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capítulo 4

4


Na verdade, não foi o sino que me acordou, mas os balanços. Eu estava balançando?

— Alison, o senhor Wood está lá fora!

"Deus meu." Levantei-me tão rápido que bati a cabeça.

— Ai!

Claro, tinha me esquecido do beliche.

— Você dorme feito uma pedra. Vamos logo.

Claire estava encantadora com o cabelo castanho preso de lado. Ela usava um vestido cor-de-rosa e uma espécie de avental lilás por cima, além de uma capa branca. Sua roupa era exatamente igual à que eu deveria vestir, porém, assim que fui pegar um vestido na cômoda, ela protestou:

— Tá maluca?! Não dá tempo, o senhor Wood vai embora sem a gente. Temos que ir agora.

— Mas eu tô de pijama.

— Você prometeu que ia pra escola comigo.

Argh, está bem.

Vesti às pressas o casaco cor de avelã por cima da camisola, peguei a bota de baixo da cama e corri ainda descalça para a cozinha. Eu até poderia sair de casa com a roupa inadequada, porém jamais iria de estômago vazio. Catei o primeiro pote que encontrei no armário e corri para a sala, onde Claire me esperava batendo o pé.

— Por que não me acordou mais cedo? — perguntei enquanto deixávamos a casa e atravessávamos o pequeno jardim.

— Juro que tentei.

— Não tentou.

— Tentei. Alison, você não dorme, você morre.

Caímos na risada. Nossa conversa estava tão legal que nem prestamos atenção na bronca que o senhor Wood nos deu pelo atraso.

A carroça seguiu devagar rua abaixo.

— Que fome — disse Claire, olhando sugestiva para a tigela no meu colo.

Eu terminava de calçar os sapatos.

— Quer dizer que você se arrumou toda, mas não tomou café da manhã?

— Não deu tempo.

Balancei a cabeça, sorrindo.

Abri o pote com a Claire espiando por cima do meu ombro. Dentro dele havia um tipo de biscoitinho branco, no formato de uma concha retorcida. Era doce, crocante por fora e tão saboroso que lambemos os dedos quando acabou. Mais tarde, descobri o nome daquele biscoito: pedaço de nuvem. Meu favorito.

O sol tinha apenas começado a se espreguiçar no céu, por isso as ruas estavam vazias e os postes, ainda acesos. Minutos depois, o senhor Wood parou em frente ao dormitório masculino, de onde saiu um garoto usando capuz erguido, o cabelo escuro cobrindo parcialmente os olhos.

— Oi, como é seu nome? — Claire perguntou assim que ele subiu na carroça.

Sentado o mais distante possível da gente, de braços cruzados, o garoto não respondeu; só a encarou com seus olhos castanho-escuros e, depois de alguns segundos, voltou o olhar para a rua.

— Nossa, que chato — ela sussurrou pra mim, alto o suficiente para que o taciturno ouvisse.

Não o culpei. Quero dizer, o menino claramente estava envolvido na mesma confusão que a gente e talvez só não quisesse ficar conversando banalidades com estranhos. De qualquer maneira, sua atitude ofendeu a Claire e eu fui obrigada a ouvir os suspiros indignados da minha nova amiga.

O senhor Wood conduziu a carroça para fora dos portões, pela estrada que cortava a floresta, e a viagem prosseguiu na penumbra das árvores por algum tempo. Em algum momento, encostei a cabeça no ombro da Claire e adormeci.

Só acordei quando a carroça sacolejou com força e um raio de sol me atingiu nos olhos. Ergui a cabeça, atordoada e um pouco cega pela claridade repentina. Os demais também acordavam.

Ao nosso redor, a floresta acabara num campo gramado. Ali, os arbustos com florzinhas brancas namoravam o azul límpido do céu, o verde-amarelado da grama como um convite para abraçar o campo. Devagar, voltei-me para frente, na direção onde o cocheiro ficava, e fui surpreendida pela enorme construção.

À nossa frente, uma muralha duas vezes maior que a da Fênix, feita de rochas, cercava várias construções gloriosas. E acima do grande portão de ferro, o letreiro ESCOLA BELLATRIX — com um pouco de ferrugem e de musgo — destacava-se contra o sol.

Bastou o senhor Wood cumprimentar os dois soldados de guarda para que nos deixassem passar.

Lá dentro, vários conjuntos de prédios se pareciam com as casas da Fênix, feitos com tijolos e madeira, exceto que os prédios tinham torres. Entre os blocos, havia jardins e árvores muito bem cuidadas. No centro de tudo, passamos por uma pequena praça com banquinhos e uma estátua de bronze de um menino vestido de folhas, segurando uma flauta, com bichinhos aos seus pés.

— Uau! — disse Claire. — Esse lugar é incrível.

— Eu sei. — Não conseguia parar de sorrir. — Bem diferente de como eu tinha imaginado.

— Você também não se lembra disso?

Fiquei surpresa ao ver que o garoto estava falando comigo.

— Não, mas me deixa adivinhar: você acordou se afogando numa lagoa com um colar no pescoço?

Vi as linhas em sua testa ficarem mais fortes.

— Meu nome é Alison, ela é a Claire. — Ela, aliás, fingia não escutar nossa conversa.

— Meu nome é Josh. Eu acho. Você acredita que eles vão nos ajudar?

Eu não estava muito confiante no começo, mas, depois de ter passado a noite naquela casa agradável e de ver o ambiente lindo e organizado da escola... A verdade era que agora eu estava mais intrigada do que amedrontada.

Antes que eu pudesse responder ao garoto, a carroça parou em frente a um dos prédios, perto da escadaria maior.

— Chegamos. Desçam logo que eu não tenho o dia inteiro.

A bota que eu usava era um pouco grande para mim, a camisola inflava com o vento e a jaqueta por cima me deixava ainda mais ridícula. Estar ao lado de uma Claire toda arrumadinha enquanto entrávamos no hall principal só piorou minha vergonha.

O salão tinha um teto muito alto e duas escadas laterais. Em um canto, havia uma grande mesa, cheia de frutas, pães, biscoitos, bolos e jarros. Várias crianças estavam por ali, comendo e bebendo.

— Olá, meus queridos — disse uma senhora com a voz cantarolada. Ela vestia uma roupa bufante, o cabelo cinza preso num coque. — Por favor, coloquem o colar de vocês para fora da roupa. Assim, isso mesmo, o nome virado para frente. Agora, a recepção com Loyenn só começa às nove, então que tal um lanchinho? Ótimo, estão vendo aquela mesa ali no canto? Fiquem à vontade. Sei que estão confusos, mas não se preocupem: daqui a pouco Loyenn vai ajudá-los.

A última frase fez meu estômago gelar.

Ficamos perto do banquete, saboreando de tudo um pouco. À medida que o tempo passava, mais carroças chegavam trazendo mais crianças — todas as meninas com o mesmo vestido rosa e a capa branca; todos os meninos com calça comprida, blusa azul e capa preta.

Por fim, a senhora voltou, sempre sorrindo largo.

— Certo, acho que não falta mais ninguém. Bem-vindos à Escola Bellatrix! Meu nome é Sarah Greenfield, eu sou a diretora-conselheira e vocês podem me procurar sempre que precisarem. Agora... — Ela fez uma pausa estratégica. — Vocês vão descobrir quem são, o que aconteceu e por que não se lembram de nada. Preparados? Me acompanhem.

"Sério?! É simples assim?"

O silêncio entre nós fazia o som das botas no piso de pedra reverberar mais alto, como se fossem tambores.

Seguindo pelo corredor até o final, entramos numa sala ampla, parcialmente escura e cheia de cadeiras e mesas escolares em semicírculo. A luz vinha de uma claraboia e iluminava o centro da sala, para onde todos os móveis apontavam.

Depois que todo mundo se acomodou, esperamos.

De repente, como num passe de mágica, tudo ficou escuro. Então uma luzinha, pequena e dourada, passou brilhando entre nós, até chegar ao centro da sala e o brilho dela ficar tão forte que precisei proteger meus olhos. Quando voltei o olhar para a frente, uma mulher nos fitava de volta.

Muito mais alta do que todo mundo que eu já tinha conhecido até então, com um porte irretocável de elegância, orelhas pontudas e asas finas. Ela tinha asas!

— Olá. Meu nome é Loyenn.

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