Perdidos
Susan tinha razão quando disse que o lado bom da vida não é o tipo de livro que eu costumava ler. Pat, o personagem da história, parecia ingênuo demais e pensar que ele queria voltar com Nikki, sua ex-mulher, me lembra de como eu me sentia em relação à Jéssica antes do casamento de Joey e Alyna. Por mais que eu não me arrependesse de ter saído de casa, eu desejava ocultamente que Jéssica mudasse. Queria que ela tentasse me conquistar de novo e ver seus próprios erros.
Pensei até que a culpa, no final, era minha. Assim como Pat, eu estava querendo algo impossível.
Depois de ler alguns capítulos do livro, fui andando até a escola de balé que Gabriela participava para buscá-la. Vi várias crianças com seus tutus rosa e segurando a mão das suas mães rindo animadamente. Fitei Gabriela sentada com as pernas balançando com o rosto tristonho, assumi que a culpa era minha pra que ela se sentisse desse jeito. Eu deveria ter demorado mais para falar a ela sobre Olívia. Abaixei-me a sua altura e sorri fraco para minha filha.
- Vamos? - Estiquei a mão para que ela pegasse.
Gabriela concordou com a cabeça e segurou minha mão e saímos de mãos dadas. Me peguei olhando para aquela princesinha ao meu lado. Ela foi a melhor coisa que aconteceu comigo. Em meio a todo esse caos emocional que eu estou vivendo, Gabriela é meu porto seguro.
- Que tal a gente ir comprar um milkshake de chocolate? Não é o seu favorito? - Perguntei.
Gabriela olhou para mim e sorriu.
- Sim, eu quero papai. - Ela esticou os braços para que a pegasse no colo e eu o fiz. - Aprendeu alguma coisa hoje de diferente?
- Aham. Falta um pouquinho assim ó - Ela fez um gesto com os dedos - e eu logo vou consegui fazer escalha.
- É escala, Gabriela.
- Escalha. - Ela repetiu.
- Não, não. Escala, é escala.
- Ah, eu não sei falar. - ela cruzou os braços e fez bico.
- Tente. - insisti. - Fale es-ca-la.
- Es-ca-la - ela sibilou.
- Pronto. Você conseguiu. - Sorri.
Chegamos a uma lanchonete, pedi nossos milkshakes e sentamos em uma das mesas perto da janela. Gabriela estava sentada em meu colo e parecia entretida com um pedaço de tecido de seu tutu rosa. Me permiti relaxar as costas na cadeira e me vi olhando para fora da janela. Estava tarde. Com certeza era cerca de 6hrs e Jéssica devia estar maluca tentando ligar para mim e querendo saber se eu fui buscar Gabriela. Agradeci a Deus mentalmente por na pressa de sair da casa por causa daquele, digamos, incidente, esqueci meu celular, mas não minha carteira.
Logo, eu e Gabriela estávamos indo para casa. Ela andava no meio-fio tentando se equilibrar e eu segurava sua mão para lhe dá suporte.
- Papai? - ela parou de andar quando viu que já estávamos perto de casa.
Olhei para ela esperando que continuasse.
- Mamãe ficou brava por quê? - Senti meu coração gelar.
- Sua mãe está passando por alguns momentos ruins no trabalho, só não tente irritá-la. - menti.
- Papai, a mamãe não gostava da tia Liv? - ela perguntou inocentemente.
Meu corpo enrijeceu. Nunca tinha parado para pensar nisso. Claramente, Olívia e Jéssica não eram melhores amigas, mas eu nunca soube o que minha esposa pensava sobre ela ou nossa amizade. Gabriela poderia ser uma criança, mas ela não era burra. Ela sabia que havia algo de errado.
- Eu não sei, filha. - falei sincero.
Como nós tivéssemos combinado, eu e minha filha paramos na frente de casa um ao lado do outro. Olhei de relance para ela, minha cópia perfeita, e pela primeira vez percebi que ela estava crescendo e que um dia Gabriela entenderia o que eu realmente sentia por Olívia, e talvez até possa achar que a culpa é dela de eu estar na fossa. Mas a culpa é apenas minha.
- Gabriela. - Chamei e ela olhou pra mim. - Eu te amo.
- Também te amo, papai. - Ela sorriu inocentemente e apertei sua mão.
Ao entrar em casa Jéssica corria pelas escadas com o celular pendurado em seu ouvido e falava preocupada com alguém.
Gabriela correu pelas escadas indo para o quarto passando por ela que apenas colocou a mão no peito e suspirou aliviada. Ela enviou um olhar duro para mim, mas não disse nada. Jéssica se virou e seguiu Gabriela.
Massageei minhas têmporas, fui direto para o meu escritório e tranquei a porta. Andei até a mesa e procurei pelas gavetas minhas garrafas de vodca e wiskey. Suspirei frustrado ao perceber que eu havia acabado o meu estoque e eu não queria ir comprar mais.
Sentei na cadeira e fechei os olhos. Eu não devia beber tanto. As dores de cabeça que pareciam ter dado uma trégua no dia todo voltaram com força. E então, me deixei levar pelas lembranças que eu tinha de Olívia.
Depois daquele jantar que Joey havia preparado junto com sua noiva, todos foram para seus quartos, já que no outro dia teríamos o grande dia. Lembro de não consegui dormir em um daqueles grandes aposentos da mansão e a única imagem que vinha na minha cabeça era de Olívia em cima da escada. Eu precisava falar com ela de qualquer forma. Decidi sair e procurá-la em alguns dos quartos, mas percebi que era uma péssima ideia quando vi que havia mais de dez quartos ocupados e provavelmente todos estavam dormindo.
Fui arrastando até uma sala no último andar que dava entrada a uma varanda. Percebi de longe que haviam duas mulheres sentadas na ponta da varanda e logo uma delas se levantou e foi em direção a mim. Era Alyna, a noiva de Joseph, com seus cabelos cacheados balançando enquanto andava.
- Cuide bem dela. - ela piscou pra mim e saiu andando.
Franzi o cenho sem entender o que estava acontecendo e foi quando eu vi que a mulher que ela conversava era Olívia. Respirei fundo e fui andando até ela. Olívia me acompanhou com o olhar até me ver sentar ao seu lado.
- Você tá um lixo.
Eu ri.
- Você também está linda, obrigado pelo elogio. - ironizei.
- Por que Jéssica não veio? - ela perguntou.
- Nós estamos separados.
Ela parou e olhou para mim seriamente.
- O que aconteceu?
E então eu contei toda a história que me levava até aqui. Enquanto falava o que eu estava passando, Olívia me olhava atentamente daquela forma prestativa que eu sempre adorava nela. Porém ela não me olhava nos olhos.
- Sinto muito. - ela disse pra mim quando terminei de falar.
- Não sei o que fazer da minha vida. - suspirei.
- Não é óbvio? - Ela disse me olhando como se sondasse meus pensamentos. - Siga em frente.
Ficamos em silêncio. Eu observava ela mirar o horizonte e cada detalhe de seu rosto estava marcado em minha memória.
- Onde está Jace? - Senti um gosto amargo ao falar o nome dele.
- Não sei. Não o vejo há 3 anos. - ela disse sem olhar pra mim. - Acho que ele está na Flórida. Não sei.
- Pensei que vocês teriam um futuro diferente.
- Eu não estava apaixonada por ele, mesmo assim foi ele quem terminou. Acabou que foi melhor pra nós dois. Eu não preciso de mais um relacionamento para me frustrar.
- Está trabalhando? - Perguntei.
- Você está falando com uma futura promotora e logo mais juíza do estado da Pensilvânia. - ela sorriu pra mim orgulhosa.
- Alguém aqui se deu bem. - comentei.
- Está ficando tarde. - Ela falou. - Melhor irmos pra cama.
De repente senti vontade de ficar mais um pouco ali. Senti vontade de saber tudo que acontecera com Olívia enquanto eu via meu casamento ser arruinado. Eu tinha medo de perder Olívia mais uma vez e que ela fosse mais uma pessoa que saísse da minha vida. Olhando por um lado eu não era tão diferente de Pat.
- Fica. - sibilei.
E antes que eu percebesse, eu estava chorando como um bebê no ombro de Olívia. Foi quando eu percebera que desde a separação eu não havia derramado uma lágrima se quer. Eu estava fugindo dos meus sentimentos, mas eu não conseguia mais.
Lembro que Olívia me abraçou forte com seus braços pequenos, mesmo sendo menor e mais fraca do que eu. E antes que eu visse que o sol estava nascendo, ela estava chorando também.
- Enquanto eu estiver viva, estarei aqui. Eu vou ficar, Ben.
Lembro-me dela sussurrando essas palavras aos soluços.
- Você não sabe o quanto senti sua falta, Liv.
No outro dia, lembro de ter acordado deitado na varanda com ela encolhida em meu peito, e depois de observá-la em meu lado e ver como nós nos encaixávamos tão bem, vi éramos dois desertores da vida que seguia sem saber pra onde ia.
Eu estava perdido, ela estava perdida. Então, naquele momento, eu queria que estivéssemos perdidos juntos.
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