Capítulo 42 - Leila
Bocejo pela terceira vez desde que me sentei nesta mesa com Madu e Jonas, incapaz de controlar os efeitos do sono acumulado no meu corpo. Meus amigos me olham de soslaio, comprimindo os lábios para não soltarem nenhuma risadinha, o que é uma escolha inteligente da parte deles, já que o meu cansaço não é exatamente pelos motivos que eles estão supondo na cabeça maquiavélica deles.
Estamos finalmente trabalhando bastante, mais do que eu achei que estaríamos em tão pouco tempo operando. São cinco clientes para dar assistência e isso é muito, considerando que somos apenas três por enquanto e há mais algumas reuniões e testes para fazer com potenciais clientes dentro dos próximos dias. Madu está se desdobrando para que o aplicativo não deixe a desejar em nada, enquanto Jonas e eu cruzamos dados e fazemos visitas técnicas, além de elaborar planos personalizados para todos os nossos clientes até agora.
A conclusão de tudo isso é que precisaremos de ajuda em breve, ao menos alguém para receber as ligações e organizar as coisas, porque está ficando meio chato ter que atender os clientes nos momentos em que eu deveria estar em casa descansando ou aproveitando meu marido. Tudo bem que para as pessoas já faz quase seis meses que eu me casei, mas para Danilo e eu faz pouco mais de um mês que somos marido e mulher, e está difícil arranjar tempo para aproveitar a nossa "lua de mel".
Pouso meu olhar em Madu e Jonas, me dando finalmente por vencida. Talvez eles tenham mesmo certa razão sobre meu cansaço. É um bom cansaço pelo menos, pelas duas razões possíveis. Estou finalmente trabalhando com o que eu sempre sonhei e amando inteiramente alguém que me ama de volta. Nada no mundo poderia ser mais perfeito, jamais me atreveria a reclamar, juro por Deus.
— Leila, você conferiu a última planilha de dados que mandei para você ontem? — Jonas pergunta de repente, se debruçando sobre a mesa para pegar uma garrafinha d'água. É fim de tarde e está abafado, já tomamos um fardo de garrafas d'água e continuamos suando.
Coço a testa, tentando me lembrar de que planilha ele está falando. São muitas planilhas e nesse início estamos nos esforçando tanto para que nada saia errado, que acabamos revisando os dados dezenas de vezes antes de Madu lançá-los no aplicativo.
— Se for a planilha da padaria, eu conferi, sim. — Solto um suspiro cansado e escorrego as mãos pela mesa atolada de papéis, deitando minha cabeça sobre um dos meus braços.
— Mais um pouquinho e você desmaia de novo como daquela vez. — Madu comenta, e, apesar de eu não ter exatamente boas lembranças do momento mencionado por ela, acabo sorrindo.
— Fui salva por Heitor e até hoje eu acho que não o agradeci o bastante.
— Ele é um ótimo amigo, Leila, tão bom amigo para você quanto Jonas é para a sua prima.
Prefiro nem responder Madu. Em vez disso, apoio meu queixo numa das mãos e olho para Jonas. Ele seria uma pessoa tão boa para Bruna, que é impossível para mim não torcer pelos dois, mesmo sabendo que dali não vai sair nada tão cedo. Minha prima tem os próprios problemas para resolver e na vida dela não há espaço para ninguém por enquanto, ao passo que Jonas ainda é um garoto.
Meu amigo tem um coração enorme, mas nós dois sabemos que ele não está pronto para assumir a responsabilidade de um relacionamento com tantas implicações. Admiro isso nele, porque se Jonas fosse outro cara, provavelmente já teria aproveitado a primeira chance para se aproximar de Bruna e, quando as coisas ficassem complicadas, inventaria qualquer desculpa esfarrapada para cair fora. Jonas tem esperado o momento certo há alguns anos, então eu espero que ele saiba o que fazer quando a hora chegar.
— Madu, eu acho que você está precisando de uma namorada. — Concluo depois de muito pensar sobre a situação de Jonas.
Ela afasta o notebook e me lança um olhar tão afiado, que já posso ouvir sem que ela diga nada todo o seu famigerado discurso de que não precisa de ninguém para ser feliz e que o amor é uma invenção capitalista, injusta e elitista, para fazer as pessoas acreditarem que fracassaram na vida em algum aspecto e etc., etc., etc.
— Não preciso de uma namorada, mas eu admito que eu preciso de alguém.
Meu queixo quase bate na mesa ao ouvir aquilo. Madu admitindo qualquer mínimo indício de carência é algo totalmente novo.
— Isso não quer dizer que eu queira namorar, que fique claro. — Ela rapidamente acrescenta. — Só que eu estou estressada e adoraria uma distração vez ou outra. Você é minha única amiga, Leila, e está casada, e Jonas... — Madu olha com certo desgosto para o coitado, que estava demorando para ser incluído na conversa. — Enfim, às vezes calor humano é necessário.
— Podemos sair depois do expediente e você procura um calor humano para você. — Sugiro.
— Isso! Liga para Danilo e pede o carro. Você tem habilitação para dirigir agora, pode levar todo mundo para casa mais tarde.
— Minha habilitação ainda não chegou, Madu, eu fiz o exame na semana passada. — Digo, forçando minha voz a soar calma, quando na verdade estou contando os dias para colocar as mãos na minha licença. Se não fosse por Danilo, talvez eu até vivesse minha vida toda sem saber como se liga um carro, e agora eu mal posso esperar para pegar uma estrada ou até mesmo me meter no trânsito de São Paulo.
— Mas mesmo assim a gente ainda pode sair, não pode? — Madu insiste.
— Esqueçam isso! Amanhã de manhã nós temos compromissos com dois potenciais clientes e é melhor ninguém aqui estar de ressaca. — Jonas arranca Madu e eu do nosso breve sonho.
Alcanço minha garrafinha d'água sobre a mesa e tomo alguns goles para me conformar de vez que não terei muita diversão nas próximas semanas. Eu prometi a mim mesma que não iria reclamar e não estou reclamando, afinal é estar atolada de trabalho é uma coisa boa, é só uma questão de me acostumar com o fato das coisas estarem dando certo.
Sim, as coisas estão dando tão certo que acho que estou no meio de algum sonho bom. Danilo detesta quando eu menciono coisas do tipo, então eu tenho evitado comentar esses meus pensamentos em voz alta. Eu entendo o lado dele, pois parece que estou insegura com algo, mesmo que eu nunca tenha sido tão feliz quanto agora. Acho que para quem já tomou tantos baldes de água fria na cabeça durante a vida como eu, é normal não acreditar muito rápido quando tudo começa a andar para a frente e é bem esse o meu caso.
Bom, é isso e a sensação horrível que sempre me abate quando penso em Seu Fausto. Eu nunca sei como abordar o assunto com Danilo, mas nos últimos dias ele tem estado claramente exausto e preocupado, o que só me deixa mais angustiada. A única coisa boa é que Danilo tem se dado melhor com todo mundo da família dele, o que é fundamental nesse momento difícil. Quando Seu Fausto for embora, pelo menos não vai partir com o sentimento de ter deixado para trás uma família dividida.
Afasto os pensamentos ruins e volto para o trabalho, mas não demora muito até o som de duas vozes masculinas encherem o escritório. Reconheço as vozes de imediato, contudo é uma surpresa me deparar com Danilo e Heitor aparecendo pela porta da E. M. com sorrisos largos e conversando cordialmente.
Eles se encontraram poucas vezes, e em todas, pelo que eu me lembre, Danilo manteve uma postura emburrada e hostil com relação a Heitor. Até quando eu eventualmente falava o nome de Heitor ou folheava algum documento que tinha a assinatura ou o carimbo dele, Danilo olhava pelo canto do olho e resmungava como uma criancinha birrenta, por essas e por outras que é realmente incomum vê-los conversando tão tranquilamente.
Heitor para um pouco depois de adentrar pela porta do escritório, enquanto Danilo segue pelo cômodo até onde eu estou, ainda meio boquiaberta com a situação toda. Ele coloca duas sacolas de supermercado sobre a mesa e beija o topo da minha cabeça. Depois, se vira para os meus amigos e os cumprimenta brevemente.
— Danilo e eu tivemos a mesma ideia, acreditam? — Heitor diz, indicando as sacolas com o queixo.
Madu não perde um segundo para abrir as sacolas, soltando um gritinho animado ao revelar dois potes de sorvete derretendo.
— Brilhante ideia a de vocês! — Ela vibra, examinando o pote de sorvete napolitano. — Hoje está um inferno de tão quente, sorvete era tudo que a gente precisava no final do dia.
Ela tem toda razão, sinto até uma brisa leve passar pela sala ao ver aquilo e eu nem sou tão adepta a doces, porém hoje aqueles sorvetes parecem a oitava maravilha do mundo.
— Lembrei que vocês não tinham nem copos aqui, então eu trouxe algumas colherezinhas e potinhos de plástico do supermercado. — Danilo diz, tirando uma colher de plástico de uma das sacolas. — Não contem para ninguém que me viram usando qualquer coisa não sustentável. — Ele pisca um olho para mim e é impossível não rir.
Danilo leva ao pé da letra todas as questões de sustentabilidade. Em casa, além de separar o lixo todo santo dia, ele ainda dá um jeito de reaproveitar água e vive usando isso de desculpas para tomar banho comigo. Ele possui apenas uma caderneta onde anota as coisas que não podem ser passadas para o celular e mesmo essa caderneta foi feita com material sustentável. Usar plástico que não sabemos se será reciclado deve estar sendo um desafio enorme para o meu marido.
— A propósito, li em algum lugar sobre a expansão da Eco Habitação, Danilo, parabéns! — Heitor comenta, oferecendo a Danilo um sorriso amistoso.
— Ah, você viu numa revista, por acaso?
Dou um cutucão em Danilo, que nem sequer parece sentir, tamanho o entusiasmo. Ele foi procurado há algumas semanas por uma revista especializada para dar uma entrevista sobre o mercado imobiliário sustentável e vem mencionando essa bendita matéria em todos os lugares possíveis. É bonitinho vê-lo todo orgulhoso do próprio trabalho, mas eu sei que se deixá-lo começar a falar sobre isso, iremos para casa apenas amanhã.
— Que tal se a gente só tomasse o sorvete e fosse embora desse forno em forma de escritório? — Digo, tentando desviar o foco do assunto.
— A gente pode sair daqui e ir se refrescar com cerveja gelada num bar. — Madu sugere. Ela realmente ainda não desistiu daquela ideia.
— Madu, amanhã a gente tem trabalho. — Jonas nos lembra de novo.
— É, eu também tenho muito trabalho amanhã. — Danilo diz em um tom mais baixo, numa mistura de desânimo e preocupação. Ele tem tido essas reações constantemente quando fala do trabalho, mas sempre que eu pergunto o que está havendo na empresa, só escuto respostas genéricas.
— Bom, eu não tenho nada urgente para fazer amanhã, então se vocês quiserem sair, estou bastante disposto! — Heitor dá de ombros, para o meu desespero e o de Jonas também.
— Heitor, caso eu nunca tenha dito isso, você é grande amigo! Você é melhor de todos, o maior de todos! — Madu comemora, puxando um dos potes de sorvete. — Qual você prefere? Napolitano? Flocos? Ambos?
— Puxa saco... — Jonas resmunga, o que faz tudo soar ainda mais engraçado.
Madu coloca sorvete para Heitor com todo cuidado do mundo. Nos servimos em seguida antes que o sorvete derreta de vez, sujando sem querer alguns dos papéis que estavam sobre a mesa e rindo disso, apesar do trabalho que teremos para reimprimir tudo depois. Por hora, escolhemos não nos preocupar tanto e apenas aproveitar um raro momento de descontração nesses dias tão cansativos.
Observo a bagunça que fizemos na mesa, meus amigos rindo, meu marido sempre tão bem vestido derramar sorvete na camisa social e não se importar com isso. Quando dou por mim, estou sorrindo como uma boba. Me pergunto se é mesmo possível alguém ser tão feliz assim, como estou sendo agora, com eles.
❤
Tivemos que passar num supermercado antes de irmos de vez para casa, porque na nossa geladeira tinha apenas gelo e fumaça, e Danilo sempre engata um monólogo sobre o dia em que fatidicamente parei num pronto atendimento por não ter me alimentado direito. Entretanto, não foi de todo ruim, havia muita coisa faltando em casa e passar o começo de noite com meu marido tentando me lembrar do que eu precisava comprar foi uma das melhores experiências da minha vida.
Ir às compras é algo tão pequeno e rotineiro para a maioria das pessoas, que eu fiquei pensando se todo mundo que encontramos nos corredores do supermercado não estava achando estranho um casal sorrir tanto empurrando um carrinho cheio de produtos de limpeza. É estranho explicar, mas cada vez que Danilo e eu fazemos algo que nunca tínhamos feito juntos antes eu me sinto ainda mais casada e eu nem sabia que um sentimento assim era possível. Parece meio bobo pensar nesses detalhes tão mínimos, mas amar alguém não é algo feito para fazer sentido.
Estou agora arrumando tudo na cozinha enquanto Danilo aproveitou o início da noite para levar Sansão para dar uma volta, já que não tivemos tempo de passear com ele pela manhã. Confesso que tudo que eu queria era já ter tomado um banho, mas infelizmente prometi que faria o jantar, e para cozinhar qualquer coisa nesta casa hoje é necessário desempacotar as compras.
Assim que termino tudo e coloco alguns dos alimentos para cozinhar, a primeira coisa que eu faço é tomar a direção do quarto e me enfiar debaixo do chuveiro para me livrar do suor de um dia de trabalho duro. Sei que vou acabar tomando outro banho mais tarde, só que se eu não tirasse aquela roupa suja do corpo, eu provavelmente iria ter um ataque de nervos.
Escolho uma camiseta de Danilo para usar, são mais frescas do que a maioria das minhas roupas e além do mais eu gosto de sentir o cheiro dele em mim, tudo uma desculpa para sentir Danilo mais perto mesmo quando ele está longe. Me permito um instante para me sentar na cama e respirar antes de voltar para a cozinha. Recosto-me na cabeceira e fecho os olhos, dizendo a mim mesma que não irei dormir, que é só um descanso para as minhas pálpebras.
Não sei exatamente quantos minutos se passam nessa minha desculpa esfarrapada de descansar as pálpebras, pois só abro os olhos quando escuto um celular vibrar repetidas vezes. É o de Danilo, que estava recarregando sobre a mesinha de cabeceira. Checo a tela para ver se não há nada urgente, principalmente com toda a situação da saúde de Seu Fausto, mas são apenas mensagens de trabalho. Em todo caso, nem tenho que ficar olhando nada disso.
Entretanto, antes que eu possa recolocar o celular de volta onde o encontrei, uma mensagem chama minha atenção. É de um acionista e ele está xingando Danilo de nomes que prefiro não dizer em voz alta. As mensagens chegam uma atrás da outra, iluminando a tela com grosserias dos piores tipos. Em meio à torrente de desaforos, o homem ainda escreve coisas sobre Danilo assumir a presidência da empresa.
Aquilo me enfurece mais do que os xingamentos. As pessoas parecem não entender sob quais circunstâncias a presidência da empresa está sendo repassada e nem o quanto Danilo e a família estão aguentando calados. Minha vontade é responder esse homem a altura, mas me contenho, olhando fixamente para a tela e esperando o que mais o acionista tem a dizer. E ele realmente tem mais coisas a dizer, pois nem sequer termino meu raciocínio e algumas mensagens chegam em letras maiúsculas:
"N SE FAÇA DE SANTO!"
"VC SEMPRE QUIS O LUGAR DO SEU AVÔ"
"VC SEMPRE ESTEVE DISPOSTO A TUDO..."
"O QUE VC PENSA QUE ESTÁ FAZENDO..."
Não há mais como ver todo o conteúdo das mensagens pela barra de notificação sem que eu tenha que desbloquear o celular e acredito que eu já tenha visto mais do que eu deveria para pelo menos me ocorrer entrar na privacidade de Danilo desta forma.
Se antes aquelas mensagens tinham me deixado irritada e até ofendida, agora meu estômago deu um nó por completo. O que esse homem está dizendo? Por que tanto ódio? É como se esse infeliz achasse que Danilo fosse um monstro que quisesse a todo custo roubar o lugar do avô que está para morrer, como se Danilo não ligasse para nada além de um cargo, que obviamente não significa nada para ele perto da vida de Seu Fausto.
Largo o celular sobre a mesinha no momento em que vejo Danilo passando com Sansão pelo corredor. Eu sequer tinha notado que eles tinham chegado em casa e por isso acabo sendo pega no flagra sem nem sequer ter uma chance para disfarçar o quanto estou transtornada. Danilo nota, claro que nota, e o sorriso que ele tinha no rosto até o momento se desfaz.
— O que foi, Leila? — O tom dele é tão preocupado, que tenho vontade de chorar.
Passo as mãos pelo rosto e respiro fundo. Ele vai ler aqueles absurdos alguma hora, então é melhor que eu diga que sei mais ou menos pelo quê ele tem passado e que o apoio, independentemente de qualquer coisa.
— Vi algumas mensagens ruins de um acionista no seu celular.
Danilo empalidece imediatamente quando digo aquilo. Ele se abaixa e coloca Sansão no chão, que sai correndo atrás de Dalila que deve estar escondida em algum canto da casa.
— Que tipo de mensagens ruins? — Danilo pergunta, cruzando o quarto e indo até onde o celular dele está.
— Coisas absurdas, ridículas até, colocando seu caráter à prova por causa da presidência da empresa!
— A presidência... — Danilo engole em seco, os olhos fixos na tela do celular, provavelmente tão chocado quanto eu com aqueles absurdos. — Você sabia que eu estava no páreo pelo cargo do meu avô?
Me acomodo melhor na cama, sentindo um leve incômodo por Danilo nunca ter comentado nada sobre a presidência comigo, apesar de, aparentemente, isso ser um assunto bastante aberto e discutido pelas pessoas. Sempre quis pensar que era algo difícil para ele e sei que continua sendo, porque do contrário ele não estaria tão perturbado.
— Andressa comentou sobre isso comigo uma vez.
— E por que você não me disse que sabia disso antes?
Danilo solta o celular e me encara. Os olhos dele estão brilhantes e eu juro que eu nunca o vi tão nervoso em toda minha vida. Não é o tipo de nervosismo de alguém que vai explodir e socar uma parede, mas o nervosismo de alguém que está para desmoronar de tanta angústia.
— Ah, meu amor... — Fico de pé e alcanço as mãos dele, que estão frias demais. — Imaginei que fosse difícil para você tocar no assunto, por causa da situação de Seu Fausto.
Danilo estremece um pouco. Ele sempre fica hesitante quando o assunto da doença do avô vem à tona e é inevitável que meu coração não se aperte por vê-lo assim. Toda vez que eu penso no nosso contrato e no tempo escoando, mais fico angustiada com toda essa situação. Em alguns momentos, é fácil fingir que não tem nada acontecendo, mas em momentos como agora, por exemplo, em que a guarda de Danilo baixa, dói profundamente imaginar que os dias de Seu Fausto estão de fato chegando ao fim.
— Leila, — Danilo aperta minhas mãos levemente, desviando os olhos dos meus — eu preciso conversar com você sobre algumas coisas.
Um frio se instala na minha barriga só de ouvir o tom atormentado da voz dele. Não é a primeira vez que Danilo parece ter coisas demais para me dizer e essa sensação tem se tornado ainda mais persistente nos últimos dias.
— O que você quiser me dizer, estou aqui para ouvir. — Dou a ele meu melhor sorriso encorajador, mesmo que por dentro eu esteja receosa.
Danilo abre a boca para começar a falar, mas me lembro no momento errado que eu havia deixado o fogão ligado e o cheiro de queimado inunda a casa. Eu devo realmente ter cochilado por tempo demais quando me sentei na cama e a consequência será metade da casa queimada se eu não sair correndo agora mesmo.
— Ai, meu Deus! Ai, meu Deus! — Solto as mãos de Danilo e praticamente voo entre o quarto e a cozinha.
O que eu vejo é um desastre! A panela está literalmente em chamas e há fumaça para toda parte, sem contar no cheiro horrível. Tento alcançar o fogão para desligar a saída de gás, no entanto Danilo é mais rápido. Num piscar de olhos, ele sai de cena e volta à cozinha com um extintor de incêndio em mãos e resolve tudo como um verdadeiro herói.
Desabo sobre uma das cadeiras da mesa da cozinha, afundando meu rosto nas mãos. Fizemos compras, eu arrumei tudo e num lapso de descuido eu quase destruí a casa inteira. Se eu estivesse sozinha aqui e dormido apenas um minuto a mais, não quero nem pensar no que poderia ter acontecido.
— Acho que passou um pouquinho do ponto. — Danilo diz, espiando dentro da panela toda queimada sobre o fogão.
Involuntariamente começo a rir do caos que eu mesma causei.
— Você escolheu uma péssima esposa. Eu não nasci para ser dona de casa!
— E desde quando uma mulher precisa ser uma boa dona de casa para ser uma boa esposa, hein?
— Para mim, desde nunca, mas a sua mãe não concordaria com isso que você disse.
— Então que bom que quem se casou com você fui eu e não ela. — Ele me puxa pela mão e me coloca de pé, me prendendo entre seu corpo e a mesa.
Olho para Danilo sem saber ao certo como reagir. Eu tenho sorte de ter me casado com esse homem, que me apoia e me aceita até mesmo quando eu, por pouco, quase incendeio o prédio. Aliás, não, nós dois que temos sorte por termos conseguido encontrar o amor no meio de uma história que tinha tudo para dar errado.
Penso em perguntar o que ele tinha para me dizer antes, mas agora a minha vontade de conversar foi embora com a minha fome e o meu cansaço. Agora há algo que eu quero mais e pelo olhar de Danilo e pela forma que o corpo dele pressiona o meu, eu sei que o que quero é o mesmo que ele.
Certo, não posso negar que há de fato muitos pontos positivos no casamento.
❤
Oie! ♥
Parece que temos mesmo um novo horário de postagens aos domingos hahaha
Mas me contem aqui, estão gostando desses momentos de paz antes da tempestade? Espero que sim! O livro está chegando ao final e eu já estou chorosa :')
Muito obrigada de todo coração por estarem acompanhando desde o início. Esse livro tem um significado grande para mim, apesar de tudo. Então, meu muito obrigada ♥
Nos vemos no próximo domingo.
Bjx,
Thaly :-}
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