the past is a mirror
Taylor saiu para correr por Northamptonshire, pensou em algumas palavras no caminho, chegou em casa depois da corrida, as anotou e então fez uma xícara de chá para Jamie, uma que então levaria para ela, para o café da manhã. Com Jamie sem gravação, por conta do fim das filmagens de "Beautiful", e com as crianças ainda dormindo, elas se encontraram no sofá da sala, e, se sentando, Taylor comentou suavemente com a mais nova.
— Ei, a propósito, você quer ouvir um pouco de poesia? — ela perguntou. Jamie sempre respondia que sim, porque aquilo acontecia com frequência, e ela adorava aqueles momentos.
E então, alcançando seu celular e caçando o poema que tinha digitado naquela manhã, Taylor o recitou, e, depois de ouvir, Jamie murmurou: "Wow, eu sempre me surpreendo com sua mente."
Jamie tinha meses menos cheios, até o início da gravação do filme de Todd em agosto, mas ainda sim tinha seus compromissos pontuais. Agora, ela estava aprendendo alemão, para o seu personagem seguinte, além de estar aprendendo o cerne do que precisaria para ser uma condutora. A inglesa também tinha começado a treinar com mais frequência. Seus treinos antes eram leves, duas vezes por semana e então ela saía para correr nos outros dias - na companhia de Paul quando estava em Londres, mas na maioria das vezes apenas consigo mesma e uma música nos fones de ouvido, passando pela vila e seguindo pelo campo. Mas ela precisava estar com um condicionamento melhor para o filme, então estava focando nisso.
A base de vida de Jamie já era muito saudável. Ela e Taylor adotaram uma abordagem equilibrada em relação à alimentação anos antes, assim que a americana entendeu que voltaria para os palcos. Ela tinha tomado para si a rotina de treino de um atleta profissional, e enquanto Jamie não tinha a seguido nisso, na alimentação ela a acompanhou. Durante a semana, elas tentavam comer de forma saudável, muitos vegetais, saladas, iogurtes e todo tipo de coisa balanceada. Nos fins de semana, não teria problema alguns hambúrgueres, batatas fritas e os biscoitos que Taylor tanto gostava.
No geral, a vida estava mais calma, mas não completamente parada. Jamie não trabalharia em um set por alguns meses, mas sua mente já estava completamente imersa na história de Todd. O roteiro ela carregava consigo, e, todo dia era algo novo para se aprender. Piano, isso ela já sabia, mas vinha tendo também aulas extras porque quis as ter. Todd ligava praticamente toda semana, e então sempre havia alguma atualização. Jamie era o nome confirmado no elenco, mas Todd já tinha seus outros nomes, e ainda estava procurando por outros, e isso era, de algum jeito, muito animador.
Fora do trabalho, ela e Taylor vinham mantendo uma conversa ativa sobre aumentar a família. Eles já tinham tido algumas consultas iniciais e Taylor já tinha feito todo tipo de exame. Faltavam discutir os detalhes mais importantes. Mas, Joe seria o doador, e a decisão foi tomada depois de uma conversa honesta sobre isso. O inglês aceitou sem problemas, mas a resposta veio depois de uma conversa mais longa com Paul.
A coisa toda aconteceria de maneira bem semelhante à segunda tentativa de Jamie. No espaço de um mês, Taylor faria o primeiro procedimento, e ela estava apenas tentando não colocar muita expectativa nisso. A chance de dar certo em um primeiro momento era até que grande, mas não certa, e ela não queria ficar completamente arrasada se as coisas não saíssem como o planejado.
À parte disso, ela e Jamie precisavam ainda conversar com as crianças, mas estavam esperando para fazer isso quando as coisas parecessem mais acertadas. Se em algumas semanas a coisa toda funcionasse, então elas esperariam mais algumas semanas adiante para dar a notícia de que os filhos ganhariam um irmão - ou irmã. Eles eram bem jovens para entender a implicação daquilo, mas a conversa aconteceria de qualquer maneira.
Como uma manhã comum, depois da corrida de Taylor, ela e Jamie passaram a próxima meia hora aproveitando a calma do espaço, até que Ayse acordou e então Hale e Rowan não demoraram a fazer o mesmo. E aí o caos de sempre meio que tomou conta, com Jamie ocupada em arrumar as filhas para o dia, enquanto Taylor fazia o mesmo com Rowan. Depois, elas se sentaram para o café da manhã dos pequenos, e então ocuparam o resto da manhã assistindo parte dos desenhos que os três gostavam. Perto do almoço, Taylor e Jamie organizaram tudo o que os filhos precisariam para um dia, e então seguiram o caminho de pouco mais de dez minutos até a nova casa de Deborah e David ali em Northamptonshire. Elas mal pararam por lá, apenas deixando as crianças, enquanto Jamie comentava que antes mesmo do fim da tarde já estaria em casa. Taylor foi para o estúdio em Londres, aproveitando que Jack estava na cidade, então ela não tinha um horário, mas comentou que tentaria não chegar tarde.
Elas pegaram a estrada para Londres, na SUV em cor escura, com Noel as acompanhando em um carro logo atrás. Max ficou com as crianças. Chegando em Londres, depois de deixar Jamie no Bengal Village, um restaurante de comida em Brick Lane, Taylor partiu para se encontrar com Jack.
Jamie teria um encontro com Todd e parte do elenco e a equipe de produção de seu próximo filme, logo em seguida ela estaria pegando o táxi até a SoHo House da Dean Street, onde se encontraria com Guy Lodge, do The Guardian, para uma conversa que renderia o perfil da garota no jornal diário - algo que Lizzie tinha agendado dias atrás, para falar sobre Scrapper, mas também para discutir sobre a experiência de estar de volta às telas, depois de alguns bons meses longe. Jamie tinha feito o que nos últimos anos tinha se tornado comum em seu meio, dado um tempo das telas para então voltar com uma seleção de projetos que compensavam mais do que outros. No início, isso poderia ser quase como suicídio de carreira. Parar no que parecia seu auge, sem nem mesmo a certeza de que teria a mesma seleção de projetos te esperando quando voltasse.
Mas aí, antes do encontro com Guy, cumprimentando Todd no Bengal Village, a atenção de Jamie se focou em seu trabalho. Na produção, ainda havia esses espaços para serem ocupados, mas o método de Todd era diferente, e a experiência de trabalhar com ele era a de quase ganhar uma segunda família. Jamie, muito provavelmente, nunca esteve tão imersa em uma pré-produção como aquela, mas não estava reclamando. Todd pontuava cada passo do caminho, e ele gostava de contato. Então, o encontro no Bengal Village foi trabalha, mas também não foi.
A reunião no Bengal Village aconteceu com as portas fechadas, no ambiente reservado. O tempo passou rápido, e então, com um pouco de pressa, Jamie foi a primeira a se despedir. Ela abraçou Todd uma última vez antes de entrar no banco de trás de um táxi preto. O caminho de pouco mais de vinte minutos acabou sendo encurtado quando o trânsito ajudou, fluindo perfeitamente bem. E aí ela colocou os pés na SoHo House, o clube privado na Dean Street, e se encontrou com Guy, que estava esperando na sala comum.
Aquela SoHo House estava situada numa moradia do século XVIII no coração do Soho, combinando detalhes interiores históricos com uma extensa decoração contemporânea. O clube era distribuído em quatro andares, e ficava logo na esquina da Soho House original, na 40 Greek Street. Naquela tarde, sem muita surpresa, o clube não estava tão movimentado, então Jamie pôde se sentar em frente a Guy, com duas xícaras de chá entre eles, e mergulhar em uma conversa calma enquanto ele mantinha o gravador na mesa e seu caderno de anotações no colo.
Jamie estava acostumada a olhar para a câmera. O rosto dela era o tipo de rosto que inspirava um enquadramento preciso - brilhante, como se fosse polido em mármore e, ainda assim, de alguma forma flexível, mutável. Ela tinha sido, não ironicamente, uma inspiração por trás das letras mais poéticas de Taylor, porque era o tipo de pessoa que ocasionalmente se parava para admirar. Mas, mesmo com isso, diante de tantos momentos em que se sentou para conversar com diversos entrevistadores ao longo dos anos, Jamie notou um padrão sobre si mesma: Ela sempre desviava o olhar nessas conversas.
Quando isso aconteceu uma vez, ela pensou que fazia parte, ela estava começando. Quando aconteceu duas vezes, três e então quatro, cinco e contando... Bem, ela começou a se perguntar porque nunca sustentava aquele olhar. E aí a resposta veio bem clara. Ela não queria ser capturada, porque tinha uma sombra de autoproteção que ela teve que superar quando ainda era uma jovem querendo ser atriz, tendo que permitir que as pessoas a vissem. Algumas pessoas tinham o dom de se sentirem confortáveis com isso desde o início - Taylor era um bom exemplo. Jamie não estava confortável, e ainda lutava com isso. Talvez por isso, a vulnerabilidade de tirar o fôlego de que Jamie era capaz quando estava atuando carregasse uma inescrutabilidade sutil. Mesmo em momentos de exposição emocional crua, algo da pessoa na tela permanecia fora de alcance – alguma profundidade que era apenas sentida em vez de vista. Era difícil de descrever, e Guy reparou logo de início. Taylor costumava dizer que Jamie era quase como mercúrio rolando na mesa. Era totalmente indescritível e, no entanto, bem na sua frente. E em constante movimento e mudança de forma, e algo que alguém cobiçaria. Você quer entender quem ela é, e quer observar o rosto dela quase em repouso e sentir algo elementar passando por aquela quase translucidez.
E ela era impressionante, Guy comentou isso soprando a fumaça do seu cigarro para o lado. Aos 33 anos, Jamie tinha desfrutado de quase todos os sucessos profissionais, artísticos e materiais que uma atriz de teatro e cinema poderia esperar, e ela ainda era muito jovem. Ela ganhou quase todos os prêmios que existiam: Dois Oliviers, dois Grammy - por Folklore e Midnights - um Oscar, um BAFTA, dois Globos de Ouro, um Emmy, um Marcello Mastroianni no Festival de Cinema de Veneza e, no último ano, um Prêmio César honorário e o Prêmio Chaplin. Sem contar seus outros prêmios de atuação do sindicato de atores - e, claro, sua indicação ao Tony era algo importante também, ainda que não tivesse passado disso. Jamie perdeu, mas perdeu entregando uma de suas melhores performances ao lado de Paul, em uma resolução que algumas pessoas ainda consideravam injusta.
Os melhores diretores do mundo queriam trabalhar com ela, ou então queriam contar como foi transformador trabalhar com ela. Ela fez a Broadway e o West End. Escreveu músicas ao lado de Taylor e sem realmente esperar produziu um álbum enquanto o mundo parecia incerto. Ela era o rosto da Prada. E também a enviada especial pela agência de refugiados das Nações Unidas desde o último ano. Jamie ainda mantinha a liberdade de fazer projetos independentes menores e mais estranhos, mas ainda assim não deixava o centro de seu próprio trabalho, pelo menos se pudesse evitar fazer isso. Ela não gostava de falar sobre se um papel incorporava alguma parte de si mesma. Ela era, e ela insistia, o assunto menos divertido da coisa toda, pelo menos para si mesma. Todo mundo que a conhecia dizia o contrário.
Ali, naquela conversa, Jamie falou muito sobre si - e desviou o olhar sempre que pôde - mas foi bem honesta quando Guy quis saber sobre seu processo. Eles passaram por Scrapper, falaram sobre "Beautiful", e Guy não perdeu a oportunidade de querer saber sobre o projeto com Todd. Jamie contou o que poderia contar.
Principalmente durante a noite, ela estava treinando em seu piano, estava aprendendo a falar alemão e a fazer suas próprias acrobacias ao dirigir uma orquestra. Ela vinha se familiarizando com a história da música orquestral e com os estilos pessoais e as biografias dos maestros famosos do século passado. A maior surpresa é que ela realmente vinha aprendendo a reger uma orquestra, uma tarefa física para a qual a maioria das pessoas treinavam durante anos, e que ela parecia já perfeitamente apta em abraçar com alguns meses. Em termos de complexidade, reger era elaborado como dançar e fazer cálculos ao mesmo tempo - e Jamie era ruim em ambos, então era um pouco impressionante que ela estivesse se saindo bem.
Ela ainda não tinha aparecido no set, porque a gravação só começava em agosto, mas já tinha memorizado todo o roteiro como se fosse uma peça. Todd nunca tinha ouvido falar sobre isso, mas soube que tinha acertado em sua escolha assim que entendeu para onde estavam indo seus passos.
Ela também já tinha feito seus testes de câmera, experimentado grande parte dos figurinos, e ensaiado junto do elenco por um dia ou dois, e havia algo sobre a forma como o corpo de Jamie ocupava o quadro de câmera de Todd que parecia muito familiar, mas difícil de localizar. Era o que Todd queria, e era o que ela estava entregando antes mesmo de fazer sua primeira cena. Era genial, totalmente à vontade, perigoso. Mas havia rachaduras na autoconfiança, percebidas no horror com que ela reagia ao clicar de uma caneta, ou na respiração que ela precisava tomar antes de tocar a tecla do piano. Tudo aquilo era calculado, e era difícil não ver aquilo como uma experiência de visualização difícil, especialmente para aqueles que resistiam a uma compreensão extensa da psicologia e da humanidade de uma pessoa que era brilhante, mas horrível. Todd tinha escrito aquilo, e não esperava que ninguém mais entendesse, mas Jamie tinha entendido, e parecia pronta para transpor a ideia para a tela.
No sábado, depois do dia anterior envolto em trabalho, com a primeira parte do encontro com Guy, Jamie voltou para o seu caos alegre em casa. Ela e Taylor receberiam a família - Andrea estaria chegando em Londres naquela tarde, junto de Scott, Austin e Sydney. Então, Kit, Rose, John, Kate e os pais de Jamie também apareceriam, e eles fariam o que Kit chamava de "The Great British Barbecue" enquanto a noite corria.
No meio da tarde, quando Andrea chegou, Jamie a cumprimentou com um suéter com comida derramada, uma obra de Rowan, se desculpando por não ter ido acompanhar Taylor até o aeroporto para os pegar. Mas tudo estava um pouco atrasado, então ela não queria se atrasar ainda mais. Deborah estava ali ajudando a filha, e David tinha acabado de chegar com as compras do que precisariam para um churrasco. Ayse estava vagando pela sala ainda de pijama, porque nas últimas duas semanas ela tinha colocado na cabeça que não queria usar mais nada se não seus pijamas ilustrados com os rostos de Meredith, Olivia e Benji - e ela tinha muitas dessas, graças a Taylor.
Jamie foi preparar o lanche da tarde para as crianças e então arrumou a ilha da cozinha com um chá da tarde, típico inglês, e comentou com os sogros e o cunhado que eles deveriam comer um pouco. Eles tinham tudo. Taylor fez biscoitos naquela manhã, e Deborah trouxe seus rolinhos de canela de casa, ainda quentes.
Enquanto Taylor vasculhava a geladeira em busca de queijos para colocar na tábua e então juntava tudo que precisava para uma salada, que ela reservaria para a noite, ela viu Scott brincando com Hale, enquanto a garota ria do avô. Rowan parecia desinteressado com tudo, mas o desinteresse logo se tornou interesse quando ele viu Andrea e se animou para ficar no colo dela.
— Estou literalmente jogando coisas em tigelas — Taylor comentou — Eu gostaria que pudéssemos colocar algum tipo de pasta chique na salada, que fingiríamos que nós mesmos cozinhamos aqui, mas não sei se temos isso.
— Uhm — Jamie fez um barulho como se dissesse "tanto faz", e Taylor deu de ombros. A inglesa estava focada em separar tudo que Kit e John precisariam para a noite, já que o churrasco era responsabilidade dos dois - por insistência deles mesmo. Jamie então queria fazer aquilo e se apressar para subir e conseguir trocar de suéter. Ela estava um pouco alheia.
— Na próxima vez. Você pode dizer que sim — Taylor falou, sorrindo para a esposa. Então ela apontou para Ayse que passou pelo corredor e entrou na cozinha, abraçando os avós, e comentou — Agora ela vive de pijama, só para que vocês saibam.
Houve muita conversa cruzada alegre por ali. Até que, alguns minutos depois, enquanto Jamie subia na companhia de Ayse para trocar seu suéter, Taylor se sentou na varanda coberta junto de Andrea, com Rowan ainda grudado na avó, logo depois das portas duplas da cozinha.
Era início da noite quando Deborah e David foram para casa, dizendo que eles precisavam se arrumar, mas voltariam antes que os filhos chegassem. Logo o restante das pessoas também sumiu pela casa, e então Taylor foi ajudar Jamie com as crianças. Depois que os três já estavam muito bem arrumados, com Ayse trocando seu pijama rosa por um pijama lilás, eles ficaram no andar de baixo com o tio enquanto Taylor foi se arrumar junto de Jamie.
Quando todos já tinham chegado, Taylor se viu com Hale no colo parada ao lado de Jamie, enquanto elas faziam companhia para Kit que preparava a grelha. Ayse estava brincando com Winston e Rowan, e a área externa estava muito bem iluminada, com um som baixo de Sleep Well Beast do The National tocando pelo lugar.
Kit estava falando sobre sua última semana gravando para Industry, quando John chegou, carregando uma garrafa pequena de cerveja, comentando que tinha tido uma tarde completamente livre e então aproveitou para fazer seu mapa astral, porque Kate parecia focada nisso recentemente.
— Você é um signo de água? — ele perguntou na direção de Taylor.
— Não! — ela disse, seus olhos se arregalando — Fiz meu mapa anos atrás. Eu sou Sagitário, com ascendente em Escorpião, Lua em Câncer, Vênus em Aquário, Marte em Escorpião e Mercúrio em Capricórnio.
— Como você se lembra disso? — Kit disse — Que maluquice, cara.
— Bem, eu não tenho ideia do que nada disso quer dizer, porque agora eu tenho mapa, mas não sei o que significa — John deu de ombros.
— Isso significa que a Lua em Câncer foi responsável por metade das minhas dores de cabeça — Jamie brincou.
—Cara! — Taylor revirou os olhos, mas riu.
— Estou mentindo? — Jamie acompanhou, deixando uma risada leve escapar.
— O que significa ter a lua em Câncer? — John quis saber.
— A Lua rege sentimentos, emoções e a relação com a família. Isso "explica" a sensibilidade e porque ela é tão carinhosa, mas também explica porque ela é dramática e porque guarda um monte de coisa para si mesma — Jamie falou — Mas ok, não é como se eu acreditasse nisso.
— Ah, você não acredita em signos? — Kit perguntou.
— Não — ela acenou.
— O que é irônico porque você é seu signo — Taylor comentou — Até nos pontos ruins.
— Quais pontos ruins? — Jamie quis saber.
— Você sabe, a ansiedade e a insegurança.
— Ok, eu vejo — John acenou positivamente — É você.
— É muito você — Kit concordou — Mas acho que isso é muito mais coisa de família. Eu sou assim também, mate.
— Ah, que ótimo! — Jamie revirou os olhos, não realmente incomodada. Ela reconheceu aquilo — Spike Milligan tinha em seu túmulo, 'Eu disse que estava doente' e o que vou ter no meu? 'A pessoa mais ansiosa do mundo'? — ela brincou.
— Deprimente — Kit foi irônico — Hm, me diga... Nesse próximo verão, além da publicidade de seus filmes, o que você vai estar fazendo?
— Por que a pergunta? — Jamie quis saber.
— Duncan McMillan tem essa peça teatral e está conversando para a colocação de volta nos palcos no próximo ano, na Broadway, e pensei em você. Ele me ligou uns dias atrás falando sobre o papel principal, mas é muito para minha agenda — Kit explicou — É sobre um casal que debate se deve ou não trazer um filho ao mundo. A narrativa é muito boa, e eu ouvi que ele está pensando em chamar Paul.
— Nesse ponto somos praticamente a coisa toda do compre um e leve dois — Jamie comentou — É impressionante.
— Vocês são bons juntos — Taylor comentou, dando de ombros — É verdade.
— A produção deve acontecer no Circle In The Square — Kit falou — É meio que o que a história pede. É um texto longo entre duas pessoas, e, honestamente, é o tipo de coisa que você sustenta.
— Eu não sei se tenho espaço para isso — Jamie disse — Eu tenho três filmes para serem gravados no próximo ano.
— Como você descansa? — John brincou.
— Eu não tenho dormido, na verdade — ela falou e riu um pouco, porque aquilo não era exatamente uma mentira — O mundo parece que está meio que se inclinando para fora de seu eixo — ela esfregou a testa levemente — Então, quando eu durmo? Nunca.
— Você não para — Kit falou, e apontou para Taylor — E você também não.
— Bem, em algum momento nós vamos parar — Taylor falou, então continuou, como uma brincadeira — Nós sempre conversamos sobre desaparecer. Parar de atuar e parar de fazer música e apenas desaparecer. Talvez possamos aprender a como fazer queijo e então criar abelhas e plantar nossa própria comida por aqui.
— Isso não vai acontecer — Jamie comentou. Elas não conseguiriam apenas viver daquela maneira, e tinham consciência disso.
— É, não — Taylor concordou. Ela riu — Não vamos fazer isso.
— Eu imaginei que não — John disse.
Com a noite caminhando de maneira agradável, o tempo se estendeu, e então Jamie recebeu os irmãos para a noite, logo ali na GateHouse. Ficou decidido que John, Kate, Kit e Rose dormiriam no espaço de hóspedes, que era uma casa própria com três quartos.
Então, já no início da madrugada, quando todos já tinham se despedido, com Kit acompanhando os pais pela caminhada breve até a casa deles a dez minutos dali, ele voltou para se encontrar com Jamie e John ainda na área da piscina, conversando sobre qualquer coisa frente a água. Kit se juntou a eles, perguntando se os sobrinhos já tinham ido dormir, e Jamie comentou que tinha os acompanhado minutos atrás. Ayse ainda estava acordada, mas porque estava assistindo Paddington com Taylor no quarto delas.
Na manhã seguinte, depois do café da manhã agitado com todo o mundo, Kit e John seguiram para Londres e ganharam a companhia dos pais, que tinham algumas coisas para resolver na cidade. E então o dia caminhou calmamente, com as crianças ocupadas com a presença das avós na casa.
Pela noite, Jamie se conectou a uma ligação com Guy de seu escritório em casa. Eram 22h ali, e ela deveria já estar na cama, mas não estava. Outra pessoa que não estava era Hale. E Jamie avisou ao jornalista que sua filha de dois anos estava embaixo da mesa, um tanto chateada porque sua mãe teve que interromper a noite com uma ligação de trabalho. Mas ela precisava fazer aquilo, porque Guy estava viajando para Paris em algumas horas e não teria tempo durante a semana. Na semana seguinte quem não teria tempo era Jamie.
— Se você ouvir um farfalhar... — disse Jamie — Não é um rato ou um hamster. É só minha filha, Hale — ela brincou.
— Sem problemas — Guy riu — Quando perguntei sobre o poema de dias atrás, o que lembrava seu novo projeto, o que você enviou-
— Ah, isso mesmo, eu te mandei, mas o que eu te mandei? Espere... — Jamie parecia quebrar seu cérebro. Guy leu para ela o nome do poeta e o título do poema. Dias atrás ela tinha enviado aquilo para ele, antes mesmo da primeira conversa, comentando que expressava bem o roteiro de Todd, mas ainda assim ela não conseguia se lembrar. Tanto tinha acontecido, e alguns dias atrás parecia mais como uma vida atrás — No momento deve ter expressado tudo. E agora nem me consigo lembrar. Isso não é revelador? Eu pareço realmente escolher o que fica aqui e o que não na minha mente.
— Veja: "Perfeição, de certa forma, era o que ele procurava, e a poesia que inventou era fácil de compreender; Ele conhecia a loucura humana como a palma da sua mão, e estava muito interessado em exércitos e frotas; Quando ele riu, senadores respeitáveis caíram na gargalhada, e quando ele chorou, as crianças morreram nas ruas." — ele leu de volta para ela. Jamie ouviu atentamente e concordou solenemente.
— Sim. Isso expressou o que eu estive falando sobre o roteiro que Todd escreveu — ela falou, e então Guy acenou.
— O que ressoou em você nesse poema? — Guy quis saber. Jamie suspirou e o interrompeu.
— Não podemos deixar que isso fale por si? Eu tenho que falar sobre isso? Este é o problema que tenho. É o eterno problema em que você estabelece uma conexão profunda e instintiva com alguma coisa - e isso não significa que ela contorne seu intelecto - mas então você passa por ela, você a expõe, não para seu próprio prazer, mas para uma audiência, e então conversamos por esse processo em que, de alguma forma, a pessoa que falou tem que entender isso — ela disse — Talvez eu preferisse ser bailarina, ter atuado com coreógrafas como Pina Bausch e Martha Graham, porque na dança está tudo lá, está tudo expresso e ultrapassa a linguagem. Não que Bausch e Graham não falem lindamente sobre seu trabalho, não que a dança não seja uma espécie de linguagem rítmica, e não que a linguagem não seja rítmica, diga-se de passagem. A linguagem tinha padrão rítmico, a linguagem podia fazer sentido rítmico, os gregos sabiam disso, e é claro que existem pessoas que podem usar a linguagem para descrever o que os artistas fazem, certamente Uta Hagen e Michael Chekhov poderiam descrever o que os atores fazem. Mas eu não posso. E talvez também seja que, não sei, talvez eu não queira. Talvez seja por isso que eu enviei o poema para você. Eu pensei: isso basta. Então não tenho que falar sobre isso.
— Seu desejo de não colocar linguagem no que acontece quando você está se preparando para atuar é bem visível, ou de dissecar o que você fez depois de entrar em contato com o projeto. Isso é parte do processo?
— Eu não tenho um processo — Jamie disse — Honestamente, eu apenas chego ao palco ou à câmera com 10 pesquisas exaustivas atrás de mim e confio que algo vai acontecer.
— Eu acho difícil de acreditar. Isto parece menos uma evasão ou uma falsa modéstia do que um desejo de promover uma forma de trabalho que você entende ser delicada.
— Vou dizer, ultimamente eu estou sentindo uma enorme necessidade de ficar quieta, sobre tudo, ou... bem, pelo menos quanto ao filme de Todd. Estou preocupada que qualquer coisa que possa dizer sobre mim mesma ou sobre o roteiro de Todd confunda a ocorrência do público assim que ver o filme, porque ainda não o gravamos, mas já é uma experiência transformadora para mim. Eu não quero bagunçar isso.
— Ok, vou passar por isso — Guy falou. Ele se voltou para as questões que tinha anotado antes, e apontou algumas das coisas do último ano. Ele falou sobre Jamie ter perdido o Tony naquele início de 2024, e recebeu uma resposta honesta sobre como ela ficou decepcionada, mais por uma expectativa própria do que qualquer outra coisa. Apesar disso, a coisa toda tinha ficado para trás, e Jamie deixou claro como não estava tão focada em voltar para a Broadway e tentar sua sorte novamente. No final da conversa, quando Hale já estava no colo de Jamie, rendida ao sono, Guy perguntou o que estava encantando a inglesa agora, que ideias, desejos ou obras de arte estavam fazendo companhia mental a ela além do filme com Todd e seus projetos já marcados para o próximo ano. A voz de Jamie mudou.
— Poxa. Estou bastante... — ela parou — Cansada.
— Do trabalho?
— Não — ela se apressou para se corrigir. O tom de sua voz mudou tão repentinamente, torcido para o desamparo tão dramaticamente, que Guy ficou alarmado. Mas Jamie estava apenas tendo problemas para conjurar uma resposta para uma pergunta. Tinha sido um longo dia e já eram mais de 11 horas da noite. Ela estava cansada — Você sabe o que eu adoraria fazer? Eu adoraria sair para uma caminhada muito, muito longa.
— Estamos falando figurativamente? — ele perguntou, mas Jamie acenou que não — De quanto tempo estamos falando?
— Não é como aquelas caminhadas que eu vou comprar um maço de cigarros e não voltar mais... — ela brincou e eles riram — Não é esse tipo de caminhada. O que acontece com uma longa caminhada é uma experiência de processo, de estar no caminho entre o lugar onde você começou e o lugar onde você estará. É como aquele momento de suspensão na dança quando você não sabe se o dançarino está decolando ou se preparando para isso — ela explicou — Estou falando muito de dança porque vi dois documentários sobre isso hoje, e é a última coisa na minha mente, me desculpe, acho que estou me estendendo. Mas podemos usar o exemplo de um cantor, começando a dar início ao seu show, naquele momento, aquela respiração antes que as palavras saiam ou a música saia... Não sei, acho que hoje eu quero estar nesse espaço. Quero sair para caminhar e sentir isso, e então voltar e desligar por algumas horas. É isso que está me encantando agora.
— Você não está pensando no que vai estar filmando depois dos filmes que estão na sua agenda de 2026, né? — Guy perguntou, mas não era realmente uma pergunta. Jamie tinha deixado aquilo bem claro, ainda que de maneira silenciosa - a razão era a única coisa que parecia incerta, pelo menos para Guy. Jamie sabia bem. Com três filmes naquela primeira metade do ano, ela não queria pensar muito além disso, porque tinha as crianças, e tinha Taylor, e tinha a ideia de aumentarem a família.
Então era nisso que ela estava se focando. No fato de que muito provavelmente estaria respirando fundo, pintando paredes enquanto transformava o quarto de hóspedes em um espaço novo para os gêmeos, deixando espaço no berçário para um filho que nem tinho sido concebido ainda. E então ficando um pouco mais insana, mas muito realizada, no meio do caminho.
notes.
eu falei que voltava em uma semana, mas retornei em três dias tal qual nosso chefe jesus cristo. esse capitulo não deveria estar aqui inicialmente, mas o escrevi ontem enquanto tentava não cair no sono no meio da estrada, voltando para casa. excluí alguns capítulos, organizei outros e acho que sei bem para onde estou indo daqui. tendo dito isso, preciso dizer que desse capítulo para o próximo vamos ter passado por um espaço de tempo consideravelmente grande e então depois de dar uma desacelerada, vamos acelerar outra vez, o que significa que em... talvez 20 capítulos (ou pouco mais que isso) as crianças já não vão ser mais tão crianças assim.
acho que tenho mais um capítulo para hoje, mas não é uma certeza, então... até daqui à pouco (ou até amanhã!)
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