta, os olhos brilhando de sarcasmo. — Aperta...

— Uh, problema seu. — Naruto virou a cara bufando, envergonhado, se arrastando até a parede ao lado da cama, abraçando as pernas.

Sasuke riu, se virando e vestindo a calça. Quando a abotoou, ouviram o som da porta sendo aberta e Sai aparecer secando os cabelos curtos. Ele os olhou. Naruto enrolado na cama, emburrado, e Sasuke sem camisa com cara de safado. Sua língua coçou para destilar seu veneno matinal no Uzumaki, mas se conteve. Com o metidão ali não podia falar nada, e Ino o mataria se soubesse que estava mexendo com Naruto. Ela já estava ficando louca com o comportamento dele nos últimos dias.

— Espera. Essa calça é minha. — Acusou, apontando para o Uchiha que deu de ombros. — Ah, oi Naruto.

— Oi. — A voz do outro estava abafada e baixa. Sentiu uma pontada de preocupação que não queria demonstrar.

— Me dá uma camisa sua, não posso sair por aí do mesmo jeito que estava ontem, até porque tomei banho.

Sai pensou em negar, mas quando recebeu aquele olhar atravessado, desistiu. Abriu o armário e pegou a primeira camisa de botões que encontrou a jogando para Sasuke, que a vestiu sem rodeios.

Sai pegou sua mochila ao lado da porta e olhou os dois, desconfiança e uma gota de malicia, em seus olhos e saiu sem mais nenhuma palavra.

Não é que ele deu um jeito no cara.

— Bem, estou pronto.

........................

Naruto caminhou devagar em direção do campo de futebol, vestia um conjunto de calça e camiseta azul marinho, seus tênis pretos com verde florescente podiam ser vistos de longe. E claro, era uma aquisição feita por Karin, que insistiu quando foi entrar no maldito colégio que ele devia sempre estar vestido com grifes, e não seus "trapos" que geralmente usava.

Como se um tênis estúpido desse fosse legal.

Em outras épocas — quando não estava naquele colégio ainda — até gostaria de usar algo chamativo, algo laranja vibrante de preferência, adorava a cor e todas suas variantes.

Até que começasse a odiar chamar atenção das pessoas.

Os pinheiros balançavam com o vento, o sol ameaçava aparecer, mesmo que nuvens estivessem se arrastando devagar para o tapar. Nunca havia um dia realmente ensolarado entre aquelas montanhas verdes, sempre chovia. Desviou o olhar do céu para o campo que aparecia, suas arquibancadas de metal eram altas, e ficavam dos dois lados do campo, que tinha um tamanho reduzido do oficial. Viu que alguns alunos já se aqueciam, e como sempre havia garotas ao redor do campo animadas demais com um simples jogo idiota. Querendo exibir os corpos delineados pelos macacões de atividades do colégio, o que estava dando certo, já que alguns caras estavam as olhando e tentando chamar atenção.

Até que são bonitas. — admitiu consigo mesmo, gostando de Sasuke ou não já tivera boas experiências com garotas.

Chegou à beira do campo e foi em direção do banco de reservas. Gai tinha dito que teria de ao menos ficar no banco, já que estava machucado. Tinham mais dois garotos sentados lá, parecendo amuados, uma bolsa grande com os uniformes de cada time e outra fechada, um container pequeno com gelo e garrafas de água ficava no final do banco. Sentiu vontade de sair correndo dali, mas se corresse iria doer, então se dignou somente a se sentar longe daqueles caras.

Atrás de si ficavam um bloco de arquibancadas, e agradeceu a Deus das garotas terem ficado do outro lado. Olhou as próprias mãos, cobertas pelas luvas de couro negras, que tinham uma pequena abertura nas costas de suas mãos, mostrando parte de suas bandagens.

"Quero ficar livre."

Desde que acordara aquela lembrança turbulenta ocupava sua mente; sua voz, diferente demais, dizendo aquelas palavras, o modo em que se sentia fora de si, somente como um expectador. E então entendeu que não era a primeira vez, não se lembrava antes, nem sabia o porquê, mas aquelas lembranças, tudo, sempre esteve ali dentro de si, já as havia visto. Era tudo tão estranho, tão complexo, era quase que impossível pensar na possibilidade de ter alguém dentro de seu corpo, sem ser ele mesmo, que tentava o dominar, sem achar aquilo loucura.

Não é loucura.

Os loucos têm sim consciência de sua loucura.

Vai falar meu nome agora?

A voz parecia tão triste ao perguntar aquilo, mas a ignorou. Estava...com medo. Por Deus, estava apavorado com tudo aquilo.

— Sasuke! — levantou o rosto antes mesmo da garota gritar, sentindo a presença dele como se ele tivesse o chamado.

Seus olhos correram para onde o outro estava entrando no campo de maneira quase intuitiva. Sua camisa vermelho sangue o deixava ainda mais pálido, mas de uma maneira bonita, que contrastava com seus cabelos que quase chegavam ao tom azulado. Ele estava sério, e do mesmo modo que Naruto parecia ciente da presença do outro ali, ele também parecia saber onde exatamente estaria.

Os olhos ônix sorriam para si, brilhando, e Naruto se sentiu quente de repente, seus pulmões falhando no trabalho de filtrar o ar, parecendo negar a recebê-lo. Se arrepiou, e desviou o olhar, se obrigando a normalizar a respiração.

— Agora que o senhor Uchiha-atrasado chegou, podemos começar o aquecimento! — Gai gritou, sua roupa verde era horrível, um sorriso tenebroso no rosto. — Vamos garotos! ALONGUEM AS PERNAS!

Naruto negou com a cabeça, o grupo de vinte e dois garotos indo até as arquibancadas para se apoiarem, Gai gritava como um maluco, tentando os motivar, mas isso só os fazia tentar terminar logo com aquilo. Pela primeira vez ficou feliz de não poder jogar.

Sasuke fechou a cara, enfadado e irritado com os gritos do professor que andava entre eles,

— ESSA É A FORÇA DA JUVENTUDE!

— Se essa é a força, nunca quero tê-la. — Sussurrou sozinho. As garotas haviam se sentado algumas fileiras para cima nas arquibancadas, ainda com os olhos pregados nos garotos, em especial em Sasuke.

Alguns minutos de gritaria se passaram e finalmente eles pareciam prontos para jogar, entraram em suas respectivas posições, a bola no centro, dois caras do time vermelho que tinha sido sorteado no meio. Naruto se inclinou para frente, mas sentiu as costelas doerem, voltou a antiga posição.

Quando o apito soou, aquela gritaria irritante das garotas e dos jogadores começou, sentiu que aquele dia demoraria, realmente, a passar. Estava tão cansado, só queria ficar sozinho em seu quarto, ou em qualquer outro lugar escuro que encontrasse.

— Naruto... — se empertigou no banco, ao ouvir o chamado baixo, olhou para os dois outros garotos do outro lado, e eles pareciam ocupados com os próprios celulares. — Aqui, Naruto.

Se virou para trás, seu corpo todo arrepiado, encontrando olhos verde-água entre as vigas brancas da arquibancada.

Era Gaara.

Se levantou e caminhou até onde o outro estava, entrando debaixo da arquibancada, mantendo uma distância segura. Gaara o olhava de uma maneira estranha, os lábios franzidos, o rosto lívido, os cabelos bagunçados. Sem falar no uniforme da aula de luta, que estavam desalinhados, ele estava suado, parecia ter corrido uma maratona.

— Oi Garra, não deveria estar na aula de luta? — tentou parecer o mais normal possível, o seu jeito normal "agora".

— Não. Eu quem faço as perguntas agora, Naruto. — Os olhos azuis ficaram sérios de repente.

— O que quer dizer?

— Venha comigo. — disse autoritário, já se virando para sair, dando um passo na direção da floresta que se erguia logo à frente.

— Espera, o que você quer? Não vou a lu...

— Aeron. Este nome te diz alguma coisa?

Ficou estático, seus olhos azuis se alargaram, seu lábio inferior tremeu levemente. Não, não poderia ser.

— O-o que?

— Aeron. — o ruivo se virou, sua voz era firme, grossa, quase rude. — Eu disse Aeron. Agora venha comigo.

Naruto o encarou. Gaara estava rígido, seu rosto era como o de uma estátua. Indecifrável. Não soube como arranjou forças para balançar a cabeça afirmativamente. O outro começou a andar rapidamente, e, de maneira automática o seguiu, subindo para a floresta de grandes pinheiros, e carregada de ar gelado. Os gritos ficaram cada vez mais distantes, e Naruto sequer notou isso, chocado, enquanto subiam pela floresta acima, em sua mente somente uma pergunta.

Como ele descobriu isso?

Poucos minutos de caminhada e Gaara parou, se virando para trás, também parou a uma distância que achava segura. O chão molhado era fofo, e algumas samambaias balançavam ao redor deles. O outro lhe olhou, de maneira acusatória, mas antes que ele falasse...

— Legal, me trouxe para a floresta. Você quer que eu diga que sou um vampiro, que eu te coloque em minhas costas e te mostre que meu corpo é brilhante ou o que?

Gaara não riu.

— Eu sei de tudo. — Repetiu, seu tom se suavizando quando ambos se fitaram. — Sobre seu passado, sobre as ameaças, o jogo, Obito... — deixou a frase sem final, dando a entender o que queria. Naruto pegou o fio da meada rapidamente.

Minta. Se gosta dele minta. Eles vão matá-lo se ele se meter. Ele só vai ficar no caminho.

— Não sei do que está falando. — Negou, seu rosto transparecendo uma veracidade enganadora.

— Acha mesmo que todo mundo engoliu que seus machucados são de um tropeço? Que está tudo bem? Eu não engoli, nem antes nem agora.

Naruto cruzou os braços, sentindo o ar frio de repente.

— Não sei por que não acredita. — disse petulante, Gaara continuou com a mesma expressão séria, os olhos céticos.

— Por que você veio atrás de mim? Por causa do nome, não é? Aeron. Claro, você está dando rodeios, mas você sabe que eu sei, não adianta fugir. — Decretou, o outro cerrou o olhar.

Você foi descuidado.

— Gaara... — seu tom foi ameaçador, mas em vão, ele continuou.

— Itachi sabe de tudo, e eu acho que Sasuke também. Por que não me contou que... Que aquele homem...? Eu teria te ajudado. Eu teria...

—Eu quero mais ninguém enterrado nessa comigo, já estou até o pescoço nesse negócio. Não há mais nada a fazer. Não há mais ajuda que convenha. Eu tenho de seguir, eu que tenho de resolver isso. Não você, não Itachi, não Sasuke. Eu. — Falou rápido, se desesperando.

O vento assoviou entre os pinheiros, aquele cheiro acertou Naruto como um tapa, era tão nostálgico que teria se desequilibrado, se não tivesse se escorado em um tronco. O ruivo fez menção de ir até ele, mas levantou uma mão o impedindo.

— Estou bem.

—Você não está bem! Isso é mais que óbvio. Tudo o que vem acontecendo, eu sei que não é da minha conta, eu sei, mas não consigo evitar. — Se aproximou devagar. Naruto fechou os olhos e encostou as costas na árvore levantando o rosto, tentando passar o enjoo estranho que se apossou de si. — Você é importante para mim. — Tentou tocá-lo no ombro, mas ele foi mais rápido fugiu da sua mão. Gaara recuou surpreso.

— Gaara, eu não sou quem você pensa. As coisas que aconteceram...tem algo de errado com minha cabeça. — Aquela maldita bola de espinho apertou sua garganta, forçou-se a terminar a frase. — Agora tem tudo isso de uma vez, esse jogo maldito, as visões voltaram, aqueles corpos que vi... Foram o começo de tudo, a chantagem, as ameaças, até Aeron está aqui, ele quer... — engoliu em seco, arregalando os olhos úmidos, a voz confusa, desistindo de guardar tudo. — Ele quer ficar livre, ele está me descontrolando, me levando a loucura. Tudo isso, na minha cabeça! Ontem a noite joguei um cara da escada, se não fosse Itachi eu o teria matado! Eu quebrei o braço dele, eu estou entrando em colapso. Tudo está se voltando contra mim, tudo o que construí, tudo, está acabando...tudo...

Gaara sentiu lágrimas rolarem, mas ele as enxugou com as mãos rapidamente. Paralisado, sem saber o que fazer, somente ouviu a fala confusa do outro.

— Obito me botou no jogo, tem outros caras que comandam tudo, que mandam nele. Ele diz para que eu fique nas rédeas, que eu sempre fique em primeiro lugar nas provas. Eu ajudei um jogador, perdi em último, isso. — Levantou a mão enluvada tremula. — É meu castigo, mas não fui desclassificado. Estou tentando, eu juro que estou tentando, mas não dá, simplesmente não está dando certo...

Gaara parecia ter acordado, o segurou pelos ombros, fazendo com que o olhar vazio e perdido de Naruto se focasse no seu.

— Ei, não fique assim, não precisa falar mais. — Abraçou-o, sentindo o corpo pequeno e gelado paralisar, ofegante. — Acalma, vou te ajudar, vou te proteger, eu prometo. Ouviu? É uma promessa.

Naruto soluçou e o abraçou de volta, empurrando aquela vontade de fugir para o fundo, Gaara não era perigoso, repetiu mentalmente.

Você não sabe.

Ele nunca me machucaria!

—O problema é que já te botei nessa. Você não poderia saber, era sua última chance... — balbuciou — Se eles descobrirem...Gaara...

— Não me importo, não me importo com nada além de você. Você é minha família, Naruto. Vamos dar um jeito, eu vou dar um jeito.

Ele não pode te ajudar. Ele agora não pode nem ajudar a si mesmo.

Seu nó na garganta aumentou, e chorou mais. Era como se aquele vazio só aumentasse. Seus sentimentos se perdendo com os do outro dentro de si. Medo por Gaara, culpa, junto com uma irritação que não era sua. Desconfiança, frieza...e vazio. Ficaram assim por alguns minutos, até normalizar a respiração. Gaara mantinha os olhos fechados, como se sentindo e recebendo a dor de Naruto. Ele se desencostou de seu peito.

— É, acho que teria sido melhor se eu te mostrasse minha pele brilhante.

Agora Gaara riu. E Naruto teve o pensamento mais coerente de todo o dia.

Eu estou me tornando você.

..............................................

Foi muito rápido. Em um segundo Naruto estava lá, no banco, o rosto o olhando de soslaio envergonhado, e no outro ele havia sumido. Sentiu o pânico subir pelo seu peito, como agora sempre acontecia quando o perdia de vista. Porque Naruto nunca parecia seguro longe. Sempre acontecia algo. Sempre acontecia alguém.

—Uchiha! Olho no jogo!

Inferno.

Chutou a bola, ouvindo no pano de fundo o grito irritante das meninas pelo seu nome, mas sua mente, seus olhos nervosos só procuravam a cabeça loira ao redor. Embora ele soubesse que Naruto não estava lá, ele sentia. Era como se ele pudesse...sempre saber onde encontrá-lo.

Quanto mais tempo ele passava perto dele, quanto mais conectado com ele ficava, mais isso ficava forte. E depois de passar a noite ao lado dele, essa sensação estava muito forte. Era o cheiro dele? Não...não era isso. Se fechasse os olhos, podia quase ouvi-lo. Sentir seu coração batendo forte. Sentir o cheiro de eucaliptos, da mata...e os soluços.

Naruto estava chorando.

—Uchiha! Você não pode sair do jogo! Uchiha!

"Você não pode contar para ninguém. Por favor. Ou eles vão matá-los."

Ouviu a voz trêmula em sua cabeça, havia quase saído dos limites do gramado sem perceber, e começara a correr. Ele estava com alguém, mas não conseguia distinguir quem, ou ouvir a pessoa.

"...Ele não sabe de tudo. Quero protegê-lo. Proteger vocês..."

—Sasuke! Cuidado! A bola! — Alguém gritou.

Uma pancada, forte na sua cabeça. Sentiu o mundo girar, e antes de apagar ouviu a voz surpresa na sua cabeça com um arfar.

"Sasuke!"

.............................................

—Foi uma pancada forte.

As vozes eram distantes, como um zumbido. Seu corpo estava pesado.

—Ele vai ficar bem, Naruto. Ele sempre teve a cabeça dura, desde criança.

Ouviu uma risada suave acima da sua cabeça, que doía como o inferno. Grunhiu.

—Cala a boca, Itachi. — Resmungou, sentindo algo gelado em sua cabeça. Abriu os olhos com esforço, e a primeira coisa que viu foram um par de azuis nos seus, a sobrancelha loira erguida, o rosto entre preocupado e divertido.

—Já acorda de bom humor.

Naruto.

Tentou se erguer e grunhiu de dor, sentindo as mãos do outro voltando a forçá-lo para baixo.

—Deita aí, seu sotalach. Você levou uma bela bolada na cabeça. Ainda bem que ela é dura mesmo. Sinceramente, a gente precisa parar de sempre se encontrar na enfermaria.

Ouviu a risada de Itachi de algum lugar perto de si.

—Preciso checar ele.

Uma terceira voz, feminina, voz falou. Foi quando se deu conta da razão de estar na enfermaria. O jogo, a bolada. Naruto.

— Estou bem. — Resmungou, se sentando e afastando a mão da mulher que bufou exasperada e olhou Itachi pedindo ajuda. Sasuke só queria dar uma boa olhada em Naruto, ver se não havia nada fora do lugar. Checar se ele realmente havia chorado.

—Deixa ela te checar, Sasuke. — Itachi falou, a voz dura, mas os olhos divertidos com a situação.

—Eu já disse...

—Senta essa bunda no canto e fica quieto, sotalach. Não vai morrer por isso, amaid! — Ouviu a voz exasperada do Uzumaki. Levantou o rosto emburrado e viu os azuis bonitos e exasperados, uma das sobrancelhas loiras arqueadas, a boca bonita curvada um pouco para baixo, a expressão determinada. E aquelas mãos na cintura, que muito lhe lembravam sua mãe quando queria lhe dar uma bronca. Recuou e voltou a deitar.

Preferia ignorar a risada baixa de Itachi por isso

........

Comrádaí: Amigo

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro