Capítulo 5 - Confie - parte 2
Wei Ying caminhava pela estreita rua entre as casas antigas no bairro Dongsiertiao hutong, periferia de Pequim, estava na região a qual pertencia a família Mo, como chegará cedo, foi direto a loja de penhores do senhor Chao Li.
— Consegui um bom dinheiro. – Sorrindo ajeitou a mochila no ombro, havia vendido tudo que tinha de valor inclusive o smartphone. Não iria mais precisar, no entanto sentiu-se triste por desfazer de algo que ainda era uma forma de contato com o Dr. SiZhui e Lan Zhan. – Eu preciso esquecer, não é lá grande coisa, eu o salvei e ele me ajudou de certa forma estamos quites.
Já era final de tarde e o dia apesar de frio ainda tinha alguns raios de sol entre as nuvens que estava se pondo no horizonte. Aos poucos as luzes das casas se acendiam e o caminho não ficava tão escuro. Wei Ying seguia para o orfanato com o coração apertado, mas de certa forma feliz por ter conseguido o dinheiro para pagar a dívida e assim a família Mo não expulsar a irmã e as crianças do lugar.
O orfanato onde Wei Ying havia crescido, era em um hutong, que existe desde a dinastia Yuan no século XIII, quando Kublai Khan governava a China, nos últimos meses sua irmã juntamente com a sua avó Meng Su recebera a notícia que a família Mo havia comprado parte do bairro e estavam indenizando os moradores para saírem dos hutong que seriam demolidos para a construção de prédios modernos. O orfanato era muito difícil de ser mantido, as 10 crianças que lá viviam eram alguns filhos de imigrantes de províncias do interior que haviam abandonado para tentar a sorte na cidade grande em busca de sustento, outras eram apenas a cota extra que alguns casais não podiam manter. A China estava em uma fase complicada e havia uma crise interna onde faltava emprego, no entanto o governo criou um plano de emergência para revitalizar a economia e juntamente melhorar a estrutura da cidade, com isso bairros inteiros começaram a ser demolidos para construção de novos edifícios e moradias. Os moradores da região recebiam uma indenização.
Wei Ying sabia da situação complicada que o orfanato iria enfrentar, afinal aquelas crianças a maioria meninas, assim como ele não tinham mais ninguém no mundo. A maioria eram abandonadas por conta controle de natalidade da China ser rigoroso, as crianças nem sequer chegaram a conhecer os pais, assim que nasciam eram deixadas naquele lugar. Exatamente como Wei Ying, foi assim que chegou ainda bebê de alguns dias e entregue a senhora Su. A única informação que ele tinha era o nome e que era o terceiro filho homem e por conta do controle de natalidade foi abandonado pela família. Tal fato chegou por um bom tempo a incomoda-lo, mas depois passou a ignorar seu passado e considerar a senhora Su e YanLi como sua família.
— Com esse dinheiro, YanLi poderá pagar a dívida e não precisar saímos do orfanato. – O rapaz estava perto da viela que levava ao orfanato, distraído não notou que estava sendo seguido.
— Wei Ying.
Wei Ying parou na esquina quando ouviu seu nome, aquela voz arrogante conhecia bem, sua expressão ficou séria quando se virou para encarar o primogênito da Família Mo.
— O que é? – Wei Ying olhou para ele e o grupo a sua volta, era maior em número que o grupo que estava no Shopping com Mo ZiYuan outro dia.
— Olha como fala fedelho, esqueceu com quem está lidando, mais respeito.
— Humrf... Grande coisa.
— Wei Ying, parece que você não entendeu. – ZiYuan se aproximou encarando-o. – Acho que precisarei fazer algo para entender. – Fez um gesto para o grupo se aproximar.
Wei Ying inspirou fundo e mesmo com medo, manteve a face indiferente a postura de ZiYuan.
— Hum, bem típico de você, não encara uma briga sozinho, tem que chamar seus "amiguinhos". – O tom que Wei Ying deu a última palavras era insinuativo para irritar o outro.
Os olhos de ZiYuan estreitaram, a face tomou um tom de fúria e avançou agarrando a gola do casaco de Wei Ying.
— O que está insinuando, seu merda?! Quem aqui tem "amiguinhos" é você, seu gay escroto. – ZiYuan arrastou-o pela gola e chocou o corpo de Wei Ying contra a parede de uma residência. – Vai engolir o que disse junto com seus dentes. – ZiYuan preparou o punho cerrando os dedos para socar o outro quando foi impedido por uma mão.
— O que está fazendo ZiYuan? – O outro rapaz ofegava olhando-os assustado.
O grupo em volta deles estavam agitados e alguns falavam irritados por não ver a briga começar, um dos garotos aproximou e puxou o rapaz que segurava a mão de ZiYuan.
— O namoradinho veio salvar a namoradinha? – O rapaz ria debochando dele.
— XuanYu, quem te deu autorização para me tocar seu merda?
Wei Ying olhava o grupo, pensando em uma forma de escapar, mas cercado ele não teria outra opção a não ser ter que brigar com todos. Virou o rosto para Mo XuanYu preocupado, afinal por conta do que aconteceu com eles que toda aquela situação começou.
— Solta-me ZiYuan! – Wei Ying aproveitou a distração do outro e empurrou-o dando uma rasteira, afastando dele em seguida.
ZiYuan caiu sentado e começou a gritar irritado ordenando aos demais rapazes que segurasse Wei Ying.
— Wei Ying vai receber seu castigo e sendo assistido por você, XuanYu, hahahahahahahahahahahaha
— ZiYuan para com isso, deixe ele, a culpa foi minha... – XuanYu tentou se soltar dos dois rapazes que o seguraram.
— Hei, hei, hei... Parece que você não entendeu, quer apanhar junto com seu namoradinho? – ZiYuan acertou com soco a boca do estomago de XuanYu e virou-se para Wei Ying. – Vamos todos fazer um passeio nas ruínas.
Wei Ying estava apavorado, sabia bem que aquele lado da cidade era abandonado e cheio de escombros das construções demolidas, não haveria ninguém para ajuda-lo, sem muita opção começou a gritar por ajuda.
O grupo somente sorriu, como dominavam a região, assustavam os moradores e muitos deles não ousariam interferirem, era inútil e assim o grupo arrastou a dupla para os carros e saíram logo em seguida cantando pneu pelas estreitas vielas do bairro antigo.
Lan WangJi estava se preparando, havia pego Bichen e WangJi Guqin, a fita na testa precisamente ajeitada quando ele se virou para sair do quarto. Vestido em um longo sobretudo branco com detalhes de nuvens em azul bordado nas mangas e gola, em uma pose altiva e elegante se destacava entre o grupo que esperava na sala principal.
— HanGuang-Jun. – O coro solene o cumprimentou, curvando-se com as mãos unidas a frente do corpo.
O grupo era formado por 10 jovem rapazes todos vestiam roupas brancas, calças, botas, casacos e sobretudo branco com detalhes em azul de pequenas nuvens, além da fita na testa. Carregavam suas espadas presas a cintura. Entre eles estavam SiZhui e JingYi.
— HanGuang-Jun, ele provavelmente retornou ao orfanato. – JingYi fazia o relatório. – Como havia solicitado, investiguei tudo.
Lan WangJi silencioso ouvia-o atento, sabia da real situação naquela região periférica e dominada pela família Mo que tornou o local muito favorável a surgimento de diversas criaturas sobrenaturais e aumento da energia ressentida.
— Perfeito, recebi a mensagem HanGuang-Jun, temos autorização para caçar na região. – SiZhui olhava a tela de seu smartphone, enquanto informava que poderiam entrar no local.
O mundo do cultivo mudou muito com o passar dos tempos, o cultivador chefe havia estabelecido um decreto para manter o equilíbrio onde cada família dominaria uma determinada região da China e com isso criou-se umas regras não oficiais, mas respeitadas, que para entrar nessas regiões era necessário fazer uma formalização por escrito para a caçada. A família Mo não era tão influente, porém como estavam no controle do ramo imobiliário, conseguiram certa ascensão e dominaram a periferia de Pequim.
Lan WangJi fez um gesto com a cabeça e todo o grupo se preparou, saindo logo a frente se direcionaram para a janela principal do apartamento, todos desembainharam suas espadas, Lan WangJi já havia montado Bichen e saído voando pela janela. SiZhui e JingYi foram os próximos e logo em seguida os oitos discípulos restantes. Em tempos modernos aquele costume do mundo do cultivo era inibido por magia, porém quando necessário usavam e aplicavam arranjos de ilusão para não serem vistos enquanto montavam suas espadas, voando pelo céu da cidade.
A noite era fria e as nuvens estavam pesadas certamente viria um temporal, todos seguiam Lan WangJi que voava rápido a frente. O receio era enorme, desde que soubera naquela tarde o que Wei Ying evitava lhe contar, precisava encontra-lo antes que o pior acontecesse.
— SiZhui, espero conseguirmos chegar a Wei Ying antes da família Mo. – JingYi estava nervoso, a tarde durante as investigações foi informado por SiZhui que Wei Ying havia sumido e com isso começaram as buscas do rapaz.
— Wei Ying irá direto para o orfanato depois que saiu da loja de penhores, já que conseguiu o dinheiro que precisava. Ele é esperto, contemos que tenha conseguido chegar antes de esbarrar com aqueles cre... – SiZhui engoliu a palavra quando notou o olhar por cima do ombro de Lan WangJi. – Perdão da palavra HanGuang-Jun.
Lan WangJi não demonstrou reprovação, seus olhos claros somente viraram pra frente, apesar de sua face inexpressiva, por dentro seu coração batia apressado e angustiado. Temeroso queria chegar à região o quanto antes.
O dono da loja de penhores era um cultivador aposentado e quando viu os discípulos da família Lan procurar por Wei Ying decidiu que contaria o que sabia naquela tarde para o JingYi.
— Ele esteve aqui, comprei todos os itens dele, como tinha nota fiscal aceitei. – Chao olhava nervoso o JingYi. – O garoto é de rua, por que a família Lan está interessada nele?
JingYi enviava mensagens pelo seu smartphone quando estreitou os olhos ao dono da loja reprovando a pergunta.
— Wei Ying é discípulo de HanGuang-Jun, respondi sua dúvida?
O homem arregalou os olhos e balançou a cabeça confirmando ainda mais nervoso, passou a mão na barbicha longa quando voltou a falar.
— Eu creio que não será por muito tempo.
JingYi estava quase na porta quando ouviu-o insinuar aquelas palavras, virou-se para o homem e rapidamente se aproximou irritado.
— Continue, já que começou a insinuar...
Engolindo seco o homem afastou do balcão da loja e foi até a porta olhando para fora notou um grupo pequeno de cultivadores da família Mo encostado em um carro do outro lado da rua , Ele inspirou fundo mexendo nos itens que estavam na prateleira do lado.
— Jovem mestre, essa região é muito perigosa, as paredes tem ouvidos e posso me comprometer, porém se o jovem mestre quer saber melhor fazer o que estou preste a lhe falar. – O homem pegou um aparelho de som e estendeu a JingYi. – Esse aparelho está a venda um tempo, deu algum trabalho, mas agora está pronto para ser negociado.
JingYi ficou atento ao que o homem falava, confuso de início preciso de alguns segundos para entender que aquelas palavras estavam disfarçando o que o homem queria realmente dizer. Compreendeu e pegou o aparelho de som das mãos do outro e começou olha-lo como se fosse um cliente.
— E pode ter algum defeito no futuro?
— Ah sim, se o jovem mestre quiser mesmo o aparelho, farei um desconto. – O homem andou até o balcão e preparou uma nota fiscal para vender o item ao rapaz. – Que tal esse desconto? – Deslizou sobre a madeira nobre do balcão o bloco de notas para frente.
JingYi olhou-o e precisou ser muito firme para não ficar assustado com o que leu na nota.
— Ótimo desconto, vou levar. – Aguardou o outro embrulhar a mercadoria e pagou. — Bom fazer negócios com o senhor.
— Volte sempre!
Na nota, o senhor Chao havia escrito que a família Mo iria dá fim a Wei Ying, pois a dívida não foi perdoada e que o orfanato seria demolido. Correndo contra o tempo, retornou ao prédio da família Lan e informou a Lan WangJi o que descobrira.
*****
— SiZhui se algo acontecer a Wei Ying temo por HanGuang-Jun. – JingYi assim como SiZhui era bem próximo de Lan WangJi, como seu assistente direto havia aprendido com a convivência a entender o segundo mestre Lan. E foi testemunha de como havia se tornado mais feliz com a chegada do rapaz. – Ele não demonstra, mas você sabe que ele estava feliz com esse garoto.
— Não vamos pensar no pior. – SiZhui estava igualmente preocupado e usando sua energia espiritual aumentou a velocidade do voo de sua espada.
Lan WangJi estava bem a frente, os demais discípulos precisaram aumentar a velocidade de voo de suas espadas para conseguirem acompanhar o mestre Lan.
*****
Os socos ecoavam pelo local. O galpão abandonado servira de local para o grupo se divertir enquanto viam ZiYuan bater em Wei Ying. O garoto estava em desvantagem, foi amarrado pelos pulsos, haviam tirado suas roupas e deixando-o somente de cueca. Com a cabeça baixa, ele gemia com as pancadas que recebia.
— Acaba com ele ZiYuan. – Os demais gritavam. – Hahahahahahaha...
— ZiYuan, por favor para com isso? – XuanYu chorava, enquanto era segurado pelos braços por dois rapazes do grupo. – Deixa-o ir.
— Claro que não, vou perder meu saco de pancadas... – Voltou a socar o estomago de Wei Ying.
Wei Ying estava cheio de hematomas, seus olhos inchados e roxo por tantos socos mal abriam, quando recebeu aquele soco cuspiu sangue, estava mal e chorou por dentro em não poder ajudar sua irmã e agora sabia que estava perto de seu fim.
— ZiYuan... – Murmurou. – Eu disse que ia... – Tossiu novamente cuspindo mais sangue. – Eu tenho ... o ... dinheiro...
ZiYuan caminhava de um lado para o outro, como uma fera em volta de sua presa, rindo e se divertindo em ver o sofrimento de Wei Ying.
— E será uma grana bem gasta, pode ter certeza. – Gargalhou. – Vamos beber a noite toda hahahahahaha...
Wei Ying tremeu e sua expressão sofrida mudou para uma mistura de fúria e dor.
— DESGRAÇADO...
— Olha só ainda tem forças para ficar com raiva e gritar... – ZiYuan caminhou para perto dele e aproximou o rosto. – A divida nunca será perdoada e aquele orfanato vai virar ruínas hahahahaha... – Desferiu outro soco acertando o queixo de Wei Ying. O estado do rapaz era grave e com esse soco acabou desmaiando.
XuanYu gritou desesperado, sabia que iriam matar o amigo, o único amigo que ele tinha. Atordoado começou a implorar por Wei Ying.
— Por favor, deixe-o ir, você já deu a lição, se continuar vai mata-lo.
ZiYuan passou o braço no rosto suado e virou-se para ir até o primo.
— Escuta seu gay lunático, não adianta implorar o caminho dele já foi determinado, agora é só mandar ele seguir hahahahahahaha...
As gargalhadas de todos ecoavam no local e ZiYuan deu tapas no rosto de XuanYu.
— Ninguém vai sentir falta de um órfão e você só não vai junto porque é da família infelizmente. – ZiYuan empurrou XuanYu, voltando para Wei Ying que estava pendurado e desacordado. – Tirem ele, vamos terminar isso e beber a noite toda.
Todos concordaram e uma dupla desamarrou Wei Ying para leva-lo ao prédio que seria demolido pela manhã no lado isolado do bairro abandonado.
— Ei ZiYuan, vamos deixá-lo lá no prédio?
— Larga lá, aquele lugar vai ser demolido amanhã, não vão nem achar corpo e se achar vão pensar que ele estava lá no prédio quando foi demolido. – ZiYuan riu satisfeito com o plano sem vestígios para a família, era a forma que eles se livravam de quem consideravam inimigos.
XuanYu olhava desolado Wei Ying ser levado pelos dois rapazes, não tinha nada que pudesse fazer. Eles eram cultivadores e mesmo que tivesse treinado cultivo, foi tão pouco tempo que não tinha energia espiritual para enfrentar aquele grupo grande. Ele lamentou por tudo, choroso foi jogado no banco de trás do carro enquanto murmurava palavras de perdão para o amigo. Pela janela do carro viu o pequeno grupo que foi formado para "sumir" com Wei Ying.
— Perdão Wei Ying... Perdão...
Encolhendo-se no banco do carro chorando compulsivamente, só pensava em como ele odiava aquela família e como desejou que eles sumissem do mundo.
*****
Lan WangJi chegou a região juntamente com seu grupo de discípulos, seguindo para o orfanato chegaram a rua que ficava o imóvel antigo, o tempo começou a ficar mais frio e ventos arrastavam as nuvens pesadas, um temporal estava se formando.
Pararam em frente ao portão de entrada, SiZhui já havia se postado de frente para tocar a campainha quando Lan WangJi e JingYi voltaram a face para o lado oposto da rua.
Um pequeno grupo de rapazes caminhavam cantarolando e aparentemente bêbados, nada de anormal de certa forma a não ser por um deles ter algo que chamou atenção de Lan WangJi.
— JingYi.
— Estou indo... – JingYi caminhou seguido por mais 3 discípulos e rodearam os rapazes. – Cultivadores se divertindo, hen...
O trio parou assustado quando notaram quem eram aqueles três.
— Familia Lan... – Um deles vestia um casaco de capuz e tinha um cachecol vermelho em seu pescoço. – Algum problema?
— Onde conseguiu o casaco?
— Ah?!
JingYi ficou impaciente virou o rosto para Lan WangJi buscando uma aprovação para o que iria fazer, notando que não seria repreendido, agarrou a gola do casaco preto e arrastou o discípulo da família Mo jogando de encontro a parede. Abrindo em seguida o casaco, soltou um sorriso debochado.
— Vou perguntar bem devagar para que sua mente de merda entenda, mas serei bem direto, afinal HanGuang-Jun não é como eu, fui claro?
O garoto estava assustado e balançou a cabeça confirmando, os demais que estavam com ele olhavam o grupo igualmente assustados.
— Onde está o Wei Ying?
— Ah... Wei Ying, bem... Ele está por aí, vai saber aonde, não é? – O rapaz ria para a dupla que o acompanhava.
— É verdade, ele vive por aí, pra lá e pra cá... – O rapaz que estava sendo vigiado por um discípulo Lan confirmava.
— E vocês não o encontraram, entendo... – JingYi virou os olhos para HanGuang-Jun notando a impaciência crescer nos olhos gélidos do segundo mestre. – Belo casaco. – JingYi apertou a gola e com uma mão usou seu poder espiritual para sufocar o discípulo Mo. – Engraçado, que esse casaco é do Wei Ying, foi eu que comprei para ele e olhem só... – Abriu a gola onde havia o emblema da Nuvem da Família Lan. – O emblema, isso confirma de quem é o casaco. - Os olhos de JingYi estreitaram e seu tom de voz foi frio e certivo. – Onde está Wei Ying? – Apertou a gola quase sufocando-o.
— Ei, ei, ei... Vocês da família Lan não podem fazer isso? – Um dos discípulos Mo gritou. – Não sabemos dele, o Song comprou o casaco hoje na loja de penhores.
JingYi soltou o outro depois de ver o olhar de Lan WangJi mudar.
— Entendo. – JingYi não estava satisfeito.
— Não temos tempo. – Lan WangJi se virou para voltar a buscar pelo rapaz.
SiZhui se aproximou de JingYi para chama-lo a se juntar a eles nas buscas. No entanto, o rapaz estava com os olhos vermelhos de raiva, sabia que mentiam, precisava da resposta e sentia que se não a tivesse agora poderia ser o fim de wei Ying. Sem pestanejar usou seu poder espiritual e atingiu com um feixe igual a uma flecha a testa do discípulo Mo.
O discípulo da família Mo recebeu o impacto e caiu no chão levando a mão na testa tremendo começou a gritar assustado.
— Está nas ruínas do bairro abandonado, jogamos ele lá, ZiYuan mandou descartar ele lá...
Os dois outros discípulos Mo arregalaram os olhos e assustados correram para o que foi atingindo por JingYi.
SiZhui segurava o braço de JingYi quando ouviu sobre o paradeiro de Wei Ying, imediatamente virou o rosto para Lan WangJi, mas esse já não estava mais lá. Lan WangJi imediatamente montou em Bichen e disparou para a região.
— Vamos. – SiZhui ordenou o grupo a seguirem com eles.
O trio dos discípulos da família Mo foram arrastados junto com eles, afim de confirmar onde haviam deixado Wei Ying.
******
Wei Ying estava largado na garagem do prédio abandonado, o local era fétido, haviam ratos e lixo misturado a restos de materiais de demolição, aquele momento a chuva começou a cair pesado quando a água lamacenta e fria começou a invadir o lugar.
"Frio... Como está frio... Aiii, que dor..."
Wei Ying estava no meio da lama que escorria pela garagem, tentou abrir os olhos, mas estavam tão inchados pelos socos que recebeu que o esforço causou uma dor enorme.
"YanLi... Perdão... Eu não consegui..."
Respirando com dificuldade virou o rosto para tentar se arrastar, mas por mais que sua mente mandasse o corpo não obedecia. Quando foi jogando naquela garagem sentiu algo estranho, a sensação era familiar que chegou a assustá-lo, sentindo muita dor forçou novamente para levantar, mas por fim desistiu já que os ferimentos e o corpo fraco não permitia.
"Eu vou morrer..."
Parou de tentar levantar e virando o rosto novamente, dessa vez, não sentia mais dores e assustado pressentia que estava próximo o seu fim.
"Morrer é assim? Não sinto mais nada."
Ele pensava na dor de sua irmã e avó ao saber que ele morrera, sentiu o peito arder e uma vontade de chorar. Nesse momento, a face de Lan Zhan passou em seus pensamentos e um leve sorriso surgiu em seus lábios feridos.
"Lan Zhan... Desculpa por ter fugido... Desculpa... Eu tinha que ter lhe contado a verdade... Lan Zhan, queria te ver antes de morrer..." - Murmurava.
Wei Ying começou a chorar, seu rosto estava sujo de sangue e as lágrimas escorriam por ele, os sons a sua volta começaram a diminuir, sumindo gradativamente, quando ouviu lhe chamar.
— Wei Ying!
A voz ecoou em sua mente, se arrepiou ao notar de quem era.
— Lan... Zhan... – Pronunciou o nome em sussurro e tudo escureceu a sua volta.
O som era suave, uma melodia aguda e ritmada preenchia o vazio. Começou baixo, tão baixo que era quase um sussurro ao seu ouvido. Wei Ying estava no escuro, quanto mais tentava forçar para focar na melodia sussurrante mais estranho se sentia, era familiar, já tinha ouvido em algum momento, só não lembrada de onde.
O som de repente sumiu e novamente Wei Ying estava sozinho no vazio e escuro lugar, com medo, ele pediu em seu coração que a melodia voltasse, o som não o deixava solitário.
O vazio era assustador, em seu consciente se perguntava se aquele lugar era onde ia os mortos, ele não conseguia ver nem sequer as suas mãos, mas sentia-as quando se tocavam, sentia seu corpo igualmente quando passava-as para saber se estava vivo ou morto. Ele não sabia na verdade se estava morto, somente ficou encolhido na escuridão na tentativa de tentar entender o que estava lhe acontecendo.
— Wei Ying.
Ao ouvir o seu nome levantou o rosto e abriu os olhos tentando enxergar no escuro, mas não via nada, tudo era negro como breu.
— Quem é?
— Wei Ying.
— Onde você está? Quem é?
Um sorriso suave cortou o silêncio e a sua frente dois pontos vermelhos se formaram.
— Wei Ying.
— Quem é? Por favor, responda, aonde estou?
— Wei Ying.
Cada vez mais assustado, Wei Ying notou os pontos vermelhos ficarem maiores e se aproximarem dele.
— Por favor, diz, quem é você? – Choroso, ele ficou ainda mais encolhido, ao notar que os pontos vermelhos começarem a formar um contorno. – Quem é você?
— Quem é você? – A voz replicava.
— Ah?!
— Ah?! – Novamente o replicou.
— Para de me imitar!
— Para de me imitar!
Confuso, Wei Ying forçou a visão e quando finalmente conseguiu ver quem era aquele, arregalou os olhos.
— Minha nossa...
— Minha nossa...
A voz que repetia o que ele falava apresentou sua face. O rosto e depois o corpo apareceram para Wei Ying. Era idêntico a ele, mas estava com roupas estranhas de tecido negro e vermelho, tinha os olhos vermelhos e longos cabelos negros presos por uma fita vermelha.
— O que... é isso?
A seu "eu" se sentou a sua frente na mesma posição que Wei Ying. Era como se estivesse olhando-se por um espelho e tudo que fazia era repetido por "sua" estranha versão. Wei Ying levantou a mão para tocar naquela sua figura diferente, quando nesse momento a melodia que o confortava na escuridão ecoou, dessa vez não estava distante e sussurrante, pelo contrário, era intensa e chegava a abraça-lo em tamanho conforto que se arrepiou conforme ouvi-a em sua mente.
Quando ele virou o rosto para sua estranha cópia o viu sorrir olhando para o lado, para a direção do som da melodia. Um belo sorriso se formou na face que encantou Wei Ying.
— Lan Zhan. – A sua cópia entoou o nome e levantou virando-se para caminhar seguindo o som, atraído pela melodia.
Wei Ying ficou assustado e levantou imediatamente para segui-lo, não queria ficar sozinho no escuro e correu para alcançar a sua cópia, no entanto quanto mais corria, mais distante ficavam um do outro. O desespero começou a tomar conta de seu coração e correu o mais rápido que podia para a direção de onde vinha o som da melodia.
— Wei Ying abra os olhos.
Um brilho intenso branco se formou na sua frente e Wei Ying tentava abrir os olhos, piscando-os diversas vezes até ouvir algumas vozes a sua volta e um pequeno choro, aos poucos começou a reconhecer os sons.
— YanLi... – Murmurou virando a cabeça para a direção daquele choro suave. – Irmã, não chora...
— A-Ying, finalmente acordou... – A jovem de cabelos castanhos sentou na beira da cama e segurou delicadamente a mão de Wei Ying. - HanGuang-Jun, ele acordou, finalmente.
Ao ouvir sua irmã pronunciar aquele nome, virou o rosto procurando por Lan Zhan, quando o viu sentado com um estranho instrumento a sua frente suspirou deixando o sorrido enfeitar a face.
— Lan Zhan...
WangJi colocou a sua guqin de lado e foi até ele, parando ao seu lado, olhava-o com leve sorriso nos lábios.
— Eu acordei Lan Zhan...
— Hm.
WangJi segurou a mão de Wei Ying e afagou.
— Lan Zhan, desculpa por fugir...
O homem de olhos claros suavizou sua expressão e balançou levemente a cabeça deixando a impressão de que o garoto não se preocupasse. WangJi soltou a mão dele e quando ia se virar para sair sentiu a mão de Wei Ying segurar seu casaco.
— Vou chamar SiZhui. – Ele olhou-o e depois para a YanLi. – Cuide dele.
— HanGuang-Jun, não se preocupe. – Ela enxugava as lágrimas com um lenço enquanto via-o sair do quarto. – Que susto enorme que você nos deu, A-Ying, nunca mais fuja de nós, entendeu?
— Irmã, perdão, eu queria pagar a dívida, mas... – Wei Ying tentou sentar, sentia o corpo ainda fraco, apesar de conseguia se mexer.
— Calma, vou ergue cabeceira da cama para se sentar, não se esforce. – Logo ela pegou o controle remoto e apertou um botão mantendo pressionado enquanto a cabeceira movia-se para cima. – Como está se sentindo?
— Estranho, com sede e fome... hahahaha... Eu estava dormindo, achei que tinha morrido...
— Bem, de certa forma, você estava em coma, mas HanGuang-Jun vinha todos os dias e tocava a citara dizendo que logo você acordaria.
Wei Ying abriu um pouco os olhos surpreso e imediatamente se lembrou do escuro e de como o som lhe confortava.
— Quanto tempo que fiquei em coma?
— Um tempo bom, quase três meses...
— Três meses?!!! Eu tenho a sensação que dormi e acordei de repente. - Suspirou ainda surpreso.
— Eles foram cruéis. – Ela falou entristecida. – Ainda bem que HanGuang-Jun intercedeu por você, ainda bem que ele lhe encontrou a tempo, se não, realmente perderíamos você.
— Lan Zhan que me encontrou? Lan Zhan... – Os olhos de Wei Ying brilharam lacrimosos, uma emoção diferente brotou em seu peito e seu coração bateu forte fazendo corar a face sem perceber.
YanLi percebeu e sorriu baixinho, levantando da cama e pegando um copo de água, voltou e estendeu para ajudar a Wei Ying a beber.
— HanGuang-Jun gosta muito de A-Ying e fico muito feliz por isso.
Wei Ying tomou pequenos gole de água e sorriu por fim ao ouvir que a irmã parecia aprovar, mas o garoto se sentia estranho com aquela sensação que estava crescendo em seu coração.
"Lan Zhan... Nunca mais vou fugir... Nunca mais..."
Continua...
https://youtu.be/SXpeQe2tSts
Olá gente,
Como prometido, continuação postada. E ai fiz vocês sofrerem, espero que não!!! Por que eu sofri muito escrevendo esse capítulo, não imagina como doeu fazer o meu bebê apanhar.
Eu senti cada soco podem ter certeza disso.
No entanto, final feliz e com a sementinha plantada de amor no coração do nosso bebê que ainda não faz ideia de quem é e o quanto é importante para todos.
Ah sim, se vocês notaram a Shijie tbm está ai, sim ela reencarnou rsrsrs
Vou matar o coraçãozinho do Jin Ling rsrsrsr
E se preparem pq vem é muita coisa por ai, o encontro de Wei Ying com sua versão Patriarca Wei WuXian vai só aumentar.
Até o próximo post!
Nota da autora:
Os fatos citados na fic, são verídicos, a China anda passando por muitas transformações desde 2015, mudanças essas que estão acarretando migração e uma pobreza ainda maior da população menos afortunada, a periferia tem crescido e surgido favelas. Depois conto mais desses fatos.
Outra informação, todos sabemos que a China é radicalmente contra homossexualismo, e eu descobri nas pesquisas que a palavra gay é como um palavrão, ofensivo mesmo tanto que os próprios homossexuais não a usam por ser mesmo ofensivo. Eles usam algumas outras denominações que irei introduzir na história.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro