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15 - Surtos consecutivos

Henry esta na porta da minha sala, o cabelo loiro levemente bagunçado e a barba um pouco mais grossa que o habitual e os olhos verdes cintilam com um leve ar de selvageria, ele esta tão lindo que chego a perder o folego. É a última aula e eu estou exausta, mas ele queria falar comigo no almoço e eu furei, não tem como escapar preciso falar com ele agora.

— O que aconteceu com você no almoço? — pergunta assim que eu me aproximo

A voz grave e tensa que causa uma onda de arrepios deliciosos e apavorantes.

— Tive um incidente com uma garota e eu tive que sair — engulo a seco

Lembrar deste incidente me cansa.

— Está tudo bem? — ele pergunta preocupado

— Muito bem — assinto com um falso sorriso

Não esta nada bem, estou confusa, com fome e com medo, exatamente nesta ordem caótica e estranha.

Henry parece me analisar por um tempo e aquilo me deixa ligeiramente mais nervosa do que já estava antes, ele umedece os lábios e suspira brevemente antes de voltar a olhar meus olhos.

— Posso acompanhar você ate sua casa? — pergunta com as sobrancelhas arqueadas

Quase suspiro aliviada pela pergunta, pensei que ele fosse falar algo da minha roupa ou do cabelo, mais foi apenas uma pergunta fácil e estranhamente formal.

— Ora, em que século estamos? — zombo com um sorriso divertido

Henry franze o cenho e parece um pouco incomodado, arregalo os olhos ao perceber o que eu fiz.

— Mais eu adoro! Educação e cordialidade sempre — remendo desesperada

Sinto-me uma idiota frívola.

— Neste caso, podemos ir? — ele indica a saída

— Claro, claro que sim — sorrio fraco.

Ele também sorri e começamos a andar na multidão de universitários em direção a saída. São três da tarde, nuvens pesadas cobrem o sol fraco de Washington indicando que uma possível tempestade pode vir a desabar, penso em meus sapatos já molhados e em como ficar com eles assim no serviço será estressante, fora toda a roupa impropria.

Henry pigarreia chamando minha atenção para ele e para o que ele esta falando.

— Desculpe, disse alguma coisa? — pergunto envergonhada

— Disse que esta meio aérea hoje — ele sorri

— Eu estava pensando no meu trabalho e em como o tempo ruim vai afeta-lo, desculpe por isso — suspiro.

— Não precisa pedir desculpa por suas preocupações — ele faz uma careta engraçada — Eu queria perguntar se você quer ir comigo em um baile beneficente — revela

Aquilo me pega de surpresa, estava muito mais tensa a troco de nada, era só um convite para um baile afinal.

— Se não se importar de eu não doar nada eu vou sim — dou de ombros com um sorriso aliviado

— O baile é organizado pelos meus pais — ele morde o lábio inferior um pouco nervoso

Agora eu entendi o nervosismo ele quer me levar pra conhecer os pais e eu não quero isso de forma alguma, é tudo muito aterrorizante e eu não me dou bem com pais, eu nunca tive nenhum pra saber como agir perto deles.

Isso é mentira eu sei como me portar, eu só não quero.

— Se não quiser ir tudo bem — ele começa rapidamente — Sei que saímos a pouco tempo, mas eu preciso levar alguém e sinceramente não queria levar ninguém que não fosse você — solta depressa

Aquilo não me ajuda em nada, foi fofo e desesperador e confuso.

— Quando é esse baile? — pergunto apreensiva

— Dia quinze do mês que vem — responde rapidamente

Em três semanas então, já que estamos na terceira semana de setembro.

— Olha, ainda tem bastante tempo pra isso, ate lá podemos sair mais vezes e eu decido — digo parando para encara-lo. — O que você acha? — arqueio as sobrancelhas, curiosa.

Ele morde o lábio inferior novamente e parece considerar.

— É a melhor ideia, eu nem sei por que falei sobre isso agora — bufa negando com a cabeça.

— Agora que já resolvemos o assunto importante eu preciso ir trabalhar. — sorrio docemente

— Eu levo você, meu carro esta logo ali — indica o carro do outro lado da rua

— Por que não deixa ele no estacionamento? — pergunto curiosa

— Eu deixo é que eu sai no quarto tempo hoje, precisei ajudar uma amiga — da de ombros

Que amiga? Eu queria perguntar, mas não quero ser intrometida mesmo que isso me remoa por dentro.

Andamos em silêncio até o carro, sorrio agradecida quando Henry abre a porta para que eu entre. Porém o sorriso morre quando vejo, atracados em uma árvore meio que escondida do campus, Jake e a garota da aula de psicologia em um intenso beijo ou sexo em público, sem definição pra todo aquele fogo. As mãos dele apertavam os seios e uma das coxas que estava enrolada na sua cintura colando-os, ela puxa dos cabelos e ambos pareciam não se importam com nada.

— É nojento né? — a voz de Henry mqe assusta

Viro o rosto para ele tentando compreender o que ele quis dizer com aquilo.

— Todo esse fogo desesperado, não somos mais adolescentes ninguém está interessado em ver esse tipo de coisa — explica torcendo o nariz para o casal do outro lado da rua

— Não acho que seja nojento, é um beijo — dou de ombros — Só é infantil — completo entrando no carro

— Você vai ser uma excelente terapeuta — ele sorri entrando logo em seguida

— Por que diz isso? — levo a mão aos óculos invisíveis

Mania de adolescente.

— Eu julgo muito as pessoas, sei que isso é errado mais ainda sim o faço. Você simplesmente arruma uma explicação deixando qualquer um confortável com aquilo, é o que uma profissional faria — diz dando partida do carro

Um sorrio agradecido ilumina meu rosto mas não consigo deixar de me sentir incomodada, não fui superior eu fiquei com raiva e queria que algo de ruim acontecesse só fui covarde demais para por aquilo em palavras.

Terapeutas são, na maioria das vezes, covardes que não conseguem se expressar e por isso saem em busca de outras pessoas que consigam e sejam fortes para fazê-lo. Podemos ajudar muita gente, só que no fundo sabemos bem que estamos evitando a nós mesmos, estamos nos afastando de nossos problemas e curtindo a culpa com a desculpa esfarrapada de que estamos colocando o problema de outro acima do nosso.

O ser humano é egoísta, na maior parte do tempo arranja atalhos para sua dor e seus problemas, culpando outras pessoas ou escondendo o que o incomoda no fundo mais escuro de seus pensamentos se convencendo de que aquilo não é nada. Tudo isso porque é mais fácil se esconder e apontar do que reconhecer e resolver, ninguém quer uma resolução apenas algo para culpar e se apoiar.

— Chegamos — a voz de Henry me assusta mais uma vez — Eu não acho que esteja bem, tem certeza que quer trabalhar hoje? — pergunta me encarando preocupado

Encaro ele um pouco confusa e atordoada e me perco em seus olhos verdes, tão verdes que parecem grama recém cortada em uma manhã doce de primavera, assim como os cabelos loiros como o sol poente do outono e os lábios rubros como o entardecer. Sem pensar nos meus atos eu apenas avanço em sua direção e capturou aqueles lábios tão macios e carnudos para mim. Pressiono meus lábios nos seus e mordisco o inferior exatamente como ele estava fazendo mais cedo, Henry abre aboca e minha língua o invade, exploro toda sua boca exatamente como ele faz com a minha, a barba grossa arranha meu rosto causando uma sensação entre o macio e o áspero deliciosa, sem me dar conta subo em seu colo e seguro seus rosto entre minhas mãos e ele agarra minhas coxas logo depois aperta meu traseiro fazendo meu interior se aquecer.

Suspiro entre o beijo quando sua mão adentra minha camisa e seus dedos macios vagam pelas minhas costas e barriga, mordo o lábio de Henry mais uma vez e passo os beijos para seu maxilar e desço para o pescoço distribuindo beijos e mordidas ali. Sei que estou com raiva e frustrada e estou praticamente descontando tudo isso em Henry mas estou excitada e sua ereção pressionada na minha abertura tira qualquer pensamento racional que eu possa ter.

Seguro a barra da camisa de Henry e me afasto minimamente para arraca-la, mas ele segura minhas mãos e o encaro completamente confusa.

— Olha, eu não sei o que deu em você — começa ofegante — Mais estamos no meio de uma rua movimentada, em frente ao seu trabalho e está claro lá fora. Por mais que eu queira mito arrancar sua roupa e mergulhar em você, e acredite eu quero — diz arregalando os olhos — Não acho que seja um lugar apropriado para fazer isso.

A vergonha me atinge como um soco no estômago fui impulsiva e infantil, claro que eu não chamaria aquilo de coisa de criança mais a intenção não foi madura, saio de cima de seu colo com o rosto corado.

— Me desculpe Henry — peço baixinho

— Não é pra você pedir desculpas! Eu só parei porque realmente ia ser estranho, mas se quiser podemos ir pra minha casa. — diz com um pequeno sorriso

— Eu preciso trabalhar — suspiro me arrumando — Isso foi uma loucura, até amanhã — digo saindo do carro

Antes que ele proteste eu fecho a porta e entro no meu trabalho, pode ter parecido bem infantil da minha parte, e foi, mas eu fiquei nervosa e quando isso acontece eu tenho o péssimo habito de fugir ou gritar, ambos são atos covardes e odeio me sentir assim.

— Por que a cara de bunda? — Nina pergunta se sentando ao meu lado

Estou em casa depois de um longo dia de trabalho e Nina acabou de chegar, a tv esta ligada em algum filme que eu não conheço, estou apenas sentada no sofá refletindo sobre coisas aleatórias.

— Estava pensando — respondo após um longo minuto

— Essa não é sua cara de pensativa, é sua cara de bunda — minha irmã retruca.

— Eu não tenho uma cara de pensativa — franzo o cenho me virando para ele

— Tem sim! — afirma

— E como sabe disso? — arqueio as sobrancelhas

— Ora eu a vejo sempre me olho no espelho! — solta uma risada nasalada

— É um argumento convincente — suspiro derrotada

— Você esta fugindo da minha pergunta — Nina me censura

— Eu estou? — mordo o lábio pensativa

— Fala logo o que aconteceu! — ela perde a paciência

— Credo Nina, você é muito agressiva! — reclamo com uma careta

— Esta desviando de novo — responde irritada

Reviro os olhos e conto resumidamente meu dia.

— E a mulher jogou a roupinha no chão dizendo que era brega! — termino a historia

— Que mulher odiosa! — minha irmã arregala os olhos

— Coitada da Bea que teve de acompanhar ela ate a saída — balanço a cabeça em negativa

— Mais ela comprou alguma coisa? — a morena se empertiga ao meu lado

— Nadinha — nego com a cabeça

— Ela só foi lá arrumar confusão então — minha gêmea bufa

— Acho que ela queria atenção, você sabe que aquela gente rica é tudo triste — dou de ombros

— Não são todos tristes alguns são frustrados.

— Eu queria estar frustrada em Veneza — suspiro com um ar sonhador

— Já fomos a Veneza — minha irmã sorri e empurra meu ombros

— Aquilo não conta — franzo o cenho

— Pelo menos a comida ela boa — ela murmura

— Aquele café forte? — faço uma careta — Aquilo era horrível! — exclamo dando risada

— Você não tem um paladar muito refinado — minha irmã nega com uma careta

— Você quem deveria sair com o Henry, ele tem um paladar bem caro — sugiro arqueando as sobrancelhas de modo sugestivo.

— Meu namorado é bem mais refinado que o seu — ela se gaba

— Como se lamber doce do seu corpo fosse refinado — retruco enojada

— Eu sou um prato muito bonito e apetitoso — ela aponta para o próprio corpo de forma sugestiva

— Eca Nina! Você é nojenta — digo com uma careta

— E você é careta — zomba

— E como foi o seu dia? — pergunto saindo daquele assunto torto

— Nada de interessante — ela suspira derrotada — A única coisa interessante foi a queda da Morgan quando foi servir um cliente super gato de patins — ela conta dando risada

Acabo rindo com ela, nos tempos que trabalhávamos juntas a Morgan sempre azucrinou nossas vidas é sempre satisfatório quando algo de ruim acontece com ela.

— E como esta o seu doutor? — pergunto quando paramos de rir

— Ocupado — ela suspira

— Com o que?

— Ué — ela franze o cenho — Com a faculdade é claro! — ela exclama com os olhos ligeiramente arregalados — Ao contrario da sua faculdade a nossa não da moleza — desdenha

— Se visse a pilha te trabalhos que tenho que fazer não falaria isso — retruco contrariada

— Eu não sei, mas parece que vocês não tem muito o que fazer — ela ri

— E eu não sei por que esta falando isso — estreito os olhos

— Esta claro que vocês se importam com coisas banais ao invés dos estudos — ela da de ombros

— Esta dizendo que eu não estou me dedicando? — pergunto surpresa

— Não foi isso que eu disse — ela nega

— Então explica — peço cruzando os braços

— Só acho que vocês estão mais focados em emoção do que razão — diz mordendo o lábio inferior

— Eu não faço ideia do que você quer dizer — resmungo levemente ofendida

— E eu acho que você esta sendo sonsa — ela alfineta

— E eu não entendi como o assunto desviou tanto!

Minha irmã fica em silencio por um instante e então balança a cabeça.

— Desculpe eu... baguncei as coisas — ela suspira

— Olha Nina eu entendi o que você quis dizer, mas eu estou focada nos estudos e nosso assunto foi totalmente desviado no instante que eu falei do Rubens.

— Eu só estou um pouco confusa em relação ao que esta acontecendo entre nos dois — ela diz deitando a cabeça no encosto do sofá — E você me contou sobre o Jake e o Henry e eu quis te ajudar ou criticar, sinceramente eu não sei — ela nega um pouco perdida

— Nos somos dois lados da mesma moeda Nina, você não precisa sempre resolver meus problemas. Estou aqui para te ajudar a resolver os seus, nem tudo se trata apenas sobre mim — digo segurando sua mão

— Ah minha irmã, estamos ferradas com esse tal de amor — Nina suspira dando um tapinha na minha mão

— Se você já esta usando a palavra com A quer dizer que as coisas estão ficando serias — sorrio

— Eu não entendo isso, eu conheço ele faz tão pouco tempo e já me sinto assim. Como isso pode acontecer? — pergunta me encarando

— Não se trata de tempo, nunca se tratou. É sobre como você se sente perto desta pessoa, não importa se foram anos, meses ou segundos, só o seu coração pode dizer o que é real ou não.

— Quando foi que você ficou tão sabia? — minha irmã pergunta com os olhos arregalados

— Quando decidi me tornar psiquiatra — dou de ombros

— Estamos tendo uma seção então? — pergunta com uma careta

— Aproveite queridinha, quando eu terminar os estudos pessoas de outros países lutarão para uma consulta comigo — debocho om um leve ar de superioridade

— Duvido muito, eles estarão mais preocupados em arrumar a melhor neurocirurgiã que existe — ela mostra a língua

— Acho que tem doentes o suficiente no mundo para que não precisemos competir — franzo o cenho

— 7 bilhões — ela concorda

Sorrimos uma para a outra e ficamos assim por um tempo ate minha irmã suspirar e ficar de pé.

— Onde vai? — pergunto curiosa

— Fazer a janta, estou faminta — ela franze o cenho passando a mão na barriga

— Tem certeza que quer fazer? — pergunto com uma careta

— Por quê? Eu sou ótima na cozinha! — diz ofendida

— Eu não disse que não era — dou de ombros

— Kendra Spivot não use psicologia reversa contra mim! — ela aponta o dedo para minha cara

— Eu nem sonharia com isso — nego com um pequeno sorriso

— Também não seja sarcástica — bufa irritada

— Você tira toda a graça de se viver — reclamo

— Vem, você vai fazer algum doce — diz me puxando

— Temos sorvete de chocolate na geladeira — digo tentando voltar para o sofá

Eu detesto cozinhar, sou péssima em cozinhar e Nina também, sobrevivemos à base de congelados e restaurantes baratos.

— Na verdade não temos mais sorvete — ela murmura ficando vermelha

— Como assim? — franzo o cenho confusa — Eu comprei no começo da semana!

— Eu e Rubens usamos — diz mordendo o lábio inferior

— Ah, vocês são nojentos! — reclamo

— E você é uma chata — ela revira os olhos — Agora vem, vamos jantar — diz me puxando

Ainda contra minha vontade me levando e a acompanho.

Eu esqueci de postar no sábado, me desculpeeeem. Mais aqui estou eu, prometo não esquecer no próximo!! Dois bjos

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