
Capítulo 13
É engraçado, né? Parece que quando estamos apaixonados, tudo o que a pessoa em questão faz, é a coisa mais incrível do mundo. O Edu, pro exemplo, ele pode contar a piada mais tosca e sem graça do mundo, mas para mim, ele é sempre o mais engraçado de todos.
Eu pude ver isso um pouquinho refletido em Juliana. O brilho nos seus olhos, toda vez que o seu olhar estava direcionado a Tiago, era perceptível, mesmo ele sendo um péssimo jogador. A minha colega vibrava silenciosamente, toda vez que via a bola nos pés do namorado.
Da arquibancada, nós escolhíamos para qual time torcer, só dependia de quem estava jogando. No meu caso era um pouco mais complicado, já que Caio jogava em um time e Edu defendia outro. Aqueles dois são tão amigos, eles bem que poderiam ser parceiros de time também, para facilitar minha escolha.
Meu sentimento ficava bastante dividido. De um lado tinha aquele que estava se tornando o meu melhor amigo e que sempre estava disposto a arrancar um sorriso do meu rosto, já do outro, tinha o garoto que sempre fez meu coração bater mais forte.
“O Tiago joga tão bem, não é?”, disse Juliana, com um sorriso bobo no rosto, enquanto não tirava os olhos do namorado.
Percebi quando Nanda e Sabrina se entreolharam. Apesar de não termos tanta intimidade, eu conseguia ler nos olhos das duas que elas não gostariam de desagradar a amiga, mas preferiam não mentir, até porque, não precisava ser nenhum gênio do futebol – e olha que eu não entendo nada desse esporte – para saber que ele era péssimo.
“Fala sério, amiga, Tiago é um dos piores jogadores que eu já vi”, Sabrina foi a primeira que se manifestou.
“Desculpa, Ju, mas dessa vez eu preciso concordar com Sabrina”, agora foi Nanda quem falou.
Ela não respondeu, mas fechou a cara no mesmo instante. E o pior é que, de certa forma, eu até entendo ela. Eu odeio quando alguém fala mal de Edu na minha frente, e olha que nós não temos nada. Ao mesmo tempo que também não iria gostar se Caio fosse o alvo, já que ele vem se tornando alguém muito importante para mim.
Bem, eu preferi ficar na minha. As meninas já foram muito legais em me chamar para sentar ao lado delas, enquanto assistíamos, eu não gostaria de me indispor com nenhuma das três. Mas é claro que eu partilhava da mesma opinião das outras duas.
“Gente, é impressão minha, ou Caio não parece estar em um bom dia hoje?”, Sabrina observou, mudando de assunto.
“Acho que não é só impressão”, Nanda confirmou, o que fez com que eu tirasse os olhos de Edu e olhasse para o meu outro colega. “Já é a segunda falta que ele levou, só nos primeiros vinte minutos de jogo.”
Eu ainda não tinha reparado porque, assim como Juliana só tinha olhos para Tiago, o meu olhar estava voltado apenas para Edu. Mas, observando bem, ele realmente parece estressado hoje, como se algo tivesse atormentando sua mente.
O meu colega nunca foi violento e, apesar de já ter levado algumas faltas em outros jogos, assim como todos os outros que também estão jogando ali, levar tantas faltas em tão pouco tempo, era demais para qualquer um, acredito eu. Nós não temos conversado muito, nesses últimos dias, e sei que a culpa é minha por ter me distanciado um pouco. Não era minha intenção, mas eu estava tão exausta de Regina, Madalena, e tudo o que envolvia as duas, que preferia manter distância de qualquer pessoa, para não alugar ninguém falando sobre mim e todas as coisas desagradáveis que acontecem na minha vida, principalmente alugar meu amigo, que já tem tantos problemas.
Depois de ouvir o seu desabafo há alguns dias atrás, logo me vem a mente de que só pode ser problemas com sua mãe, ou talvez, até mesmo com o seu pai. Não sei, fato é que estava na cara que tinha algo o atormentando.
Por um instante, eu esqueci que Edu também estava jogando e passei a focar minha atenção apenas em Caio. Eu pude ver o exato momento em que ele levou cartão vermelho por ter cometido uma falta grave contra Edu.
Juro que se fosse antes da nossa conversa, eu estaria com muita raiva dele, por ter derrubado o Edu no chão. Mas eu já o conhecia o suficiente para saber que ele não estava nada bem e que aquela atitude impulsiva só poderia significar problemas em casa.
O meu colega não retrucou o cartão vermelho que recebeu, acho que ele sabia que estava errado. Ele apenas saiu pisando forte, como se estivesse chateado consigo mesmo por seja lá o que tenha acontecido.
Acompanhei com o olhar, enquanto ele saía da quadra, uma imensa vontade de ir atrás dele, saber o que houve, tomou conta de mim.
Pensei bastante se eu deveria fazer aquilo. Talvez ele preferisse ficar apenas em seu mundo, sem conversar com ninguém, como eu me sinto, as vezes. Mas optei por caminhar até ele. Talvez o meu novo amigo precisasse de alguém para conversar. Quem sabe assim aliviava aquele estresse em que se encontrava. E eu gostava de ser a pessoa em quem ele confiava, uma das únicas a saber sobre sua vida.
“Ei", chamei, fazendo-o parar, mas sem olhar para trás. “O que aconteceu?”
Após acompanhá-lo, notei sua respiração um pouco pesada, o cansaço, talvez, que começava a consumir.
Mesmo virado para minha direção, Caio evitava me olhar nos olhos. Parecia ter algum tipo de receio ali, ao mesmo tempo em que a raiva também parecia percorrer seu corpo.
“Nada que seja importante”, respondeu, completamente indiferente à minha presença ali.
Não deixei me intimidar com o seu tom desagradável sendo direcionado a mim, e continuei tentando arrancar alguma informação sua ou pelo menos fazê-lo se acalmar.
Me aproximei um pouco mais e pude notar com bastante clareza, a hora em que ele deu um passo para trás, como se tivesse tentando me evitar.
“O que aconteceu, Caio?”, continuei tentando. “Por que você tá agindo assim?”
Ele revirou os olhos, com impaciência. Eu ainda buscava entender sua reação, queria saber o que estava acontecendo e, se eu pudesse fazer qualquer coisa, ajudá-lo também.
“Eu sei que você está preocupada com o Edu, mas fica tranquila, seu queridinho não se machucou. Não foi nada grave”
O quê? Mas quem falou em Edu? Eu nem estava lembrando que ele também fazia parte daquele jogo estúpido. Minha única preocupação era saber o que estava acontecendo com o garoto à minha frente, só isso.
“Eu estou preocupada com você. Eu só queria...”
“Me deixa em paz, Elena. Volta para o seu mundo encantado de contos de fadas e espera o seu príncipe encantado aparecer. Isso aqui é mundo real. Acho que você não vive nele, não é?”
Aquelas foram suas últimas palavras, antes de se afastar de mim, me deixando ali plantada e sem saber o que responder.
Eu não sabia o que estava acontecendo, mas tinha certeza que era algo relacionado à sua família, pelo que ele me contou, o estado da sua mãe piora a cada dia que passa. Eu nunca vi Caio tão bravo, a ponto de ser expulso de um jogo amador de ensino médio.
Mas não dava para deixar passar. Ele foi grosso comigo, enquanto tudo o que eu queria era ajudar. Por mais que ele não saiba o que acontece comigo, dentro da casa onde eu moro, Caio poderia ter sido menos rude.
Eu sei o quanto é difícil ter problemas em casa. Nossa, é inexplicável o tanto que eu me sinto péssima quando Regina me ofende. Ainda lembro da primeira vez que ela me disse que nunca seria minha mãe e eu era apenas uma intrusa dentro da sua casa. Aquilo doeu. E como doeu. Eu era uma criança de nove anos, feliz por ter ganhado uma família nova, mas de repente, o mundo que eu achei que seria o mais feliz, desmoronou de vez.
Bem, mesmo machucada, eu preferi guardar apenas para mim e não descontar a raiva em cima de ninguém, porque, eu sabia que as outras pessoas não tinham nada a ver com isso.
No caso do meu colega, eu só queria ajudar um amigo. Nunca imaginei que seria tratada dessa forma. Mas, é como dizem, certo? Cada um reage de um jeito diferente, diante de seus problemas. Mesmo sabendo disso, sei que talvez não iremos nos falar de novo, tão cedo. E, nossa, como doía pensar isso. Eu não queria me afastar dele. Não queria passar os dias naquela escola com o rosto virado para o meu melhor amigo.
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