Capítulo 13
Emma
Tento disfarçar, mas os meus olhos não conseguem virar para outro lugar, os lábios dele estão lá, junto aos dela. Não posso julgá-los, são solteiros e muito bonitos, isso já era previsto… Menos nos meus sonhos. O beijo é contido rapidamente, eles sorriem um para o outro como se estivessem esperando por esse momento a tempo suficiente para desejá-lo cada vez mais, alguns colegas comemoram e o sorriso agora é tímido.
Consigo virar o rosto para a água, não sei de fato o que estou sentindo. Gostaria de ser como essa cachoeira, poderia simplesmente ir embora sem precisar me explicar para ninguém, me trancaria no quarto e choraria como uma criança, acho injusto não poder fazer isso agora. Ele realmente não se lembra, pois se recordasse pelo menos um pouco de nós, claramente isso não teria acontecido.
“Você parece desanimada” – fala.
Leio sua mensagem e sorrio, um sorriso fraco apenas por estar feliz por ele se importar e ser capaz de perceber como me sinto. Já conversamos há algum tempo e tudo o que sinto em relação a Matteo é que ele é o cara que eu queria ao meu lado, sonho com a possibilidade de vê-lo, de estarmos juntos pelo menos uma vez e acho que talvez se sinta da mesma maneira.
“Hoje aconteceu algo chato na escola” – digo simplesmente.
Não queria falar sobre isso com ele, só de pensar que pode me entender errado sinto o medo invadir-me, no entanto ninguém me entende como ele. Em pouco tempo se tornou meu amigo, mas agora já ocupa grande parte do meu coração.
“Converse comigo Emma, estou aqui para você” – incentiva-me.
Meu coração dispara ainda mais e toda a tristeza que estava em meus ombros desaparece, sei que é perigoso, dar poder assim a alguém, todavia não pude controlar isso e antes que eu pudesse perceber Matteo já estava com o seu lugar em meu coração e eu não pude lutar, apenas me deixei levar, o sentimento do inicio do amor é bom.
“É o meu ex, ele me mandou tantas mensagens hoje, foi um dia horrível, mas no fim o vi aos beijos com outra menina.
Não senti ciúme, acho que não gosto mais dele, só que não gostei da sensação de ser enganada, é errado o cara se mostrar tão interessado, muitas vezes parece um príncipe, no entanto logo está envolvido com outra pessoa. Não gostaria que isso se repetisse, se eu visse um rapaz que gosto com outra, acho que me magoaria muito, eu pensaria: o que tem de errado comigo?” - conto sentindo-me exposta.
Temo por sua resposta, mas o meu coração diz que ele vai entender, quando começa a digitar parece que terei um ataque cardíaco, o que eu faria se o perde-se?
“Eu entendo, ninguém gosta de ser enganado. Mas, me deixou curiosa, disse que não gosta dele e fala que não quer ver alguém que gosta com outra pessoa. Está gostando de outro cara?” - indaga, um sorriso surge em meus lábios, eu não ia contar, mas foi ele que perguntou.
“Sim” – escrevo.
“Quem seria esse cara Emma, quem você não quer ver com outra pessoa?” - questiona. Digito antes que possa pensar melhor sobre isso.
“Você” – confesso e mordo o lábio devido ao nervosismo.
— Emma, garota você está ai? - indaga um dos professores.
Paro de encarar a água, retornando para mim mesma, as lembranças se tornam mais invasivas quando me sinto emocionalmente fraca, sorrio para ele e busco disfarçar isso de alguma forma.
— Sim, só me distrai com a água – minto e sorrio ainda mais.
— Aqui é realmente muito bonito – observa, penso que não desejo conversar agora.
— O que estava dizendo? Acabei não ouvindo – assumo e ele sorri.
— Estava comentando que era fácil prever que isso aconteceria, Matteo e Giulia formam um belo casal – comenta.
Sorrio para não matá-lo, eu estava realmente muito interessada em saber se combinavam, olho em direção a eles e vejo que já estão longe um do outro, mas a satisfação no olhar de Giulia é algo que eu não gostaria de ver. Respiro buscando forças, lembro de minhas contas e das obrigações que assumi, penso também no livro que estou escrevendo com os meus alunos, essas são as minhas razões para não jogar ele lá embaixo, preciso do emprego.
— Eu não havia pensado nisso,mas acho que esta certo – falo e sorrio.
— Penso que você é uma pessoa de sorte – comenta encarando-me.
— Que bom que alguém pensa isso – murmuro.
— Emma é uma pessoa de sorte, por que? - indaga Matteo.
Meu corpo todo fica tenso, não esperava que ele se aproximasse, não espero por uma conversa ou algo do tipo. Será que o que tivemos foi tão raso para ser excluído com tanta facilidade de sua mente? Nos meus sonhos, ele lutava por mim.
— Matteo, não o tinha visto – diz o professor parecendo espantado.
— A conversa parecia tão boa que resolvi me aproximar – mente, ele parece tão tenso como eu, não se aproximou por isso.
— Está mesmo, estava dizendo a Emma como é uma pessoa de sorte, Leon foi o único homem que nunca caiu no charme de Giulia – informa como se fosse algo relevante.
Matteo me encara e eu desvio o olhar, sinto ainda mais vontade de fazer esse professor sumir, talvez nem precise tanto desse emprego. As pessoas, cada uma delas, dos colegas, amigos, conhecidos, eles parecem ter uma lista detalhando como o meu casamento é perfeito. Como meu marido é fiel, justo, honesto, carinhoso, entre tantas coisas que fazem minha cabeça doer, fico tentando decifrar a mente dessas pessoas para entender quando foi que ele se tornou tão perfeito para mim aos olhos dos outros, no entanto pergunto-me como posso ser tão injusta, pois se ele é tão bom por que me sinto tão vazia? O que me faz desejar tento ser amada, conhecer o amor de verdade. O vazio e a solidão me acompanhando, fazendo com que eu jamais esqueça que não sou prioridade de ninguém, nem de mim mesma. Se o amor dele é tão completo e verdadeiro, por que sonho com uma pessoa que não exite? Leon nunca me jurou esse amor, ele apenas mostra para todos, menos para mim.
— Você está certo, sou uma garota de sorte – digo e sorrio.
Não sei o que isso pareceu, não faço a menor ideia se consegui convencer alguém, contudo é um alívio quando meu telefone começa a tocar, pois não ficarei tempo suficiente para descobrir se acreditaram em mim. Afasto-me e atendo rapidamente, sentindo uma calmaria em meu peito.
— Emma – exclama.
— Leon – digo, sinto minha voz trêmula, falar com ele vai me fazer chorar, então escolho um lugar e me escondo, posso ver todos, mas ninguém consegue me ver.
— Amor, que saudade, você deveria estar aqui…
Ele não pergunta se estou bem, apenas me fala sobre o seu dia, sua viagem, seu novo trabalho. Eu o escuto com amor, eu o amo, só estou confusa, tudo se transforma dentro de mim. Leon nunca foi de perceber quando eu não estou bem, principalmente quando está tão empolgado com algo em sua vida.
As lágrimas intrusas escorrem pelo meu rosto, eu as afasto, no entanto elas parecem a própria cachoeira. Um pouco mais de trinta minutos, meu marido parece ter esgotado todas as novidades, ele ainda sorri feito bobo e eu retribuo o sorriso feliz por vê-lo bem.
— Emma, vou ter que desligar, ligo assim que conseguir, aqui está muito corrido – diz.
— Tudo bem amor, se cuida – murmuro.
— Você também – diz e finaliza a ligação.
Por um tempo o telefone continua em meu ouvido, posso escutá-lo perguntando como estou e eu lhe contando toda a verdade, depois íamos rir da minha infantilidade e ele me mandaria voltar para a terapia, mas isso não acontece, ao invés disso o meu telefone volta a tocar, contudo dessa vez quem me liga é o meu coordenador. Consigo vê-lo próximo ao caminho de terra para voltar ao hotel.
— Onde você está? - investiga.
— Eu voltei para o hotel, estava conversando com o meu marido e decidi vir descansar um pouco, afinal temos uma festa mais tarde – minto, não deixo de observá-lo.
Ele fica em silêncio, vejo que passa uma das mãos pelo cabelo, seu nervosismo não vai me atingir, estou anestesiada, toda sua preocupação torna-se desnecessária, neste momento não serei comovida.
— O que houve, você parece chateada, não minta para mim Emma – suplica.
— Só estou com saudade do meu marido – digo.
Sinto que parou de respirar, pois faço a mesma coisa. Estou fazendo tudo errado e isso esta claro. Ele olha em minha direção, no entanto não me vê, consegui me esconder muito bem, após alguns minutos que parecem uma eternidade ele me responde.
— Sério, saudade? - investiga.
Penso como pode este homem me conhecer tão bem, quanto meu próprio marido parece não me ouvir. Isso é injusto.
— Sim – afirmo.
— Você é uma péssima mentirosa Emma – assegura com raiva.
— Nos encontramos no almoço – digo e encerro a ligação.
Encontro-me mais aliviada e segura sabendo que terei quase uma hora até finalmente conseguir me recompor.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro