An Cathair ghríobháin
Eu não tinha certeza de quando havia começado a ouvir as vozes e ter os sonhos. Talvez por volta dos três ou quatro anos. As imagens, a princípio, eram por vezes coisas simples: terras esverdeadas em cadeias de montanhas e mar. Uma mulher com um arco e flecha correndo ao meu lado, um lindo sorriso no rosto. Cantos, danças e afeição. Raposas, pessoas com auras brilhantes e seres estranhos flutuando ao redor, e, principalmente, o rosto de um menino. Um menino pálido de cabelos escuros, correndo em minha direção e rindo de algo.
Havia tanto amor ali. Por ele.
Até os sonhos mudarem. Fogo, morte. Sangue. Dor. Monstros. Eu acordava de madrugada aos gritos, meus pais ou tio Naa me embalando. Aquela voz em minha cabeça tentando me consolar.
Nunca havia consolo.
E um dia, a dor me alcançou no mundo real também.
Aos sete anos.
Foi quando conheci meu primeiro monstro.
QUANDO SAI SE LEVANTOU NAQUELE SÁBADO PELA MANHÃ, sentiu a quebra da rotina que já estava se acostumando. Ele era sempre quem acordava Naruto, geralmente em meio a um pesadelo em que ele gritava, quase sempre em irlandês.
Não naquela manhã.
Ele se ergueu sonolento, sentindo o corpo estranhamente pesado. Havia dormido por toda a noite. Isso era raro, geralmente era bastante atento durante o sono e acordava fácil, daí vindo o motivo de sempre ter que arrancar Naruto da cama. Devia estar muito cansado na noite anterior.
Quando se preparou para ir acordar Naruto, de algum jeito que o irritasse e assim ele ganhasse o dia, o encontrou desperto. Ele estava sentado na cama com as costas na cabeceira, abraçando os joelhos, o queixo repousado neles enquanto olhava de forma vazia para a janela aberta, por onde passava uma brisa gelada matinal.
— Que milagre. — Falou, sem receber resposta enquanto se encaminhava ao banheiro. Essa falta de resmungo lhe deixou curioso, então se virou analisando melhor o outro. — Não está com frio?
Naruto estava apenas com uma boxer escura e uma camisa fina branca. Os cabelos loiros estavam ainda mais desarrumados, a barba por fazer deixava uma sombra desleixada em seu rosto.
— Ei!
— Estou bem. — A voz que saiu foi estranha, vazia.
Sentiu um arrepio lhe percorrer a espinha de forma involuntária. Deu de ombros e foi se preparar para mais uma manhã. Quando retornou ao quarto para liberar o banheiro e calçar os tênis, o encontrou na mesma posição.
— Não vai se arrumar?
Naruto negou com um gesto de cabeça.
— O que foi? — Perguntou curioso. — Levou um fora do Uchiha?
A única resposta a provocação foi o olhar de soslaio. Sai se assustou ao ver os olhos sempre tão cheios de emoção, vazios. Havia olheiras em seu rosto e um tom avermelhado e inchado, geralmente visto em quem havia chorado.
Ele parecia tão horrível que ficou sem reação.
— Me deixa em paz. — A voz saiu baixa.
Aquilo não havia graça alguma. Sai experimentou um senso de preocupação até então desconhecido pelo colega de quarto.
— Eu posso ficar, se você...
— Eu quero ficar sozinho. — Naruto o interrompeu, mudando de posição e se deitando na cama, virando as costas para o colega que ainda olhava da porta.
— Tudo bem. Eu aviso aos professores que você comeu pizza demais dada pelo Uchiha e teve uma indigestão.
Última tentativa de ter uma reação.
Naruto não respondeu nada, encolhido na mesma posição.
Suspirou e saiu.
.......................................................................................................................
Itachi se encontrou com o colega de quarto de Naruto no corredor. O garoto lhe sorriu falsamente, dando bom dia quando o parou.
— Onde está o Uzumaki?
— Ele não vai a aula hoje. — Foi a única coisa que o garoto respondeu. — Mais alguma coisa?
Itachi não se deu ao trabalho de responder, seguindo pelo caminho de onde o outro vinha. Seguindo pelo castelo na madrugada se deparara com Obito, quase batendo de cara com ele e entregando que circulava pela escola pelas passagens que ninguém mais sabia. O diretor vinha daquele corredor.
Itachi não havia dormido nada depois disso.
Ele quase havia, por diversas vezes durante a noite, retornado para verificar Naruto, mas havia se refreado. Não podia perder o controle da situação naquela altura. Ficara colado a Obito por anos, ganhando sua confiança. Não podia colocar tudo a perder, daquela vez, não teria outra chance de consertar as coisas.
Aquele fascínio absurdo era perigoso demais, se tornava protegê-lo ainda mais complicado. Estava tão intenso quanto na primeira vez que se conheceram, e isso não era nada bom. Ele via a forma como o tio olhava o adolescente. As coisas estavam indo muito rápido e em direção perigosa.
Bateu na porta o chamando, sem resposta. Girou a maçaneta e ela estava destrancada. Entrou devagar e um frio gelado tomava conta do quarto. Lá fora caia uma chuva fina. Pela direção do vento, estava entrando pela janela aberta, as cortinas balançando. Procurou com o olhar e viu a forma pequena deitado na cama, de costas para a porta, um pouco encolhido.
Se mexeu fechando a janela, o quarto ficando mais na penumbra.
— Sai, eu já disse para cair fora. — Ouviu a voz sussurrada, um tanto abafada e rouca demais. Ele nem mesmo se virara para o olhar. Caminhou até a cama e se sentou perto dos pés do outro, o olhando. Tocou de leve em seu tornozelo.
— Você está gelado.
Sentiu que ele estremeceu ao ouvir sua voz, se sentando tão depressa que se não fosse seu reflexo teria levado um chute no rosto.
Os olhos azuis o encararam na penumbra do quarto, sentado sob os calcanhares na cama. Não conseguiu ler muito neles, mas claramente havia algo de errado. Estavam sem brilho algum quando se desviaram dos seus e ele só conseguiu ver o perfil sombreado, a silhueta olhando para a janela onde o barulho da chuva aumentava.
— Por que não foi a aula?
Perguntou após segundos de silêncio. E definitivamente havia algo de errado. Ele não o xingara, ou se erguera da cama. Apenas ficava olhando para a janela como se ele não estivesse ali.
— Ele te mandou aqui? — Ele sussurrou sem lhe dar resposta alguma.
— Quem?
— Você sabe muito bem quem, Uchiha. — O garoto sibilou, finalmente tendo alguma reação, virando o rosto para ele. Novamente só via a silhueta do rosto pequeno e dos cabelos. Além dos grandes olhos azuis, arredios e desconfiados. — Você é um cachorrinho dele, no fim das contas. Ele te mandou para ficar de olho em mim.
Não negou. Embora houvesse muita coisa por trás daquilo, que ele não estava pronto para ouvir ainda.
— Diga a ele que não vou fugir ou falar nada. — O garoto falou, a voz ainda baixa. — Mas que aquele maldito abra o olho. Ele não vai saber o que o atingiu.
— Dizer isso para mim não é inteligente. — Falou de forma suave e ouviu um rosnado raivoso. O viu puxar as pernas e as abraçar, escondendo o rosto.
Ele parecia tão perdido.
A silhueta de Itachi na escuridão dava a Naruto um certo desespero, por ser quase confortante. Ele não sabia se a razão disso era pela proximidade que o homem possuía com Sasuke, não conseguia entender os sentimentos mistos em relação a esse Uchiha. Tão pouco estava com cabeça para isso no momento.
Não estava bem. Estava perdendo o controle da situação. Não bastasse a situação de Obito, agora tendo aquele maldito jogo com a vida de sua família metida nisso, ainda aqueles malditos sonhos... Não estava suportando, estava chegando a um limite.
Respirou devagar, fechando os olhos, tentando raciocinar melhor. Ele precisava respirar e pensar.
Estava na mão de Obito no momento. Ele podia fazer o que quisesse, e isso estava o deixando apavorado. Ele podia matá-lo, mas a julgar pelo o que ele tentara na madrugada, não era bem aquilo que ele queria. E Naruto não sabia o que era pior. Ao menos se morresse, todos estariam seguros. Talvez. Nem isso tinha certeza.
Se encolheu mais, enfiando as unhas na própria pele.
"Sozinho. Estou sozinho dessa vez."
Levou um susto quando sentiu uma mão gelada nas suas, puxando de sua carne que ainda apertava. Praticamente pulou para longe, se levantando. As mãos eram iguais. As de Sasuke, as de Obito.
Tudo se misturava em sua cabeça. E não sabia direito o que era bom ou ruim.
Eram familiares demais.
— Segura firme, Ian!
Uma voz grave gritou em sua cabeça. Era a voz de Itachi. Era o rosto de Itachi, o mesmo. Os cabelos curtos agora, um sorriso leve e encorajador, com a mão estendida enquanto ele se segurava com força subindo um muro de pedra. Atrás de si, uma casa de pedra se erguia majestosa. Abaixo, havia um barulho ensurdecedor de cães tentando lhe pegar os calcanhares enquanto escalava, amedrontado.
— Não alcanço! — Sibilou seguro em um declive enquanto a outra mão estava estendida.
— Claro que sim! — Em um esforço, sentiu a palma gelada contra a sua, o puxando para cima, deixando o perigo para trás enquanto caiam do outro lado em um gramado fofo.
Seu coração estava quase saindo do peito pelo susto. Ainda conseguia ouvir o barulho dos cães. Repentinamente, o barulho foi suplantado por uma risada baixa não contida. Virou a cabeça para o lado, ainda deitado de braços abertos na grama respirando depressa e viu o perfil do garoto velho olhando para o céu e rindo.
— Não tem graça! Aquele velho maluco soltou os cães em mim!
Falou indignado, pegando uma das maçãs que estavam roubando e jogando no rapaz. O loirinho se ergueu irritado e começou a catar as frutas que havia derrubado na queda, as jogando no garoto mais velho que apenas ria mais da ira do adolescente. As faces deles estavam coradas e sua roupa suja de lama, sua calça havia rasgado onde um cão havia conseguido alcançar, os cabelos cacheados e loiros estavam negros de fuligem.
— Desculpe! Desculpe, Ian! — O rapaz exclamou, tentando se controlar. O outro parou, apenas para virar a cara suja com uma expressão que deveria ser intimidadora, pegando as maçãs no chão, antes que os cães aparecessem por ali. — É só que você parece muito uma raposa.
Isso o fez parar e o olhar confuso e curioso, a raiva um pouco esquecida.
— Um filhote de raposa, fuçando tudo. Até o pavor de cães você tem. — Ele acusou divertido e o loiro se controlou para não rir, virando o rosto. Ainda assim, era visível a bochecha corada levantada quando virou de perfil.
– Deixe de devanear, Pierre. Vamos logo com isso.
A visão sumiu e sentiu o desespero aumentar, uma dor pulsante em seu coração ao ouvir o nome Pierre. Puxou os cabelos com força.
— Pare! — Pediu com os olhos fechados. Não queria ver aquelas coisas. — Por favor.
Para sua surpresa, mãos voltaram a tocar as suas, as mesmas mãos geladas, as segurando com força. Foi abraçado de forma tão repentina que por segundos paralisou, os olhos azuis se abrindo arregalados.
Começou a se debater, tentando empurrar Itachi, mas ele não se moveu. Era como empurrar uma parede. Uma mão estava nas suas costas, a outra na sua nuca, sua cabeça segura contra o peito dele.
Itachi o abraçando era estranho por vários motivos: Não se conheciam. Ele era um espião de Obito. Era irmão de Sasuke. E porque gostou. Sentiu a mesma sensação de segurança da mão na visão. E isso não era só estranho, era assustador.
Itachi começou a murmurar baixo em irlandês, a voz vibrando em seu peito. Não era diferente do que seu daídi fazia quando tinha um ataque, então talvez por isso funcionou tão bem. Sua respiração foi se acalmando, seguindo a respiração do outro, ritmada, sentindo a vibração da voz. Os segundos viraram minutos sem que saíssem da posição.
— Seus braços...
O tom de voz dele estava triste ao dizer isso, mas ele não perguntou sobre a causa. Naruto sabia que estava uma bagunça, a pele avermelhada e ferida onde havia passado a madrugada se arranhando ou se esfregando no banheiro. Itachi deu um suspiro e Naruto encolheu mais, envergonhado da sua fraqueza.
— Ele te tocou?
Ele não precisava elaborar de quem estava falando.
— Ele... tentou.
Os braços ao seu redor o apertaram com mais força. Era tão confuso, se sentia quase... seguro daquele jeito. Há quanto tempo alguém não lhe abraçava assim? O confortava dessa forma?
Eu sou um idiota. Pensou tristemente. Estava confiando na primeira pessoa que lhe confortava naquela bagunça? Pensou em empurrar Itachi novamente, só por isso, mas estava cansado demais.
— Eu não estou contra você. — A voz de Itachi o surpreendeu, perto do seu ouvido, baixa e cadenciada. — Só posso lhe falar isso. Por mais que eu possa vir a parecer que não, mas estou do seu lado. Só peço que confie.
Demorou a responder.
Precisa de um aliado
A voz foi tão repentina em sua mente que estremeceu. Ela parecia mais forte, firme. A ouvia com mais clareza. Conseguia entender que havia hesitação, mas resignação com a situação em seu tom.
Estou surtando, definitivamente. Pensou em desespero.
Fechou os olhos e ponderou. Ele faria de tudo para não se sentir mais sozinho enfrentando aquela bagunça. Porque de nenhuma maneira ele arrastaria Gaara, a pessoa em que mais confiava ali, nisso. E Sasuke muito menos, que já estava metido naquela lama sem nem mesmo saber, não precisava o afundar ainda mais.
Só lhe restava uma pessoa. Pelo menos Itachi realmente podia o ajudar.
Se não terminasse de ferrá-lo.
Ainda assim, assentiu com um sussurro baixo: — 'kay.
Itachi o soltou de forma quase relutante, suas mãos grandes esfregando seus braços, lhe esquentando com o atrito.
— Agora vista algo. Vamos indo.
— Eu não vou para a aula. — Cortou se separando, o afastando devagar.
— Não disse que ia. Parou de chover. Vou levá-lo a um lugar.
Vá com ele. Mas fique de olhos bem abertos.
Como se ele não fosse já fazer isso.
.................................................................................................................................
Itachi não cansava de olhar para Naruto. Agora percebia que ele estava errado em dizer que ele era igual a primeira vez em que o viu. Naruto não tinha muito de Aeron nele.
Era algo que podia perceber com fundamento. Afinal, lembrava daquele dia, como se não houvesse acontecido há centenas de anos atrás. Sempre havia sido assim. Sua mente armazenava todas as memórias. Em algum momento da vida, elas apenas surgiam como se sempre estivessem lá: todo o conhecimento, de tudo o que acontecera, claro como um filme, como uma voz suave lhe contanto toda aquela história. Eles eram quatro lados de uma história trágica e absurda. Quatro peças, brinquedos nas mãos dos deuses.
Seus olhos caíram no garoto, que caminhava ao seu lado enquanto saiam dos limites do castelo por dentro de uma das passagens secretas. Havia as ensinado para ele na última meia, enquanto ele agia como uma criança curiosa, perguntando, mesmo que ainda aparentasse certa desconfiança com sua presença. E não podia julgá-lo, realmente.
Era como se ele soubesse, de algum modo. Daquela vez ele não era completamente ignorante do que acontecia. Ele via pela forma como ele o olhava, e a Sasuke. A forma como ele agira ao ver Obito naquele auditório pela primeira vez. Ele sabia, só não sabia o quanto ele sabia.
E novamente se pegou observando as diferenças e semelhanças. A aparência dele era sempre quase a mesma. A dos quatro sempre era, como um jogo doentio. Fazia parte do pacto, mesmo que ele pudesse reconhecê-los de qualquer forma, aquilo facilitava. Ainda assim, havia pequenas diferenças de épocas, etnias, do ambiente em que cresciam a cada vez. Às vezes a cor dos olhos, ou mudanças sutis na estrutura do rosto e altura.
Nesse quesito ele havia se tornado o mais próximo do que qualquer um antes dele. Mesmo que não exatamente algo, podia ver no rosto dele que em alguns anos ele cresceria para se tornar extremamente parecido com sua aparência da primeira vez. Via isso nos traços suaves, a boca larga e bem-feita que podia colocar qualquer um de joelhos com um sorriso. Nos olhos expressivos e aquela aura que o diferenciava dos demais, ofuscante. Não era natural.
Lure. Um chamado.
Esse era o termo. Algo feito especialmente para atrair, ofuscar, seduzir. Ele não o possuía todas as vezes, mas sempre que o tinha, eram suas existências mais miseráveis.
Se perguntava se a razão disso era que, pela primeira vez, ele era descendente do mesmo país de origem primordial. Por isso os traços eram tão parecidos. Ele até mesmo lembrava de anos atrás ter visto Minato Namikaze e se assustado pelas semelhanças, de por alguns segundos ter pensando que Namikaze era ele dessa vez, até perceber que não havia conexão alguma.
Enquanto a aparência era assustadoramente similar, a personalidade de Naruto, no entanto, era completamente diferente dessa vez.
Ele era mais selvagem e arisco do que o frio e calmo Aeron. Excêntrico e caótico. Ele parecia mais instável e desconfiado, com algo quase...de insanidade em algumas das suas ações. Enquanto Aeron era metódico, Naruto era imprevisível.
E ainda assim, havia um brilho curioso e inocente nos olhos dele. A forma como ele agia ao redor do seu irmão, dos outros estudantes. Naruto era bom. E isso era uma prova de resiliência tremenda, diante do que sabia que ele havia passado na vida até então. A vida não tinha o quebrado completamente ainda.
Aeron teria sido assim? Pensou, o olhando de soslaio. Caso a tragédia não tivesse o tirado do seu povo?
Naruto não era Aeron. Ele era diferente de todos os que vieram antes, mas parecia ter algo de todos eles também. Ele tinha o ar inocente que havia destruído Isaak, a excentricidade genial de Steve, a bondade que havia causado a morte de Rodolfo. Podia ver traços da lealdade destruidora de Castiel e a teimosia de Ian.
E mais que tudo, ele era tão perigoso como Aeron havia sido. Por toda a bondade que podia ver nele, o potencial de destruição também era bem visível. Naruto havia sido treinado pelo avô desde muito cedo, que por toda a persona que havia cultivado de um velho sábio, na juventude era conhecido por ser letal, um mestre da espionagem e dos disfarces. Naruto era um bom mentiroso, tão bom que boa parte do tempo se perguntava se estava vendo o verdadeiro Naruto ali, o quão sincero ele estava sendo. Isso o tornava imprevisível.
Isso o tornava muito perigoso.
Obito devia ter percebido o mesmo, ou não estaria o forçando tanto daquela forma. Ele devia estar com medo dele.
E Itachi acreditava que Obito estava certo em temer.
— Uchiha.
Acordou dos devaneios quando o garoto parou. Eles estavam perto do limite da floresta, na parte de trás da zona leste do castelo, onde quase ninguém andava. Haviam saído pela passagem que havia por trás da tapeçaria no corredor do quarto de Naruto, a mesma que havia usado na noite anterior, e havia percorrido metade das alas por ela até alcançar o lado de fora longe das câmeras. Agora se viam ainda dentro dos muros cobertos de trepadeiras verdes e musgos, indo em direção a um arco antigo que o Uzumaki não vira em sua chegada, que levava a os jardins menos conhecidos.
Caia uma suave garoa e ambos usavam casacos com capuz, Itachi com as cores escuras de monitor, e o outro o cinza da escola. Ainda assim seu cabelo se encontrava um pouco molhado. Itachi queria se apressar e entrarem no arco onde estariam mais protegidos da chuva, até levá-lo onde queria. Porém, lá estava o loiro parado na chuva o olhando sério, parecendo não querer andar mais nenhum passo.
Itachi suspirou.
A teimosia do Ian, realmente. Pensou com certa tristeza, tentando não ver na figura ali um outro garoto.
Arqueou uma sobrancelha de forma sugestiva. E novamente havia aquela postura de quase fuga do adolescente, as sobrancelhas loiras franzidas, olhos azuis extremamente desconfiados.
Uma raposa. Quase conseguia rir com aquilo, se não sentisse uma dor fantasma ao pensar nisso também. Tinha que parar de ver fantasmas em Naruto. Naruto merecia mais do que isso.
— Para onde está me levando?
— Isso é uma surpresa. Eu já disse. — Falou com um sorriso suave. — Sou seu tutor, deveria confiar em mim.
Naruto revirou os olhos e cruzou os braços.
— Eu vou dizer apenas uma vez Uchiha, se estiver tentando me levar para algum lugar da floresta e me estuprar, eu vou arrancar seu pênis e te foder com ele.
Itachi piscou com isso, e não reprimiu uma risada abafada enquanto balançava a cabeça e continuava a andar, sabendo que o outro o seguiria pela curiosidade.
Dito e feito.
— Não ria! Não tem graça! — Ainda assim ele estava o acompanhando.
— Prometo não tentar nada do tipo. Não quero ter nada enfiado em mim, Naruto.
— Uzumaki, para você.
— E você vai gostar do lugar, Naruto.
O loirinho fez um bico irritado e ficou calado enquanto andavam. Passou a ignorar Itachi, irritado, mas curioso demais para não querer ver o que raios ele queria tanto mostrar.
Tinha que admitir que ele o ter ensinado aquela passagem havia sido o máximo, ele bem poderia usá-la futuramente.
Não confiava totalmente em Itachi ainda, ao menos queria acreditar nisso, mas era como se fosse impelido a se sentir quase confortável ao lado do outro. De alguma forma, ele sabia que Itachi era sincero e não o machucaria. Mas que ele poderia ser quisesse.
Ainda assim, tinha que estar pronto se estivesse errado.
Cautela nunca é demais, ainda mais com esses Uchihas esquisitos.
Assentiu para si mesmo com o devaneio.
Ainda mais porque parece que eles têm a mania de querer foder você. Ou com você.
É, parece que sua voz de insanidade estava ficando mais clara. E mais irritante também. Torceu o nariz para esse pensamento e bateu em algo. Nas costas de Itachi que havia parado. Já estava pronto para xingá-lo e se soltar das mãos dele que o seguraram para não ir de bunda no chão quando viu onde estava.
Era um imenso labirinto, e apesar de odiar verde desde que o avô morrera (verde sempre lembrava o tempo que ele passava com ele na floresta quando criança), Naruto se viu gostando daquilo. Ficava entre o muro de trepadeiras e a parede leste do castelo coberta de musgos. Era imenso e no estilo dos castelos da Inglaterra que lembrava nos livros de história. Não conseguia ver seu fim, pois os muros que o delimitavam eram muito altos.
Era todo verde devido as mesmas trepadeiras do muro, e em alguns cantos com flores brancas e amarelas. Ainda assim, ele parecia um tanto agourento e lhe trazia uma sensação de familiaridade estranha. O final do arco que andavam davam para sua entrada, nela havia igualmente um arco de pedra que parecia velho e castigado pela umidade, onde havia algo escrito em latim.
— O labirinto do medo. —Itachi respondeu sua pergunta muda. — Ele existe desde que o colégio ainda era um castelo. Eles proibiram a entrada dos alunos porque alguns resolviam desafiar outros a entrar e se perdiam lá dentro. Com o tempo, muitos nem sabem que ele existe. Eu o conheci por acaso.
O garoto assentiu e o seguiu com o olhar enquanto ele se encaminhava para a entrada. Ficou mexendo os pés receoso e Itachi virou o olhando com um sorriso suave.
— Eu te desafio, Naruto Uzumaki.
................................................................................................................................
Eles caminhavam e Naruto apenas olhava com receio sempre que eles viraram em um entroncamento, cada vez mais longe da entrada. Uma névoa cobria o local devido ao clima frio tornando difícil ele enxergar o Uchiha, que caminhava rápido a sua frente. Ainda assim, se sentia excitado pelo desafio e quando Itachi sumiu durante uma distração sua, tentou não entrar em pânico.
Ótimo, ele queria me jogar aqui e me deixar morrer de fome ou algo assim.
Pensou, olhando ao redor tentando ouvir algum som enquanto voltava, tentando ter alguma noção se estava indo para frente ou para trás. Tocou a parede, a seguindo, quando repentinamente sentiu a já conhecida tontura. Seus olhos se desfocaram e se segurou na parede, ainda assim escorregou para o chão de folhas. se sentando ofegante enquanto as imagens tomavam sua cabeça.
Sussurros.
— Castiel...
Aquela voz era...Sasuke. Era idêntica. Fechou os olhos com força e se viu em um labirinto parecido com aquele. Outra época, outro lugar, mas o sentimento era angustiante.
— Masa... Masaru... — Deixou escapar mais um suspiro, sentindo ser impulsionado mais para cima, arranhando suas costas no muro que demarcava o fim daquele corredor do labirinto. Duas mãos agarradas a suas nádegas possessivamente, enquanto tinha o pescoço abusado. Enroscou seus braços no pescoço do outro, assim como fez com as pernas que envolveram a cintura, buscando equilíbrio. – Masaru...
Não se conteve e abaixou o rosto mordendo a orelha dele, que soltou uma exclamação levantando o rosto da curvatura de seu pescoço.
— Castiel, não me... Urgh! – Um gemido. Sorriu e se esfregou nele, criando um atrito inevitável entre ambos. – Tu não sabes com quem estás mexendo...
— Tu que não sabes... – Rebolou novamente, emaranhando seus dedos nos cabelos da nuca dele, o puxando para baixo. O obrigando a levantar o rosto, encarando os belos e brilhantes olhos negros. – ...Quem provocas, Masaru.
Tomou a boca dele com ferocidade, mordendo o lábio inferior. Masaru tomou a dominância rapidamente, enquanto sugava o lábio do outro o segurando entre os dentes. O sentir erguer o joelho, o firmando, enquanto a mão direita vagava pelo peitoral desnudo, rapidamente, descendo até a calça social, e sem parar o beijo já sem fôlego, desabotoou o cinto.
Ofegou quando o beijo cessou, o ofego logo sendo substituído pelo longo gemido por ter o membro agarrado pela mão de Masaru. Fechou os olhos, entreabrindo a boca, enquanto tinha novamente o pescoço mordido e lambido. Ele começou uma masturbação lenta, mas intensamente prazerosa. Era incrível como Masaru sempre conseguia fazer tais tão perfeitamente.
— Pa—pare! – murmurou debilmente ao ter o ombro mordido e a massagem mais rápida. – Pare! Masaru! – Seu tom se elevou e agarrou-o novamente pelos cabelos dolorosamente, o ouvindo soltar um gemido dolorido.
O sentiu atacar sua boca e sorriu divertido.
O empurrou, cortando o beijo, saindo do amparo do outro rapaz, que o olhou surpreso. Sorriu, novamente o empurrando, só que agora com mais força, praticamente o jogando no chão.
Seu sorriso se tornou ainda mais malicioso, quando o olhar confuso do outro se tornou feroz em seu corpo enquanto começava a desfazer da calça social cinza juntamente com a peça intima. Sentiu o calor que sentia no corpo se dissipar por momentos junto a brisa suave da tarde, mas voltar com força total ao fitar os olhos escuros o percorrendo.
Ele lembrava quando Masaru era respeitoso e em controle, tão próprio e educado. Não havia nada do velho Masaru no momento ali, na forma quase febril com que o fitava, um sorriso livre em seu rosto.
Castiel sorriu suavemente por segundos. Ele o preferia assim.
— Paciência. – Disse, com um o olhar sedutor, enquanto se abaixava, engatinhando de maneira sensual sobre a grama até o mais velho. — Paciência pode ser recompensadora, não acha?
Viu-o abrir um sorriso nada casto, vendo-o o observar em quase veneração. Parou, quando já estava como corpo sobre o dele, os rostos a centímetros de distância. Levou a mão esquerda ao peito dele, deslizando pelo abdômen reto e macio, até ser barrado pela calça. Começando a desabotoá-la devagar, sem nunca desviarem o olhar.
Castiel se lembrava de um tempo em que era próprio também. Inocente, distante das emoções que agora o golpeavam enquanto fitava os olhos nos seus. Como um pássaro em uma gaiola de ouro, Masaru foi a primeira sombra de liberdade que havia conquistado. Uma liberdade perigosa, que causaria muita dor se fossem descobertos, mas uma liberdade que não iria largar.
Uma vez livre, ele não voltaria mais para a gaiola.
Se sentou no colo quente, pele contra pele. Observou sua mão pálida na pele mais escura, sentindo o calor entre seus dedos, o prazer subindo por sua barriga enquanto se movia devagar, roçando contra ele.
Não, Castiel não voltaria para a gaiola de ouro.
— Castiel... Hum... Eu posso entrar dentro de ti?
Se inclinou, o beijando. Segurando sua liberdade com força, para logo se afastar, o fitando com desejo, luxuria e amor. Sua voz saiu em um sussurro, suave e quente, um sorriso preguiçoso nos lábios.
— Sim, bem fundo.
Naruto piscou, com o rosto quente, a expressão horrorizada.
— Que porra foi essa!
Sussurrou histérico, as cenas na cabeça, o rosto corado e, por Deus...
Eu não acredito que estou excitado!
Olhou envergonhado para sua situação, dando graças Itachi ter sumido mesmo. Era humilhante. Ele tinha aquela visão maluca e ficava...animadinho.
Se levar em conta que você estava se vendo sendo quase fodido, é perdoável.
Ele não estava sendo quase fodido! Era o tal de Castiel!
Você bem queria que fosse você.
— Claro que não! — Gemeu frustrado ainda recostado na parede, já de pé.
Fale isso para sua ereção, meu amigo.
— Eu não acredito que estou discutindo com a voz estranha da minha insanidade.
E perdendo ainda.
Gemeu aborrecido e iria replicar quando outra voz lhe alcançou.
— O que você sabe sobre como sair de um labirinto?
A voz de Itachi o fez se recompor. Ela vinha do outro lado da parede onde estava, e só esperava que ele não tivesse ouvido nada e não o achasse louco.
— Novelo de lã? — Falou ainda ofegante, mas passando a voltar a andar, seguindo a voz do outro lado e tentando esquentar a visão um tanto...comprometedora de poucos minutos.
— Pode ser. — O outro falou abafado pela parede enquanto o Uzumaki tentava escutá-lo. — Se você tiver uma garota bonita para segurar a outra ponta. Sem asas também para sair voando como Ícaro.
— Droga, era minha outra sugestão. — Rebateu sarcasticamente, tentando acompanhar o outro que virava, se vendo em um entroncamento e seguindo a sua voz.
— Claro que era. — Itachi disse de forma simpática. — O que está fazendo agora?
— Seguindo sua voz.
— E antes?
Pensou por um instante que ele falava da visão e corou, mas então respondeu hesitante.
— Eu estava seguindo a parede. Com a mão.
— Muito bem. Labirintos são feitos para desorientar. Quase sempre, basta você andar em círculos mantendo uma mão em contato constante com a parede.
Naruto pensou.
— Parece ser muito fácil apenas isso. — Falou com a testa franzida.
— Você está certo. Labirintos são construções tridimensionais, e alguns são desenhados para burlar essa técnica. Então tem uma regra, chamada Tremaux.
— Tremaux. — Repetiu interessado.
Parecia com os desafios que seu pai sempre fazia para si com seu avô quando era criança. Eles sempre se utilizavam disso, jogos, brincadeiras para fazê-lo ter interesse em algo sério. Naruto sempre pensava que estava brincando, quando na verdade estava treinando para se defender.
Devido a posição que seu pai tinha no governo, e ao fato que ele atraia tantos problemas para si devido em boa parte a sua aparência, desde pequeno que lhe ensinaram como se defender e a pensar rápido em situações difíceis, armar planos e distrações. A sair de problemas.
— Você vê: Em cada entroncamento, você escolhe uma rota qualquer. Então volta apenas se chegar a um beco sem saída, ou se passar por algum entroncamento em que já havia passado antes.
Naruto mordeu o lábio seguindo as palavras curioso, ainda andando.
— Se você chegar a um entroncamento antigo pelo caminho que tomou, deve fazer outro trajeto. Se não houver outro meio, pegue um caminho que já fez, mas não faça isso mais que uma vez, ou vai ficar rodando em círculos.
— Isso funciona mesmo?
Perguntou desconfiado e ouviu a risada do outro.
— Veja você mesmo.
Então a voz sumiu.
— Maldito!
Naruto respirou fundo e começou a seguir as instruções, tentando não explodir de impaciência.
Minutos depois ele chegou ao meio do grande labirinto e ofegou. Havia uma fonte de pedra antiga e tão judiada pela umidade e musgo quanto o arco, mas ainda assim era linda. Era o desenho de uma fada de pedra, os olhos vazios no lugar de serem encantadores, eram assustadores. Como toda fada era para Naruto de qualquer forma, desde que o avô lhe falara sobre elas.
— Eu detesto fadas. — falou alto.
— Eu também.
Virou de um susto e encontrou Itachi sentado em um banco de pedra que não havia visto ali, as pernas longas no chão esticadas e encarando a estátua pensativo, até virar o rosto para si e sorrir de leve.
— Parabéns, você conseguiu.
— Eu não sai ainda. — Bufou, indo se sentar perto do outro e ficaram em silêncio, apenas olhando para a fada, na opinião de Naruto, muito macabra.
Era bom ficar perto de Itachi, e percebeu isso ao ver que comparado a quando acordou, se encontrava leve. Era parecido com o que sentia com Sasuke, podia esquecer os problemas. Mas enquanto Itachi o acalmava, Sasuke o agitava, o deixava nas pontas dos pés com suas reviravoltas.
Talvez fosse pela idade? Sasuke por volta de 18 anos, Itachi devia ser no mínimo dois ou três anos mais velho do que o irmão. Naruto faria vinte anos no final do ano. Mais velho do que todos os alunos do seu ano, mais velho do que Sasuke. Se não fosse as expulsões seguidas, os anos em que havia ficado longe da escola, ele já estaria na universidade. Isso o tornava mais próximo de Itachi do que dos outros. Ele se sentia bem mais velho do que seus colegas boa parte do tempo, mesmo que em dígitos a diferença não fosse tão grande.
Olhou de soslaio para o Uchiha. Ele não sabia o que Itachi estava fazendo ainda naquele colégio. Alguns dos vencedores eram ainda mais velhos do que Itachi. Tinha medo de saber o que acontecia depois do jogo. Eles nunca se livravam daquilo?
Em outra situação, se a vida não fosse tão fodida, talvez eles tivessem se esbarrado na universidade. Não havia mais do que um ano de diferença entre os dois, eles podiam ter sido amigos lá fora. Itachi tinha esse ar calmo e paciente, afinal. Como Gaara, como Shikamaru. Um balanceamento perfeito para sua agitação.
Não fique relaxado demais perto dele.
Você é uma voz da insanidade bem desconfiada.
— Naruto.
Virou para o outro, curioso com o tom de voz sério.
— Eu sei que você está no jogo.
Arregalou os olhos azuis e abriu a boca surpreendido pelo rumo da conversa, mas antes que falasse algo Itachi o parou com um gesto de mão.
— Eu sou um vencedor, nós sempre sabemos quem são os participantes.
— Então você sabe o que acontece com quem perde. — Naruto falou duro, se erguendo do banco e virando as costas para o outro, sem querer olhá-lo.
Quase se esquecera de quem Itachi era de fato.
Eu disse
Itachi suspirou.
— Obito falou.
— Ele disse que ia matar minha família se eu perdesse. —Sussurou, fechando os punhos, a voz furiosa. — E disse que mataria Sasuke.
Itachi ficou calado e Naruto se virou encontrando seu olhar neutro.
— Você não diz nada?
— Ele seria capaz de fazer isso.
— Sasuke é sobrinho dele! — Rebateu frustrado. Queria que Itachi falasse que era mentira, que Obito não faria isso, que o que contou sobre o jogo era lorota ou algo assim. Estava desesperado por isso, e Itachi via nos olhos azuis.
— Você é mais importante para ele do que Sasuke ou qualquer um, Naruto. Ele faria isso, ele mataria qualquer um para não perder você.
Abriu a boca estarrecido e frustrado. Então balançou a cabeça e voltou a sentar ao lado do outro, colocando as mãos na cabeça.
— Ele é louco. E eu estou enlouquecendo também.
Sentiu as mãos nas suas costas, estava frágil demais para tirá-las, apenas se deixou acalmar.
— Por que ele é tão obcecado por mim? Você sabe, não sabe, Itachi?
Perguntou baixo, sem olhá-lo.
— Sim, eu sei. — Ergueu a cabeça, os olhos azuis o encarando. — Mas não posso contar agora.
— Por que diabos...
— Mas posso lhe ajudar com o jogo.
Naruto se calou e voltou a abaixar a cabeça.
— E matar mais seis pessoas... O que aconteceu com os alunos que jogaram com você?
Itachi não desviou os olhos dos azuis inquisidores.
— Você sabe o que aconteceu. Você viu na cabana.
Ficou tenso de imediato. Então Itachi sabia que ele estava na cabana, ele sabia o que tinha acontecido, talvez ele até estivesse lá naquela noite. Como podia confiar em Itachi daquela forma? Isso ia contra todos os seus instintos. Nem mesmo sua voz da insanidade confiava em Itachi. Estava para mandá-lo ir se foder e ponto final.
Então algo chamou sua atenção.
— Seu jogo foi há um ano.
— Dois anos. Neji Hyuuga venceu depois de mim.
Naruto pausou, alocando essa informação.
— Os...corpos na cabana, eram do seu ano?
Itachi assentiu devagar, a expressão indecifrável: — Nem sempre eles morrem no fim do jogo. Às vezes eles são úteis por algum tempo.
Naruto queria perguntar que tipo de utilidade, mas tinha certeza de que não queria ouvir a resposta.
— Eu não entendo...quem é o responsável por isso?
Itachi não lhe respondeu e Naruto sabia que não teria uma resposta. Ele recebera uma proposta.
— Eu não quero que os outros morram.
— Vamos tentar parar o jogo antes do fim.
Isso chamou a atenção do garoto que se retesou.
— Esse jogo, se depender de mim e de outras pessoas que estão me ajudando, será o último, Naruto. Mas eu quero manter você vivo até lá, e quem eu puder. Mas não vou conseguir proteger todos. Alguém vai morrer.
Naruto absorveu isso. Ele não queria ser responsável pela morte de ninguém, mas se morresse, sua família, Gaara e Sasuke...
— Tudo bem... — Disse em uma voz baixinha e Itachi que até então estivera tenso relaxou. — Como faremos isso?
— No dia da convocação os vencedores estarão lá. Eu usarei uma máscara de corvo. Eu vou estar por lá em quase todas as provas, e vou ajudá-lo sempre que puder a sair delas, de alguma forma. Só preciso que confie em mim, Naruto e faça o que eu mandar. Consegue fazer isso?
Naruto não sabia se conseguiria, e apesar de ele ter assentido, Itachi sabia que ele não confiava de todo nele.
Naruto, no fim das contas, não obedecia mesmo a ninguém, e ele sabia disso. Só esperava que isso não terminasse como das outras vezes, como ele tendo que ver os corpos do seu melhor amigo e seu irmão a seus pés.
.................................................................................................................................
Sasuke não prestava a mínima atenção no que o professor Asuma falava. Seus olhos vagavam para a chuva que caia do lado de fora pela janela. A cadeira de Naruto ao lado do ruivo estava vazia. A justificativa dada pelo colega de quarto havia sido uma indisposição.
Ele queria agarrar o pescoço de Sai e arrancar outras informações, angustiado. A sensação da madrugada que Naruto chorava não saia da sua cabeça. Ele esperara o encontrar pela manhã para ver algo no rosto do outro, mas o plano fora logrado pela ausência do garoto mais velho.
E a angústia não sumia, só aumentava no decorrer do dia. Eles teriam aulas até o meio-dia no sábado, mas Naruto não comparecera a nenhuma, e nem dera entrada na enfermaria, como pode constatar ao passar por lá "por acaso."
Sasuke não sabia o que fazer. O que pensar. Como agir com Naruto. Ele nunca havia se interessado por um cara antes, ou em ninguém, e logo um tão complicado como aquela criatura estranha.
Saíra da academia já a tarde e voltava pelo campo de treinamento quando finalmente viu Naruto. Reconheceu de longe os cabelos dourados fugindo do capuz, enquanto ele corria da chuva. O que o fez congelar no lugar, no entanto, foi que ao lado dele vinha um sujeito mais alto, também de capuz.
Eles vinham do limite da floresta, e não os teria visto se não estivesse passando pela aquela área deserta. Tentou reconhecer o sujeito, embora desconfiasse de quem fosse. Em um momento o braço do loiro foi seguro e ele parou dizendo algo, então o outro removeu o próprio casaco, o colocando em Naruto. Sasuke viu o rosto do irmão de longe, os cabelos longos no rabo de cavalo ensopado, enquanto sorria.
Itachi, sorrindo.
E o pior de tudo foi ver Naruto se encolher satisfeito no casaco de Itachi, corado pela corrida ou algo mais, aceitar sua mão enquanto quase escorregava na lama, os dois sumindo de sua vista em direção a área leste do colégio.
Sasuke estava com um sentimento que só conseguia pensar que fosse pura e simples ira.
Naruto e Itachi, juntos, saindo do que poderia bem ser a floresta quando ninguém havia os visto o dia inteiro.
Só podia ser. Não! Não isso! Eles não...
Largou o saco do equipamento e saiu em passos furiosos, pronto para encontrar o Uzumaki dentro do castelo quando ele fosse ao dormitório. Estava quase correndo pelos corredores quando esbarrou em alguém, caindo no chão.
Seu dia não podia ficar pior, devia ter feito algo de muito errado na vida.
— Ora Ora Sasu! Correndo assim, vai ganhar advertências...
Os olhos negros de Sasuke se encheram de raiva. Se ergueu sem pensar, pegando no colarinho engomado do tio e diretor, que pareceu mais divertido do que ameaçado. Para sorte, o corredor estava vazio, ainda assim se podia sentir a aura negra de fúria entre os dois.
— A culpa é sua! Você o colocou como tutor dele de propósito!
O homem o olhou surpreso e então sorriu controlado.
— Então, toda essa fúria é por conta do Uzumaki. Meu sobrinho se apaixonou. — O olhar do outro ficou perigoso e o adolescente o respondia com igual fervor, ainda que houvesse corado ao ouvir aquilo, tanto de raiva como de vergonha. — Não o culpo, ele é mesmo um sedutor. Imagino o que seu pai irá pensar ao saber que o filho mais novo anda fazendo essas coisas por suas costas.
Sasuke o soltou com raiva e cautela, o outro continuava sorrindo, os olhos ainda perigosos enquanto ajeitava o colarinho amassado.
— Não deveria perder tempo com esse garoto, seu pai diria. — O tio continuou. — Você não pensa no porquê daquele lindo e sedutor menino estar se aproximando de todos os Uchihas desse colégio desde que chegou?
Sasuke o olhou atordoado, caindo no veneno.
Obito sorria internamente. Sasuke sempre havia sido mais influenciável que Itachi.
Fácil, fácil demais.
— Você é muito ingênuo, Sasuke. — Suspirou com falso pesar se afastando e dando adeus. — Não sei o que seria desses meninos sem mim.
Sasuke não o ouvia mais, apenas ficava olhando para a parede, tremendo de raiva e confusão.
.............................................................................................................................
Naruto tinha um pequeno sorriso no rosto ao sair da entrada atrás da tapeçaria e ganhar o corredor vazio.
Odiava admitir o quanto podia se sentir melhor ao lado de Itachi, apesar da sensação intrínseca de mágoa que sentia dele sem entender. Itachi tinha a paciência de alguém que havia lidado com Sasuke por anos, o que não devia ser fácil. Toda aquela calma o fazia se sentir calmo também. Sentia-se seguro.
Saber que ele possivelmente estava do seu lado, que o ajudaria a passar por aquele maldito jogo, lhe dava uma pontada de esperança depois de todo aquele descontrole. Sabia que devia desconfiar dele, mas não conseguia, estava desesperado para se agarrar a algo que fosse. Ele queria acreditar, de verdade, que poderia sair dessa sem que as pessoas importantes para ele acabassem se ferindo.
Já era noite, e todos deviam estar no refeitório àquela hora, ou mesmo saindo dele. Havia perdido a hora enquanto ele continuava lhe mostrando mais passagens ao retornarem do labirinto. Havia comido qualquer coisa que o outro lhe dera, enquanto circulavam longe dos olhos alheios na área leste. Se fosse pego, estaria fodido. Mas já estava mesmo, então só aproveitou. Era fácil demais perder a hora com Itachi.
Apertou o passo no corredor vazio e agourento, seus passos ecoando pelas paredes, os cabelos úmidos da chuva salpicando ao lado de seu rosto começando a sentir frio e se agarrando mais ao casaco do Uchiha que vestia. Novamente sorriu.
Ele sempre odiara a sensação de alguém lhe protegendo, o fazia parecer frágil, era detestável, por isso sempre resolvera as coisas do seu jeito impulsivo. Como arrebentar a cara do professor de aritmética da escola anterior por aquele maldito tentar o beijar a força. O maldito achara que ele seria um alvo fácil, isolado como era de todos. Claro que seu pai nem imaginava que o motivo fora aquele, e nunca iria saber. Não precisava de proteção. Sempre pensava assim, nunca usar o nome de seu pai para se beneficiar ou se proteger.
No entanto, pela primeira vez na vida ele agradecia a sensação de que alguém tentava ajudá-lo. Ele precisava, não seria arrogante ao ponto de achar que não. Obito não era um professor de ensino médio ou um dos moleques que ele surrava quando o perturbavam. Ele poderia matar sua família. Saber que poderia contar com alguém que sabia disso, poder contar tudo, era um alívio.
Estava imerso em pensamento quando sentiu seu braço ser puxado de uma vez para dentro do armário de limpeza no corredor. Se virou em reflexo para socar o agressor, o coração acelerando, a adrenalina subindo em níveis elevados. Uma breve luta se sucedeu no escuro e ouviu um xingamento quando conseguiu acertar o desconhecido.
— Dobe!
Parou no ato, o punho levantado, e a luz se acendeu pendendo do teto empoeirado.
— S.sasuke. — Quase se xingou por gaguejar, se ajeitando de imediato confuso vendo o outro ali parado, recostado na porta que fechara, com o lábio machucado pelo soco que dera nele. Deu um passo para trás, a confusão logo sendo substituída pela raiva. — Merda, Uchiha! Você me assustou! O que pensa que...
Parou e engoliu em seco. O olhar de Sasuke estava assassino enquanto caminhava rapidamente em direção a ele o jogando na parede do armário apertado, as mãos agarrando seus braços contra o corpo enquanto se curvava para o olhar nos olhos. Ficou tão surpreso por todo aquele ódio direcionado a si que paralisou. Seu coração falhando uma batida.
— O que pensa que estava fazendo, Naruto? — A voz falou sibilada a centímetros do rosto assustado do garoto confuso.
— Do que você est...
— O que você estava fazendo com o Itachi, saindo do meio da floresta hn? — O interrompeu de um fôlego só. — Posso até adivinhar!
Naruto ficou pálido, o rosto do outro estava contorcido com raiva, o apertando de forma dolorosa. Sua cabeça bateu contra a parede e gemeu. Não conseguia reagir a toda aquela raiva de Sasuke.
De imediato lembrou do que havia acontecido no corredor quando havia saído da sala de Obito, de ter visto aquele sentimento no rosto do Uchiha mais novo.
De ter visto Sasuke como algo perigoso.
Sentiu os pelos da sua nunca se arrepiarem, suas pupilas dilataram, os olhos fixos no predador na sua frente.
— S.sasuke, me solta. — Pediu baixo, os olhos azuis transtornados.
— Eu devia ter adivinhado, você se aproximando de todos os Uchihas, não deve passar de um aproveitador... O que quer, hein? Recomendações para quando terminar a escola?
Naruto em outra situação poderia ter rido do absurdo disso. Será que Sasuke não sabia que seu pai comandava o pai dele? A última coisa que Naruto precisava era recomendações de Uchihas.
No momento, não havia diversão alguma, só pura mágoa diante da tirada do outro. Prendeu a respiração, o medo sendo substituído aos poucos por fúria.
— Usando um rostinho bonito para se promover aqui dentro. Agora diz, você está dando para ele, Naruto? Deixando ele te comer, talvez Obito também...
Sasuke continuava sua tirada, sem medir as palavras depois do que ouvira do tio. Queria apenas machucar como se sentia machucado. Em segundos Naruto havia se livrado da imobilização, rapidamente o chutando de forma violenta no espaço diminuto, o fazendo bater na porta do armário com um estrondo.
Sasuke ficou atordoado por segundos, apenas o instinto o livrando de um chute no estômago, segurando o joelho que havia se movido contra ele. Desviou, mas não conseguiu se livrar a tempo de sentir um apertão em sua clavícula que o colocou de joelhos. O ataque havia sido rápido e efetivo. Fitou olhos azuis lívidos nos seus, um soco vindo na direção do seu rosto.
Foi desviado, mas não por seu crédito. Naruto socou a porta do lado seu rosto e Sasuke prendeu a respiração ao ver que o local havia afundado.
— Nunca, ouviu, nunca fale comigo assim! — A voz de Naruto, lívida, baixa e furiosa o fez desviar o olhar do estrago na porta para os olhos azuis. — Você não passa de um bastardo mimado. Não sabe nada sobre mim. Se não crescer, vai ficar para sempre esse... essa pessoa odiável. Eu não suporto nem olhar para sua cara agora. — A voz falhou na última palavra.
Sasuke arregalou os olhos, sem saber o que dizer, finalmente calculando o que havia dito em sua raiva. Ele nunca havia se sentido tão furioso como naqueles últimos minutos, mas toda a raiva havia evaporado, as palavras de Naruto circulando em sua cabeça.
Obito havia feito aquilo de propósito, percebia.
Silêncio recaiu entre os dois no pequeno espaço.
Naruto o soltou, se recostando na parede oposta, parecendo exausto.
Os dois se encararam. Para Naruto, todo o alívio da tarde indo embora naqueles segundos do estouro. Estava quase acostumado a ouvir aquele tipo de coisa, elas nem mesmo o incomodavam mais. Sasuke dizer aquilo, no entanto, havia o machucado mais do que havia pensado ser possível e para seu horror estava quase chorando.
Mordeu o lábio se preparando para sair dali antes que desabasse outra vez. Praticamente pulou por cima do corpo do outro, que o olhava chocado.
— Naruto! Espera!
O ignorou, abrindo a porta e ganhando o corredor.
Correu sem rumo certo, os olhos embaçando enquanto limpava com a manga do casaco as lágrimas que já caiam. Desceu as escadarias sem saber onde estava e entrou no que parecia ser uma das bibliotecas, agora naquele horário já sem ninguém. Entrou ali ainda correndo, um soluço já escapando.
Parou apenas quando já estava atrás de uma das estantes na penumbra. Praticamente deslizou para o chão, abraçando-se. Não entendia como, mas aquilo o machucara mais do que qualquer coisa que se lembrava. Mais do que a chantagem de Obito, qualquer perigo, do que ter sido obrigado a vir para aquele lugar. E ali ele teve noção que a pessoa que mais poderia destruí-lo ali não era o diretor, era Sasuke Uchiha.
— Você é um fraco, Naruto. — Falou em meio a um soluço. — Patético. Chorando como uma garotinha de coração partido.
Soluçou por um tempo indeterminado até limpar as lágrimas e se levantar devagar, apoiado na estante, se sentindo um lixo.
— Patético. — Repetiu. — Ridículo demais.
— Eu sei que sou.
Sasuke viu o outro se retesar ao ouvir sua voz. Havia o procurado por toda a ala, estava quase desistindo quando ouviu o soluço baixo ao passar na porta da biblioteca. Era como se seus instintos sempre o guiassem para encontrá-lo.
Para piorar tudo, ele sabia que daquela vez o motivo do rosto molhado de lágrimas e dos olhos tristes e avermelhados havia sido ele e sua extrema burrice. Sua incapacidade de se segurar, e de cair na provocação do tio.
Quando medira o que falara a Naruto sentia vontade de se bater.
Ele tem toda razão, sou odiável. Pensou vendo Naruto se afastar dele, os olhos magoados.
— Sai daqui. — A voz saiu em um tom baixo e perigoso, os olhos azuis o olhando escuros. — Não quero ver sua cara, Sasuke.
Quase se encolheu com isso.
— Naruto, me desculpe... eu não...
— Queria dizer aquilo? —Ele o interrompeu, os olhos voltando a marejar, mesmo com o sorriso sarcástico no rosto. — Você queria sim, e disse. — Balançou a cabeça. — Você queria me machucar e conseguiu.
Sasuke apenas o olhava angustiado, dando um passo para ele e vendo-o recuar dois a sua aproximação.
— Eu estava irritado!
— E isso te da o direito de descontar em mim? Eu não sou seu alívio de estresse, Uchiha!
Sasuke sentia, que como sempre quando envolvia Naruto, aquela conversa estava desandando e saindo do controle.
Como alguém conseguia o fazer perder o controle tão rápido.
— Porra Naruto! Será que não entende?
— Que você é um bastardo? Claro!
Pausou. Diante do que havia acontecido, não podia discordar disso.
— Também. — Admitiu com uma careta. — E que eu... — Hesitou um instante olhando o outro, que o olhava de olhos marejados, os cabelos loiros caindo pelo rosto pálido. Naruto parecia um caos, e por sua culpa, apenas sua. — Eu estava com ciúmes.
O garoto mais velho estancou, encontrando a parede, estavam a um braço de distância. Braço esse que o Uzumaki colocara no caminho, o impedindo de se aproximar.
— Ciúmes?
— Sim Naruto... — Depois da admissão inicial, falar o resto era mais fácil. — Não suporto te ver perto de Itachi.
— Eu não vou roubar seu irmão. — Naruto respondeu, a raiva sendo substituída por confusão.
— Você é burro ou o quê? — Sasuke olhou incrédulo.
— Sotalach! — Naruto reacendeu a raiva, os olhos azuis crispando, algumas lágrimas caindo com o movimento.
— Não estou com ciúmes do meu irmão idiota, mas de você! Eu gosto de você seu burro, tapado!
Sasuke quase riu da cara do outro, os olhos azuis arregalados. E então o rosto tomando uma cor carmim adorável, que podia ser vista mesmo na penumbra.
— Eu acho que não entendi. — falou debilmente.
— Entendeu sim.
Então mais uma vez Naruto fez algo inesperado.
Seu olhar ficou terrivelmente triste e o rosto empalideceu. O viu tapar a boca com as mãos e em uma piscada ele se desiquilibrou e iria cair no chão se não houvesse segurado seu corpo. Uma mão agarrando a cintura enquanto a outra segurava a nuca loira. Viu os olhos azuis opacos, lembrando-se de imediato do dia da briga dos dois, de ver a mesma expressão distante.
— Naruto! — chamou desesperado. — Ei, acorda Dobe!
Chamou algumas vezes, sem sucesso. Pensou em estapeá-lo, mas o soco que levaria de volta o fez descartar a ideia.
Naruto retornou a consciência. Ao ver sua posição, arregalou os olhos e empurrou o Uchiha, se livrando dele rapidamente, quase caindo de novo. Com o movimento se agarrou a estante mais próxima e Sasuke o segurou por trás, uma mão em seu tórax e a outra em seu peito o firmando, usando seu corpo, o colando a seu peito.
— Respira, Naruto.
O tom preocupado o fez se acalmar. A mão de Sasuke estava em seu peito, grande e quente. O corpo firme parecia ancorá-lo a realidade, as visões sumindo, os sussurros diminuindo.
— Isso. Está tudo bem.
Grunhiu em resposta, soltando o ar devagar. Segundos, minutos passaram, até que se sentiu bem consciente da posição deles.
Naruto ficou vermelho, olhos azuis incrédulos fitando o outro por cima do ombro ao perceber algo o cutucando por trás.
Sasuke estava ainda mais corado, os olhos quase envergonhados, mas uma expressão de falsa calma tomando o rosto. Como se não Naruto não pudesse perceber claramente que ele estava excitado.
— Sasuke!
Tentou empurrá-lo sem sucesso, quando cambaleou e sentiu que era segurado com mais força. Ao jogar o corpo para trás, piorou a situação ao sentir a ereção do outro em suas costas.
— Não vou te soltar sem ter certeza de que não vai cair de cara no chão, seu idiota.
— Pervertido! — Sibilou e ouviu, para sua surpresa, a risada rouca em sua nuca.
— Olha quem fala — A voz o fez se arrepiar e de imediato notou que uma ereção indiscreta havia surgido nele também. Corou mais ainda de raiva e vergonha por isso. Para piorar, Sasuke o empurrou mais contra a estante se inclinando contra si, e sentiu os lábios em sua orelha. — Deixe me desculpar por ser um maldito com você.
Abriu a boca para falar algo, mas paralisou com ela aberta quando sentiu ele beijar sua nuca devagar, mordendo levemente. Um maldito suspiro saiu dos seus lábios e sentiu a vibração da risada em seu pescoço.
— Sotalach.
Murmurou, já sem vontade nenhuma de se livrar do outro. Os lábios foram descendo para seu pescoço. Sentiu os cabelos negros roçando em seu rosto e jogou a cabeça para trás, lhe dando mais acesso. Nessa posição, quase podia esquecer em como estava com raiva de Sasuke. Ele era bom naquilo.
Uma mão gelada se infiltrou dentro da sua blusa, o fazendo arfar surpreso.
O sentiu pausar e olhou para trás, recebendo um olhar inquisitivo. Percebia as pupilas dilatadas dele, o rosto ainda mais vermelho. Naruto sabia que se pensasse um pouco mais teria se afastado naquele momento, mas aquela expressão de Sasuke era demais. Por isso, como resposta a pergunta muda, livrou uma mão e agarrou a nuca dele, o puxando para um beijo.
Sasuke sentiu que poderia explodir ao ouvir o pequeno gemido que escapou na sua boca quando suas mãos subiram arranhando a barriga tentadora e alcançaram um mamilo. O corpo se recostou mais ao seu e foi sua vez de gemer baixo. Beliscou o mamilo, a outra mão puxando o outro mais perto.
Naruto soltou sua boca e sentiu que ele se segurava em seu braço para não cair.
— Eu te odeio. — Naruto sussurrou arrastado e Sasuke riu, beijando-lhe o rosto, o ouvindo dar um gemido doloroso e rouco e então vociferar baixo. — É assim, bastardo?
No mesmo instante a mão pequena agarrou o volume em sua calça, o apertando com força em reprimenda por trás. Sasuke gemeu de forma longa de dor e prazer. Naruto deu uma risada baixa.
— Isso é um jogo para dois.
Antes que Naruto pudesse entender o sussurro em seu ouvido, a mão que o torturava segurou seu tórax o firmando enquanto a outra que segurava sua cintura desceu para dentro de sua calça se infiltrando rapidamente em sua cueca, gelada e o tocando sem aviso.
Arregalou os olhos azuis e arfou, dando um gemido longo e rouco que deixou o Sasuke ainda mais excitado se possível. A cabeça loira se jogou para trás quase os derrubando, o obrigando a jogá-los contra a estante, derrubando livros no chão.
— Quietinho, não queremos ser pegos, queremos? — Sasuke murmurou divertido.
Naruto mordeu o lábio com força, uma mão sua se apoiando no braço que o prendia no tórax, quase o erguendo do chão, o deixando na ponta dos pés. Era uma sensação que não conseguia explicar, a mão gelada o tocando intimamente, o masturbando devagar e de forma torturante enquanto se esfregava nele. Se colou mais ao outro, fechando os olhos, sentindo a boca em seu pescoço, suspirando.
A cada gemido que ele deixava escapar baixo e contido, Sasuke sentia que podia explodir. Nunca pensou que aquilo um dia aconteceria, mas quando o corpo de Naruto amoleceu e ele gozou na sua mão, o gemido rouco provocou uma onda de prazer em seu corpo juntamente ao atrito ao corpo do outro, e assim, sem nem ao menos ser tocado, gozou em seguida, gemendo longamente no ouvido do outro.
Quase caíram no chão e Sasuke usou de toda a força para segurar Naruto contra a estante e se manter de pé. Ambos arfavam de forma ruidosa por um tempo, Sasuke abraçou o outro por trás, o firmando enquanto beijava sua nuca devagar e de forma preguiçosa.
— Estou desculpado? — Perguntou com fraco sarcasmo.
— Morra. — Naruto replicou e Sasuke riu, o virando de frente e vendo o rosto corado do outro, os olhos azuis semicerrados, os lábios entreabertos ainda respirando difícil. Voltou a beijá-lo, ouvindo um resmungo, dessa vez mais devagar, o segurando pela nuca e cintura o puxando para cima, sentindo os braços do outro lhe envolvendo pelo pescoço, puxando os cabelos de sua nuca.
Se separou. sentindo a respiração contra a sua, vendo os olhos azuis fechados.
— Ainda me odeia? — Perguntou baixo com um sorriso.
— Com toda certeza. — Ele respondeu baixo, ainda de olhos fechados.
Sasuke acariciou o rosto, a barba por fazer, os lábios avermelhados, vendo os olhos azuis se abrindo e o encarando profundamente. E novamente aquela sensação da primeira vez que o viu, como se o conhecesse a vida inteira, lhe tomou. Franziu a testa, tirando os cabelos loiros molhados de suor da testa do outro, o analisando cuidadosamente, ainda na mesma posição, aguentando seu peso com um braço na cintura. O rosto de Naruto ficou mais vermelho com o escrutínio.
— Nunca me viu?
Nesse momento um barulho os despertou do transe. A porta da biblioteca abrindo. No mesmo momento Naruto se separou dele, assustado, se dando conta do que fizeram e no que aquilo poderia implicar.
Sasuke viu o rosto antes corado ficar branco.
Fez sinal de silêncio e olhou por entre a estante o zelador varrer a biblioteca com o olhar intrigado. Ele devia ter ouvido o barulho. Os dois esperaram até o homem voltar a sair, fechando a porta atrás dele, mas por sorte não a trancando ainda.
No mesmo instante se virou para Naruto para avisar que não era nada e o viu passar por ele quase correndo. Antes que pudesse alcançá-lo, ele havia ganhado o corredor, fugindo como uma raposa foge de um caçador.
Sasuke suspirou, confuso e exasperado com a situação.
— Naruto, seu complicado!
......
An Cathair ghríobháin - O labirinto
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro