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12 - Tempo nebuloso

Eu estava furioso.

Comigo além de qualquer outra coisa, fui um idiota com a Girassol e quando tentei me desculpar piorei tudo.

— Se continuar com essa cara de bunda vou estapeá-lo — Kat reclama

— Deixa ele em paz Kat — Michael retruca irritado

Ele também tinha se dado mal quando tentou beijar a amiga da Girassol, a garota gritou tanto com ele que não sei como não está surdo. Aparentemente ele entendeu errado as coisas, eu riria se não estivesse tão furioso.

— O que aquela garota tem demais? — a voz irritante da Kat volta a me incomodar — Ele já ficou com metade da faculdade! Tiveram várias loiras, a garota nem é tão bonita assim — prossegue tagarelando.

— O que faz no meu apartamento Kat? — pergunto a encarando com raiva

— Argh, vocês estão impossíveis — ela revira os olhos irritada

— Ainda bem que está não é sua casa e você não é obrigada a suportar isso tudo — Michael diz sarcasticamente

— Tudo bem, já entendi — ela ergue as mãos em sinal de rendição — Eu vou embora, mas antes saibam que é patético ficarem sentindo pena de si mesmos quando foi culpa dos dois se meterem nesta enrascada. — diz apontando para nós dois severamente

— O que quer dizer com isso? — pergunto intrigado

— Se fizeram merda vão lá e limpem não esperem que alguém faça isso por vocês, esta é a vida adulta, aprendam a serem responsáveis! — diz irritada

Com esse infeliz comentário ela finalmente vai embora. Eu e Michael nos afundamos ainda mais no sofá e ficamos encarando a enorme tv de 60 polegadas escura, nenhum de nós teve vontade ou capacidade de pegar o controle e liga-la.

— Vai me contar o que aconteceu? — Michael quebra o silencio

— Basicamente,eu fui um idiota — dou de ombros

— Não quero saber o básico, sem contar que você é idiota por natureza — diz dando um tapa na minha cabeça

— E você é um imbecil! — retruco irritado

— Sei disso — ele da de ombros

Reviro os olhos a contragosto e começo a contar o que aconteceu na faculdade.

— Cara, ela deve estar muito irritada com você — Michael zomba assim que eu termino de falar

— Ajudou muito, babaca - resmungo cruzando os braços — Não sei o que fazer agora — suspiro cansado

— A solução é bem obvia — ele me encara com um sorriso

— Se fosse não estaria com essa cara de bunda — digo voltando a encarar a tv

— Cara é só você pedir desculpas! — ele empurra meus ombros

— Se não percebeu foi exatamente o que eu tentei fazer e não deu certo — retruco

Como Michael podia ser tão tapado?

— Você é um inútil Jake, não sei o que seria de você sem mim — meu amigo bufa irritado — Vai ate a casa dela, pede desculpas e devolve a porcaria do computador! Você nem deveria ter imposto aquela coisa antes de concertar, você quebrou e nada mais justo do que pagar — o moreno diz com a expressão facial séria.

— Não acho que ela vai me aceitar na casa dela — digo pensativo

— Não vai saber se não tentar — meu amigo da de ombros

— É! — sorrio ficando de pé — É verdade! Eu vou lá, agora mesmo — digo pegando as chaves da moto

— E o meu problema? — Michael pergunta ofendido

— Você conhece a Helena há dois dias, é normal ela não querer te beijar assim do nada — digo como se fosse obvio

— Conheço a Helena há um ano e em geral as mulheres querem me beijar no primeiro segundo em que me vêem — ele sorri como o cafajeste que é — Ate a loirinha disse que sou super gostoso — se gaba

— Ela não disse que você é super gostoso — retruco emburrado

— Disse sim! — ele sorri

— Ai Michael, você é um idiota — reviro os olhos

— Você não vive sem mim Jake, somos uma célula! — grita quando estou na porta

— Uma célula que esta se separando bem agora — respondo fechando a porta

Meu amigo grita mais alguma coisa e não dou atenção, desço as poucas escadas animado, vou devolver o notebook para Girassol, pedir desculpas e vai ficar tudo bem.

Ainda com um sorriso nos rosto chego na portaria do seu prédio e um senhor me recebe com uma careta.

— Bom dia — sorrio educadamente

— Quem é você? — pergunta com uma carranca

— Meu nome é Jake eu vim ver a Kendra Spívot — respondo com um sorriso menos

O senhor olha em um caderno velho e gasto, ele vira as paginas e começo a bater o pé com o nervosismo se acumulando dentro de mim. Penso em eu mesmo ir ate lá e olhar o que quer que seja no caderno só para ser mais rápido, porém o senhor demora uma eternidade ate erguer o olhar para mim.

— O senhor não esta na lista, teria que esperar eu ligar e...

A explicação do homem deixa de ser importante quando o elevador se abre e Kendra esta de mãos dadas com um cara loiro, alto de olhos azuis com um físico atlético invejável, ambos sorriem um para o outro e o cara beija ela, o babaca beija minha Girassol e tudo que eu faço e me esconder atrás de um enorme vaso de planta.

Sei que é a Girassol pelos cabelos loiros inconfundíveis soltos e ondulados, ela não esta com o Henry e não é so isso que me deixa intrigado, quero saber quem é esse cara, quero saber porque ele esta beijando ela, esta segurando a mão dela, quero saber e não é nem um pouco da minha conta.

Espero o casal passar na portaria e Girassol acena para o senhor com um sorriso radiante, é o sorriso mais lindo que eu já vi e esta sendo causado por outra pessoa porque tudo que eu consigo causar é confusão e desespero. Assim que ambos saem eu saio do meu esconderijo improvisado e coloco o notebook na frente do senhor.

— Quero apenas deixar isso pra ela — engulo a seco

— Não vai querer...

— Só quero que entregue, por favor. — peço o interrompendo

— Tudo bem — o homem concorda e da de ombros

Respiro fundo e saio do prédio, subo na minha moto e dirijo totalmente sem rumo. A sensação do vento no meu rosto e o barulho do motor deixando tudo menor e mais rápido faz com que meu coração bata em um ritmo frenético, todos os problemas se tornam poeira que o vendo frio leva para o mais longe possível. Infelizmente os problemas não são poeiras e tudo que temos que fazer é vive-los e tentar, de alguma forma, resolve-los.

Eu nunca fui bom em resolver meus próprios problemas, sempre os intensifiquei demais e os elevava em um nível absurdo. Já o de outras pessoas era fácil, porquê eu sempre vi que um problema tão insignificante como aquele deveria ter uma resolução. Com o tempo eu percebi que problemas variam de acordo com a pessoa e a intensidade com o momento, aprendi que tudo é doloroso em níveis inimagináveis. Por esta razão revolvi entrar para a psicologia, esquecer meus problemas ou ate mesmo me livrar deles aprendendo com os problemas e dores de outras pessoas, resolvendo esses conflitos e ajudando estas pessoas a entenderem que nem tudo é o fundo do poço.

É claro que eu imagino nunca ter chego no fundo do poço, minha vida é considerada o padrão de vida perfeito, meus pais estão juntos e sempre foram muito unidos e amorosos, tenho uma irmã que é deficiente auditiva mais isso não interfere muito na vida dela, tenho amigos e familiares que me amam e eu sinceramente os amo também, no geral meu maior problema sou eu mesmo. Com uma mania irritante de me auto-sabotar.

Paro a moto quando percebo que rodei demais e vejo que estou no limite na cidade, na casa do meu avô.

Sorrio e desço da moto que ele me deu quanto entrei na faculdade, o sonho do vovô sempre foi ser médico mesmo que a psicologia seja um pouco diferente do que ele queria ele ainda ficou muito orgulhoso e gastou as economias comprando esta moto.

Sinceramente eu não me importo com isso, gosto da sensação de andar de moto e tenho que admitir que ela é incrível, mas minha praia é a pintura e para transportar meus matérias eu precisaria de um carro.

Vovô disse que me deu a moto para que eu sempre fosse vê-lo e para que as garotas não fossem interesseiras, ele não faz ideia do quanto garotas podem ser interesseiras por coisas ridículas, chega ser triste.

— Olha se não é meu neto preferido! — vovó sorri quando abre a porta

— Como vai velhinho? — sorrio descendo da moto

— O velho aqui acaba com você no poker doutor — meu avô estufa o peito orgulhoso

— Eu ainda não sou doutor Vô — digo revirando os olhos

— Você é meu neto, eu te chamo do jeito que eu quiser. — ele bufa

— Tudo bem velhote, cuidado para não infartar! — zombo dando um tapinha no seu ombro

— Veio fazer o que aqui, filho? Não deveria está estudando? — pergunta preocupado

— Tô com um tempinho livre hoje vô — sorrio envergonhado

— O que aconteceu? Você parece triste garoto! — diz entrando na casa

Quase reviro os olhos por ele me conhecer tão bem.

— Não tem nada de errado Vô, só queria pintar um pouco e gosto do meu Studio aqui — dou de ombros

É a verdade, nada aconteceu, eu que fiquei irritado por algo que não deveria, embora eu tenha causado tudo que pode ter vindo a acontecer. Franzo o cenho quando percebo como aquilo não faz sentido nenhum.

— Tudo bem, vai lá pro seu canto que eu faço algo pra comer — resmunga andando pela cozinha

— Faz bolo de fubá? — peço faminto

— Doce menino? Não sei como ainda não teve uma overdose de açúcar! — diz emburrado

— Doce me deixa feliz — dou de ombros

Meu vô é um dos melhores cozinheiros que eu conheço, só perdia pra minha avó que já faleceu, a comida caseira dos dois é incrível por que quando jovens ambos viajaram o mundo por conta da culinária e com isso aprenderam vários pratos e formas de cozinhar, ir em um restaurante é burrice perto da comida maravilhosa do meu avô.

Entro no meu antigo quarto que agora é meu estúdio de pintura e está tudo uma bagunça colorida que eu amo, quadros que me inspiram estão na parede pendurados de forma despojada, uma réplica de Monalisa está bem do lado de Noite Estrelada e o principal de todos, meu quadro preferido, Girassóis.

Minha avó sempre gostou muito do Van Gogh e por isso passei a amar as artes e logo depois descobri que poderia faze-las pois eu amava tanto que queria criar outras diferentes que passassem a mesma sensação de êxtase que me causava. Girassol é a flor dos meus avós, meu avô se apaixonou pela minha avó em um passeio da escola por uma estufa e eles se encontraram em uma cheia de Girassóis, ela derrubou ele acidentalmente na terra destruindo metade das plantações. Como é muito difícil cultivar essas flores aqui o dono da estufa obrigou os dois a prestarem serviços no verão para compensar o prejuízo e durante esses tempo eles apaixonaram.

A casa sempre foi cercada de Girassóis, mesmo a flor sendo cara por aqui o homem que tinha a estufa achou tão lindo o romance dos dois que sempre mandava para a casa deles a flor que os juntou.

A história me deixou tão inspirado que minha assinatura de pintor foi um girassol e logo abaixo meu nome, por isso amo tanto esse quadro e o que ele representa. Além da história dos meus avós o quadro em si passa para mim uma mensagem, os girassóis murchos representam momentos da vida que se passaram e pessoas que se foram e os vibrantes olhando para o sol, momentos bons e pessoas que ficaram dando continuidade no legado dos que já foram. Algo sobre renascimento, amor e esperança, enquanto o sol brilhar e um novo dia nascer tudo tem possibilidade de melhorar.

Com esse pensamento me sento no meu banquinho de três pernas em frente a tela branca, tudo que eu vejo são os olhos negros e misteriosos do meu próprio Girassol e mesmo não entendendo o quanto me incomodou vê-la com aquele cara, pinto seus olhos, seus lábios e seus perfeitos cabelos ondulados da forma mais abstrata e conturbada que consigo, me livrando das sensações ruins e deixando as perguntas impregnadas na tinta colorida, por agora vou apenas pintar e depois quem sabe responder essas questões que me deixam tão fora do ar.

Decidi postar terça e sábado, blz?
Espero que tenham gostado bjos!

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