Fique.
Minha ex esposa deu um sorriso venenoso quando contou onde estava minha filha e disse que era possível resolver o caso ainda naquele dia. A juíza pediu para que levassem Gabriela a uma sala anexo onde haveria uma psicóloga para conversar com ela, mas era preciso que nós esperássemos meia hora.
Aqueles trinta minutos pareceram uma eternidade para mim. Joseph se enfadou de me mandar parar de andar de um lado para outro como um lunático e resmungando monossílabos de vez em quando, mas estava nervoso demais para ficar quieto.
Tinha certeza que Jéssica havia colocado minhoca na cabecinha da minha princesa e a faria ficar contra mim. Desde o dia em que Jéssica de saiu de casa não consigo falar com Gabriela e apenas não fui busca-la na escola para que nós saíssemos juntos, porque tive medo que se eu não avisa-se a minha ex esposa acontece-se algo no tribunal.
Nunca pensei que sentiria tanta falta de, antes de ir ao trabalho, ver minha filha acordando de manhã e me dando bom dia.
Passando a meia hora, a juíza voltou com o rosto neutro e quase não conseguia aguentar de ansiedade. Pude fitar a expressão convencida de Jéssica vacilar quando a magistrada abriu novamente o caso e trazia sua sentença.
Fiz, então, uma promessa silenciosa que apenas eu iria saber. Mesmo que não conseguisse a guarda da minha filha e tenha o número de visitas limitado, eu irei cuidar dela. Ela será meu primeiro lugar. Gabriela merecia o mundo e merecia estar preparada para ele. Eu a educaria para ser uma mulher feliz e independente e todos os dias iria demonstrar que a amava, porque era isso que estava instalado em meu coração desde que a vi pela primeira vez; desde que aquela carinha amassada nasceu. Minha princesa seria uma rainha e eu estaria lá nos bastidores da sua vida apenas morrendo de orgulho dela.
Era isso. Essa era minha promessa.
A juíza lia um papel atentamente e apenas o barulho da nossa respiração, do escrivão e do ar-condicionado eram possíveis de se ouvir.
- ...Diante da conversa tida com a criança foi decidido que o melhor a fazer era passar a guarda para sua tia...
Olhei para Joseph sem entender e o olhar dos advogados e minha ex-esposa compartilhavam o mesmo sentimento. Jéssica era filha única e minha irmã tinha 16 anos. A que tia ela estava se referindo?
- ...Contudo, dando-se aos fatos de que ela veio a óbito, a melhor decisão é a guarda compartilhada onde Jessica Smith, mãe da criança, terá a maior parcela. O pai terá direito a três visitas por semana a criança. Caso encerrado. - Ela bateu o pequeno martelo na mesa.
Soltei o ar dos pulmões sentindo o peso da derrota em meus ombros. Era claro que eu não conseguiria - nesses casos, a prioridade era sempre a mãe. A única coisa que me intrigava era aquele papo de tia. Algo estava errado.
Joseph e Alyna saíram da sala em silêncio se mostrando irritados - eles não eram acostumados a perder. De uma tapinha nas costas de Joey tentando animá-lo e abria a boca pra falar algo, porém o grito tão por mim conhecido de "papai" me distraiu.
Gabriela veio até a mim correndo depois de ter se desvinculado de Mark. Ela me abraçou e eu a segurei em meus braços. Não sabia da saudade que sentia até senti o cheiro de shampoo de morango que ela usava. Seus bracinhos me rodeavam e a apertei com força. Com os olhos fechados, sussurrei.
- Senti tanto sua falta.
- Eu também, papai. - e ela olhou para mim com seus olhos curiosos. - Mamãe falou que o senhor não volta pra casa. É verdade? - Ela perguntou com um biquinho.
- É sim. Mas vou visitá-la toda semana e vou a todas as suas apresentações de balé, está bem? - Beijo sua testa.
- Sério? - Ela vibrou. - Puxa, papai! Pensei que o senhor ia demorar pra me ver. Foi bom ter falado da Tia Liv pra aquele mulher então.
Então, Liv era a tia citada na audiência. Sorri, abracei-a rapidamente e a coloquei no chão. Jéssica veio andando em nossa direção andando em cima de nuvens de tão esnobe. Suspirei aliviado.
Aquelas últimas semanas eu havia aprendido muito e amadurecido também, contudo só agora percebi minha mudança; e dou graças a Deus por não ter continuado com Jéssica, pois a primeira coisa que ela iria fazer seria cortar as asas do meu novo eu.
- Espero que esteja feliz com a guarda compartilhada, Bem. - Ela comentou. - Ainda achei muito.
Dei meu melhor sorriso.
- Você não sabe o quanto. - Respondi - Quero te pedi perdão por qualquer coisa que fiz. Agora que a única coisa que nos uni é a Gabriela quero estar com a consciência limpa. Sem mágoas?
Aquilo a desarmou por completo; com certeza ela não esperava por essa atitude. Estava cansado daquela infantilidade e nós éramos adultos, tínhamos que agir como tais.
- Tudo bem. - Ela respondeu com a testa franzida. - Vamos, Gabriela.
Minha filha se despediu e acompanhou sua mãe. Olhei para os lados e pude ver o casal Stamper cabisbaixo ao meu lado.
- Ânimo! - Falei dando tapinhas em suas costas - Não dá pra ganhar todas.
- Você é maluco, Bem. - Joey falou enquanto nós saímos do prédio. - Você é o único homem que eu conheço que saí perdendo 20% de sua renda pra pagar uma pensão e ainda fica feliz em ver sua filha três vezes por semana.
- Não, Joey, apenas estou valorizando as coisas que a vida me dá. - Paro em frente a Mercedes preta do meu amigo.
- Parece que essa carta lhe fez bem. - Murmurou Alyna.
- Carta? - Perguntou Joseph. - Que carta?
- Te explico depois, amor. - Ela falou deixando suas pastas no banco de trás do carro. - Quer vir almoçar conosco, Benjamim?
- Adoraria. - Respondi e fui para meu carro para acompanhá-los até o restaurante.
Quando entrei no meu veículo e a fome bateu, decidi ligar o rádio para me distrair. Here Comes The Sun dos Beatles tocava quando saímos do estacionamento e senti as boas vibrações da música me invadirem.
Eu era um a nova pessoa, um novo homem. Mesmo com a infelicidade de não ter a mulher da minha vida ao meu lado, eu iria levantar e lutar. Minha filha será minha prioridade e meu trabalho vai ser meu pequeno mundo. Iria ser feliz, iria amadurecer e não ter medo de mudar. Liv havia lutado até o fim e me pediu para levantar. Eu iria fazer isso, tudo isso, por ela e por todo o sentimento bom que eu senti e sinto por Olívia.
...
Quando acordo sento o cheiro suave e delicioso de colônia feminina e abro os olhos fitando os cabelos de Liv espalhados no meu peito. Ela levantou a cabeça e me deu um sorriso. Seu rosto está amassado e o cabelo bagunçado, porém sua beleza não se abala com isso. Ela tem uma beleza simples que eu amo.
Olívia se esticou e me beijou. Seus lábios são como um doce que derrete em minha boca me fazendo viciar pelo seu gosto. Seguro com as minhas mãos seu rosto e a beijo com urgência. Suas mãos percorrem meu abdômen até meus ombros e, sem fôlego, nos afastamos um pouco e ficamos com as testas coladas, fecho os olhos quando minha mente lembra que ela não estava ali; que aquilo provavelmente era uma ilusão, sonho ou o que seja, mas não era real.
Começo a chorar e os polegares de Liv enxugam minha bochecha. Seu toque era quente e verdadeiro, por isso me agarrei aquele sentimento.
- Pare de senti remorso. Você vai ganhar muita coisa ainda. - Ela sussurra. Seu hálito é frio e refrescante.
- Você pode ficar? - Minha voz saí arrastada, ressentida. - Fique, por favor.
- Não me decepcione, Ben. - Ela diz.
- Se eu pudesse... - engasgo.
Olívia cantarola uma música lenta. Sua voz não é bonita, mas carrega grande significado para mim. Ela se aproxima e sela nossos lábios pela última vez.
Seu sorriso é a última coisa que eu vejo antes do barulho da porta batendo me fizesse acordar daquele sonho.
A mesa do meu escritório estava toda babada, inclusive em cima dos versos de uma música que antes estava escrevendo e em minha cópia do Lado Bom da Vida de Matthew Quick, e Steven gritava do outro lado da porta do escritório.
- Ben, pelo amor de Deus! Fale alguma coisa ou eu vou ter que arrombar essa porta! - Apressei o passo e abri a porta vendo meu sócio eufórico.
- Desculpe, acabei dormindo. - Falei passando a mão no rosto.
- Você me deu um susto, chefe! Pensei que tivesse morrido. - Ele pôs a mão no peito. - Olhe, preciso te mostrar uma coisa no Itunes. Acho que você vai gostar.
Ele me mostrou seu Iphone e eu arregalei os olhos quando vi Cry Out by The Bathdoors em primeiro lugar no Itunes.
- Está em 20 países, chefe, VINTE. - Steven vibrou e eu o abracei.
Aquilo era tudo que a empresa precisava. Não que nós não tínhamos reconhecimento pelo nosso trabalho, mas isso... Era mágico!
- Eles conseguiram graças a você, Ben. - Falou meu sócio. - Todos os críticos falam sobre o arranjo do baixo que fez toda a diferença na música. Talvez a música chegue pegar #1 na Billboard dessa semana.
Coloquei meus cabelos para trás com um sorriso maior que meu rosto sem acreditar naquilo. Tudo isso significava um passo maior do que eu imaginava para o estúdio.
Rapidamente me lembro do sonho que estava tendo e a voz de Liv ecoa em meu ouvido.
"Você vai ganhar muita coisa ainda."
Um sorriso involuntário aparece em meu rosto e balanço a cabeça desacreditado.
Ela sabia. Ela sempre sabia.
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