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22 - Evitando problemas

Não vejo Thomas já tem duas semanas e isso está me deixando louca, assim como os olhares ressentidos de Jake me deixam com vontade de mata-lo, qual o problema dele? Eu deveria tê-lo beijado naquela oficina? Eu até quis, mais não sou obrigada e não mereço todos esses olhares irritantes.

— Pensando em que? — Lena pergunta se sentando ao meu lado

— Em como você e o Michel estavam fofinhos no campus — sorrio de forma maliciosa

— Somos só amigos — a morena revira os olhos

— Amigos que transam — debocho

— Na verdade, só amigos mesmo — seu rosto assume um tom vermelho vivo

Arregalo os olhos surpresa com a constatação, já tem uma semana que Lena e Michel vem andando juntos, desde o gol que ele dedicou a ela no último jogo. Eu nunca os vi se beijando, mas do jeito que se comportam com os abraços e sorrisos parecem namorados e dos muito apaixonados.

— O que ta rolando? — pergunto curiosa

— Eu disse que não queria uma coisa de uma noite, ele disse que não estava pronto para um relacionamento — ela engole a seco desviando o olhar do moreno — Então decidimos sermos apenas amigos — ela da de ombros

— E nenhum de vocês se agarraram até agora? — arqueio as sobrancelhas surpresa e um pouco chocada

— Argh eu estou subindo pelas paredes! Mais por incrível que pareça ele está sendo a porcaria de um cavalheiro — ela bufa frustrada

— E isso não é bom da parte dele? — franzo o cenho confusa

— É ótimo! Mais eu quero transar, quero transar muito e quero que seja com aquele moreno alto, musculoso que é tudo de bom que uma garota pode querer — responde ainda mais frustrada

— Porque não fala para ele?

— Porque ele é a porra de um amigo incrível e não quero perder isso. — suspira passando as mãos no cabelo nervosamente

— É minha amiga, você está encrencada — sorrio

— Por favor me fale que sua vida amorosa está tão conturbada quanto a minha — pede desesperada

— Eu não tenho vida amorosa — nego com um pequeno sorriso

— O que houve com o Jake? — pergunta com uma careta

— Nada! Nunca houve e nem irá haver alguma coisa. — reviro os olhos

— Aham, pra mim vocês ainda se casam — debocha

— Nem em sonho! — exclamo

— Se você diz – ela da de ombros com um sorrisinho sínico — E o loiro?

— Henry? — ela assente — Eu não sei, nós tivemos outro encontro, nos beijamos, mais eu não sei... sinto que tem algo que não encaixa — suspiro encarando minha comida pela metade

— Se não encaixa, porque ainda sai com ele? — me encara curiosa

Abro a boca para responder e me surpreendo ao perceber que não tenho resposta.

— Acho que está evitando o inevitável e isso só vai te machucar — diz me oferecendo um sorriso solidário

— Eu não entendo — balanço a cabeça perdida

— Você não precisa de um relacionamento, é seu primeiro ano de faculdade Supergirl, aproveita. — sorri e se levanta levando minha bandeja com ela

Aquilo martela por mais duas aulas na minha cabeça, se não sinto nada além de desejo pelo Henry, porque me forçar a permanecer com ele? É como dizem, todo bom terapeuta é meio confuso as vezes.

Eu não estou me escondendo, só quero estudar em paz e estou fazendo isso no campo de futebol completamente vazio porque quero me concentrar em uma dissertação sobre no que o feminismo afeta a sociedade religiosa, as vezes eu acho que meu professor é meio doido, mas estou pesquisando e tentando né, sozinha e isolada.

Estava muito bem assim até um único cara entrar no meu enorme refúgio, Jake caminha tranquilamente pelo campo mais paralisa ao me ver sentada na arquibancada. O olhar ressentido volta e aquilo ferve o meu sangue, sem pensar muito bem abandono o notebook e os livros e me levanto.

Ele permanece parado no meio do campo enquanto eu marcho furiosamente até o mesmo, ele não pode ficar me encarando desse jeito sempre, eu não aguento mais e isso acaba agora.

— Boa tarde, Girassol — ele me lança um sorriso seco

— Eu quero que pare com isso. — digo parada a sua frente

— Parar com o que? — franze o cenho e aquilo me irrita ainda mais

— De me encarar como seu eu tivesse acabado de matar seu cachorrinho! — bufo frustrada

— Não estou te olhando assim. — ele nega com um sorriso debochado

— Ah não? — arqueio as sobrancelhas — Está me olhando de que jeito então? Por que não é do jeito normal! — digo cruzando os braços

— Como eu estou te olhando? — ele repete a pergunta — Vamos ver... — ele morde o lábio inferior, pensativo — Talvez como alguém que queria muito beijar você em uma certa oficina e depois foi deixado para trás e agora está sendo ignorado. — despeja tudo de uma vez

Arregalo os olhos um pouco chocada com tudo aquilo, não achei que ele fosse falar tudo tão abertamente.

— Eu não... — engulo a seco percebendo que não faço ideia do que dizer — Não sabia que queria muito me beijar — murmuro sentindo meu rosto corar

— Ah você sabia — diz se aproximando — Sabia muito bem e queria tanto quanto eu. — acusa olhando em meus olhos

— Jake, eu não...

— Nem pense em negar. — me interrompe — Você estava tão louca de desejo quanto eu, sentia em cada parte do seu corpo — sussurra ficando ainda mais próximo — Exatamente como eu sentia.

Minha boca fica seca e não consigo desviar meus olhos dos seus , ele está certo, eu o queria e ainda quero, tanto que meu corpo é atraído por ele não importa onde esteja e isso me enlouquece.

— Eu só estava atordoada — minto descaradamente

Jake estreita os olhos e vejo o desejo virar raiva então ele se afasta bruscamente.

— Você mente muito, Girassol — ele sorri incrédulo

— Eu sei — murmuro irritada

— O que foi que disse? — me encara com o cenho franzido

— Apenas pare de me encarar assim Jake — peço simplesmente

— E como eu deveria te olhar? — franze o cenho

— Por favor, não faça isso comigo — imploro recuando um passo

— É você quem está mentindo para si mesma — rebate

— Só queria que fossemos amigos — digo suspirando

— Isso nunca foi uma opção — ele nega se aproximando novamente

— Não posso fazer isso — nego desviando o olhar dos seus olhos

— Não pode ou não quer? — pergunta me fazendo encara-lo novamente

— Eu nem sei o que estamos fazendo — engulo a seco — E eu estou com o Henry — a afirmação sai mais como um lembrete

— Para com isso Girassol, você sabe o que estamos fazendo — ele diz segurando o meu queixo com delicadeza — É só sentir — sussurra ao meu ouvido

Fecho meus olhos e sei que quero me deixar levar, quero me perder no Jake, quero fazer isso completamente e não sei quando isso começou, mais não quero parar.

— Não vou fazer parte de uma lista idiota — digo me afastando bruscamente

— O que? — ele me encara com a testa franzida

— Não quero uma noite de transa, Jake — a mentira queima na minha garganta — Então a menos que queira um relacionamento sério é melhor esquecer isso. — digo com firmeza

Ele não vai perceber essa mentira.

— Isso não...

— Se não quer ser meu amigo, tudo bem — o interrompi — Só não queria um clima chato entre nós, porque se não percebeu nossos amigos estão prestes a ficarem juntos e isso significa passar mais tempo com você, só não quero uma situação chata — dou de ombros como se não me importasse

— É só por isso que veio falar comigo? Não aceito isso — nega cruzando os braços

— Acredite no que quiser, eu não lhe devo explicações — retruco e me viro

— Espera ai — esse segura o meu braço e me viro para encara-lo — E se eu disser que estou disposto a um relacionamento? — pergunta hesitante

Aquilo me choca, eu com certeza não esperava por algo assim.

— Eu estou com o Henry, Jake. — afirmo me soltando — É dele que eu gosto – dou de ombros

— Mas...

— Eu já falei o que eu queria, agora eu preciso ir — digo me virando novamente

E enquanto eu andava ate a arquibancada e pegava minhas coisas meu coração martelava para que Jake subisse até lá e me beijasse como se não houvesse manhã, mas ele não fez isso e mesmo me sentindo aliviada também me sinto frustrada.

— Oi estranha — Rubens senta ao meu lado no sofá

— Oi terapeuta — sorrio

— Sua irmã me mandou para descobrir o motivo dos filmes de terror — ele vai direto ao ponto

— Você é direto — digo impressionada

— É, sou mesmo. — concorda sem se abalar

— Eu os assisto quando estou frustrada — digo sem desviar os olhos da tv

Já sei que não vai adiantar tentar desviar o assunto para ele.

— E pode me dizer o que está te frustrando?

— Fala pra Nina que ela pode vir aqui e perguntar por si mesma — respondo um pouco ríspida demais

— Não é só a Nina quem quer saber — rebate

Viro para o loiro com lindos olhos azuis e me surpreendo ao ver uma real preocupação ali.

— Acho que estou apaixonada — revelo sem pensar duas vezes

Rubens sorri como se já esperasse por aquilo e me sinto como uma garota tola de 16 anos, posso não ser tão velha mais já vivi o suficiente por uma vida adulta completa e se tem algo que eu odeio é agir como uma adolescente inconsequente e frágil.

— Não é pelo cara loiro que você está saindo, né? — sua pergunta soa mais como uma confirmação

— Não era para isso acontecer no meu primeiro ano de faculdade — suspiro frustrada

— E o que deveria acontecer no seu primeiro ano? — pergunta arqueando uma sobrancelha

— Eu deveria estar indo em festas, preocupada com a semana de provas, duvidando do meu curso, planejando minha brilhante carreira e...

— Mas você já fez tudo isso — Rubens me interrompe

O encaro um pouco confusa e engulo a seco concordando com o que ele disse.

— Fiz tudo isso entre meus 15 e 17 anos — murmuro encarando minhas mãos

— Talvez seja hora de deixar o amor entrar — ele sugere

— Como posso saber se é amor? — pergunto com a voz falha

— Não vai, mas tenha certeza que é paixão — me assegura

O encaro novamente e confio em suas palavras, mais do que isso me sinto aliviada. Como se a nuvem negra que estava sobre mim estivesse, finalmente, se dissipando.

— Vai ser um excelente terapeuta — sorrio

— Sabe, esse não era meu plano original — ele suspira se encostando no sofá

— Ah não? – pisco surpresa — E qual era? — pergunto curiosa

— Eu queria... — ele hesita por um momento — Queria ser presidente dos EUA — murmura com as bochechas coradas

Pisco um pouco chocada, isso não é algo que se escuta todos os dias.

— E como o futuro presidente mais gato da história resolveu se tornar um terapeuta? — pergunto com um sorriso descrente nos lábios

— Eu estava lendo na varanda do meu prédio, lendo algo sobre política, eu acho — ele franze o cenho tentando se lembrar — De qualquer forma era algo entediante e cansativo — sorri — E eu parei minha leitura para olhar para cima, foi quando eu à vi — ele para novamente tomando folego — Tinha uma garota no telhado, o nome dela era Eliana, tinha 19 anos e estava assustadoramente tranquila. Todo o resto estava um caos, mais ao olhar para os incríveis olhos negros daquela jovem eu senti sua tranquilidade me hipnotizar. — ele morde o lábio e para por um instante

— Não precisa contar se não quiser — digo já sabendo como a história acabaria

— Para alguém que tinha sido diagnosticada com depressão ela não aparentava estar quebrada, acho que estava aliviada. Eu tentei fazer algo mais não conseguia me mexer, ela me encarou e sorriu antes que uma lagrima rolasse pelo seu rosto ela pulou. — sua expressão fica entristecida e me sinto uma lágrima escorrer pelo meu rosto — Não me atrevi a olhar para baixo, mantive a única lembrança que eu tive dela viva e aparentemente bem. — ele enxuga algumas lagrimas que escorreram pelo seu rosto e faço o mesmo — Depois disso eu vi que política não seria nada, eu tinha que fazer algo para ajudar pessoas daquele jeito.

— Com depressão. — murmuro

— Com sorrisos tão genuínos que seria impossível detectar almas tão dilaceradas. Não é sobre a depressão, a ansiedade ou qualquer outro desses problemas. É sobre saber que alguém precisa de ajuda mesmo que esse alguém não faça ideia disso. — diz com a voz rouca

— É muito reconfortante saber que você ganhará um diploma para isso — digo com um grande sorriso

— Vai ser uma terapeuta incrível Kendra, sei que tem muito sobre você e sua irmã que eu ainda não sei, mas também sei que com essa experiência vai poder ajudar alguém que eu jamais terei capacidade para tentar.

— Não acho que será necessário — murmuro envergonhada

— Isso é o que ainda vamos ver — ele sorri confiante — Boa noite, doutora. Vejo você pela manhã — diz se levantando

— Boa noite, Dr Hyse — sorrio

Rubens se vai e os pensamentos voltam a me incomodar, talvez ele tenha razão, é hora de viver algo que eu não me permiti durante anos. É hora de permitir que eu me apaixone e acho que isso já está acontecendo. 

Larguei vocês uma semana? Larguei. Estou postando tarde? Estou. Mas eu amo vocês e estou aqui com um capítulo fresquinho!!! Não desistam de mim! Dois bjos

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