Capítulo 18
Enquanto o ônibus nos levava para algum lugar que eu não faço ideia de onde seja, eu observava o verde das árvores pela janela. É impressionante como a natureza é perfeita. Eu lembro de ter escutado Teodoro falar algumas vezes que sempre foi muito ligado a tudo que envolve o meio ambiente, inclusive, o sonho dele era cursar biologia ou engenharia ambiental, mas o seu pai o obrigou a estudar Direito, o que não diminuiu em nada o seu sonho. O meu pai adotivo se especializou em Direito Ambiental, o que é tão incrível para mim, já que ele pode usar a legislação para defender a natureza que as pessoas tanto destroem.
Uma vez, eu li em um desses sites, algo que dizia que uma pessoa adotada pode herdar algumas características que a sua família adotiva também tem, como uma enxaqueca crônica, por exemplo. Talvez isso explique essa semelhança tão forte entre mim o meu pai adotivo.
Bem, eu não sei para onde estávamos indo, porque os meus colegas me convidaram para um luau. Seria como se fosse a nossa confraternização, já que o fim do ano se aproximava e junto com ele, as últimas semanas do ensino médio também. Nem preciso dizer que eu só compareci porque o Teodoro permitiu, já que, se dependesse de Regina, bem, está claro que no que dependesse dela, eu estaria servindo ela e as gêmeas.
Alguns professores também foram para se responsabilizarem por nós. As pessoas não costumam confiar muito em adolescentes e, pelas história que eu escuto contar, acho que elas tem toda razão.
Eu não sei exatamente o que é um luau, sei apenas o que eu li na internet, antes de vir para cá. Mas pelo pouco que eu li e vi nas imagens, gostei bastante, principalmente por conta das músicas, já que eu amo qualquer coisa que envolva música.
“Animada?”, a voz da professora Patrícia me fez despertar. Ela estava sentada ao meu lado e, apesar do olhar triste que sempre a acompanhava, ela parecia feliz por estar ali, com todos nós.
De uma certa forma, eu até conseguia entendê-la. Eu sempre preferi o silêncio do meu quarto ou o barulho dos filmes que costumo assistir. Mas estar aqui, ao lado de tanta gente, não sei explicar, só sei que me faz muito bem.
“Bastante", respondi com sinceridade. “Eu nunca fui a um luau, acho que vai ser uma boa experiência.”
“Vai sim”, ela disse. Mas agora seus olhos castanhos estavam distantes, como se ela tivesse lembrado de algo passado. “Eu já fui a alguns, inclusive, foi em um desses que eu...” A professora Patrícia parou de falar, momentaneamente. Parecia ter se arrependido de iniciar a conversa. “Olha, acabamos de chegar.” Ela mudou de assunto repentinamente, animação parecia votar.
Minha primeira reação após descer do ônibus, foi analisar o lugar inteiro, com o meu olhar. Ao meu lado, ouvi uma das minhas colegas reclamando que odeia mato porque, segundo ela, só serve para ter mosquito e bicho peçonhento.
Observei também, que as turmas já estavam começando a se dispersar, cada um com seu grupo de amizade. Os poucos professores que tinham ido acompanhar, ficavam sempre de olho em todos nós, mas com uma certa distância, para deixar-nos à vontade, até um certo ponto.
“Espero que você tenha trazido agasalho, aqui faz bastante frio à noite”, Caio disse, parando ao meu lado. Eu já nem me assustava mais com os seus aparecimentos repentinos. Acabei me acostumando e, lá no fundo, acho que até gosto.
“Claro, eu imaginei que pudesse esfriar e trouxe agasalho.”
Na verdade, foi Teodoro quem me aconselhou a trazer roupa de frio. Ele disse que o lugar que nós iríamos, faz bastante calor durante o dia, mas as noites costumam ser bem frias. Ele falou com tanta convicção, como se realmente conhecesse bastante o local.
“Quer vir ficar com a gente, Elena?”, Edu perguntou, após se aproximar de mim e de Caio.
É óbvio que eu aceitei o convite, no mesmo instante, afinal, jamais recusaria, principalmente sendo Edu quem me convidou. Mas antes, eu segurei Caio pela mão e o levei junto comigo. Apesar de ele não ter sido convidado por Edu, sei que os dois são muito amigos, mesmo parecendo estarem um pouco estremecidos, acredito que Edu não se importaria de tê-lo por perto e, é claro que eu jamais deixaria meu amigo para trás.
Mas Caio não pareceu ter ficado muito feliz com o convite de Edu, pelo contrário, se mostrou até resistente em ir conosco, mas acabou cedendo, após minha insistência.
O dia já estava começando a escurecer quando sentamos todos juntos em formato de um círculo, ao redor de uma fogueira improvisada.
“Você não trouxe o seu violão, Caio", foi Sabrina quem perguntou. Ela estava bastante sorridente para ele, mas o meu amigo parecia não dar a mínima atenção para as investidas dela. Eu acho que vou precisar dar um toque em Caio, para fazê-lo acordar e perceber que Sabrina está completamente interessada nele.
“Não, eu não trouxe.”
“Que pena”, Sabrina lamentou. “Você canta tão bem.”
“Caio não trouxe, mas o Tiago trouxe", Juliana disse, com um sorriso malicioso no rosto. “Ele te empresta o violão e você canta alguma música, Caio, até porque, você é o melhor cantor da nossa turma, depois do meu namorado, é claro.”
Eu percebi que o meu amigo ficou bastante sem graça, aliás, as bochechas vermelhas dele já tinham se tornado sua marca registrada. Acho que eu sou a única pessoa que cora mais do que ele. E, essa também é uma coisa que eu gosto nele, Caio fica ainda mais bonito quando está com as bochechas um pouco coradas.
Me surpreendi quando Caio pegou o violão e começou a tocar uma música que, só depois, eu me dei conta que já conhecia. Eu nunca soube que ele cantava e ainda tocava violão. Foi uma surpresa quando escutei sua voz soando tão lindamente, enquanto pronunciava o refrão da música.
“I wanna be more than friends. I wanna be more than friends. I wanna tell everyone you're taken. And take your hand until the end. I wanna be more than friends”, enquanto ele cantava, eu percebi que, por um instante, o seu olhar se fixou em mim. Eu adoraria saber o que dizia aquela letra, mas eu sou um verdadeiro desastre em inglês. A professora Patrícia que parecia entender muito bem o que dizia – obviamente, já que ela é professora de inglês – pois ela olhava para nossa direção com um largo sorriso no rosto, como quem quisesse dizer alguma coisa.
Eu preciso lembrar de perguntar para Caio o nome dessa música para pesquisar a tradução, quando chegar em casa.
Ele continuou, enquanto alguns dos nossos colegas também acompanhavam a canção.
“At the risk of sounding foolish. I don't wanna fool around no more. If we're gonna do this then let's do this. You can fix my broken heart if it's all yours”
Nas primeiras estrofes eu ainda consegui prestar atenção na música e no som delicioso que a sua voz emitia, mas depois que eu vi Edu ali, tão perto de mim, eu não consegui prestar atenção em mais nada que não fosse o rosto dele.
Eu posso estar parecendo uma psicopata obsessiva? Sim, eu posso. Mas é muito mais forte do que eu essa vontade que eu sinto de olhar para ele, toda vez que estamos perto.
Sim, nos últimos dias eu estava me sentindo confusa, não sabia exatamente o que sentia por ele. Mas, era como se algo dentro de mim não quisesse deixar de gostar de Edu, deixar de acreditar que ele seria um perfeito príncipe como esses que eu sonho.
Nem me dei conta quando a música terminou. Somente quando Caio abandonou o violão no chão e saiu de perto de nós, que eu pude perceber que passei mais tempo do que gostaria, olhando para Edu. Só espero que ninguém mais tenha percebido.
Fiquei sem saber o que houve com o meu amigo. Ele parecia bem enquanto cantava, até sorria para mim de vez em quando, mas depois ficou tão esquisito. Eu juro que gostaria de saber o que se passa pela cabeça dele.
Eu me levantei para ir atrás de Caio, saber o que aconteceu e porque ele pareceu ter ficado tão bravo, mas fui impedida por Sabrina, que me interrompeu logo em seguida.
“Pode deixar que eu vou falar com ele.”
Assenti e sentei novamente. Ela o conhece a mais tempo, deve saber o que aconteceu com ele.
Após passar um longo período de tempo, eu fui atrás de Caio. Eu queria saber como meu amigo estava. Mas o que vi foi ele e Sabrina abraçados, como se fosse... Não sei, como se fosse um casal, talvez.
Talvez eles tivessem se entendido e, se isso realmente aconteceu, eu só tinha a torcer por eles. Sabrina é uma ótima garota e parece gostar muito do Caio. Meu amigo merece ser feliz.
Sorri em satisfação. Pelo menos ele estava conseguindo êxito na vida amorosa. E, por mais que ter encontrado os dois juntos tivesse despertado sentimentos bem controversos dentro de mim, eu precisava ficar feliz por ele. Ele é meu amigo, eu não posso sentir nada além disso e estragar nossa amizade.
Talvez Nanda tenha se equivocado quando disse que ele gosta de mim, e não é de hoje, e é por isso que eu não podia me iludir, novamente com uma pessoa que não retribui meus sentimentos. Chega de paixão unilateral.
Tradução:
Eu quero ser mais que amigos
Eu quero ser mais que amigos
Eu quero dizer pra todos que você está comprometida
E segurar sua mão até o fim
Eu quero ser mais que amigos
Correndo o risco de parecer trouxa
Eu não quero perder tempo por aí mais não
Se nós vamos fazer isso, então vamos nessa
Você pode ajeitar meu coração partido se for todo seu.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro