Capítulo 1
Assistindo aquele clipe da Taylor Swift pelo YouTube, no meu celular, eu consigo ver a minha história um pouco retratada nele. Não que eu seja uma nerd super linda como a personagem do clipe - é difícil alguém ter metade da beleza da Taylor Swift - minhas notas nem são tão maravilhosas assim, eu geralmente só consigo tirar nota boa em história e geografia. Ah, literatura também é muito meu forte.
Mas no clipe de You Belong With Me, a personagem sofre com a paixão platônica que sente pelo vizinho que tem uma namorada lindíssima e popular.
Esse também não é o meu caso. Sim, eu tenho uma paixão platônica pelo Edu lá da sala. Quem não teria? Ele é, tipo, lindo, não lembra nem um pouco o garoto do clipe, mas é igualmente lindo. Edu tem o cabelo castanho claro e os olhos verdes que, na minha opinião, são os mais lindos do mundo.
Outra diferença, é que Edu não é, e nunca foi meu amigo. Eu adoraria trocar mensagens com ele pela janela dos nossos quartos, assim como eles fazem no clipe, mas nem somos vizinhos. Além disso, Edu não tem uma namorada linda e popular, na verdade eu acho que nem existe essa coisa de popularidade aqui no Brasil, eu sou bem excluída mesmo lá na minha turma, mas nunca é por falta de tentativa por parte das minhas colegas, elas são umas fofas, estão sempre tentando me incluir, o problema é comigo mesmo. Digamos que eu seja um pouco antissocial.
Mas é um ponto para mim. Já que Edu está solteiro, eu posso sonhar a vontade, sem peso na consciência de estar cobiçando o namorado alheio.
Sonhar. Acho que essa foi a única coisa que me restou. Ele nem sequer olha para mim, sabe meu nome, afinal, todo mundo se conhece na nossa turma, nós já conversamos umas duas vezes, quando fizemos um trabalho no mesmo grupo - juro que eu quase infartei quando a Nanda me chamou para fazer parte do grupo deles - mas foram só alguns minutos, ele logo começou a conversar com os amigos dele lá da turma e eu voltei a ser a menina que senta no fundo da sala.
Lembro que na época eu fiquei furiosa com Caio, um outro garoto que também fazia parte do nosso grupo e nem fazia questão de esconder que não ia muito com minha cara, porque foi ele quem desviou a atenção de Edu, falando sobre algum desses times de futebol que eles tanto amam. Se não tivesse sido pela sua intromissão, tenho certeza que nós passaríamos muito mais tempo conversando e, quem sabe, até poderíamos descobrir ter algo em comum com o outro. Seria um avanço trocar mais de cinco palavras com Edu.
"Elena, estou esperando o meu café", ouço a voz aguda me chamar, me fazendo acordar dos meus sonhos.
Ah, claro! Como eu poderia me esquecer dela, a pessoa que torna a minha vida nessa casa um verdadeiro suplício. Não que eu esteja reclamando, isso nunca, longe de mim. Sou muito grata à dona Regina e ao senhor Teodoro, eles me tiraram do abrigo e me deram um lar, algo que eu sempre sonhei, desde que eu me entendo por gente. Não sei exatamente como fui parar lá, não lembro de nada. Uma vez, me disseram que eu tinha um ano quando cheguei no orfanato. Mas só fui adotada mesmo com nove anos.
Bom, o Teodoro é um homem incrível, um ótimo pai para as duas filhas dele, e até para mim também, que nem sua filha sou. Ele sempre me traz presentes no Natal e no dia do meu aniversário também. Quando eu era mais nova ele sempre me levava para passear junto com as meninas, mas depois elas duas começaram a implicar com a minha presença porque diziam que o pai delas estava dando mais atenção para a adotada. Teodoro não gostou muito da atitude das filhas e até reclamou com elas, mas eu não tiro a razão das duas, ele é pai biológico delas, afinal.
As meninas, Samara e Madalena, até que eram legais comigo quando éramos crianças. A Madalena era mais parecida com a mãe, acho até que ela não aceitou muito bem minha chegada na sua casa, acredito que ela pensava que eu roubaria a atenção dos seus pais e da sua irmã, mas é claro que isso nunca aconteceu e, no início, até que conseguimos ficar amigas, ela era legal. Eu sou apenas um ano mais velha que as duas, que são gêmeas bivitelinas, isso também contribuía um pouco para aquela rápida união da gente.
Eu digo rápida união, porque bastou passar o primeiro ano, que elas mudaram completamente, principalmente a Madalena. Elas não me tratavam como irmã, que era como eu já estava considerando as duas, eu era só a menina que servia elas e até brincava com ambas quando estavam entediadas.
No caso da Regina é bem pior. Ela nunca me tratou bem. Na verdade, Regina sempre deixou bem claro que só me adotou porque o marido dela encasquetou com a ideia de adotar uma menina para ficar com três filhas. Mas no fim das contas, ela foi quem mais saiu ganhando, já que agora tem uma empregada particular e que nem precisa assinar carteira de trabalho, já que pela lei eu sou filha dela.
"Aqui está seu café", sirvo-a, tentando soar o mais agradável possível, mas no fundo estou torcendo para que ela saia logo de casa para que eu possa terminar de me arrumar para a escola.
"Eu só espero que da próxima vez você não demore tanto, sabe como eu sinto fome no café da manhã"
"Desculpa, Regina, eu demorei porque estava me arrumando para a escola"
"Acorde mais cedo da próxima vez", ela rosnou para mim. "Seu celular tem despertador, acione-o para tocar antes do horário. Você sabe que eu fico furiosa quando não encontro o meu café posto na mesa."
Respirei fundo, tentando não me sentir tão afetada pela sua ofensa. Foram anos escutado palavras semelhantes sendo direcionadas a mim, eu já deveria ter me acostumado.
"Está bem, Regina, eu vou ativar o despertador para trinta minutos mais cedo."
"Que ótimo, pelo menos bom senso você tem."
Eu não quero ser mal-agradecida, nem nada, mas eu adoraria ter uma mãe bem melhor do que a Regina, aquela mulher me despreza, para ela eu só sirvo para preparar seu café e arrumar a casa quando a Guilhermina falta.
Aliás, nem sei o que falar da Guilhermina. Ela é uma das melhores pessoas dessa casa, juntamente com o senhor Teodoro, é claro. Ela é a mãe que eu sempre quis ter e iria adorar ter sido adotada por ela. Mas Guilhermina sempre disse que só teria um filho se pudesse oferecer condições de vida melhor do que a sua, ou ao menos tivesse condições de matricular a criança em uma boa escola.
"Mãe, eu estou muito atrasada para a aula. Não posso esperar o próximo ônibus passar, ou então perco o primeiro horário", essa foi Madalena, que desceu as escadas correndo, falando com a maior dramaticidade do mundo. Juro que ela seria uma excelente atriz, sempre adorou encenar, desde pequena. Oh, não, não, isso não é uma crítica, é um elogio, eu realmente admiro quem tem talento para artes. Até mesmo eu gostaria de ter algum talento, mas a única coisa que sei fazer é arrumar a casa, o que não deixa de ser um talento também.
"Está aqui", Regina tirou uma quantia considerável de sua carteira e entregou para Madalena. "Pegue um táxi e vá junto com a sua irmã."
"Mas eu ainda nem tomei café", Samara protestou, inconformada.
"Você não precisa tomar café, Samara", Regina disse. "Siga o exemplo da sua irmã e faça uma dieta."
"Mas mãe, eu estou com fome."
"Não discuta, Samara. Você anda comendo bem mais do que deveria. Ou pensa que eu não sei que é você quem assalta a geladeira todas as noites?"
Samara revirou os olhos, mas decidiu não rebater mais, ela sabia que a última palavra era sempre da sua mãe e há tempos que Regina reclama sobre o peso da gêmea que nasceu poucos minutos depois da outra.
E eu fiquei esperando que alguém lembrasse da minha existência e que eu também estava atrasada para a aula. Eu não gostaria de me oferecer para ir de táxi com as meninas porque da última vez que eu pedi uma carona, elas me mandaram comprar um asno para ir à escola.
Mas, pensando melhor, acho que não custa nada tentar.
"Será que eu já posso ir também? O caminho até a escola é longo e eu não posso me atrasar mais", pedi, assim, quase sem pretensões mesmo, mas com uma doce ilusão de que Regina me mandaria ir de táxi com as filhas dela. Doce ilusão.
"Você pode ir, sim", eu já estava me preparando para agradecê-la por sua generosidade, mas fui interrompida antes mesmo que eu pudesse esboçar alguma reação. "Depois de passar um novo café, este aqui está péssimo, muito açucarado que chega enjoa e fraco demais, igualzinho a você."
Eu fiz a única coisa que poderia ter feito naquele momento. Engoli o choro que estava se formando na minha garganta e fui passar um novo café. O que mais eu poderia fazer? Jamais enfrentaria a mulher que me tirou do orfanato. Ela pode agir como uma megera na maioria das vezes, mas foi a pessoa que me deu um lar e, mesmo me falando algumas coisas não muito agradáveis de vez em quando, serei eternamente grata a ela.
Após terminar de cumprir todas as ordens dada por Regina, peguei um ônibus lotado e que acabou atrasando por conta do horário comercial, para ir à escola, torcendo para a professora de inglês ter se atrasado novamente. Ela sempre chega alguns minutos depois do horário, mas eu estou bastante atrasada. Mesmo assim, se ela tiver se atrasado pelo menos um pouco, já vai valer de alguma coisa.
Mas como tudo na minha vida acaba dando errado, ela escolheu chegar cedo justo hoje, no dia em que eu me atraso. Dei leves batidinhas na porta, ganhando sua atenção, e, consequentemente, a atenção de outros colegas, também. Tive certeza que envermelhei de vergonha, já que odeio ser o centro das atenções.
"Elena, isso não são horas", ela afirmou, mas seu tom de repreensão não era tão constrangedor quanto da maioria dos professores, quando chamam atenção de algum aluno.
Fitei meus pés, tentando não olhar para ela e nem para os meus colegas, morta de vergonha. Eu gosto muito dessa professora, ela é ótima e uma pessoa maravilhosa e, mesmo não sendo lá muito boa para aprender línguas estrangeiras, eu até que gosto das suas aulas de inglês, mas foi o maior constrangimento ter todo mundo olhando para mim na sala. Mas eu sei que a culpa foi integralmente minha, era eu quem deveria ter chegado cedo e ela tem toda razão de chamar a minha atenção, além de estar cumprindo o seu papel como uma superiora.
"Desculpa, professora", pedi, ainda sem olhar para ela. "Eu posso entrar?"
"Claro" antes de me deixar seguir até a minha cadeira de origem, a última do fundo, ela se inclinou para sussurrar alguma coisa no meu ouvido. "Não conte a ninguém, mas eu só vou deixar passar porque é você."
Sorri discretamente para ela, afinal de contas, aquele era o nosso segredo agora, ninguém podia saber que ela estava protegendo uma aluna. Não falei que ela era legal? A maioria dos meus professores são legais, pelo menos comigo. Não que eu seja algum tipo de prodígio ou alguém muito inteligente, nem nada assim. Como já disse antes, minhas notas não são as melhores, mas eu me comporto bem, nem converso na hora da aula, como a maioria do pessoal faz, nunca fui advertida, nem mandada para a sala da diretoria e também nunca levei nenhum aviso para casa. Acho que esses são os requisitos básicos para todos os professores simpatizarem com algum aluno.
Mas não sei exatamente o motivo, Patrícia, minha professora de inglês, era muito mais especial para mim. Eu gostava mesmo dela, apesar de odiar a disciplina que ela ensinava, parecíamos ter muita coisa em comum, e isso a tornava minha professora preferida.
Edu estava bem ali, sentado em uma das cadeiras do canto esquerdo da sala, o meu lado preferido. Geralmente, todo mundo sempre escolhe o lado direito, até mesmo porque grande parte das pessoas são destras, ao contrário de mim que sou canhota, então sempre que preciso escolher entre lado o esquerdo e o direito, eu opto pelo esquerdo. Ah, e ainda é desse lado que temos a veia que liga ao coração. Isso não é demais? Bem, sei que é meio aleatório, mas Edu já ocupa o meu coração a um bom tempo, ele é quem não sabe ainda, e no que depender de mim, nunca vai saber. Eu prefiro ter a indiferença dele enquanto não conhece os meus sentimentos, do que a certeza de que ele não sente nada por mim.
Suspirei e voltei minha atenção para o quadro, enquanto a professora escrevia algumas conjugações de verbos em inglês e fazia-nos repetir junto com ela, para treinar nossa pronúncia. Por enquanto, para passar de ano, eu precisava jogar um pouco de areia sobre essa paixão que sinto pelo Edu e focar somente nos estudos, pelo menos enquanto eu tivesse na escola.
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