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An eile

O mundo sempre me pareceu muito confuso, como se o enxergasse em uma ótica diferente das dos demais, e por isso tudo o que as pessoas faziam não tinha muito sentido para mim. Durante as aulas com a minha avó ela sempre ficava frustrada por isso, quando minha mente navegava para longe do que ela queria me passar, do que não me interessava.

Eu tentava explicar para ela a razão, mas não conseguia. Havia tanto o que ela dizia que eu já sabia no íntimo, como se fosse algo que apenas precisasse de um empurrão para surgir, sussurrado por uma voz em minha mente, e isso sempre a deixava ainda mais preocupada. Meu avô, no entanto, entendia, em uma resignação que a deixava ainda mais frustrada.

Foi meu avô que me contou então de um salmão em que diziam era contido todo o conhecimento do mundo. E tinha um guerreiro, Finn MacCool, que queria todo o conhecimento do mundo para si. Um dia então ele capturou o salmão e resolveu que a forma mais prática de ter esse conhecimento seria o devorar.

Quando ele tentou cozinhar o peixe, o caldo esguichou e queimou o seu polegar, e ele o enfiou na boca para amenizar a dor da queimadura, e imediatamente soube do conhecimento de dentro do salmão. A partir de então, sempre que ele colocava o polegar na boca, conseguia o conhecimento que procurava.

Vovô dizia que meu conhecimento estava lá, eu só precisava o buscar. As verdades que me deixavam tão desconectado desse mundo e das pessoas, e as que me traria de volta para eles.

Quando eu me perdia dentro de mim, eu precisava achar meu caminho de volta para casa.

.....................................

ESTAVA NO MEIO DA FLORESTA NOVAMENTE, se vendo em mais uma das malditas provas. Podia ver as árvores altas distribuídas aleatoriamente, suas copas escuras, o chão forrado por folhas em decomposição, terra molhada, gravetos e pedras.

Assim que o sinal foi dado, começou a caminhar, seus coturnos afundando no chão fofo. Os olhos azuis serpentearam pela floresta, procurando pelo perigo eminente, que sabia estar ali. Os outros haviam sido soltos em outras partes, mas não se demorariam a se cruzar, se não tivesse cuidado.

Sabia o que precisava ser feito. Em poucos minutos já estava correndo, passando e pulando por troncos caídos, evitando galhos. Girou levemente a lança, a arma de escolha dessa vez, entre os dedos e respirou fundo, o ar gélido da madrugada ferindo seus pulmões. Seus cabelos jogados para trás, os lábios entreabertos por trás da máscara.

E por alguns segundos se permitiu pensar nos dias anteriores até ali, em como a situação se encontrava cada vez mais difícil.

.............................

Suas mãos tremiam levemente enquanto removia a calça úmida, seus olhos focados na pia e não nas mãos enfaixadas. Era difícil se concentrar no que estava acontecendo, mas era mais fácil do que pensar em todos os seus problemas no momento. Enquanto se permitisse ficar a deriva, não seria preciso absorver todo o trauma dos últimos dias.

Naruto recusou ajuda para se trocar no banheiro da enfermaria. Acordar com o cheiro de urina e Sasuke o olhando daquele jeito já era ruim o bastante.

Convulsões. Era o que me faltava.

Com todos os problemas que havia tido quando criança, aquele nunca havia sido um, mas ele conhecia o bastante das visitas ao hospital com sua mam para torcer que fosse um resultado do estresse e não permanente.

Colocou o moletom com as cores da escola que a enfermeira lhe passou com um olhar preocupado que preferiu ignorar. Pelo menos haviam tido o bom senso de não a deixar o examinar, Kimimaro aparecendo como invocado quando o trouxeram. Ninguém queria sussurros sobre as marcas óbvias no seu corpo, obviamente.

Se perguntou brevemente se teriam se livrado dela caso não tivessem chegado a tempo.

Pelo menos havia sido liberado rapidamente. Ninguém o queria muito tempo naquela enfermaria, ou perguntas iriam começar a serem feitas e era a última que queria: ser responsável pela morte de mais alguém.

Apertou a corda do moletom na cintura, ignorando o quanto havia peso nos últimos tempo e puxou o capuz por cima da sua cabeça, grande o bastante para cobrir suas mãos facilmente. Não se preocupou em colocar os sapatos de volta, deixando as roupas no chão do banheiro sem um segundo olhar.

Suspirou, ignorando a respiração trêmula, fechando os olhos para não se ver no espelho ao se virar para sair.

Sasuke, claro, estava bem na porta quando a abriu.

Naruto não o olhou, nem para a enfermeira que estava claramente desaprovando sua liberação. Kimimaro já havia saído e não arriscaria ela o prender ali, então apenas se virou e continuou andando em direção a porta.

— Naruto, eu acho que deveria...

— Me deixe em paz, Sasuke.

Sabia que estava sendo rude, mas naquele momento não se importava. Só queria ficar sozinho. Era pedir demais? Com passos rápidos e ainda de meias, alcançou a saída e praticamente se jogou na porta. Quando se viu no corredor de pedras expirou e começou a ir na direção de seu quarto. Não estava pronto para ter uma conversa com Sasuke, não depois do que aconteceu na sala de Asuma, não depois do que viu.

Talvez nunca estivesse.

Eu estou enlouquecendo.

— Naruto! — ouviu Sasuke chamar, e aumentou o passo, já ouvindo-o correr atrás de si. Sasuke não sabia quando parar. — Naruto. — Seu nome saiu como um lamento, e ele apareceu a sua frente, tapando seu caminho. Continuou andando, mas ele também, andando de costas para o olhar. — Naruto, precisamos conversar.

— Eu não quero conversar, eu quero dormir e ficar sozinho. — Os corredores pelo menos estavam vazios. Virou em direção a sua ala ignorando Sasuke que continuava falando.

—...saber o que está acontecendo! Está me ouvindo? Naruto!

— Eu não te devo satisfações, Sasuke. Pare de agir como estivéssemos juntos.

O outro parou de andar ao ouvir isso e Naruto tentou não se sentir mal. Ele não tinha tempo para isso. Estava quase alcançando sua porta quando ouviu os passos novamente e Sasuke parou na sua frente, o impedindo de alcançar a porta, a expressão fechada.

— Depois de tudo o que te falei? Não lembra o que eu disse? Eu achei que-

— Eu lembro bem o que você disse. — Até demais. Naruto queria esquecer o que aconteceu naquela sala, até entender o que diabos aconteceu depois. — E lembro que eu não disse nada.

Sasuke fechou ainda mais a cara. Ele teria feito alguma piada em outra época sobre o tamanho da pretensão dele ao achar que por se declarar isso significava que os dois estavam juntos. Isso era tão Sasuke que seria engraçado, se a situação não fosse trágica.

Até porque se não fosse a situação, provavelmente... Balançou a cabeça, não adiantava pensar nisso.

— Então é isso?

— É isso o quê?

— Você não me levou a sério. Você não acredita que eu... Gosto de você? — Sasuke pareceu indeciso na hora de se expressar.

Naruto suspirou exasperado, será que Sasuke não queria entender o que tinha dito, ou apenas estava fingindo? Abriu a boca para falar o que era necessário o 'não, eu levei a sério, sou eu que não gosto de você', 'não sou obrigado a aceitar seus sentimentos'.

A frase estava na ponta da língua, mas olhando para o rosto de Sasuke assim... não conseguia. Acabou saindo algo totalmente diferente.

— Você está confundindo as coisas, Sasuke. Você não gosta de mim assim, você meramente me suporta nos melhores momentos, se não lembra bem.

— Naruto. — Ele lhe encarou profundamente, aqueles olhos escuros pareciam perfurar sua alma a procura de respostas. — Isso não é verdade. — disse baixo, seus lábios se mexendo como em câmera lenta. — Nós sabemos que não é verdade.

— Não sei de nada.

Desviou dele e continuou andando, enquanto seu coração batia dolorido dentro de seu peito.

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Aguçou seus sentidos, seus olhos capturando mais uma seta azul pintada em uma árvore, e tentou se controlar. Tinha que ser fácil e rápido. Ele tinha que ser esperto, mais rápido, mais ágil, daquela vez mais do que nunca. Sabia que dessa vez, se enfrentasse um dos participantes corpo-a-corpo não teria muitas chances com a maioria deles. Sua costela ainda doía quando corria, seu corpo inteiro. Não conseguia manejar a lança direito, mesmo com as bandagens e a luva a protegendo, ainda doía as mexer. Se sentia zonzo e enjoado.

Dessa vez ele teria que passar por aquilo sem se deparar com ninguém. E perder não seria uma opção igualmente. A prova consistia em seguir pelo centro da floresta, a atravessar de ponta a ponta seguindo as setas sinalizadoras. Pelo caminho teriam as pistas que levariam até o objetivo principal, amuletos que estavam em algum lugar do caminho, e então sair dali. Seria fácil se não fosse o fato de que os participantes poderiam caçar uns aos outros para desclassificá-los. Dessa vez Rebecca avisara que eles estavam sendo bem monitorados para evitar ferimentos perigosos, e que por isso câmeras estavam instaladas em todo perímetro. O que Naruto achou irônico, por que eles deram meio que armas de verdade para eles. Armas brancas, mas ainda de verdade.

Realmente se sentira aliviado de não ter sido Obito dessa vez. Não sabia se poderia encarar aquele homem tão cedo.

O fato é que daquela vez, Naruto teria que honrar os ensinamentos de seu avô mais do que nunca, por isso a primeira coisa que fez foi resolver não seguir as setas de perto, como os outros provavelmente estavam fazendo para não se perder. Isso evitaria que se deparasse com eles. Com seus bons instintos após anos de seus "jogos" dentro da floresta que cercava a cabana de seu avô com seu pai e ele, ele sabia mais do que o suficiente como se virar dentro de uma floresta sem se perder, coisa que parecia tê-lo posto em vantagem com os outros.

A segunda coisa que fizera, fora destruir ou esconder bem cada pista que encontrava pelo caminho, atrasando quem estivesse atrás. Eles não disseram que era proibido, e a voz em sua cabeça estava mais do que feliz em lhe dar essa ideia assim como ele estava em segui-la. A conclusão era óbvia, que ele não ganharia esse jogo, se não o jogasse também.

Por isso ao passar por a seta azul, desviou dela e seguiu por outro caminho paralelo, ao avistar uma das últimas pistas que ali tinham. Era um tronco de árvore seco, a pista estava entalhada, dando a direção para onde estariam os amuletos. Leu, memorizando as coordenadas, para então com a ponta da lança raspar a inscrição o máximo que podia a tornando quase impossível de se ler. Isso os atrasaria com certeza.

Seus olhos estavam frios e determinados. Ouviu ao longe sons de batalha, mas não se impostou ou virou para olhar, apenas seguiu o caminho paralelo, empunhando sua lança. Seus instintos a mil, e em tudo.

Podia ouvir a voz na sua cabeça orgulhosa.

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Chegou ao centro, era uma clareira. Antes de entrar, se atentou aos seus arredores, tentando ver se havia alguém por perto. Não havia ninguém. Bastou um breve olhar para ver os cinco pedestais, com seus respectivos amuletos, para saber que havia sido o primeiro a chegar ali.

Com seu corpo menor e ágil, ainda empunhando a lança, foi até o pedestal com o símbolo da raposa, seu símbolo, e pegou o amuleto alaranjado que jazia ali, o colocando no pescoço. Iria se virar e seguir seu caminho, quando voltou seu olhar para os outros pedestais, pensativo.

Destrua-os.

A voz foi firme. Ficou ainda alguns segundos, olhando fixamente para os pedestais.

Você não tem escolha.

Eu sei.

E com esse pensamento, começou a remover todos os outros amuletos dos pedestais.

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Ele chegara no ponto final meia-hora antes do próximo participante, que sem surpresas, foi o Falcão, seguindo por Hinata, então o Cobra e por último o Lontra. Nenhum deles tinha um amuleto, que agora jaziam no fundo do riacho que Naruto encontrara pelo caminho.

Ele sabia que os vencedores haviam assistido seu movimento trapaceiro todo o tempo, mas tudo que ouvira disso foi um aceno de Itachi — que no fim das contas foi quem lhe dissera que ele tinha que fazer tudo para ganhar dessa vez — e, desconfiava, até mesmo um sorriso divertido de Rebecca, que fora tão rápido que quase não vira.

Só queria sair daquela floresta e dormir, e fingir que não existia.

A pontuação não foi uma grande surpresa de fato, e foi dada no mesmo local, já que daquela vez ninguém havia sido ferido gravemente. Naruto ganhara a pontuação máxima, 100 pontos, enquanto os outros, por não terem trazido os amuletos, não ganharam nada. Com isso ele alcançara 230 pontos, passando o Falcão que continuava com 215, e alcançava o primeiro lugar novamente. Nada foi falado sobre seu ato furtivo, mas diante dos olhares que sentia estar recebendo por trás das máscaras, ele bem sabia que todos os candidatos sabiam que haviam sido ele a fazer isso.

Você fez bem, Mo dhuine beag.

Os ignorou e seguiu para o furgão escoltado por Itachi. Um dos participantes estava recebendo ajuda médica ali dentro. Ignorou tudo mais. Estava sentindo dor e esgotado, de todas as formas. Sentiu uma mão em seu ombro e quase pulou, ficando tenso no mesmo instante, até perceber que era Itachi.

— Sua mão. — Ele falou baixo, mas na voz sem emoção de vencedor caso alguém estivesse ouvindo.

Naruto olhou para baixo e viu que na mão que manejara a lança, havia sangue pingando por baixo da luva. Algum ponto devia ter aberto, ou mesmo magoado o ferimento ali. Tirou a luva quando Itachi fez menção de pegar o equipamento médico para analisar isso.

Sentiu que alguém o encarava e viu que era Hinata, deitada na maca por conta de um ferimento na perna. Por trás da máscara, sentia que ela o olhava intensamente. Imaginou que ela devia estar sentindo raiva ou algo assim. Ela desviou o olhar quando Itachi voltou para analisar o corte, e Naruto resolveu ignorar isso.

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No dia seguinte, Naruto acordou ao meio-dia. Havia perdido todas as aulas da manhã, e tão pouco estava animado para ir as outras, mas não tinha escolha. Tomou um banho cuidadoso, trocou suas bandagens e se obrigou a sair da segurança de seu quarto.

Quando entrou na sala, algumas pessoas pararam de falar, mas ignorou isso e seguiu para uma cadeira no canto, perto da janela. Seus olhos azuis vazios flutuaram por ali durante toda a aula. Podia sentir os olhares na sua nuca, e sabia que um deles era de Gaara. O outro devia ser de Sai, e só se sentia feliz de não ter aquela sala com Sasuke.

— Senhor Uzumaki, a aula acabou.

Ergueu a cabeça e viu que era o professor Asuma que lhe falava, da sua mesa, onde recolhia os papéis. Ele não queria muito pensar na última vez que havia visto o homem, e no que ele vira ele e Sasuke...enfim.

Franziu a testa e assentiu, começando a guardar suas coisas que nem havia usado.

— Não que você tenha prestado muito atenção a ela, de qualquer forma. — O homem replicou e teve a decência de ficar envergonhado.

— Desculpe. — falou baixo e o pedido parece ter surpreendido o homem que levantou a cabeça dos papéis e o analisou.

— Recebi os papéis sobre sua dispensa de saúde, no entanto. — O homem acrescentou. — O Senhor Uchiha os trouxe para mim e me explicou sobre o seu acidente. Espero que esteja se recuperando. Ele me disse que você teria ainda uma semana de repouso.

— Eu sei. Eu só nunca fui muito de repouso...Senhor. — Acrescentou a última palavra e o homem riu.

— Eu percebi isso.

O adolescente se ergueu, pronto para sair, mas o chamado sério do homem o parou.

— Naruto.

Se virou e recebeu o olhar preocupado do professor, que o surpreendeu. As vezes se esquecia que nem todo mundo naquele colégio estava tentando ferrar com sua vida.

— Se você estiver passando por algum problema, pode recorrer a algum dos professores. Kakashi, ou mesmo eu. Ele também está preocupado. — O garoto franziu a testa com isso.

— Não há problema algum.

O homem suspirou e se ergueu. Naruto se colocou em guarda, tenso, mas o homem não se aproximou, apenas começou a apagar o quadro.

— Eu trabalho com adolescentes há anos. E eu também sei a diferença entre machucados causados por acidentes ou por outras pessoas. Quando você passou mal da última vez na minha sala, foi impossível não notar. Cair em uma trilha não deixa marcas de estrangulamento no pescoço, Naruto.

Sentiu que seu coração podia parar e abaixou a cabeça, os olhos arregalados no chão.

— Kakashi disse que você é o melhor lutador que ele viu, que não via como alguém poderia ter causado aquilo a você em uma simples briga entre alunos. Por isso, se tiver com algum problema, nós podemos...

— Não há problema algum. — A voz fria surpreendeu o homem, que virou para frente e encontrou os olhos azuis frios nos seus, a postura tensa, as feições duras. — Não há nada de errado, não há nada a ser feito. Posso ir agora...Senhor?

O homem suspirou, mas assentiu. Em segundos o garoto havia sumido pela porta como um furacão.

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Claro que Gaara estava esperando do lado de fora, e claro que ele não duvidava nada que o ruivo havia ouvido toda a conversa que houvera lá dentro. Naruto suspirou exasperado e tentou ignorar o amigo que simplesmente começou a andar a seu lado em silêncio como um cão de guarda. Naruto não queria mesmo ter que lidar com aquilo. Seu humor não estava bom. O período de dissociação havia passado e agora ele começava finalmente a sentir. Se sentia nervoso, com raiva de tudo, dolorido e com medo. Mais do que nunca queria poder falar com seu pai. Queria que nada daquilo fosse real.

Quando a mão tocou em seu braço para fazê-lo parar de caminhar pelo corredor, seu corpo agiu quase por reflexo e em segundos Gaara estava contra a parede, a mão de Naruto em sua garganta, os olhos azuis cheios de lágrimas, raivosos, se encontrando os verdes surpresos. Ouviu murmúrios assustados ao redor de si. Seu corpo tremia.

Soltou o aperto na garganta do outro, atordoado, deixando as mãos caírem para os lados.

— Naruto... — Gaara chamou, segurando seus ombros, ainda na parede. Naruto tirou os olhos do chão e fitou os do amigo, ambos respirando rapidamente. Gaara viu toda a fúria quase animal do outro sumir, os azuis, nublados pelas lágrimas, só demostravam medo. — Naruto...fale comigo, por favor, só diga o que está acontecendo...

O garoto loiro balançou a cabeça e chacoalhou as mãos dos seus ombros, dando passos para trás. Alguns alunos que haviam parado para ver a cena recuaram também.

— Fique longe de mim, Gaara. — falou baixo, a voz tremula. — Só fique longe de mim.

Antes que pudesse reagir, ele já havia corrido para longe, de novo.

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Kakashi estava se escondendo de Gai quando o viu.

Notou de longe a cabeça loira em um dos bancos mais afastados do campo de futebol vazio. Parou de caminhar e o observou de forma analítica, porque era muito raro vê-lo sozinho esses últimos dias. Não viu nenhum sinal dos cabelos vermelhos de Sabaku, ou a garota Yamanaka que sempre eram os mais comuns de ficarem o rondando. Mesmo que houvesse notado nos últimos dias o quanto ele tentava evitá-los. Era raro vê-lo no refeitório, e durante as aulas estava se sentando mais afastado.

Naruto estava sozinho. Encolhido em um casaco grande demais para ser seu, olhando para a floresta ao longe. Ponderou por alguns segundos em apenas caminhar, mas não conseguiu. Tinha que admitir que estava preocupado.

Aqueles machucados...um sinal apitava em sua cabeça em relação a eles. Havia investigado sobre o suposto acidente com a desculpa das aulas de luta, e tudo batia. Até os relatórios da enfermaria. Tudo era explicado. Muito bem explicado.

Ele soube por Shizune que após o ataque dele na sala, um médico da escola havia o examinado e não permitiram que ela fizesse nada, o liberando sem sua permissão. Tudo isso era muito estranho.

Foi o momento em que ele o notou se aproximar. Os azuis alertas o fitaram, o corpo pequeno tencionou de uma forma preocupante, mas ele ficou bem parado.

—Ka...Hatake.

A voz era calma. Falsa. Diferente do que estava acostumado nas aulas.

—Naruto. — Sorriu tentando se mostrar não ameaçador e sentou no banco ao lado, dando uma certa distância quando ficou claro que ele correria a qualquer movimento em falso. O que o deixava ainda mais preocupado. — Se importa se eu ficar aqui? É o único lugar em que Gai não pensaria em procurar.

Ouviu um pequeno hn interessado e viu um leve dar de ombros.

—Ele quer apostar em alguma coisa. De novo.

Um leve sorriso, um relaxar mínimo. Vitória.

—Apesar de estar frio demais para estar aqui a essa hora. — Ponderou, esfregando as mãos. O outro ignorou a indireta, olhando para as mãos enfaixadas. — Recebeu o recado?

O corpo dele tencionou novamente, os olhos o fitando e modo desconfiado.

—Recado?

—Enviei pelo seu colega de quarto.

—Ah... — desviar de olhos. — Não vi Sai hoje, muito.

Evitando os amigos ainda pelo jeito.

— Sua punição acabou, pode voltar aos treinos.

Ele o olhou surpreso, e então os olhos voltaram a fitar as mãos enfaixadas. Ah sim.

—Quando puder voltar. Foram profundos?

Sabia que sim, ainda assim esperou ver a reação. Dar de ombros. Naruto nunca foi muito respeitoso com os professores, isso parece que não mudou pelo menos.

—Vou viver. — Ele murmurou. Observou que as marcas que havia visto no pescoço dele não estavam mais lá. Quase podia pensar que havia as imaginado, se Asuma não tivesse as visto também. Ele queria muito perguntar, o enfrentar sobre isso, mas sabia que qualquer passo em falso no momento e ele correria.

O fato de tudo estar tão bem explicado o preocupava também. Não acreditava sobre acidentes com ferimentos assim, e ainda assim os dados estavam lá. Forjados. A escola estava em silêncio sobre o que havia acontecido.

Algo estava muito errado, e tinha que caminhar cuidadosamente sobre a situação.

—Hatake.

—Hn?

Olhou para baixo, o rosto dele estava corado pelo frio, o nariz avermelhado. Os olhos pareciam tão diferentes do que estava acostumado. Tão errados para uma criança, que sentiu seu coração apertar.

—Me desculpe por ter feito aquilo com o Kiba.

—Já pediu desculpas.

—Estou pedindo de novo.

Havia algo errado. Como se ele estivesse pedindo desculpas por outra coisa, mas ainda assim assentiu.

—Mah, Naruto. Está tudo bem. Está arrependido não está?

Ele assentiu.

—E pediu desculpas ao Kiba também?

O nariz dele franziu com desagrado e sorriu com isso.

—É.

—Não parece muito convincente.

Naruto sorriu de leve. Queria tocar na cabeça loira, mas quando moveu o braço ele se encolheu tanto que parou no movimento. Seu coração se comprimiu mais e ficou parado até ele se acalmar, o rosto pálido.

—Está tudo bem.

Tentou confortar também a si mesmo no momento. Nunca havia precisado se preocupar tanto com um aluno como aquele ali. Talvez fosse porque confusão parecia o seguir, ou alguma coisa nele que era difícil de ignorar.

—Hatake. — Se surpreendeu com o tom curioso na voz dele e o fitou. Os azuis pareciam o analisar cuidadosamente. Ele abriu a boca para perguntar algo e a fechou. A testa franzida em pensamento. Era estranho e apenas esperou. Ouviu um leve suspiro. — Está quase na hora do jantar.

Ao que parece ainda não era a hora. Seria paciente. Assentiu ficando de pé, o outro o seguindo prontamente. Ele parecia ainda menor andando ao seu lado, encolhido nos casacos, mas com a expressão altiva à medida que se aproximavam das alas. O rosto ficando mais calma. Falso.

Quando chegavam ao corredor dos quartos já e ele se despediu, se deu conta do fato claro, que provavelmente havia se tornado mais um membro da esquadra de proteção ao Uzumaki.

Perfeito.

.....................

Hinata olhava de forma esperançosa a porta do refeitório. Ela tinha que ver Naruto, tinha que dar uma boa olhada nele. Mas desde cedo, ninguém havia o visto mais. Os rumores sobre uma briga entre ele e Gaara nos corredores já havia se espalhado, e desde então ele havia sumido do mapa. Podia ver que Sasuke também não tirava o olhar da porta, e por isso podia deduzir que Naruto não estava em seu quarto, ele teria checado.

Ela tinha que dar uma olhada em Naruto, para ter certeza. Desde que vira o ferimento na mão do Raposa, aquilo não saia de sua cabeça. E começara a comparar o modo de andar do loiro e do candidato sete. Aquela sensação de familiaridade. O fato dele tê-la salvo, duas vezes. E então a bandagem na mão, a mesma que Naruto vinha exibindo depois do acidente. Claro que aquilo podia ser outra coisa. Aquela bandagem podia ter sido causada no jogo ao algo assim, mas todos os seus instintos diziam que não.

Seria possível, realmente, que Naruto fosse o candidato sete? Isso explicaria ele ser tão bom em tudo nos jogos, mesmo sabendo que destruir os amuletos não seria algo que o Naruto que conhecia faria, ela não desconsiderava que diante das circunstâncias, até ela mesmo faria isso. Na verdade, ela teria provavelmente apenas deixado o amuleto do próprio Naruto intacto devido a dívida que tinha para com ele, mas apenas isso.

Naruto podia ser o Raposa. Realmente podia sim.

Virou a cabeça para voltar o olhar para Sasuke, pensando seriamente se arriscaria a cabeça perguntando ao Uchiha por Naruto, mas ele já havia sumido.

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Aquilo era insano. Totalmente insano, e Sasuke nunca se imaginou em uma situação como aquela. Ainda estava um tanto atordoado com o que havia dito a Naruto, e com a resposta dele de achar que era um engano, e ainda sumir das vistas de todos.

Se declarar a ele sempre foi o que queria fazer, mas não esperava que tivesse coragem. Na verdade, somente depois da conversa com seu irmão que havia entendido o que realmente sentia por Naruto. Nunca entendeu bem sentimentos, seus pais somente o ensinaram o que era orgulho, honra, e talvez carinho, por parte de sua mãe. Mas o resto, amor, somente Itachi. Mas o amor que tinha pelo irmão, mesmo que não admitisse o sentir, sabia ser diferente.

Por Naruto, era intenso, forte, acolhedor e de alguma forma, familiar. Era algo que não conseguia frear, que não conseguia conter, algo que parecia até ter nascido consigo, natural. Não costumava ficar analisando coisas como essas, não costumava pensar nisso, pois sempre achou idiotice.

De certa forma não estava errado, não tinha motivos para o contrário. Até Naruto chegar. Até ele se sentar naquela poltrona, com aqueles olhos lindos, encantadores, hipnotizantes, mágicos. E com o tempo que entendeu o porquê de sentir um incomodo estranho ao estar com ele, ou quando o olhavam, sempre espreitando o rapaz.

E foi isso que o levou até o apartamento particular de Itachi, dois dias antes de se declarar.

Estava sentado no sofá da sala, envergonhado demais para falar qualquer coisa.

Itachi o olhava, esperando que falasse algo, há alguns minutos. Estranhando aquela ação do irmão mais novo, que somente esfregava uma mão a outra, inclinado no sofá tom vinho de três lugares. A sua frente a mesa de centro abarrotada de revistas e livros, uma estante mais a frente e ao lado uma TV LCD pequena. A sala era de um tamanho médio, com duas janelas sobrepostas, uma porta na parede sul e um portal que dava à cozinha. As paredes brancas assim como o teto e a maioria da mobilha, que lembravam a Sasuke um manicômio. O ventilador de teto de madeira tom mel, o chão de azulejo cinza. Tudo parecia muito genérico, o que deixava o mais novo ainda mais nervoso.

— Então... — se pronunciou Itachi, de pé ao lado do portal que dava a cozinha. — A que veio, irmãozinho?

Segundo se passaram, para que Sasuke conseguisse por fim pôr em palavras sua dúvida.

— Eu... Sinto... Sinto algo tão forte que tenho raiva de todos que chegam perto dele, tenho vontade de matar a todos e fugir com ele. Tenho vontade de o trancar em uma sala, e ficar com ele para sempre, sozinhos ali. Não quero ninguém olhando-o. Ninguém olhando o que me pertence. Nem tocando, nem falando com ele... — sua voz morreu, quando notou o que dissera, quando notou com tanta convicção que falava o que sentia.

Itachi olhou para o chão, parecendo indiferente, somente ouvindo o som do relógio de pêndulo que tinha na cozinha. Sua mente trabalhando rapidamente, se virou ao irmão, que parecia confuso demais, sobrecarregado demais.

— Não o quero correndo nenhum risco, não o quero mais aqui. Não perto de Obito, que fez aquilo com ele. — Dizia com o maxilar trincado, entre dentes, fechando as mãos em punhos, com uma clara fúria. — Quero ele longe daqui, dessas pessoas nojentas, desse mundo horrível que fazemos parte. Ele não é para isso, ele já sofreu demais, mas simplesmente não desiste. Eu não entendo, ele continua lutando, ele continua... — abaixou mais o rosto, passando as mãos nos cabelos, claramente frustrado. — Quero o proteger, quero ele só para mim, quero ele seguro, quero ele comigo.

— Quer monopolizá-lo. — Itachi interferiu, convicto com o que dizia. Olhando-o de cima, e fitado pelo rapaz confuso. — Possessivo, eu já esperava. — Ele falava como se fosse algo que fosse inevitável. Sasuke iria começar a o questionar quando continuou. — Isso é uma das características Uchiha, irmãozinho, somos possessivos quando amamos. O que significa que o que sente por Naruto é verdadeiro, não só algo passageiro.

— Como sabe...

— Eu só sei, Sasuke, não adianta fugir dos seus sentimentos. Não adianta tentar ser durão e negar. Não adianta tentar ignorar. Você o ama, isso não vai mudar nunca, já que quando amamos, esse amor é único. — Sorriu, um leve repuxar de lábios, mas que Sasuke conhecia bem. — Não haverá outra pessoa, nunca, então cuide bem dele. E diga, diga a ele o que sente antes que seja tarde demais. — Seu sorriso sumiu, dando lugar a uma expressão sombria. — Antes que ele se feche por completo.

Isso estava na sua cabeça, martelando. Ele sentia que Itachi estava certo. Ele sentia Naruto se distanciando. Ele sentia Naruto se fechando, ficando inalcançável.

Estava o perdendo.

Apressou o passo no corredor, seguindo aquele extinto quase insano que sempre o levava a ele, até que chegou à ala que seguia para seu quarto. Ficou ali na escuridão algum tempo, ponderando, sem saber como agir de forma reconfortante, ou mesmo com tato, ou acabar piorando tudo mais. Sabia que Naruto estava machucado, assustado, confuso. Não sabia como agir com ele assim sem parecer um babaca. Não sabia respeitar seu espaço, e tinha que aprender a fazer isso.

Se retesou quando ouviu um barulho e o viu caminhar pelo corredor vindo de fora, saindo do lugar que provavelmente estivera o dia inteiro, fugindo de todos. Prendeu a respiração e viu os olhos azuis sérios chisparem em sua direção, se escondendo mais. Sabia que ele havia o visto. E ele sabia que ele sabia. Mesmo assim Naruto o ignorou e seguiu caminho.

Foi atrás.

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Naruto olhou Sasuke de soslaio. Ele vinha logo atrás, as mãos nos bolsos, lhe olhando fixamente. Ao ser pego o espiando, se virou para frente continuando seu caminho. Sasuke parecia não cansar em o acompanhar antes de qualquer forma, isso quando Itachi não aparecia e os dois topavam. Mas isso fora antes de toda aquela bagunça. O que antes parecia apenas aborrecedor e até engraçado, agora o deixava... triste.

Continuou seu caminho até seu quarto, suas mãos latejavam vagamente, e sua cabeça doía. Não tinha bebido os remédios, nem anti DST's. Se sentia mal sempre que os tomava, e aquele dia frio parecia ruim o bastante para querer mais um problema para si, depois de Asuma e Gaara. E então Kakashi aparecia com aquela conversa estranha.

Apesar de que o havia feito pensar. Era a primeira vez que reparara que a maioria dos seus professores não o olhavam...daquela forma. Hoje havia visto apenas preocupação no olhar de Kakashi, e de Asuma também. Exceto por Orochimaru, os professores ou o ignoravam ou eram agradáveis apenas. Até mesmo protetores. E aquilo era tão alienígena para ele. Nunca havia acontecido antes, nenhum adulto além da sua família nunca agiu assim.

Talvez essa...coisa nele, que fazia com as pessoas ficassem tão abobalhadas não funcionasse com todo mundo. Gaara também não o olhava assim. Ou Sai. Nenhum de seus amigos na verdade, ou teria percebido. Era...curioso. Pensaria nisso depois. Queria apenas sumir da vista de todos, e sabia que estava sendo um covarde, mas não sabia como desativar aquele seu instinto que pensou que seu avô havia o ajudado a deletar de vez da sua vida.

Ergueu o rosto, a franja caía sobre os olhos claros, os braços cruzados frente ao torço, enquanto passava por alguns alunos que ainda insistiam em ficar nos corredores ainda mais gelados do castelo. Como sempre calados, encolhidos em cantos enquanto conversavam baixo entre si, como se fossem bonecos.

Até que já não estranhava as ações deles, pois havia acabado como eles, quase... Sem vida.

Ao chegar à porta de seu quarto, levou a mão ao bolso da calça jeans e retirou as chaves, sentiu alguém parar atrás de si, Sasuke. Destrancou a porta e entrou, jogou a mochila no canto, se virando para despachar o mais novo e fechar a porta, quando o viu avançar para entrar. Sendo barrado pelo seu braço, que estendeu até o batente da porta.

— O que pensa que está fazendo? — perguntou mantendo o braço no batente. — Vai para o seu quarto. Devia estar no refeitório, de qualquer forma.

Sua voz foi uma ordem, e viu-se sendo encarado pelos olhos negros de Sasuke. Olhos negros, profundos e preocupados. Diferente de sua expressão facial e corporal estoica.

— Não vai me deixar entrar? — ele retorquiu, parecendo realmente confuso apesar de ter sido muito claro.

Ele se perguntava às vezes se Sasuke era tão ruim socialmente assim mesmo, ou apenas se fingia de besta.

— Não. — Sua resposta rápida e objetiva desarmou momentaneamente o outro, que o olhou em ultraje. E então determinação.

— Vamos ver.

Não houve tempo para reagir e Naruto sentiu as mãos agarrarem sua cintura. O empurrando com força para dentro. O deslocando dali. Irritado, Naruto tropeçou para trás e pensou em acertar um soco no outro, mas novamente sentiu as mãos dele em sua cintura, o empurrando de volta a direção da porta que havia sido fechada.

Ouviu a respiração dele rápida com o ato e se arrepiou no exato momento que suas costas se chocaram com a porta. Sasuke tateou e a trancou. Não teve de se recuperar do choque, quando sentiu a boca faminta sobre a sua.

Seu corpo inteiro gelou, o corpo tenso e o coração acelerado.

Sasuke abriu os olhos, vendo que Naruto tinha os seus fechados com força e não estava reagindo. Ele nem mesmo parecia respirar. Algo pesou em si, um sentimento de culpa, e descolou os lábios, se afastando.

Era mesmo um idiota. Por que não conseguia fazer nada certo com Naruto? Por que essa raiva sempre o nublava?

— Desculpe eu...eu não vou...

— É algo irracional. — Naruto sussurrou, parecendo verdadeiramente consternado com a própria reação. — Não posso controlar.

— Desculpe-me assim mesmo, eu sei que você não gosta disso.

Naruto pareceu o analisar por algum instante, como se estivesse em algum debate interno, analisando seu rosto com cautela. Até que fechou os olhos com um pequeno suspiro.

— Eu estou tão cansado, Sasuke.

—Naruto... — seu coração se comprimiu com o tom de voz dele.

—Eu sei que deve ser frustrante. Eu não quero machucar você, Sasuke. — Os olhos voltaram aos seus, com tanta sinceridade que o pegou de surpresa. Ainda assim, uma voz idiota na sua cabeça o lembrou o quando Naruto mentia tão bem.

Não queria pensar nisso, justo naquele momento. Ou sentir a insegurança que o consumia.

—Você não vai. — falou em um sussurro quase débil. A risada baixa de Naruto o pegou se surpresa. Era autodepreciativa demais. Tão diferente do que estava acostumado. — Você não vai me machucar, Naruto.

— Eu vou. — A voz era convicta, os olhos se desviaram dos seus novamente. — Eu só... — os lábios dele tremeram, uma mão tocando seu peito levemente. — Eu queria esquecer tudo isso. — Suas mãos que continuavam na cintura de Naruto suspenderam para o rosto pequeno, o segurando com ambas as mãos. Ele não recuou, soltando um leve suspiro, os olhos azuis se desviando dos seus brevemente.

Beijou a ponta do nariz pequeno e ele voltou a lhe encarar. Naruto pareceu curioso com o gesto, então se aproximou agora devagar, suas mãos ainda segurando o rosto do outro, o inclinando para cima, se abaixando. Os olhos negros fixos nos azuis frágeis. Como num pedido mudo, viu-o fechar os olhos e entreabrir os lábios.

Os selou devagar, e por longos segundos somente ficaram parados, as mãos geladas escorreram do rosto, para o quadril magro do Uzumaki. Sentindo os dedos longos do outro tocarem com delicadeza a lateral de sua camisa, descendo para sua cintura. Sentia o corpo tenso aos poucos relaxar. Se vergou, sua boca partiu para a bochecha marcada, com beijos leves no maxilar, ouviu-o suspirar.

Diferente do que havia acontecido no baile, tudo era mais lento, cuidadoso. Nunca imaginou que conseguiria ser cuidadoso em um beijo na vida como naquele momento. Conseguia sentir os leves tremores nos músculos dele com alguns movimentos repentinos seus. Beijou as cicatrizes no rosto dele devagar, ouvindo um suspiro surpreso com isso, uma mão ainda enfaixada tocando sua nuca.

— Naruto! Abre essa merda de porta!

—Oh... Merda! — Naruto sussurrou abrindo os olhos azuis e o empurrou de leve no peito, ambos ofegantes. — Se esconde!

— Mas é só o...

— Debaixo da cama! — a "briga" de sussurros terminou com um empurrão de Naruto. Sasuke o olhou por um segundo, não tinha nada contra Sai os ver, mas se o outro tinha, fazer o que.

Entrou debaixo da cama, olhando Naruto que tentava normalizar a respiração e passava a mão pelos cabelos já naturalmente — e propositalmente — bagunçados.

Se adiantou e abriu a porta. Sai entrou rapidamente.

— Já disse para tirar a chave da porta quando entrar, po que se não, não tem jeito de abrir. — Jogou a mochila sobre a cama. — Merda, o que tava fazendo aqui? — seu olhar percorreu o Uzumaki que parecia sem jeito, e começava a mexer em sua própria mochila. Abriu um sorriso zombeteiro. — Se masturbando?

Naruto se engasgou com a saliva e começou a tossir.

Ele tinha de dizer isso justo agora?

— Vai se foder. — disse com toda a dignidade que conseguiu reunir.

Sai riu. — Quer que eu te foda?

Um segundo se passou.

Naruto fechou os olhos já sabendo o que vinha a seguir.

Sasuke saiu de debaixo da cama, surpreendendo Sai, a aura homicida o rodeando, e avançou sobre o outro.

— Você está morto.

É, aquele dia não tinha como terminar de outra forma.

Tenho que concordar, pequeno.

Naruto olhou os dois rolando no chão e suspirou, grunhidos enchendo o quarto, podia até ouvir o som dos ossos dele batendo na madeira.

Não sei o que fazer.

Saia e os deixe aí, você não tem nada com isso, até que provem o contrário.

Naruto mexeu os ombros e saltou sobre os dois corpos rolando, alcançando a porta e saindo dali com calma. Ele tinha que admitir, aquela voz lhe dava conselhos realmente uteis agora.

Quase podia ouvir a risada presunçosa em sua cabeça.

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Naruto colocou as mãos nos bolsos para as aquecer enquanto andava no corredor gelado. Esquecera as luvas nos bancos do campo, e não estava bem agasalhado para sair do quarto. Mas nem pensar que voltava lá com Sasuke e Sai se engalfinhando. Com sorte, podia conseguir algo para comer ainda no refeitório apesar de já serem dez, e que nem deveria estar nos corredores. Os últimos alunos estavam se recolhendo.

Use seu charme.

Sentiu ímpeto de revirar os olhos com isso. Mas estava realmente com fome. Estava comendo mal desde que chegara naquele lugar, mas também, com tanta coisa, comer se tornara a menor das suas preocupações.

Um grupo de alunos passou, cochichando, e tentou ignorar os olhares que recebeu. Como já devia ter se acostumado. Conseguiu com sucesso andar despercebido dos vigias que recolhiam os alunos, e desceu as escadarias até a cantina. Se não tivesse jeito tentaria a cozinha, sempre ficava alguém até tarde ali, Itachi havia lhe dito. E a Senhora que cuidava do lugar parecia simpatizar consigo e com Sasuke.

Ha!

Não vou usar charme, e sim gentileza.

Foi com tristeza que percebeu que tudo estava fechado, e viu a lanterna que fazia a varredura do lugar. Poderia passar pelo quarto do Shikamaru e Chouj, eles sempre guardavam algo por lá.

E você não está tentando de jeito nenhum fugir do seu quarto e do Uchiha. Claro que não.

Foda-se o seu sarcasmo.

Havia retornado e subido o último degrau, virando quando viu o mesmo grupo de alunos de antes. Apenas que dessa vez, eles estavam parecendo... O esperando ali.

— Muito tarde para ficar andando por aí, Príncipe Irlandês.

Naruto franziu o cenho, piscou e parou, as mãos ainda nos bolsos, mas pronto para reagir se precisasse. Eram cinco, não, seis alunos. Terceiro e segundo ano, já havia visto todos por aí. Lembrava de Sasuke ter socado dois deles. Um tal de Peter, e Jason Mason. Primos ou coisa assim.

Tome cuidado. Mau sinal.

Eles deviam tê-lo seguido o caminho todo. Se amaldiçoou por suas distrações, por aqueles malditos remédios. Nunca seria pego assim normalmente. E não estava em seu melhor estado para uma briga. Até ele sabia disso.

— Digo o mesmo. —Murmurou baixo, ainda sem mostrar nenhuma reação, mesmo que já previsse uma fuga dali. — Se me dão licença...

Se virou, apenas para ter seu braço seguro. Se livrou rapidamente do aperto, dando um giro com graça e jogando o outro contra os amigos que o seguraram. Deu três passos para o lado e para trás, o corpo já tenso para lutar, o rosto duro.

— Não toque em mim. — Avisou, sentindo suas costelas doendo com o movimento forçado.

— Ou o quê? Não me diga que vai me enforcar com suas bandagens.

É uma ideia. O tom de raiva o assustou e quase saiu de guarda por isso. Ele está te olhando com esse...Argh...Olhar.

Naruto piscou e notou que o grupo se aproximava, o encurralando na escada. O lugar estava na penumbra, era difícil distinguir os rostos.

— Você precisa de uma lição, Irlandês. Sempre inalcançável, como se ninguém fosse bom o bastante. Seu lugar não é aqui. — Outro aluno falou e Naruto quis revirar os olhos. Porque, é, ele meio que não queria estar "aqui".

— E vocês não são bons o bastante para lutar limpo. — Rebateu. Em um movimento rápido lateral notou que alguém tentou segurá-lo. Usou sua perna para uma rasteira e sentiu o puxão forte no abdômen com isso. Sem saída, socou outro atacante de direita, sentindo a dor na palma por isso, um puxar que fez seus olhos lacrimejarem.

Esquerda limpa.

— Você nunca me venceu no tatame Jason, isso não vai mudar agora. — Falou arfante, se jogou no chão escapando por baixo do outro garoto, girou e chutou as articulações do joelho por trás. O outro desequilibrou quase caindo de cara.

— Ninguém falou de tatame, Uzumaki.

Notou tarde que havia saído dele e ido direto para outros dois. Como não havia notado? Rolou para sair desses dois, girando, mas não a tempo de ter seu pulso segurado, e seu ferimento comprimido. Rangeu os dentes de dor, mas estava quase imobilizado por isso. Escapou dando uma cotovelada no estômago do rapaz que gemeu. Se levantou, mas acabou recuando novamente para escada, ficando sem saída, segurando a mão magoada.

— Olha, os olhos dele estão marejando. Não fica assim não... — um deles zombou. — Vamos cuidar de você.

Eu vou acabar com esses moleques agora mesmo. Me deixe assumir!

— Não... — Sentiu vontade de vomitar, sua cabeça doendo, com força, o deixando trêmulo. Os garotos pensavam ser por conta deles e riram.

Eu estou mandando! Lembra da última vez que hesitou?

— Cala a boca!

— Ele está pirando. Vem cá com a gente...

— Saiam de perto de mim!

NARUTO! Me deixe assumir, você é fraco demais.

— Não vou! Vai para o inferno!

Frágil demais...Pequeno, eu vou ajudar.

— Não me toquem! — Rangeu os dentes estapeando uma mão que se aproximava.

— Ou vai fazer o que? Talvez chamar o Uchiha para cuidar de você, agora que está quebrado. — Um deles falou.

— Ou chamar seu pai, poderoso Namikaze?

Com isso Naruto gelou, esquecendo a voz na sua cabeça, a dor, e virando os grandes olhos azuis para o garoto loiro e alto que o olhava com um sorriso presunçoso. Poucos ali sabiam sobre seu pai. Ele nem mesmo usava o mesmo nome dele. Não tinha como aquele garoto saber.

— Talvez mande seu pai nos matar, como ele matou as pessoas que fizeram isso com seu rosto. — O garoto continuou acenando para ele com a cabeça, um sorriso satisfeito. Naruto não conseguia falar nada, mudo. — Meu pai me contou, ele trabalhava com ele. Contou como seu pai é um lunático.

— Não fala dele... — Murmurou entre dentes, a postura ficando rígida.

Me deixe assumir...

— Mas ele é louco! — disse alto, os braços cruzados. — Assim como você é. Meu pai me falou que não tinha como você ser são, que eu ficasse de olho. Porque aqueles caras fizeram uma festa com você.

—Cala a boca...

Me deixe assumir!

— Deve ser por isso que agora anda com o Metido-Uchiha por aí. Deve ter gostado tanto da experiência que agora faz porque gosta. Então pare de bancar o difícil...

— CALA A BOCA!

Foi rápido. Muito rápido. Em um minuto Naruto estava lá, tremendo, acuado. Ninguém viu quando ele o atingiu. Por isso ficaram paralisados quando ouviram o grito, quando o corpo se chocou contra a grade da escada. Uma pancada, e o braço do garoto ficou inútil. E um segundo depois, ele estava sendo arremessado pela escadaria.

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Foi por pouco. Muito pouco. Itachi chegou a tempo apenas de segurar o corpo que vinha da escadaria após ouvir a gritaria. O garoto gemeu em seu agarre, parecendo em choque. Ao seu lado Rebecca prendeu a respiração, acendendo as luzes. Naruto estava em cima, tremendo, se agarrando ao corrimão. Havia mais cinco garotos, todos parecendo em choque.

— O que está acontecendo aqui?

Silêncio. Itachi encarou Naruto, os olhos azuis estavam apavorados, o rosto lívido. O cabelo emaranhado. Seu rosto escureceu. Sua voz ficou mais dura.

— Eu fiz uma pergunta.

Isso parece ter destravado a língua deles. Menos a de Naruto, que continuava olhando para baixo, para o garoto nos braços de Itachi com os olhos arregalados.

— E-ele... Ele empurrou Jason!

Um deles acusou Naruto, que nem mesmo se moveu.

— Isso é verdade Naruto? Naruto!

O loiro piscou, o olhando, a respiração ficando pesada. Itachi suspirou.

— Eles estavam tentando machucá-lo.

Uma nova voz fez os garotos quase saltarem. Itachi viu um dos alunos mais novos sair da escuridão de uma coluna. Conhecia ele, Shikamaru Nara.

— Eu vi tudo. — A voz do garoto era puro tédio, as mãos no bolso. — Eles meio que estavam tentando se aproveitar dele porque ele estava machucado. Não me meti porque seria trabalhoso.

Itachi encarou os garotos que recuaram, assustados com o que viram ali.

— A escada foi um acidente. — Nara continuou. — Ele estava tentando se defender.

— Isso não é verdade!

Itachi encarou o garoto. Ele sabia que no escuro, ele não podia ter visto tudo isso, mas deixou passar.

— Rebecca, leve esse garoto para a enfermaria.

Entregou o aluno com pouco jeito a mulher que o amparou. Rebecca olhou para Naruto por um segundo e se virou, começando a sair dali.

—E vocês...

— O que diabos está acontecendo aqui!

Ótimo, era o que faltava.

Sasuke vinha do corredor atrás deles, o grupo de garotos se assustaram e abriam caminho, tentando manter distância. Ele parecia possesso, as mãos em punhos cerrados, as roupas amassadas e os cabelos bagunçados. Tinha ouvido a gritaria quando estava voltando para seu quarto, e quando vira o nuance dos cabelos claros de Naruto, resolveu ir ver o que era. Os olhos negros correram pelos garotos de maneira afoita, passaram por Itachi que estava sério, recaindo em Naruto. Seu olhar oscilou e acelerou o passo para o Uzumaki.

— Naruto, o que aconteceu? — se aproximou, a voz baixa e preocupada. Naruto se abraçou e evitou olhá-lo.

— Agora que as interrupções já foram feitas, vocês... — apontou para o grupo. — Vão vir comigo ter uma conversa com Sasori. Nara, se puder nos acompanhar. — Ele suspirou entediado, e foi em passos lentos até Itachi. — E Sasuke, leve Naruto para o quarto.

— O que? Mas foi ele quem jogou Jason da escadaria, foi ele que quebrou o braço dele! — Era Peter, que tinha o rosto machucado. — Ele nos feriu!

— Do Uzumaki, tratamos depois. Acredito que vocês não são os únicos prejudicados aqui.

— Como assim? — Sasuke disse alto, Itachi lhe lançou um olhar nada amigável. — Expliquem isso direito! Naruto?

Naruto olhava o chão, a respiração rápida, não parecia inclinado para dizer nada. O Uchiha mais novo sentiu seu sangue ferver.

— Se tiverem feito algo com ele...

— Calado. — Itachi lançou o último olhar para Sasuke que o olhou irado, passando para Naruto, virou-se e voltou pelo caminho, com um comboio logo atrás. Sasuke os olhou sair.

Naruto sentia sua costela doer de uma maneira que o sufocava, tossiu chamando a atenção dele que o olhou preocupado.

— O que aconteceu? Te machucaram? — demandou exasperado, tocando-o nos ombros, mas tendo as mãos afastadas com um balanço.

— Estou bem. — Fugiu dos olhos inquisidores, voltando a andar pelo caminho que originalmente tinha tomado. O outro lhe acompanhou com facilidade, visto que estava se forçando a andar rapidamente, tentando engolir a bolha que teimava em apertar sua garganta.

— Naruto... — chiou, tentando o fazer falar. — Diga...

— Sasuke, se quer ficar perto de mim, tem que entender duas coisas. — Engoliu em seco, a dor diminuindo, suas mãos latejavam, olhou-as, não tinha sangue nas bandagens. — Primeiro, não me force a falar o que não quero, e segundo sei cuidar de mim mesmo.

— Sabe tanto que está aí des... — Sasuke calou-se quando os olhos azuis frios e ameaçadores foram direcionados para si. E viu que tinha pisado em falso.

— Está querendo dizer que a culpa de tudo é minha? — Naruto parou no meio do caminho, se virando para o outro. — A culpa... — A expressão dele caiu, mais distante — Pior que faz sentido, nem reclamar eu posso se...

Não teve como terminar, Sasuke o parou, a expressão tão contrita que o deixou surpreso.

— Não, espera. Desculpe por dizer essa merda. — Ele soltou o ar devagar e o olhou seriamente, uma mão tocando de leve seu rosto. — Eu só não quero que carregue tudo para me proteger da verdade.— Ele franziu a testa com isso — Eu quero...eu preciso te proteger também. Mas parece que eu só meto os pés pelas mãos tentando fazer isso as vezes. É tão...frustrante.

Naruto ficou sem palavras, abaixando o olhar para o chão.

Belo discurso.

Cala a boca...

Teve as mãos enfaixadas seguras, teve o instinto de se afastar, mas antes levantou o olhar para o rapaz, que ainda o fitava seriamente. Sasuke abriu a boca e então a fechou, voltando a abri-la, com a testa franzida.

— Eu não sou de dizer essas coisas, eu realmente devo amar você.

E novamente se esqueceu de tudo, somente sentiu seu peito se aquecer, as pontas dos dedos formigarem. Ele ainda lhe encarava, como se esperando por uma resposta.

O que eu digo?!

O silêncio de sua mente o deixou revoltado. Como ele ousava ficar calado naquele momento?

Ele não conseguiria responder. Ele havia visto — se aquilo fora real, todas aquelas visões foram reais — o que acontecia sempre. Era, amedrontador...era tudo tão...

Ele só não podia.

Sasuke suspirou, a expressão se tornando resignada.

— Vamos. — Sentiu o ombro ser envolvido pelo braço do Uchiha que o puxou mais para perto e em direção ao quarto.

.................................................

Quando entraram, Sai estava deitado de costas, parecendo em um sono pesado. O quarto era iluminado somente pelo abajur que ficava na escrivaninha. Naruto foi direto para o banheiro, enquanto o Uchiha se sentou em sua cama, tudo em um estranho silêncio, que era mais que bem-vindo no momento.

Arrancou a jaqueta e ligou o chuveiro, correndo para o vaso onde se debruçou e vomitou tudo o que tinha e o que não tinha comido. Seu rosto ficou pálido de repente e sentiu um suor frio apoderar de si, junto com uma fraqueza sem igual, tentou ficar de pé, mas caiu sobre os joelhos.

"Talvez mande seu pai nos matar, como ele matou as pessoas que fizeram isso com seu rosto."

"Meu pai me falou que não tinha como você ser são, que eu ficasse de olho. Porque aqueles caras fizeram uma festa com você."

Sentiu vômito subir a sua boca e despejou tudo no vaso novamente, ainda bem que tinha ligado o chuveiro para disfarçar o barulho. Tossiu, suas costelas doendo e se sentou no chão, se encostando na parede gelada. Fechou os olhos com força.

Nunca imaginou que alguém dali poderia saber daquilo, algo tão íntimo de si, algo que jurou deixar para trás. Aquele cara tinha usado um dos episódios mais obscuros de sua vida para o ferir.

Sentiu seu rosto queimar, queria chorar, mas simplesmente deixou aquele sentimento passar por si como uma onda varrendo tudo, e voltar para o mar de sua consciência com todo aquele turbilhão incrível de emoções. Como havia aprendido a fazer com os anos. Deixando somente... apatia.

Se levantou, escorado na parede começou a se despir, jogou as roupas no cesto e deu descarga no vaso, entrando debaixo do chuveiro que já havia desperdiçado muita água.

.......................

Quando voltou ao quarto, se deparou com Sasuke deitado, embrulhado em seu edredom como se estivesse na própria cama. Ele abriu os olhos escuros quando abriu o armário, tirando de lá uma camiseta velha do Star Wars que havia ganhado do pai em uma visita à uma feira de filmes. Vestiu-a, tapando o abdômen recém enfaixado e foi até a cama, de onde era observado com afinco.

— Levanta-se daí, vai para o seu quarto. — Sussurrou da maneira mais firme que conseguiu, sentia-se fraco pelo o que aconteceu no banheiro, mas se forçou a ficar de pé. Viu o olhar de Sasuke ir até sua samba-canção azul, mas logo voltar para o rosto dele. Naruto o encarava irritado, as sobrancelhas loiras juntas, um bico crescia em seus lábios. — Uchiha, não vou repetir.

Sasuke puxou o edredom, o jogando no outro canto da cama, expondo torso nu e a boxer preta que vestia. Naruto o olhou sério, mas Sasuke podia notar um brilho de curiosidade e vergonha ali. Deu dois tapinhas na extensão do colchão que não ocupava.

— Deita aqui, cabe a gente. — Sorriu de leve, tentando o convencer. Mas ele parecia obstinado a não ceder.

— Não, a cama é minha, vaza.

— Naruto... É só uma noite. — Foi pego de surpresa pela expressão inocente que o Uchiha fez, os olhos sinceros, um franzir de lábios tristes com a demora na resposta. — Por favor.

Ele é o filho da puta mais bonito que já conheci na vida. Como diabos isso é possível?

— Isso... É trapaça. — Decretou, sem forças para lutar contra o inevitável, indo até o abajur o desligando. O quarto entrando em uma penumbra que por segundos cegou o garoto, mas ainda assim caminhou até a cama e se sentou, ajeitou o travesseiro enquanto sua visão se acostumava e deitou-se.

Sentiu um arrepio pela proximidade que estava do outro. Quase podia sentir o calor do corpo e isso o causou certa repulsa, mas tentou extinguir aquele sentimento quando teve a cintura envolvida e foi puxado de encontro ao peitoral do Uchiha. Se encolheu, suas mãos enroladas entre eles, respirou fundo e sentiu o cheiro de desodorante e algum perfume leve que não conhecia, algo que era a cara de Sasuke.

Sentiu o queixo dele fuçar em seus cabelos úmidos, e logo, o nariz dele passear por ali. Por um segundo se arrependeu de não ter passado um pouco de perfume, já que Sasuke estava tão cheiroso, mesmo sem tomar banho e ele... Bem, não cheirava a nada.

— Naruto... — ouviu o sussurro rouco, e se ajeitou nos braços dele. O edredom foi jogado sobre eles e fechou os olhos, que nem notara que mantinha abertos.

— Hum?

— Eu te amo. E não precisa responder. Eu sei que me ama também. — Sentiu o hálito quente do outro contra seu couro cabeludo.

Bem, a autoestima de Sasuke com certeza está intacta. Pensou exasperado.

Ficou em silêncio, somente ouvindo o som da respiração calma de Sasuke, tentando controlar os batimentos descompassados de seu coração.

— Pare de dizer essas coisas... Embaraçosas.

Sasuke riu, um leve tremelicar que balançou a cama, e teve a testa beijada.

— Nunca.

Pela primeira vez desde que se mudou para aquele colégio, teve certeza de que estava no lugar certo.

.........

An eile: O outro

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