Emma

O dia estava tão cansativo como todos os outros, sento-me na sala dos professores e reviso todos os planos que fiz, ser professora de literatura não era tão ruim, na verdade é algo que realmente amo, então o que posso dizer é que o meu trabalho é tudo aquilo pelo qual sinto orgulho em minha vida.

Viro a página novamente e aguardo os minutos que restam para que eu possa finalmente ir para casa, sinto-me exausta com a semana que tive, o alivio me invade quando me lembro que já é sexta feira e eu poderei finalmente ter o meu final de semana tranquilo.

Olho pela janela e me encanto com o campo que vejo, a grama verde sempre me admira, para ser sincera Grindelwald é o melhor lugar do mundo, como estamos no outono o asfalto está molhado por causa da chuva, fora do prédio deparo-me com árvores secas e algumas folhas no chão, me lembrando que esta estação está cada vez mais diferente, em alguns momentos penso que o clima do mundo muda constantemente, os prédios são perfeitos em suas construções antigas e por ser uma cidade montanhosa as árvores nos cercam e as montanhas são o cenário mais bonito, é como se a cidade tivesse invadido um lugar sagrado.

Guardo minhas coisas e pego um livro de romance que estou lendo, a leitura é o meu ponto forte, quando era pequena nunca pensei que ler pudesse ser tão prazeroso, no entanto agora parece que é a única coisa de que preciso além de respirar.

Alguns professores estão aqui na sala, penso se estão se sentindo como eu, cansados desejando apenas sua casa, às vezes acho a vida sem emoção.

De repente a porta se abre e um homem entra, seus olhos procuram por alguém e eu observo sendo escondida pelo meu livro. Ele é alto e forte, é nítido que treina há um bom tempo, seus olhos verdes são lindos e viciantes, o cabelo loiro claro combina com sua pele e é bem cortado, noto sua barba bem feita e definitivamente ele parece perfeito, fico pensando em como um homem tão bonito entrou nesta universidade, geralmente os homens que trabalham aqui são mais comuns.

— Posso ajudar? - indaga Giulia, uma de minhas colegas.

Ele a encara, mas parece que sua beleza estonteante não tem efeito sobre ele e isso é um milagre, pois ela é perfeita. Seus cabelos são cheios e compridos, bem loiros e brilhantes, seu corpo é magro e definido e posso afirmar que ela não se esforça muito na academia, seus olhos azuis combinam perfeitamente com o rosto perfeito, ele não a olhar com admiração me deixou esperançosa.

Por mais estranho que pareça, sinto que o conheço, mas não me recordo de onde e isso me deixa completamente perturbada.

— Eu estou procurando uma pessoa – diz.

Ele parece confuso e isso o deixa ainda mais fofo, sua voz é linda, eu poderia me deliciar ouvindo-o falar, é a voz perfeita na medida certa, deixo o livro em cima da mesa e o olho tentando entender como que posso conheço, ele não parece ser daqui, esta comuna é muito pequena, menos de 5 mil habitantes, eu saberia se ele fosse daqui, afinal tenho 30 anos e ele parece ter uns 40.

— Sabe o nome dessa pessoa? - questiona Giulia achando engraçado.
Do jeito que ela é deve pensar que isso é uma forma do cara estar dando em cima dela, a mulher sabe que é bonita e imagina que é a primeira opção de qualquer pessoa.

Ao invés de respondê-la, o homem encara todos na sala, olha em cada canto, fico imaginando quem ele está procurando e porque sabe que a pessoa está aqui, de repente nossos olhos se encontram e eu percebo que jamais poderei esquecê-lo, sei exatamente porque o achei tão familiar, como pude tirá-lo da minha mente por um único momento.

— Emma – murmura, jamais gostei tanto do meu nome.

— Matteo – sussurro sem acreditar que ele realmente está aqui, depois de tantos anos.

Ele caminha até mim decidido, não sei o que pensa em fazer, no entanto sei que tem certeza do que quer, levanto e vou em sua direção quando estamos de frente um para o outro, nossos olhares firmes e ansiosos ficam presos um no outro, nenhum de nós dois consegue acreditar, isso é um sonho, só pode ser um sonho.

— Procurei tanto, tanto por ti, não acredito que a encontrei Emma, ansiei tanto por este momento, jamais a deixarei – exclama e coloca as mãos no meu rosto me segurando para ele.

— Eu… Eu não posso – murmuro e coloco minha mão sobre a dele.

A confusão em seus olhos, logo se esclarece quando se depara com a aliança em minha mão, eu sou casada, mas não com ele. Ele desvia os olhos de mim por poucos segundos, no entanto logo me encara, a determinação gritando em seu olhar, com relutância ele se afasta.

— Eu entendo, mas saiba… Você é minha Emma Schmid você é minha e não desistirei de nós, eu irei embora agora, mas vou voltar até ter de volta o que é meu – exclama.

Sinto meu coração disparar ainda mais, ele caminha rapidamente em direção a porta, meus olhos se enchem de lágrimas, por perdê-lo mais uma vez, sinto meu corpo fraquejar e então…

— Emma? Terra para Emma, vamos me responde, ou será que está novamente no mundo da lua? - indaga Giulia aparentemente nervosa.

Eu havia feito de novo, estava perdida em pensamentos, isso acontecia mais vezes do que eu poderia contar, do nada eu me desligava deste mundo e vivia coisas em minha mente das quais desejava.

No fim eu voltava para a realidade, por mais perfeita que seja a minha vida existe esse vazio que não me deixa sentir-me completa.

— Desculpa, mas qual foi a pergunta mesmo? - questiono.

— Deixe isso para lá, já está no nosso horário – fala e se  levanta.

Pego minhas coisas pensando que mais uma vez estou indo para casa, mas ainda não sei onde é o meu lar.