Quinze anos atrás

- Você tem vontade de casar com alguém, Jimin?

Pergunto, mexendo nos cadarços do meu casaco. Estávamos os dois na varanda da casa da senhora Nara, olhando as estrelas como todas as noites.

- Hm...acho que sim. Meus pais dizem que é uma etapa importante da vida. Dizem que se unir com alguém é se preparar pra passar suas experiências de vida pra frente e ao mesmo tempo criar novas. - Ele contorce o nariz. - Não sei o que eles querem dizer com isso. Mas deve ser alguma coisa boa, não acha?

- Não. - Respondo, cruzando os braços. - Nada sobre casamento é bom. As pessoas se grudam umas nas outras e abandonam os amigos. Nunca mais é a mesma coisa. É isso que eles querem fazer com nós dois. Eu sei que eles não gostam de mim.

Um silêncio se forma e sinto um calor se construindo do meu lado. Olho pro lado e vejo Jimin me observando de perto. Sinto meu rosto corar.

- O que você está fazendo? - Ele me dá um peteleco na testa. - Ai!!

- Você é idiota. Como eu deixaria eles separem a gente? Nós somos melhores amigos! Casamento não vai me tirar de você. - Ele responde, sorrindo.

- Humpf. Somos muito novos ainda. Não entendemos do que eles são capazes.

- Meus pais são difíceis, não são? Eu os amo mesmo assim. Mas eles me chateiam às vezes. - Jimin diz enquanto volta a vigiar os céus.

- Eles só não são piores que casamento em si.

Ele vira pra mim novamente.

- Você não quer se casar? - Ele me olha, parecendo preocupado.

- Não. De jeito nenhum. Casamento é estupidez de gente grande. Também não quero crescer. Mesmo que...eu vá crescer mesmo assim. As pessoas mudam quando crescem. - Jimin me ouve dizer isso e fica quieto por um momento.

- Ah, mas vai ser um problema se você pensar assim. - Ele diz, triste.

- Por quê?

- Eu...queria me casar com você. - Jimin responde, colocando seu capuz na cabeça, da mesma forma que sempre fazia quando ficava tímido.

- Comigo? Mas...ah... - Ele se encolhe no meio do tecido. - ...bom, eu...se for com você...acho que não tem problema.

- Mesmo?! - Ele se vira pra mim de repente, me assustando. - Aaah, que bom! Eu tenho uma noivaaa! Eu tenho uma noivaaaa!

Ele se levanta e começa a cantarolar. Viro o rosto, com vergonha.

- Mas eu não quero ficar como seus pais. Eu quero ser livre pra fazer as minhas coisas. Imagina se tenho que cuidar de você e trocar suas fraldas?

- Ei! Eu não uso mais fraldas fazem anos! - Jimin me olha feio, ofendido.

- E porque parece que você usa? - Provoco.

- É minha bunda, sua boba! Não se fala dessas coisas. Você também parece que usa fralda e eu não digo isso pra você. - Jimin cruza os braços.

- E-Eu?! Sua bunda é muito maior que a minha!

Ele não me responde. Fica de braços cruzados sem me olhar nos olhos.

- Ei, Jimin...já cheeega. Tudo bem. Perdão. Não vou mais falar que você usa fralda. Mas mantenho o que eu disse antes. - Digo, chamando atenção dele. Ele se senta do meu lado de novo.

- Nunca faria você virar a Cinderella em casa. Olha só, Liz. - Ele segura as minhas mãos. - Vamos fazer isso. Nós vamos continuar melhores amigos. Pra sempre. Mas vamos seguir nossos planos. Eu vou ser o melhor dançarino do mundo. E você vai ser a melhor pintora do mundo. E se um dia tudo der errado pra gente, vamos nos casar e resolver tudo juntos. Tá bom?

Vejo os olhinhos brilhantes dele falando comigo tanto quanto suas palavras, e sorrio, sem jeito.

- Tá bom...

- Junta seu mindinho com o meu. É uma promessa.

Jimin ergue seu pequeno mindinho e me olha, com esperança e determinação gritantes. Pronta pra qualquer coisa que viesse no futuro, ergui o meu mindinho também, unindo ao dele, e fazendo a maior promessa da minha vida.

Foi o momento da minha vida. Aquela promessa era tudo pra mim, naquela época.