Cogadh
Uma semana antes todos os cães do meu avô haviam sido levados para o veterinário e sacrificados; desconfiavam que haviam sido atingidos por algum envenenamento na água.
Xícaras quebravam do nada quando colocava o chá, minha avó ligava e falando sobre sonhos estranhos.
E os corvos estavam sempre lá. Haviam aparecido ao redor da cabana. Eu olhava pela janela e eles estavam lá apenas, nas árvores, nos olhando, nos seguindo com aqueles olhos negros que faziam os pelos da minha nuca se arrepiarem.
Um aviso. Um presságio. Isso só percebi bem depois, vendo o caixão do meu avô sendo abaixado, vazio no cemitério.
'De que adianta?' eu pensei apático, vendo todos chorarem ao redor. 'Saber de algo se não se pode impedir?'
A única resposta que obtive foi o silêncio.
ITACHI FITAVA A FACE PÁLIDA DO IRMÃO DESACORDADO como se pudesse o fazer levantar apenas com isso.
Quem não o conhecesse de verdade estranharia sua apatia: sua expressão estava estoica enquanto via o irmão enfaixado; as roupas ainda sujas do sangue dele, sabendo que o irmão estivera perto de morrer naquela manhã.
Sasuke teria morrido se Sasori não o tivesse encontrado, teria se esvaído em sangue em um corredor escuro. Sasuke havia, aparentemente, caído no corredor e apagado e sido pisoteado pela multidão desesperada, o que resultou em algumas costelas trincadas e uma concussão de que já havia tomado conta. O pior, no entanto, havia sido o ferimento nas costas. O que por sorte não acertara nenhum órgão, por não ter tido profundidade suficiente. A implicação daquilo era a parte ruim: alguém, provavelmente se aproveitando do alvoroço e do blackout havia o esfaqueado. E eles ainda não tinham pistas do culpado ou certeza do motivo.
Kimimaro gostava de pensar que ele conhecia o Uchiha, e ele sabia que só havia duas coisas que podiam realmente destruir aquela armadura de autocontrole dele: O primeiro era o irmão mais novo, e o segundo era o garoto loiro que nesse momento estava desacordado na cama ao lado.
Ele preferia não fazer perguntas. O que havia acontecido, o porquê de ele ter que tratar os dois ali, e não na enfermaria central onde todos os outros feridos do incidente estavam sendo tratados. Não perguntara nada. Apenas medira ali os sinais vitais do Uchiha mais novo e passara para a maca ao lado no quarto branco, o mesmo quarto que semanas antes o jovem Uzumaki estivera a seus cuidados.
Pelo menos dessa vez os sinais não eram tão graves. Na verdade, em comparação ao garoto Uchiha ele estava muito bem. Apenas um ponto quebrado na mão direita, e uma febre que não cessava por nada e que não tinha motivo aparente.
Colocou a mão na testa quente, removendo os cabelos ensopados, e trocando o pano úmido com que tentava manter sua temperatura. O garoto delirava, murmurando em uma língua estranha, os lábios rachados, o rosto corado pela temperatura. Francamente, ele tinha mesmo esperado não o ver tão cedo ali. Gostava do garoto. Era difícil não gostar dele. Só esperava que conseguissem o tirar vivo dali.
Olhou o relógio e suspirou cansado. Isso atraiu a atenção tanto de Itachi quanto de Sasori que estava sentado perto da porta.
— Continua subindo? — Sasori perguntou, voltando a atenção para a janela.
— Está estabilizando.
— Você estava certo, Itachi. — Sasori falou. — Ele está melhorando à medida que seu irmão o faz também.
A pergunta de "como" estava clara ali, mas o Uchiha preferiu não responder, os olhos em seu irmão. Quando alguém bateu na porta se entreolharam, a postura tensa. Kimimaro puxou a cortina entre as macas, cobrindo os garotos, e Sasori continuou no mesmo lugar, mas sabiam que estava pronto para agir. Itachi abriu a porta e Rebecca estava no corredor.
— Preciso falar com você. Agora. — Ela falou, sem olhar para os outros. A voz tensa. Itachi assentiu e saiu, fechando a porta sem olhar para os demais.
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— Acho que já sei o motivo de terem o esfaqueado.
Foi a primeira coisa que Itachi falou ao retornar, jogando um papel pardo amassado em direção a Sasori quando ele o olhou, ainda sentado no canto, de forma interrogativa. Ele o leu, sem mudar a expressão, a não ser a tensão leve no corpo. E então o jogou para Kimimaro que o pegou.
— Isso é... O que eu acho que é?
— O nome dos candidatos, a ordem, o codinome deles. Sim, é. — Itachi falou, a voz dura. — Vazaram a informação. Tem folhetos desses por toda a escola, alguém os jogou no último andar durante o blackout, e quando a energia voltou, os alunos viram.
Todos ficaram em silêncio com isso. Era muito... Irreal.
— Então você acha que o esfaquearam por isso? Aconteceu antes de alguém ver o folheto, antes da queda de energia... — Kimimaro pausou quando o outro o olhou. — Você acha que foi a pessoa que fez isso. —Mostrou o folheto.
— Eliminar concorrência. — Sasori falou e Itachi assentiu. — Tem que ter sido um jogador, ou alguém ajudando um jogador. Deve ter descoberto sobre os nomes, e então tentado eliminar os que estão na frente. Mas o loirinho está na frente.
— Naruto estava comigo. Sasuke é o segundo lugar.
— Então por que não guardar a informação para si? Teria sido mais inteligente.
Itachi negou.
— Você teria razão se fossem com outros jogadores. — Itachi suspirou, olhando para os dois na cama. — Mas não com esses dois estando na frente. É óbvio que se um deles soubesse que o outro está no jogo...
Itachi se aproximou da cama de Naruto, removendo os cabelos úmidos da testa do outro com carinho, os olhos suavizando. Naruto gemeu, os lábios se entreabrindo, um suave "Sasuke" escapando entre eles. Kimimaro franziu a testa ao ver a expressão do Uchiha ficar triste por segundos, removendo a mão.
— Você acha que eles vão tentar proteger um ao outro. — Sasori falou, vendo que o outro não completaria o pensamento. Itachi assentiu, ainda sem tirar os olhos do garoto. E Kimimaro entendeu.
Aquela situação era pior do que imaginava.
Negou com a cabeça e o Uchiha que vira o movimento o encarou com a sobrancelha erguida, como se perguntasse qual o problema.
— Você é um masoquista, Itachi. — falou sério e o Uchiha franziu a testa sem responder nada.
— Não só isso. — Itachi falou ao cabo de segundos, sem desviar os olhos do garoto na cama. — A Hyuuga também. Ela pode tentar proteger Naruto e vice-versa. Eles três são os melhores desse ano, claramente. Isso, essa jogada, poderia eliminar os três melhores concorrentes. Ou se a Hyuuga estiver envolvida, os dois melhores. Uma jogada de mestre.
Sasori suspirou depois de um tempo: — Os velhos não vão gostar nada disso. Se já não souberem, eu tenho certeza de que sabem. Até mesmo Tobirama Senju está aqui. Não gosto nada daquele cara, acho ele o pior de todos.
Antes que Itachi o advertisse para que não falasse nomes, uma voz rouca o interrompeu da cama.
— Eu nunca gostei dele. — Os três se viraram e encontraram olhos azuis cansados os fitando, passando por cada um de forma desconfiada, até pararem em Itachi. O Uchiha tentou não ficar surpreso com a calma do garoto. Do fato de mesmo ele ter chispado os olhos na forma de Sasuke na cama, não ter tentado se erguer e correr para ele.
De repente os azuis estavam presos no seu, com uma intensidade que já havia visto antes em uma única pessoa. Quase podia ver os cinzas ali, mas eram os azuis de Naruto.
— Então ele traiu meu pai. Conte-me mais.
Era uma ordem. Piscou, mas se sentiu preso, compelido, quase como se sua língua trabalhasse por vontade própria.
— Tudo bem.
— Itachi... — Sasori o advertiu e recebeu o olhar azul nos seus. Sasori nunca tivera medo de nada, mas sentiu um arrepio, como se estivesse de frente a um predador perigoso. A beleza dele era ainda mais alarmante, por ter certeza de não ser natural. Ainda assim prendeu o olhar dele, sem recuar. E para sua surpresa, o olhar do outro deu uma leve suavizada após segundos, ficando menos intensos e mais tristes. Sentiu-se desconfortável. — O que?
— Você parece com Gaara.
Isso o surpreendeu ainda mais. O garoto morto.
"Eles eram amigos."
Sentiu ser liberado do olhar do outro de repente. O Uzumaki virou o rosto na cama e ficou encarando o Uchiha mais novo, os olhos sérios, em silêncio enquanto Kimimaro media a temperatura de Sasuke. Os olhos azuis estavam atentos, pronto para agir a qualquer movimento em falso com o outro.
— Ele merece saber. — Kimimaro falou, recebendo atenção de todos. — Essa sala está protegida, eu mesmo cuidei disso. E ele merece saber de tudo. — Seus olhos encontraram os azuis sérios, sem piscar. — Pelo menos ele vai saber o porquê morreu se tudo der errado.
Depois disso, ninguém contestou.
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Não foi realmente um despertar. Era um daqueles estranhos sonhos, onde você tem a noção de que está sonhando, e ainda assim não consegue acordar. Abriu seus olhos, e se viu em meio aos restos do que parecia ter sido um terrível caos.
Uma aldeia, ou cidade, ou o que restava dela. Ainda havia fumaça saindo dos restos de casas, tudo estava destruído e silencioso. Pilhas de madeira que antes foram casas incendiadas, agora só restava o negro da fuligem, que ainda caia do céu como se fosse neve.
O chão de terra estava morno, sentia-o entre os dedos dos pés descalços.
Começou a caminhar a esmo, sua mente perdida. Havia algo importante, alguém importante. Mas não conseguia lembrar, ou rever o nome. Seu olhar observava a paisagem triste da vila destruída e tropeçou em algo, parou e olhou para trás, para o caminho, seus olhos mortos encontrando o que parecia ter sido um boneco de trapos infantil, feito com um pano sujo de cinzas. Abaixou-se e o pegou, limpando a poeira.
E então ouviu gritos, um rosnado ecoando em sua mente, alto. Dor, raiva, desespero. Soltou o boneco assustado com a corrente de vozes, e correu, até o que sabia ser o centro da aldeia.
E o que viu fez seu corpo congelar.
Uma pilha de corpos, queimados. A pele aberta, corroída pelo fogo, sangue... Aquele cheiro de carne e cabelo queimado era enjoativo e fez seu estômago rodopiar. Podia distinguir os corpos, as mãos... Os rostos de olhos arregalados, mas derretidos demais para saber qual era a expressão de verdade. Dali que ecoavam os gritos de dor, na sua mente. Rosnados animalescos, um nome, gritado, sem parar.
"Esteja viva! Brin!"
Fechou os olhos, estarrecido, não querendo ver mais aquilo, e aos abrir estava em outro lugar.
O topo de um monte, de onde podia ver uma enseada, e rodeado por montanhas, casas enfileiradas. Outra aldeia. O mar brilhava, o vento era forte e refrescante. E nos segundos em que olhou para a aldeia, as montanhas ao redor começaram a tremer. Levou um pé descalço para trás, o enfiando entre a grama, procurando apoio, o chão tremendo.
Assustou-se. De longe ele enxergava as pedras caindo, gigantes, esmagando as casas, desmoronando junto as árvores. Ouviu mais gritos. A montanha inteira começou a ruir, e uma onda gigante se formou em segundos e varreu a enseada, levando os barcos, mergulhando nas casas, cobrindo tudo.
Morte. Aquele rosnado era morte.
— Eu não quero ver isso... — murmurou, dando passos para trás.
O chão ainda tremia. Gritos de dor. Corpos varridos pela força da água ou esmagados pelas rochas. Sangue, podia o sentir entre as mãos, mas não teve coragem de olhar para baixo.
— Por favor... Eu não quero ver isso...
A aldeia sumindo em frente a seus olhos, como se nunca houvesse existido, engolida pela água, pela montanha. Ele podia sentir as almas. A dor, dilacerante, de todas. O ardor do fogo na pele, dos pulmões que clamavam por ar.
— POR QUE VOCÊ ESTÁ ME MOSTRANDO ISSO??!!
Caiu de joelhos, escondendo a cabeça entre as mãos, desesperado. Sua respiração saia em arfadas, até sentir uma mão em seu ombro, e logo estava sendo abraçado. Sentiu-se ser pressionado contra o peito de alguém com força, uma mão acariciando seus cabelos.
— Shh, tudo bem, passou... Já passou.
Aquela voz... Ele a conhecia... Era tão parecida com a sua...
Retirou as mãos do rosto, e o levantou, vendo uma cópia mais velha de si mesmo ajoelhado a seu lado. Estava deitado no colo dele, como uma criancinha. O lugar onde estavam era completamente branco, vazio, como uma tela não pintada. A cópia sorriu, de maneira serena, segura, e não queria sair dali. Sua mente estava uma bagunça. A cópia continuou acariciando seus cabelos, enquanto o encarava ainda confuso.
E então notou a diferença. A cópia era mais velha. Aparentava no mínimo vinte e cinco anos, talvez mais. Era mais alto. Não havia mais nenhum sinal infantil nele, como havia em si mesmo. Os olhos tinham um azul cinzento, antigos. O cabelo, diferente do seu que era ondulado, parecia mais com o de seu pai. Não havia cicatrizes. O rosto era liso, e o sorriso lhe lembrava tanto o que via em seu pai que doía.
Quando o sorriso mudou para algo torto... Sarcástico, ele soube ali quem era.
— Aeron. — murmurou, a voz fraca, suave, enquanto bebia essa imagem e uma muito antiga, de si mesmo de frente a um espelho na sua casa enquanto brincava, vendo não sua imagem, mas a de um garoto mais velho, de um adolescente. Ele tinha 4 anos na época. — Você cresceu.
O outro riu, e teve noção do quanto sua voz parecia patética. Estava mais calmo. Tentou sair do outro, mas desistiu com o aperto mais forte que recebeu, sua cabeça de novo prensada no peito. Havia o cheiro diferente. De couro, e maresia. Era confortante. E lá ficou. Se sentindo... Bem. Como se tivesse sentido falta de algo e só percebera quando tivera de volta.
— Eu tenho a idade que você precisar que eu tenha.
Franziu a testa com isso, enterrando sem perceber seu rosto mais no outro. E de repente percebeu a familiaridade daquele abraço. Era uma mistura do seu pai, seu avô e Gaara. Confortante. Os braços também pareciam com o do seu pai. Era isso que Aeron queria dizer? Que ele queria tanto seu pai por perto... Como quando era criança e queria muito um amigo. E Aeron estava lá também. E então ele foi embora e o deixou sozinho.
— Você me fez ir embora, não acreditava mais em mim. Você não me queria por perto, mas eu nunca fui de verdade. Eu esperei você precisar de mim.
A voz do outro falou de forma suave, o queixo em sua cabeça, e Naruto se sobressaltou levemente. Ele sabia o que ele estava pensando. Onde ele estava? O que estava acontecendo? Tinha alguma coisa... Alguém precisava de si. Algo tinha acontecido. Ele se lembrava de lâmpadas explodindo, vidro, gritos. Ele começava a lembrar.
Ele tinha feito de novo. Como na morte do seu avô, ele tinha feito de novo! Será que alguém tinha... Não! Sasuke!
Tentou se mover, mas o outro o segurou. Se mexeu com força, a respiração uma arfar dolorido.
— Sasuke! Ele está ferido!
Sentiu o outro levantar seu queixo de forma brusca, o fazendo olhar para os olhos cinzentos, que o fitaram de forma séria. Os olhos varrendo seu rosto, uma expressão dura. Era o rosto mais bonito que Naruto já vira na vida. Sentia-se hipnotizado.
— Acalme-se.
A voz penetrou na sua mente, e sentiu seu corpo relaxar de imediato. Era uma ordem. Não conseguia não obedecer.
— Respire.
O fez, se acalmando. Sua cabeça pendeu de novo, quase sonolento, e sentiu o outro o ajeitar em seu colo, uma mão formando círculos em suas costas.
— Sasuke...
— Sasuke vai ficar bem. — O outro falou, a voz parecia cansada. — Mas você tem que saber, o que aconteceu com ele foi sua culpa.
Tencionou com isso, os olhos marejando. Apertou a camisa do outro com força.
— Você sabe disso não sabe? Responda.
A voz perguntou, e assentiu, fungando.
— Então sabe que não pode mais usar aquilo. Não use mais aquilo. Eu mesmo prometi que nunca mais usaria. Se perder o controle de novo, tudo será perdido, e você vai morrer, Naruto. E Sasuke, e Itachi também. Não use mais aquilo. O que aconteceu na casa de seu avô foi real, por mais que aqueles imbecis achem que não foi, que foi uma alucinação sua, nós dois sabemos que foi real. Você matou aquelas pessoas, Naruto. Você as odiava e você as matou por isso.
A voz foi séria, ergueu os olhos marejados, e os cinzas estavam nos seus, duros, como as palavras. Mas Naruto sabia que ele estava certo. Os psicólogos disseram que não. Os agentes disseram que era impossível ele ter matado quatro adultos, sozinho, ferido, uma criança mirrada de onze anos.
No fundo sabia que era verdade, que não alucinara. Ele os tinha matado. O sangue deles sempre estivera em suas mãos, mesmo seu avô dizendo que ele não deveria matar, que vidas eram sagradas. Ele havia matado. E ele havia gostado de ter matado aqueles homens que machucaram tanto seu avô.
Ele era tão ruim quanto eles no final.
Os olhos cinzentos suavizaram. A mão acariciou sua bochecha, em um pedido mudo de desculpas pelas palavras. Mas Naruto sabia que Aeron nunca mentia para si. Ele conseguia lembrar, aos poucos, e isso era uma certeza. Ele era cruel, mas nunca mentia.
— Você viu as aldeias, não viu? A segunda delas... Então sabe o que acontece quando você confia em algo como aquilo. — O outro continuou, o polegar passando em suas cicatrizes.
Seus olhos se arregalaram. Ouvia os gritos na sua cabeça. As pedras caindo. Morte... Tanta morte por todo lugar.
— Aquilo...
O outro assentiu.
— Um momento de ira. Eles haviam atacado a aldeia de Brin, a aldeia que eu deveria proteger. Todos foram queimados vivos. Minha Brin... Ela teve uma morte horrível. E eu me enchi de luto e dor. Quando percebi, já havia destruído tudo, e a aldeia dos bárbaros havia sumido dentro do mar e das pedras. Homens, mulheres, crianças. Eu estava coberto pelo sangue deles. Eu queria vingança, e acabei virando um assassino, e sendo proibido pelo meu crime, de voltar a meu povo. Isso... Esse poder, só causa dor. Ele é feito do puro ódio dentro de nós. Não o use, nunca mais. Vai destruir seu corpo, e consumir sua alma. Por mais que eu queira aquele maldito Davlin morto, não use aquilo.
Ouviu atento, lembrando do que Itachi havia lhe contado. Aeron. Então ele era mesmo aquele Aeron. E quem era Davlin? Não entendia nada, abriu a boca para perguntar, mas tudo ao redor começou a ruir, os pedaços brancos se quebrando como vidros, caindo. Olhou o outro assustado, mas ele parecia sereno.
— Não tenho muito tempo. Mas lembre-se do que disse. — Sentiu o abraço apertar mais, e havia mais vozes, mas se concentrou na do outro. —Ouça-me, você tem que confiar em mim e fazer o que eu mandar. Só eu posso te ajudar. Só eu posso manter nós dois vivos. Fique calmo. Confie em mim, Naruto, apenas em mim.
E foi quando acordou. As vozes ficando mais claras, mas não abriu os olhos. Uma mão tocou sua testa, e relaxou. Sentiu a palma gelada descer por seu rosto em um carinho.
"Sasuke..."
Murmurou e a mão sumiu.
"Ele está bem. Se concentre no que falei."
Sasuke estava bem. Ele não sabia como sabia disso, apenas sabia. Primeiro porque Aeron não mentia, e segundo porque seu corpo o informava disso. Isso o fez relaxar mais ainda.
— Você é um masoquista.
Essa voz... Ele a conhecia. Manteve os olhos fechados, atento para saber onde estava.
"Não perca o controle. Confie em mim..."
Ignorou a voz um pouco, se concentrando nas ao redor. Por mais que se sentisse bem com Aeron, ainda tinha medo. Medo de confiar totalmente nele. Lembrava-se ainda da cara de terror do garoto quando o jogara da escada. Da voz o incitando a matar. Ele falava em salvar sua alma, mas matando alguém, ele não a perderia?
"Só quero protegê-lo."
— ... Eles três são os melhores desse ano, claramente. Isso, essa jogada, poderia eliminar os três melhores concorrentes. Ou se a Hyuuga estiver envolvida, os dois melhores. Uma jogada de mestre.
Do que estavam falando? De Hinata. E quem eram os outros? Itachi estava ali.
— Os velhos não vão gostar nada disso. Se já não souberem, eu tenho certeza de que sabem. Até mesmo Tobirama Senju está aqui. Não gosto nada daquele cara, acho ele o pior de todos.
Tobirama! Então, ele era um deles. Aquele maldito... Nunca confiara nele. E se ele que convencera seu pai a mandá-lo para aquele lugar... Havia algo mais nisso.
Abriu os olhos, sua mente trabalhando. Sentiu raiva fluindo em seu corpo, mas dessa vez, o acalmando e o mantendo frio. Ninguém traia seu pai. Não ele. Ele o protegeria. Seu pai não.
Ele tinha que saber mais. Saber de tudo. Acabar com aqueles malditos. Tiraram-lhe Gaara, tentaram lhe tirar Sasuke. Não iam tirar-lhe mais ninguém.
"Os faça falar."
Ele faria.
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— Sasuke está no jogo. — Naruto murmurou, os olhos no outro desacordado na cama. Itachi havia lhe contado tudo que podia, incluindo o plano que tinham armado para a última prova. Já era fim de tarde, quase noite, mas apenas havia demonstrado alguma emoção com clareza quando ouvira sobre os folhetos, e descobrira a verdade sobre o quinto jogador. — Eu devia ter desconfiado. O melhor jogador, esse bastardo.
Naruto murmurou e soltou um bufo sem humor. Itachi preferia esconder sua surpresa com as reações do mais novo. Naruto estava calmo demais, isso era perigoso. Ele estava planejando algo. Ele notara pelo olhar perigoso quando lhe contara quem eram os júris do jogo. Três nomes em específico. E o fato de Naruto conhecer três deles confirmava sua suspeita de que haviam o trazido ali para dentro por algum motivo. Itachi sempre desconfiara disso, mas nunca tivera certeza. Ele não tivera acesso àquelas informações em específico ainda, precisava de tempo para isso. Eles tinham que aguentar até a sétima prova.
— O que aconteceu com ele? — Naruto perguntou, se sentando na cama devagar, parecendo cansado, como se a doença de Sasuke estivesse passando para ele. O que bem podia ser o caso, por isso Sasuke está se curando tão rápido. E o fato de Naruto acordara só o aliviara, pois significava que Sasuke estava melhor, e só não acordara devido às medicações que o colocaram dormindo.
Naruto alcançou a cama do outro, depois de lhe lançar um olhar de alerta quando o tentou ajudar quando cambaleou ao descer da cama. Os dedos longos acariciaram os cabelos de seu irmão mais novo, e desviou os olhos dos dois. Kimimaro e Sasori já haviam saído, os deixando a sós.
— Achamos que ele caiu no corredor, deve ter apagado. Foi pisoteado, e alguém se aproveitou da queda de energia e da bagunça e o esfaqueou pelas costas. O achamos perto daqui, talvez estivesse vindo para a ala leste.
Naruto tencionou com isso, a mão parando. E quando falou, a voz era baixa.
— A culpa foi minha.
— Naruto...
— Não, Itachi. Ele estava comigo, quando sai do ginásio. Ele estava tentando me ajudar. Mas eu estava com tanta raiva, tanto descontrole. Eu criei esse caos, eu não entendo bem o que foi aquilo que eu fiz, mas eu sei, eu sei que Sasuke se machucou por minha culpa. Ele caiu no corredor por minha culpa. Quando estava vindo para a ala leste, estava tentando me ajudar, me achar. E só o esfaquearam, porque não me acharam. Por onde você olhar, a culpa foi minha. Talvez eu mesma tenha o empurrado no corredor sem perceber.
Itachi suspirou. Sabia que não conseguiram o convencer do contrário. Naruto era teimoso demais.
— O que você vai fazer? — perguntou.
— Vou acabar com isso, mas sou fraco demais sozinho... Ele está certo. Eu preciso dele.
— Ele?
O loiro virou o rosto sobre o ombro para si.
— Vou ser a isca que estava sendo antes. Era isso que eu sempre fui certo? — Itachi abriu a boca para protestar, mesmo sabendo que o outro havia mudado o tópico e fugido da pergunta de propósito. — Eu não ligo. Eu sou a melhor opção. Eles me querem por algum motivo, que eu já desconfio. Tobirama convenceu meu pai a me mandar para cá. Danzou, ele foi quem me interrogou quando meu avô morreu. Eu nunca pensei que ele pudesse ter acreditado em mim quando falei como meu avô morreu, mas é uma possibilidade que aquilo que eu fiz antes, e que fiz hoje, seja um dos motivos de eu estar aqui agora. Eles traíram meu pai, e vão pagar. Eles me querem, certo? Pois vão ter. Eles vão ter a arma deles, uma melhor do que pensaram. E enquanto isso reúna suas provas e acabe com eles de uma vez.
Itachi tentou não parecer surpreso com a resolução na voz do outro. Ele estava sério, como nunca o vira. Era como ver uma versão mais nova de Minato Namikaze. Naruto era exatamente como o pai. Como as lendas que seu pai contava sobre ele desde que era menor.
Mas algo lhe chamou mais atenção naquele discurso.
— E Nagato Uzumaki?
Naruto virou o rosto de volta ao outro garoto na cama ao ouvir isso. Sem responder.
— Ele é seu tio. Irmão da sua mãe. — Não foi uma pergunta, e Naruto deu de ombros. Silêncio. — Naruto...
— Eu vou salvá-lo também. — Ele voltou a encará-lo, como se o desafiasse a contestar. Antes que pudesse perguntar, uma batida na porta o interrompeu.
Kimimaro não deixaria ninguém entrar, então já sabia de quem era. Rebecca colocou a cabeça pela porta, os olhos vasculharam pelo quarto, passando por Itachi, e parando preocupadas em Naruto que a ignorou, já havia lhe contado o papel dela, mas o garoto parecia não confiar ou gostar da mulher. Ela voltou a Itachi.
— Eles pediram para levá-lo às nove da noite para a diretoria. Naruto. — Ela falou suavemente, o garoto continuou a ignorando, mas sabiam que ele estava atento. — Seu pai, Naruto.
Naruto virou de uma vez, os olhos alarmados na mulher, a postura perigosa, os lábios tremendo.
— O que aqueles malditos...
— Não é isso! — a mulher corrigiu rapidamente, as mãos na frente do corpo. — Ele soube o que aconteceu, ou o que deixaram que soubessem. Ele quer falar com você, vai fazer um vídeo conferência. Nove da noite. — Ele relaxou com isso.
— Te mandaram para me dizer o que eu devo falar, claro. — Ele murmurou a voz fria, os olhos a encarando. Itachi a viu recuar um passo, os olhos alarmados, entre deslumbrada e com medo. Itachi não ficava surpreso, não se com raiva Naruto ficava ainda mais parecido com Aeron.
— Eu...
— Tudo bem. — Ele a cortou, lhe liberando do olhar e voltando a Sasuke, puxando a cadeira e sentado perto da sua cama, os dedos voltando aos cabelos do outro. — Vamos apenas acabar com isso rapidamente.
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Viu o garoto entrar devagar na sala, escoltado por Danzou e Rebecca, o rapaz parou e olhou-os esperando as ordens. Isso já lhe incomodou, Naruto estava submisso demais, calmo. E isso vindo dele...
Tão inexpressivo quanto o garoto, estava Danzou quando foi até a grande tela do computador branco e o ligou. Rebecca puxou uma cadeira para que Danzou se sentasse e fez o mesmo para Naruto, que se sentou no centro da sala. Ele ficou de perfil no seu ponto de vista. A garota se encostou ao lado da porta, séria. Seu olhar fixo em Naruto.
Ouviu o som da porta automática se abrir e virou-se. Tobirama entrou segurando um copo de whisky, e a garrafa na outra mão. Ele maneou a cabeça e puxou uma cadeira da mesa se sentando ao lado de Nagato, eente ao vidro espelhado, que dava vista a outra sala.
A sala em que os outros três estavam era pequena, com uma tela grande LCD na parede de lado, e no canto, um equipamento de computador de última geração, onde o mais velho digitava. Tinham escutas e eles poderiam os ouvir perfeitamente pela saída de som que havia ao lado do vidro, além da tela touchscreen que ficava abaixo do vidro e mostrava a visão que Minato teria do filho pela webcam. Naruto estava impossivelmente sério, com um olhar que poderia deixar qualquer um confuso.
Ergueu os olhos da tela e fixou no rapaz atrás do vidro, os cabelos dele estavam penteados para trás, com um brilho molhado, por um banho recente. Parecia compenetrado demais em comparação em como havia agido naquele mesmo dia. Não havia nada daquele rapaz desorientado e completamente transtornado.
— Olha só, ele está calmo... Acha que Danzou conseguiu o convencer? — Tobirama brincou, bebericando sua bebida, cruzando as pernas, confortável.
— Não precisava vir para isso, Tobirama. — Olhou-o de soslaio. — A chuva não parou um minuto sequer.
— A natureza nunca irá me impedir de fazer o que quero, e eu quero ver isso de camarote. — disse acenando para o resto da sala luxuosa atrás de si.
Dentro da outra sala, não tardou até que a imagem do homem loiro de rosto conhecido aparecesse na LCD. Nove horas em ponto.
Os azuis estavam repletos de angústia, nervosos, mas quando seus olhos se fixaram no garoto que estava sentado de frente, seus azuis derreteram. Nagato se inclinou sobre a cadeira, queria capturar cada olhar do garoto, e cada olhar do pai.
Fazia tanto tempo que não via Minato.
Esperou sentir a comum raiva que vinha quando o via, mas se surpreendeu quando ela não veio. Apenas se sentia...cansado. Nostálgico até. Com tudo o que havia acontecido nos últimos anos, nos últimos meses, parecia que seus motivos de antes haviam se tornado tão difusos.
A voz de Minato parecia aliviada, não passando de um sussurro: — Mac...
— Daidí. — O garoto sorriu, um daqueles sorrisos de desmanchar guerras. Danzou no canto da sala parecia ligeiramente surpreso. — Não precisava de todo aquele alvoroço, eu estou bem.
Veracidade estava em cada sílaba de suas palavras, em cada olhar delgado que o rapaz dava ao pai. Mas para Nagato era fácil notar a mentira, não era aquele sorriso do qual se encantou desde a primeira vez. Este era falso, e Minato como um pai desesperado acreditava veemente. Se agarrando com força a qualquer migalha que dissesse que seu filho estava perfeitamente bem.
— Ah, mo grá... Eu... Estou tão feliz em te ver. — O homem mais velho disse com um sorriso satisfeito, aproximando o rosto mais da tela. — Tão bom saber que nada aconteceu com você...
— Sim, foi por pouco, mas eu estava perto da saída... Não queria que soubesse disso, sabia que ficaria desesperado.
— Claro! Você é meu bebê...
— Ah não. Corta essa, daidí, esse papo é da mam. — O garoto fez bico, parecendo chateado e o pai riu gostoso.
"Ele se tornou um verdadeiro mentiroso."
— Meu Naruto, falando em sua mam, não contei nada a ela. Não queria preocupá-la. — Minato acenava, agora eufórico, enquanto o rapaz sorria gentil e acenava positivamente.
— A coroa ficaria pirada mesmo.
— Comple... Não a chame assim, moleque!
— Esse garoto é estupidamente bom ator, Nagato, nunca havia notado. — Tobirama entornou o terceiro copo de whisky.
— Você não nota muita coisa, Tobirama. — Seus olhos acinzentados se desviaram para o grisalho, mas logo voltaram para o rapaz de perfil, de maneira triste, pois não queria que ele se transformasse naquilo.
No fim, ele ainda tinha esperanças de que ele não mudasse.
Algo lhe veio à mente. Uma memória antiga.
O pequeno garotinho lambia seu sorvete de casquinha com uma rapidez incrível, já que ele derretia em suas mãos. O calor de trinta e cinco graus na praia era desafiante para qualquer um que tentasse andar sem chinelos na areia escaldante. Seguros abaixo de um enorme guarda-sol estavam os dois. Ambos somente com seus calções de banho, suor escorrendo pelas costas, mas nenhuma coragem — pelo menos da parte do mais velho — de ir ao mar.
Mar este que brilhava intensamente abaixo daquele sol, como se sua superfície fosse de cristal, quase feria a visão. O vento salgado que batia contra ambos era o único alívio que tinham para se refrescar sem ter uma insolação.
— Mais devagar,Naru, se não pode se engasgar. — Avisou olhando-o, por trás dos óculos escuros. — Sua mãe disse para não te dar um desses pois está de castigo, por isso aproveite e aprecie.
— Já estou! — foi a resposta do garotinho, que lhe olhou, os olhos tão ou mais azuis que o mar a sua frente reluziam como tal. Num brilho de admiração nata, satisfeito com o presente. O rosto bronzeado e corado pelo calor, os cabelos estavam parcialmente molhados do último mergulho, pregados junto a suor na testa. Sorvete escorria pelos seus lábios vermelhos, o nariz pequeno empinado como o do pai. E ele sorriu, feliz, aos cinco anos de idade.
Aquilo sim era um sorriso sincero.
Nagato piscou e sua visão se focou no que acontecia a sua frente. Tobirama ria de algo enquanto a conversa do outro lado ainda preenchia seus ouvidos. O rapaz ainda sorria enquanto contava ao pai como eram "animadas" suas aulas de luta e como era melhor que seus colegas de classe. Contou também como ajudou os seus colegas que foram feridos.
Ele era um ator nato.
Era lamentável saber como ele havia se transformado. Não estava lhe tirando o direito disso, já que não era de hoje que ele enfrentava tantas coisas, até o achava forte por ter aguentado tanto tempo sem mudar.
— Você já fantasiou com ele?
Aquela pergunta o tirou de dentro de sua espiral de pensamentos, e dirigiu o olhar rapidamente para Tobirama, que sorria bobo. Algo em seu estômago embrulhou ao ver nos olhos do outro o que ele queria dizer.
— Não interessa. — Sua voz foi ríspida, tentando controlar a raiva que sentia. O outro não aprece enfezado e continuou.
— Eu já. Imaginei esse moleque na minha mesa, sem roupa, gemendo enquanto eu enfiava fundo nele. O jeito que ele suspiraria... só isso já me deixa duro. — Fechou os olhos e Nagato se empertigou na cadeira, suas mãos seguravam os braços dela com força para não socar a garganta do outro.
— Cala a merda da sua boca. Quero ouvir a conversa. — Tentou o cortar, mas Tobirama já estava no clima, toda a bebida subindo a cabeça.
—Ele sempre foi atrevido como a mãe. Não sabe quantas vezes eu quis calar a boca dele quando ele era criança, fazê-lo a usar de forma produtiva. Seria tão fácil também, ele nem mesmo contaria ao pai, se eu usasse a ameaça certa. Nagato, eu teria feito isso com ele em qualquer oportunidade que tive, mas não fiz. Só porque estava esperando esse momento.
Antes que ele terminasse, Nagato já havia se levantado, o lábio inferior preso entre os dentes, ele se virou e socou a parede, para não socar aquele maldito como queria. Tobirama não era Obito. Ele era muito mais perigoso. E sabia que o estava provocando de propósito. As palavras do outro ainda pulsando em seus ouvidos, eram como lava quente e espessa que lhe faziam ainda mais irado com tudo.
"Droga, controle-se... Ele não vai tocar nele, não importa quantas vezes imaginar. Não. Vai."
Socou mais duas vezes a parede antes de parar, relaxando os ombros antes tensos. Não vai tocá-lo, lembrava-se.
— Não adianta toda essa pose de tio superprotetor, sabe? Se quisesse tanto bem para ele não teria concordado com isso. — As palavras foram venenosas.
Manteve-se de pé, olhando a parede. As vozes de pai e filho invadido a sala.
— Meus motivos só convêm a mim. Você sequer é algo dele, só está nessa por causa do pai dele. Minato é seu sobrinho, não Naruto. — Devolveu se virando. E ao olhar Tobirama, resolveu que discutir com um velho bêbado de nada adiantaria.
Sentou-se, respirando fundo, e voltou a olhar a conversa, que já entrava em reta final.
— Eu também amo vocês. Eu vou ficar bem, Daidí. — O garoto falou em resposta a algo que o mais velho havia falado, suspirando de forma dramática. — Diga a mam que não precisa pirar! Eu estou comendo bem, dormindo 8 horas por dia, e fazendo checkups mensalmente, até com os conselheiros daqui. E não, eu não estou envolvido com ninguém.
"Tudo mentira."
— Que bom, essas garotas daí não são para você, só iriam atrapalhar seus estudos. Os testes de admissão estão chegando. — O homem falou sério, o olhar severo. — E não beba, Naruto!
O garoto revirou os olhos.
— O senhor sabe que não gosto de beber. E bebidas são proibidas aqui. — Sua voz era indulgente e o homem fechou mais a cara, o rosto voltando ao ar preocupado.
— Assim são drogas, e um garoto morreu de overdose, eu sei como ensino médio funciona, e já fui um adolescente. — O homem suspirou e olhou o filho de forma triste. — Você conhecia esse garoto? Eram amigos?
Pela primeira vez o loirinho teve uma reação verdadeira desde que começara a conversa, mas Nagato pensava que só ele percebera a rápida flexão quando ele apertou os punhos nos joelhos, para então os relaxar, se recompondo.
Quando os olhos azuis se focaram no pai novamente demostrava uma veracidade límpida e inocente que não existia em nenhuma palavra ali, a voz sem nenhum tremor.
— Só o conhecia de vista.
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Eram nove e vinte quando Kimimaro saiu da sala para jantar.
Eram nove e vinte e cinco quando Sasuke despertou.
Tinha a visão dupla e chuviscada do teto branco, o corpo entorpecido, parecia ter se transformado em um monte de gelatina. Tinha uma sensação estranha, doentia, que o fazia sentir um mal-estar súbito. Suas costas estavam desconfortáveis assim como seu tórax, sentia-se pressionado fortemente, assim ficava difícil respirar. Sua mente estava nebulosa, como se uma nuvem estivesse tomando conta de seu cérebro. Ainda lento, deslocou o rosto levemente, absorvendo tudo o que via, estava enxergando melhor. A sala de tamanho médio, simples, branca.
Aliás tudo era branco.
Havia uma cama ao seu lado, rente à parede estava uma cortina de tom azul marinho, suspensa por um trilho no teto, se esticada o dividiria do outro leito. Do outro lado da sala ficava um lavatório e um armário de metal branco. Havia duas cadeiras lado a lado perto da porta.
Seu olhar desatento voltou ao teto. Sentia a garganta seca, os lábios também, e os entreabriu. Estavam rachados, passou a língua por eles e sentiu o gosto singelo de sangue, tinha um corte leve no lábio superior.
Isso o despertou para...
Naruto...
Dor...
Gritos...
Mais dor, muita dor...
E Naruto.
Puxou o ar com força, sua visão restabelecendo-se, assim como sentiu cada parte de seu corpo voltar a si, como uma maré de sensações.
— Naruto...
Sentou-se rapidamente, não sentindo nada além do desconforto, tinha a corrente sanguínea banhada em morfina. Mas algo repuxou em seu braço. A agulha intravenosa do soro. Olhou-a por um segundo antes de levantar a mão tremula e arrancá-la de seu braço. Sangue desceu até sua mão como um fio, pingando no lençol branco. Sequer notou, jogando as pernas para fora da cama. Sua mente rodando. Só queria sair dali.
Seus pés encostaram com o chão de azulejo gelado, sentiu um choque que percorreu do dedo do pé até sua cabeça, e engoliu em seco, tentando se colocar de pé. Mas seu equilíbrio não existia, tombou para frente, desordenado, caindo sobre a cama, se segurando as beiradas dela para nãos ir ao chão, seu rosto no colchão frio.
Foi então que o viu.
O papel pardo sobre a cama.
Ergueu a mão trémula e o segurou, levando-o aos olhos curiosos do rapaz. Leu o conteúdo, e a cada linha, seus olhos de tom negro aumentavam de tamanho, assim como perdia a pouca cor que tinha no rosto.
" Eis o fim da mentira. Abram os olhos!
Jogos Anuais Seacht, participantes:
Cobra— Kabuto Yakushi
Lontra— Juugo
Tigre— Temari Sabaku
Javali— Sora Kazuma
Falcão— Sasuke Uchiha
Leão— Hinata Hyuuga
Raposa— Naruto Namikaze Uzumaki"
Naruto Namikaze Uzumaki...
Naruto Namikaze...
Naruto...
— Deus... — Seu fôlego se fora num segundo, como se houvesse levado um soco no estomago, e escorregou ao chão. A folha segura com força entre os dedos, os olhos ônix estavam cravados no chão, entre um ponto e outro do azulejo branco, enquanto leves espasmos se passavam por seu corpo.
Tudo aquilo... Agora se recordava de cada prova, lá estava a raposa. Ele sempre se saia bem, ele lutava bem, a mira, a força, a rapidez... Ele ter salvado outro participante, mesmo sabendo que seria punido...a desobediência. Como não havia suspeitado? Como?
E como ele conseguira todas aquelas façanhas? Ainda se lembrava do despencar naquele penhasco, da primeira prova no labirinto, o mesmo em que a raposa foi ferido na perna e Naruto apareceu mancando. Era tudo tão óbvio. Mas também, para Sasuke não havia motivos para suspeitar.
Ninguém gosta de pensar em coisas que lhe desagradam não é mesmo?
Ficou no chão, entre seus pensamentos que lutavam em sua mente e sua respiração ofegante. O lábio inferior tremia quando tateou a cama como apoio se levantou. Na mão suja de sangue segurava o folheto. Os olhos vidrados, e um único ponto em que pensar.
Naruto...sabia daquilo? Ele sempre soube? Era por isso que estava sempre mentindo?
Fechou o punho com força, sentindo um gosto amargo na boca. A preocupação de antes de misturando com raiva. Tinha certeza de que Itachi sabia disso também. Itachi também havia mentido para si. Os dois estavam sempre com tantos segredos dele. Sempre juntos, sempre o deixando para trás...Sempre...
Sempre mentindo.
Tinha que achar Naruto.
Tinha que perguntar se era verdade.
Mas você sabe que é verdade, não é? Uma voz amarga se fez ouvir. Você sabe, você os vê sempre juntos, como se calam de repente quando você chega. Como os olhos deles fitam um ao outro.
Talvez ele não soubesse...talvez ele também estivesse no escuro ou...
Talvez tudo seja apenas um jogo para ele, por isso ele nunca responde que te ama também.
Com passos trôpegos se jogou sobre a porta, lutou por um tempo contra a maçaneta e a abriu, quase voando de cara no chão. Estava em outra sala agora, a de espera, lembrava-se bem dela. E aquela porta da direita... Daria bem no corredor subterrâneo.
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— Olhem, é o Uchiha!
— O Sasuke! Nossa... Ele é um deles... Mas o que aconteceu...
Ele podia ouvi-los comentar, estavam todos o olhando, como se fosse um animal fugido de um circo. Mas não era para menos, ele mancava indo de um lado a outro, se segurando na parede, o olhar perdido enquanto sussurrava coisas baixinho. Mas entre tudo, o nome de Naruto estava mais evidente, enquanto cambaleava. Na mão esquerda, o papel pardo havia sido manchado de sangue, que havia cessado e secado.
Descabelado como estava, descalço, de roupas brancas que eram de Itachi, Sasuke se tornou o centro das atenções e nem notava, preso na névoa que havia voltado para sua mente. Apesar de tudo, podia ter leves visões de Naruto, a raposa, na sua mente.
— Naruto...
— Sasuke! — O grito estridente estalou pelos ouvidos de todos, Yamanaka correu em sua direção, ao seu lado, estava Shikamaru.
— Ai que problemático. Ei, cara, que isso?
Sasuke não os olhou, a garota tocou-lhe o ombro, e o tentou amparar, mas ele queria continuar andando e a empurrou. O Nara franziu o cenho, o Uchiha não estava lúcido, tinha certeza.
— Uchiha. Sasuke! Olhe para mim. — O segurou pelos ombros também, recebendo um olhar indagativo da garota. — Cadê seu irmão? O Naruto?
— Naruto... Eu quero vê-lo... — Sua voz era grogue e distante.
— Nós também. Olha cara, vamos nos sentar em algum lugar, você não me parece bem.
Ela fechou a boca quando o corpo pesado cambaleou e caiu, desabando para trás.
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Quando a tela LCD foi tomada pelo tom azul caneta, o sorriso que antes estava no rosto de Naruto desvaneceu, sua mão que antes estava em um aceno, caiu no colo. Ele tomou fôlego e se levantou, abanando a roupa, ajeitando vincos que sequer existiam. Aquela máscara de serenidade havia sumido em segundos. Novamente sério, o rapaz olhou para Rebecca, seguindo para Danzou que já estava de pé.
Olhos azuis faiscantes, perigosos, mas vazios.
— Bom trabalho, Namikaze, bom trabalho. — A voz grossa era como um trovão no silêncio que havia tomado a sala. Num reconhecimento sincero, pois realmente, Naruto havia feito um bom trabalho.
Mas ele não se orgulhava disso.
— ... — e sem nenhuma palavra, como se sentisse o olhar em suas costas — talvez até sentisse —, se virou. Seus olhos azuis tão claros, estavam escurecidos por uma sombra. Uma sombra amedrontadora, ameaçadora, homicida.
Era um aviso, aquele brilho, era um aviso claro.
Ele lhe encarou fixamente, nos olhos, como se realmente o enxergasse do outro lado do vidro espelhado, e Nagato sentiu um tremor descer por sua coluna. Aquela beleza, tinha se tornado assustadora. Ao seu lado, Tobirama estremeceu e riu sem humor.
O ignorou e sustentou o olhar. Até que com um bufo de desdém, o rapaz se virou e rompeu pela porta. Seus passos eram decididos, orgulhosos e com um ponto de raiva.
— Eu não esperaria menos da mistura de Senju, Namikaze e Uzumaki. Olha só, o garoto é combustão instantânea de surpresas pura.
Tobirama riu.
Nagato não.
Naruto havia declarado guerra.
.......
Cogadh — Guerra!
Mac— Filho
Mo grá — meu amor
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