Algumas horas antes...

YanLi empurrava Wei Ying, sorrindo e brincando com ele. O garoto resmungava querendo voltar para a sala e ficar um pouco mais com WangJi.

— A-Li, só mais um pouco, sabe lá quando verei de novo Lan Zhan, ele não pode vir sempre. – Wei Ying entrou no quarto e suspirou olhando para a irmã com olhar pedinte.

— A-Ying o dia foi bem agitado, não vai tentar me convencer, vamos dormir, amanhã é outro dia.

Wei Ying não percebeu antes, mas logo depois de um banho ao se deitou foi vencido pelo cansaço em poucos minutos adormeceu profundamente.

*****

Wei Ying estava sorridente caminhando pela colina eufórico queria ver Wei WuXian, contar para ele sobre a surpresa que sua família fizera. Pode ser até um sonho, mas não importava se era real ou não, estava feliz queria compartilhar com o amigo.

Ao chegar na caverna chamou por ele, mas o local estava vazio foi quando notou que tinha muitos papeis amarelos pintados com diversos caracteres espalhados pelo chão de terra. Abaixou e pegou um, o odor de sangue denunciava que fora pintado com o mesmo. Resolveu voltar para a entrada da caverna, de lá começou a chamar por Wei WuXian. 

Decidido a encontra-lo seguiu alguns passos à frente foi assim que o viu sentando de costas. Sorridente apressou-se até o outro e ao chegar mais perto notou que havia algo errado. Sua expressão era abatida, estava amarrado e amuletos de papéis preso em seu corpo. Cabisbaixo, Wei WuXian estava tremendo, aparentemente tentando se soltar daquela corda e por algum motivo não conseguia.

Wei Ying se abaixou e tocou o ombro dele, preocupado tentou puxar as cordas, estas estavam muito firmes e por mais que tentasse não conseguia soltar.

— Wei WuXian, o que aconteceu? Quem foi que o amarrou?

Wei WuXian levantou o rosto e seus olhos vermelhos denunciavam a raiva que estava sentindo por esta preso.

— Eu vou te soltar.

Wei Ying tentava a todo custo soltar aquelas amarras, porém quanto forçava e puxava, mais elas apertavam o corpo de Wei WuXian ao ponto de ferir a pele, manchando as mangas de seu robe.

Vendo aquilo, Wei Ying se desesperou, puxou os amuletos que estavam presos, que se rasgavam ao toque das mãos do rapaz.

No instante seguinte ambos ouviram som de grunhido e rapidamente viraram os rostos para a direção do barulho estranho. Em meio a vegetação morta um par de olhos vermelhos surgiu, logo em seguida uma lufada de ar veio acompanhada de outro rugido alto. Arrastando-se de dentro da vegetação, chifres e cascos pesados surgiram. A criatura era enorme, uma carcaça de um boi envolta de aura negra e maligna.

Wei Ying arregalou os olhos apavorado a tal ponto que mal conseguia se mexer, todo seu corpo tremia. Wei Wuxian esforçou-se para levantar mesmo amarrado conseguiu por fim ficar de pé. Encarando a criatura deu uns passos a frente de Wei Ying e com seu corpo empurrou o garoto.

Wei Ying tropeçou ao ser empurrado e caiu, virando o rosto para Wei WuXian, viu que ambos estavam impotentes diante daquela coisa que vinha sorrateira preparando seu ataque.

— Vá...

Wei Ying levantou o rosto ao ouvir o outro falar.

— Vá... – Wei WuXian demonstrava em sua face um esforço enorme para falar, enquanto tentava se soltar daquelas amarras. – Co-cor... ra... Corra... – Pronunciou entre os dentes serrados.

Wei Ying levantou com dificuldade seu corpo estava pesado e quando ficou de pé levou a mão ao peito ofegando. Wei WuXian empurrou-o novamente com o seu corpo forçando Wei Ying correr.

A criatura estava próxima e preparou o ataque, rugindo alto ao ponto de afetar a ambos. O som atingiu os ouvidos e Wei Ying levou as mãos para cobri-los. A situação só piorava.

— Wei WuXian, não vou deixar você com esse monstro. – Gritou ao outro, mesmo com medo, ele não queria fugir e deixar o amigo para trás.

A criatura correu em direção a eles, rugindo e soltando baforadas negras de suas narinas ósseas, os cascos pesados tocavam o chão fazendo a terra tremer, conforme se aproximava em sua volta se tornava negro.

Wei WuXian forçou novamente as cordas que o envolviam, o desespero tomou conta e como se suas forças voltassem, finalmente conseguiu se soltar. Rapidamente, empurrou para o lado oposto Wei Ying e usando os amuletos de papel arremessou contra o monstro, que explodiu na face da criatura. Desnorteado a criatura parou, balançando a enorme cabeça e rugindo furiosa cada vez mais alto.

Wei Ying correu para a direção oposta da caverna, aquele sonho havia se tornado um pesadelo. Estava apavorado e não sabia como sair daquele lugar ou mesmo acordar.

Wei WuXian foi atacado pelo monstro que o arremessou para a entrada da caverna, sentindo o ataque que recebeu se ajoelhou enquanto olhava a criatura mudar a direção e correr para Wei Ying. Irritado, pegou a flauta e começou a tocar. A melodia despertou os cadáveres e diversas mãos começaram a sair da terra negra.

WangJi apareceu no exato momento que Wei WuXian começou a tocar a flauta, olhava-o com uma expressão incrédula se realmente iria ataca-lo.

Cadáveres surgiram a frente de Wei WuXian, que continuava a tocar a flauta, a melodia estridente era uma ordem de ataque.

WangJi era um mero expectador daquela cena, os cadáveres não iriam ataca-lo, afinal era um sonho de Wei Ying e acreditava que a sombra a qual a irmã dizia ver era o subconsciente dele em sua forma antiga de sua vida passada. Bastou alguns segundos naquele sonho para entender o que acontecia com as noites das crises de sonambulismo.

Os diversos cadáveres passaram por WangJi como se ele fosse uma névoa sem se notado, seguindo-os com olhar a direção que iam, viu finalmente o que estava acontecendo.

"Yaoguai" 

WangJi ergueu dois dedos a frente e um brilho azulado surgiu, mesmo que estivesse em Empatia com Wei Ying conseguia fazer aquele arranjo para acordá-lo do pesadelo.

— Espere.

WangJi foi surpreendido por uma mão o impedindo de usar o poder espiritual, ao virar o rosto abriu levemente os olhos, ainda não crendo que quem segurava seu pulso era Wei WuXian.

— Não.

Wei WuXian olhava para o monstro que estava lutando com diversos cadáveres ferozes, virando o rosto para um pouco mais a frente soltou o braço de WangJi.

WangJi acompanhou-o até ver Wei Ying que estava caído e sentado em seu peito uma pequena criatura peluda que com as garras e presas sugavam a energia espiritual do rapaz.

"Pinyin" 

WangJi se alarmou, a criatura estava sugando a energia vital de Wei Ying, precisava agir, no entanto em seu estado de Empatia, não havia muito o que fazer. Olhando para Wei WuXian disse:

"Espere, vou acordá-lo." - Virou-se sumindo na névoa branca.

Ao despertar da Empatia, WangJi tinha em sua face um sutil tensão, levantou e ordenou SiZhui e JingYi que preparasse no pátio do templo um arranjo. A dupla estava apreensiva e ao serem instruídos rapidamente correram para fora da residência e começaram a preparar o arranjo de conexão espiritual.

— HanGuang-Jun, estamos prontos. – SiZhui estava apreensivo, desde que conhecera Wei Ying sentia enorme afeição e a cada situação que o garoto se encontrava era um medo inexplicável que vinha em seu coração. – O que estamos enfrentando?

WangJi carregava Wei Ying no colo quando saiu porta a fora, chegando no centro do pátio onde o arranjo fora formado colocou deitado sobre uma manta.

— Um Pinyin.

— Ah, Pinyin? – JingYi olhou para Wei Ying enquanto finalizava o arranjo com os diversos amuletos. – Por isso não consegui identificar, os pinyins se escondem no espírito do hospedeiro.

— Vamos separá-los. – WangJi usou outro arranjo para entrar no círculo que logo se acendeu.

Com toda aquela movimentação, YanLi acabou acordando e foi ao quarto de Wei Ying ver se ainda dormia, quando o encontrou vazio saiu apressadamente até a sala. Nesse momento WangJi estava invocando uma magia e a jovem assustou-se indo para a varanda.

— O que está acontecendo? – YanLi viu o irmão deitado no centro daquela luz azulada. – Sr. WangJi, o que está fazendo com A-Ying? – Assustada tentou chegar perto, porém a luz intensa a impediu.

SiZhui aproximou de YanLi, explicando a situação.

— Srta. YanLi, descobrimos o que está provocando o sonambulismo, precisa confiar em nós.

ZiXuan apareceu na varanda e não parecia assustado com a cena, aproximou de sua noiva e segurou sua mão, falando ao seu ouvido para ficar tranquila.

— Confie em sr. WangJi e nos demais, eles sabem o que estão fazendo. – Olhou-os acenando com a cabeça. — Vamos ficar na sala esperando. – ZiXuan levou YanLi para dentro da casa.

Angustiada, YanLi ao entrar foi direto para a janela e acompanhar tudo que acontecia. ZiXuan ficou ao seu lado observando o trio agir, pressentindo que pelas expressões deles que a situação não era simples.

WangJi concluiu o arranjo e com se puxasse algo no ar, fez a criatura aparecer sobre o corpo de Wei Ying. SiZhui rapidamente usou cordas espirituais para prender o ser maligno. JingYi ajudou sacando sua espada, deferiu um golpe logo que a criatura foi arrastada para longe de Wei Ying.

Os Pinyins apesar de causar bastante problemas, não eram seres fortes por isso fora fácil prende-lo em um arranjo e em seguida exorcizar esse tipo de criatura.  

 Wei Ying permanecia inconsciente, WangJi se aproximou e abaixou ao seu lado tocou levemente seu peito enviando energia espiritual.

SiZhui e JingYi exorcizaram a criatura que era conhecida como demônio do sonho, claramente era o responsável pelas crises de sonambulismo do rapaz. Ambos ao finalizarem o arranjo voltaram para WangJi que ajudava Wei Ying a sentar.

— Wei Ying?

Wei Ying abriu os olhos e levou a mão ao rosto, com ajuda de WangJi sentou sobre a manta e um tanto confuso olhou-o e depois para SiZhui e JingYi.

— O que aconteceu? – Voltou a olhar para os lados e percebeu que estava no lado de fora. – Lan Zhan, o que ...? Ah não... – Wei Ying soltou o ar do peito chateado. – Foi o sonambulismo?

— Vamos primeiro sair desse ar frio. – WangJi segurou o braço de Wei Ying.

Quando se levantou, sentiu um pouco de tontura e se agarrou firme no braço de WangJi para não cair.

WangJi imediatamente o apoiou ajudando a voltar para dentro da residência. Sendo seguidos pela dupla de cultivadores. Quando entraram, YanLi estava esperando apreensiva e correu para apoiar o rapaz e ajuda-lo a sentar no sofá.

— A-Ying está se sentindo bem? – YanLi tocava a testa dele verificando.

Antes deles entrarem ZiXuan havia lhe explicado o que estava acontecendo e pediu para não tocar no assunto com Wei Ying sem antes conversarem com WangJi. Ela mal acreditava no que viu, mas preferiu confiar neles e na palavra de seu noivo.

— A-Li estou bem, só sinto muito cansado. – Bocejando se encostou no sofá, virou o olhar para WangJi preocupado. – Eu fiz alguma besteira lá fora?

SiZhui se aproximou e curvou na frente dele para examiná-lo. Alguns minutos depois olhou WangJi e sorriu aparentemente satisfeito com o estado de Wei Ying.

— Aparentemente somente uma estafa que pode ser resolvida com um bom descanso. – Tirou do bolso do seu casaco uma pequena caixinha e tirou um comprimido branco. – Beba isso vai ajudar a relaxar e descansar.

Wei Ying olhou-o e depois para o comprimido, suspirou pegando em seguida, murmurou:

— Eu estou com alguma doença?

— Não, mas na segunda-feira após a aula sua irmã vai leva-lo para alguns exames somente para ver o que prescreverei para diminuir o sonambulismo. – Afastou deles esperando ao lado de JingYi.

YanLi sorriu a eles agradecendo, pegou um copo com água e deu ao irmão. Wei Ying bebeu e estava aparentemente chateado, aquela situação para ele era como se estragasse o fim de semana tão feliz que tivera.

— Vocês estão a minha volta como se eu fosse um doente.

— O que? – YanLi levou a mão até o rosto de Wei Ying. – Não pense assim, ficamos preocupados porque amamos você.

Wei Ying olhou-a e depois esgueirou pelos cantos dos olhos para ver como ele estava.

WangJi estava atento e ao notar o olhar de Wei Ying, sua expressão foi sutilmente mudando, deixando entender que eles iriam conversar. Wei Ying, voltou a virar o rosto para irmã.

— Vou deitar.

— Claro. – YanLi ajudou-o a voltar para o quarto.

E logo que ambos saíram da sala, ZiXuan sentou e passou a mão nos cabelos.

— Ele vai voltar a ser atacado por aquela coisa?

— Você viu? – JingYi estranhou e olhou para WangJi e SiZhui.

— Não só eu, A-Li viu e está muito assustada. – ZiXuan esfregou as mãos apreensivo.

— Não voltará acontecer. – WangJi informou. – Vou cuidar para que não ocorra novamente.

— O que era aquilo?

— Um demônio do sonho, ele tem algumas variações, mas aparentemente o que estava com Wei Ying é apenas um sugador de energia. – SiZhui explicou.

ZiXuan assustou-se com aquela informação, tinha milhares de perguntas.

— Vó Su vem fazendo alguns amuletos para proteger o templo, como essa coisa chegou em Wei Ying?

— Vamos investigar. – SiZhui olhou para WangJi. – Ao menos esse não irá causar mais problemas, ele foi exorcizado e as crises de sonambulismo de Wei Ying que estavam ligadas a essa criatura não ocorreram mais.

— Que alívio.

— ZiXuan é bem centrado, não se assustou em nenhum momento e pelo que notamos conseguiu acalmar sua noiva, daria um bom cultivador. – JingYi elogiou.

— Eu? Não sei, ainda sou um pouco desconfiado com toda essa coisa de fantasma e demônios, no entanto, devo confessar que fico curioso com tudo que já vi até agora.

WangJi estava próximo a janela e olhava o pátio enquanto ouvia o rapaz conversar com seus discípulos. A sua expressão sempre fria não entregava o que estava sentindo e recordou de Wei WuXian quando estava em Empatia.

"Wei Ying"

Empatia é somente um estado inerte onde os espíritos mostram as lembranças que viveram. Então, por que aquele Wei WuXian no sonho conseguiu tocá-lo e até falar com ele? O coração estava apertado e batendo acelerado. Precisava descobrir, porém, aquela noite fora cansativa para todos e não iria tentar novamente a Empatia. Desperto de seus pensamentos com o boa noite do outro rapaz, WangJi curvou leve a cabeça para ele.

ZiXuan se retirou para o quarto e nesse momento, SiZhui falou o que havia examinado em Wei Ying.

— Há algo errado.

— Não terminou.

— Ah? – JingYi estranhou e olhou questionador para SiZhui e depois para WangJi

— Quando estava em Empatia, havia outro demônio no sonho.

— Que? Como essas coisas vieram atrás de Wei Ying?

— Pode ser quando ele estava na área dos prédios em demolição, aparentemente seguiram e se alojaram enquanto ele estava na beira da morte. – SiZhui olhou para WangJi buscando uma confirmação de sua teoria.

— Hm.

— Minha nossa. – JingYi lamentava o azar do garoto. — HanGuang-Jun, alguma instrução?

— Wei Ying está seguro por enquanto, vamos permanecer amanhã e prepararem arranjo de contensão. – WangJi se direcionou para o quarto que fora reservado para eles dormirem.

SiZhui e JingYi seguiu logo depois, eles estavam tão inertes na situação que não notaram que a porta do quarto da senhora Su estava entreaberta e de lá ela ouvia tudo que falavam. Logo que todos se recolheram para os quartos, ela fechou a porta e sentou na beira da cama, pensativa por alguns minutos, levantou e foi até uma cômoda e pegou de dentro da gaveta um envelope que tinha um tom envelhecido e amarelado, retirou de dentro uma carta.
Abriu o papel, lendo por um tempo até que voltou a dobrá-lo e por no envelope, guardando em seguida no mesmo lugar.

"CangSe SanRen, afinal de contas por que deixou seu filho comigo?" – Ela deitou e continuou a divagar em pensamento. "O que farei se ele se descontrolar novamente?"

Meng Su inspirou fundo e relutou um bom tempo, pensando na situação de Wei Ying, afinal o garoto é filho de cultivadores e certamente herdou de seus pais tais aptidões e isso estava atraindo criaturas malignas. A questão era como dizer a ele sobre sua origem sem comprometer sua segurança, afinal CangSe SanRen implorou para que ele nunca soubesse sobre o mundo da cultivação e que muito menos a procurasse. Meng Su, passou um bom tempo pensando na questão sem resposta até que cansada adormeceu.

Continua...

Olá pessoas lindas,

Continuação finalmente... rs
Consegui postar esse capítulo, essa semana sai o outro, estou terminando de escrever. 

Enfim, coisas só piorando, é aquilo né, caos e Wei Ying andam juntos rs

Até o próximo capítulo.

Eu usei algumas mitologias chinesas para agregar a esse ponto da história, falar um pouco para vocês:

Yaoguai

Yaoguai (妖怪 pinyin yāoguài) ou yaomo (妖魔 yāomó, literalmente, "demônio") ou yaojing (妖精 yāojīng, literalmente, "espirito" ou "sedutor") é um termo chinês que geralmente significa "demônio". É uma classe de criaturas sobrenaturais da mitologia chinesa, principalmente espíritos de animais maléficos ou seres celestiais caídos que adquiriram poderes mágicos através da prática do taoismo.

Pinyin ou Dab tsog

Na cultura Hmong (etnia originária do sul da China), a paralisia noturna é conhecida por "dab tsog" ou "demônio apertador". Em geral, os testemunhos dão conta da aparição de uma figura pequena, não maior que uma criança, sentando em sua cabeça ou peito. Também é conhecido como pinyin, o que pode ser traduzido como "corpo pressionado por um fantasma". A lenda local faz referência a um tipo de demônio noturno que esgana suas vítimas e rouba sua respiração.

https://youtu.be/Eco2B3tsj6c