20 - Conversa de garotas, pneu furado e desejos frustrado
— Vai me contar ou não? — Lena segue me enchendo a paciência no refeitório
— Não tenho nada pra contar — mantenho a pose de inocente
— Você é tão cínica — ela reclama jogando uma batata frita em mim, que eu pego e como com gosto.
— E você esta sendo intrometida — rebato com um sorriso felino
— Somos amigas, esse é meu papel — retruca jogando outra batata
— Por que não me conta o real motivo de estar evitando o Michel? — pergunto roubando a batata de sua mão antes que ela jogue
— Eu não estou evitando ele — ela mente fazendo uma careta
— Você não sabe mentir — zombo comendo minha própria batata
— Se me contar do sexo eu conto do Michel — propõe com um olhar felino
— Você primeiro — indico com a colher
— Não é justo! — ela bufa — A proposta foi minha!
— Se não me contar vou perguntar pro moreno alto que não tira os olhos da nossa mesa — inclino a cabeça na direção oposta do refeitório onde Jake e seu bando está.
— Você não faria isso — ela debocha
— Ah não? — pergunto me pondo em pé — Pois então observe — estalo a língua e começo a andar da direção da mesa
— Espera! Eu conto! Eu conto! — cede segurando meu braço
— Que bom que concordamos — pisco inocentemente
— Você é uma cobra manipuladora — ela reclama
— E mesmo assim você me adora — mando um beijo no ar para ela
— Cala a boca e senta ai — murmura irritada, faço o que ela manda e aguardo ansiosa — O Michel me chamou para um encontro — resmunga mexendo na comida
— Aí Meu Deus! — arregalo os olhos — E o que você disse? — pergunto eufórica
— Disse que não — responde dando de ombros e enfiando uma batata na boca
— Você fez o que?!
Aparentemente foi alto demais e o refeitório inteiro se vira para nossa mesa enquanto Helena quase se enfia debaixo da mesma, sorrio um pouco constrangida e imediatamente minha comida parece muito mais interessante, quando o burburinho padrão retorna ergo meus olhos e percebo que Jake está me encarando e a garota ao seu lado, Katrina, também.
Eu não faço ideia do que esses dois tem, mais é irritante vê-la sempre a espreita, ainda mais depois daquele fiasco com a comida. Depois desse dia ela me olha como se eu tivesse um terceiro olho, não posso dizer que faço diferente. E mesmo assim ela está na turminha sem noção do Jake, não sei o que me irrita mais o risinho e flerte em os dois ou o risinho e flerte entre ela e o ruivo que gritou comigo hoje cedo.
— Vai prestar atenção ou ficar encarando o vazio? — a voz emburrada de Lena me acorda do pequeno transe
— Desculpe-me, pode contar agora — digo abrindo um pequeno sorriso
— Michel é um galinha — começa voltando a encarar a própria comida — Só que é um galinha muito lindo e encantador, você sabia que ele ama química? — Pergunta me encarando com os olhos brilhantes
— Eu... como sabe disso? — Pergunto com o cenho franzido
— Estamos trocando mensagens, tem umas duas semanas — revela com o rosto corado
— E por que o fato da química te deixa tão animada? — suspiro tomando um gole do suco de morango
— Você não está falando sério, né? — Ela me encara como se eu tivesse com três cabeças
Continuo encarando-a confusa, não me lembro do porquê química seria importante para ela.
— Forense! — retruca como se aquilo explicasse tudo
— Eu... hmm.. — mordo o lábio inferior totalmente confusa
— Saiba que você é uma péssima amiga — aponta com uma careta — Meu curso na faculdade é Química Forense, vou ser detetive forense se meu estagio na polícia de NY der certo. — conta com um suspiro
— Nova York? Por que tão longe? — pergunto voltando a encara-la
— É a cidade das oportunidades, baby. Por que não ir? — responde dando de ombros
— Washington também tem muitas oportunidades — murmuro
— Eu sei! — ela assente desanimada — A cidade é ótima, mas NY é outro patamar — sorri com um olhar sonhador
— Se é tão importante deve ir mesmo, dá pra ver no seu olhar que vai se dar muito bem na cidade que nunca dorme. — sorrio empolgada
— Eu sei que vou — responde animada — Mais e você? Pretende ficar aqui?
Boa pergunta, eu pretendo? Com todas as circunstancias que rondam minha vida eu nunca sei exatamente o que o futuro me reserva, embora isso não me impeça de sonhar.
— Talvez algum lugar na Europa — conto dando de ombros
Passei boa parte da minha infância por lá, querendo ou não é a minha casa.
— Londres ou Paris? — estreita os olhos
— Petersburgo na verdade — revelo
Não sei o que tem em Helena, mas sinto vontade de compartilhar todos meus planos com ela, coisa que eu não faço nem com a minha irmã. Nina reprova qualquer plano futuro, mas depois de tantos anos acho que podemos sonhar.
— Isso é bem incomum — ela morde o lábio inferior — Quero dizer é uma grande cidade também, mas tem loucos o suficiente para sua carreira brilhante? — zomba com um pequeno sorriso
— Sabe, eu sinto que você esta fugindo do assunto — digo desviando a conversa
Por mais que eu queira divagar sobre um futuro improvável os olhares furtivos de Jake, Thomas e Henry estão me incomodando bastante. Não sei como fui me meter no meio de três homens, dois na verdade, Jake é puro flerte desavergonhado e sem pretensão futurística, na pior das hipóteses ele esta curioso e na melhor só quer mais uma conquista para a longa lista da faculdade. Henry quer um relacionamento, isso é evidente, só não sei se estou mentalmente pronta para isso. Já Thomas não quer nada, ele é confuso e perturbado, é claro que seria o que mais me atrairia, tenho um fraco por problemas que são complexos demais para eu resolver sozinha.
— Não me culpe, você não tinha ideia dos meus planos futurísticos — ela retruca com uma careta
— Desculpe por isso, Lena. — murmuro envergonhada
— Tudo bem, precisamos sair mais vezes mesmo. Você sabe, para nos conhecermos melhor — puxa o ar e solta ruidosamente
— Para ficarmos bêbadas e revelarmos muitos segredos? — sugiro com um sorriso zombeteiro
— Você entendeu bem a ideia — ela assente satisfeita — Agora, voltando ao Michel — revira os olhos — Ele esta falando comigo, mas fomos a uma festa noite passada e ele pegou geral. — ela bufa em frustração
— Eu não entendo, você gosta dele e não gosta dele? — franzo o cenho
— É complicado — ela respira fundo — Eu gosto de conversar com ele e sei que a partir do momento em que transarmos tudo isso vai acabar. — revela cabisbaixa
— E por que não diz isso pra ele? — pergunto apoiando os cotovelos na mesa
— Olha para ele — ela vira a cabeça rapidamente no momento que uma garota ruiva beija o queijo quadrado de Michel — Parece alguém que tem vontade de namorar? — questiona voltando a me encarar
— Vocês podem ser amigos que transam — sugiro dando de ombros
— Você não lê livros? Essa coisa nunca dá certo, alguém sempre sai machucado. — diz arrumando as coisas
— Isso é bobagem, pode dar certo — rebato levando a mão para arrumar os óculos invisíveis
Tique irritante.
— Não concordo — ela estala a língua — E mesmo que concordasse não é isso que eu quero — suspira coçando a pontinha do nariz reto
— E o que você quer? — arqueio as sobrancelhas
Ela fica calada por alguns instantes, refletindo.
— Quero ter alguém para segurar minha mão no corredor, quero dormir de conchinha com roupas, quero chocolate em dias de cólica, quero ir a parques de diversões e dividir o algodão doce, quero dançar abraçada em uma festa sem me preocupar com a retaguarda, quero gostar tanto de alguém que ficarei paranoica com isso. — ela sorri com os olhos verdes brilhando mais forte do que antes
— Você quer se apaixonar — resumo com um pequeno sorriso forçado
— Jamais poderia fazer isso com Michel — decreta com uma expressão sofrida
— Será que já não está fazendo? — inclino a cabeça para o lado observando-a com atenção
— Se estiver, sei que vou me machucar cruelmente — responde com o cenho franzido
— Ou não — sugiro — Acho que deveria conversar com ele sobre isso — bato na mesma tecla
— E eu acho que já passei do horário — força um sorriso e fica de pé
— Sabe, Helena — chamo sua atenção — Essa sua mania de se precipitar vai te afetar muito no futuro — decreto encarando seus olhos escuros
— E essa sua mania de se meter também — rebate um pouco magoada
— Já estou pronta para isso, mas a questão é, você está? — pergunto sem desviar os olhos dos seus
Ela apenas pega a bolsa e são do refeitório, solto um suspiro brusco e me levanto também. Nina tem razão, essa mania de avaliar tudo só me trás problemas, problemas que eu não quero e não gosto.
Não sei como aconteceu, foi rápido e feroz, me senti zonza e irritada, mais aconteceu e preciso de ajuda.
Meu pneu furou.
E eu não tenho nenhum outro para trocar.
Isso é tudo culpa da Nina, se ela não fosse tão relaxada teria reposto daquela outra vez, praguejo. Se bem que a grana estava curta e ambas esquecemos, agora estou pagando o pato de ser uma preguiçosa e de ter uma memória de merda.
Paro em frente da primeira oficina que meu carro consegue me levar e encaro a faixada amarela, tem uma faixa preta representando uma pista e o nome em letras brancas e cursivas. DOUTORES DE AUTOMOVEIS – OFICINA E BORACHARIA. Fecho os olhos sentindo o rosto esquentar, que pessoa que não tem um pneu reserva, meu deus! Respiro fundo e tomando coragem saio do fiat prata da minha irmã, entro no lugar consideravelmente grande e perco o folego com tantos automóveis lindos e velhos.
Vejo duas pernas fora de um ford fiesta azul e pigarreio chamando a atenção do mecânico.
— Hmm, olá? — chamo meio insegura
— Só um momento — uma voz grossa e abafada responde debaixo no carro
Assinto, mesmo sabendo que ele não pode ver.
Espero alguns minutos e quando o cara finalmente sai perco o folego ao encarar o mecânico, Jake Bush me encara tão surpreso quanto, com o abdômen definido e exposto, acendendo imediatamente algo no meio das minhas pernas, a calça grosa azul estava mais larga do que deveria, poso ver o contorno marcado de sua virilha, involuntariamente passo língua pelos lábios e volto a encarar eu rosto com muito custo.
— Boa tarde, Girassol — ele diz limpando a mãos em um paninho laranja de flanela
— O que está fazendo aqui? — digo a primeira coisa que vem à cabeça
— Trabalhando, mais isso é meio obvio — ele sorri e aponta para si
Ah é, deliciosamente obvio. Balanço a cabeça quando minhas bochechas ameaçam esquentar.
— É claro que sim! — concordo tanto um tapa na minha testa — Desculpe é que...
— Não esperava que eu fosse mecânico? — sugere
Ah não, isso supera qualquer expectativa minha para algum trabalho seu. Ele tinha que mexer com uma das coisas que mais me atraem!
— Tipo isso. — assinto com um sorriso forçado
— Eu conheço o Travis desde pequeno, o pai dele ensinou para ele e acabei aprendendo quando vinha para brincar — diz dando de ombros
— Isso é bem legal, e você gosta? — pergunto curiosa
— Não é tão ruim — ele sorri — Mas hoje estou só ajudando um amigo, Trav e o pai tiveram que resolver uns problemas e eu disse que ficaria na oficina. — explica
— Entendi — murmuro — Então acho que vai ter que ajudar — sorrio apontando para meu caro
— O que acontece com ele? — pergunta vindo em minha direção
— Pneu furado — respondo frustrada
— E não sabe trocar pneu, Girassol? — pergunta com um sorriso zombeteiro
— Eu não tenho um reserva, por isso não troquei — retruco
— Aham — ele sorri e avalia o carro
— Olha aqui eu sei muito bem troca a droga do pneu! Eu só não tenho nenhum para colocar no lugar! — digo ofendida
— Eu não falei que não sabia. — diz se virando para me encarar
Percebo que estamos perto demais e isso me deixa zonza, ele cheira a gasolina e óleo queimado, sua respiração suave se mistura com a minha e meu corpo se acende como um maldito pisca-pisca. Parece que um calor intenso emana do seu corpo exposto e mordo o lábio inferior tentando não passar a mão ou agarra-lo de uma vez.
— Não faz isso — ele sussurra
— Isso o que? — engulo a seco
— Não morde o lábio e me encara desse jeito — diz segurando meu queixo com delicadeza
— Que jeito? — pergunto encarando seus olhos
— Como se me quisesse — responde engolindo a seco
Eu quero, penso em dizer, mas apenas o encaro e sem me conter passo a língua pelos lábios.
— Droga, Girassol! Pare já com isso! — pede fechando os olhos
Ele parece frustrado e por algum motivo me sinto ainda mais quente com isso.
— Eu não estou fazendo nada — murmuro quando ele volta a abrir os olhos
Olhos negros tão sexys e hipnotizantes que é difícil desviar.
— Esta sim, você sabe que está — diz passando o polegar pelo meu lábio inferior — E eu não vou me conter se não parar. — avisa chegando ainda mais perto
— Talvez não deva se conter — sugiro arqueando uma sobrancelha
Ele prende a respiração e eu também .
— Você não... — ele me solta e se afasta balançando a cabeça negativamente
Sei que deveria entrar no carro e ir, com o sem pneu, eu deveria apenas ir, mas não consigo. Tem algo nele que me prende aqui e nada mais importa a não ser o desejo palpável dos seus lábios nos meus.
— Jake... — chamo com a voz rouca
— Não. — diz sem me encarar
— Não? — pergunto mordendo o lábio com mais força
— Eu não... — ele se vira para mim
Aquilo me atinge de imediato, o desejo, a fome, é quase que sufocante e por Deus como eu quero me perder nisso tudo. Acontece rápido demais para que meu cérebro processe, em um instante ele está no outro lado da oficina e no outro bem diante dos meus olhos com as mãos segurando meu rosto e os intensos e desafiadores olhos negros penetrados nos meus.
Não sei o que fazer, estou completamente perdida e absorta naquele desejo que consigo apenas encara-lo e esperar.
Esqueci.
Meu nome, como me mover, o que fazer ate mesmo como respirar.
Mas seu nome ecoa em cada parte do meu corpo, clamando e queimando por ele.
Jake, Jake, Jake, Jake, Jake, Jake, Jake, Jake, Jake, Jake, Jake, Jake, Jake, Jake, Jake, Jake, Jake, Jake, Jake, Jake, Jake, Jake.
Sem parar até que seus lábios grossos roçam nos meus, e sua respiração é minha respiração e estamos tão perto e ao mesmo tempo tão desesperadamente longe que não sei se posso aguentar.
Quanto tempo se passou? Segundos? Minutos? Horas? Eu não sei dizer, só sei que foi muito e não quero mais esperar.
— Jake! Chegamos!
A voz masculina quebra tudo, arregalo os olhos ao perceber o que estava prestes as fazer e dou um pulo para longe. Jake me encara confuso e meu peito sobe e desce de forma desenfreada.
— Eu... preciso... — olho para os lado um pouco perdida
— Não faça isso. — ele pede
— Não sei do que está falando. — digo cruzando os braços
— Não haja como se você não quisesse tanto quanto eu. — avisa
— Eu preciso ir. — digo pegando minha bolsa no carro — Depois Nina vem e busca o carro. — murmuro sem conseguir olhá-lo nos olhos
— Kendra. — meu nome nos seus lábios me paralisa por um momento
— Vejo você depois, ate. — digo e saio
Não vejo o tal Travis pois estou ocupada demais correndo para longe daquela oficina, para longe daquele desejo e para longe daquele olhar. Agindo como uma covarde eu fujo sem olhar para trás.
Genteee achei um novo app/site se chama Inkpired é um app de leitura e escrita bem parecido com o watppad só que até onde eu vi muito melhor, vou postar livros lá muito em breve e quero vocês todos lá!! Vou postar primeiro como um teste e vou comparar qual é melhor. Mais fiquem tranquilos que eu não vou largar o watppad tão fácil assim, mas vou dar uma dívida. Espero que tenham gostado dois bjos!
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