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Capítulo 35 - Danilo

— Você quer que eu finja surpresa? — Tales debocha da minha confissão. Juro que tenho vontade de jogar o copo de suco de laranja que estou bebendo na cara dele, mas me controlo.

— Eu estou falando sério!

— Eu também estou! Convenhamos, Danilo, estava na cara que isso ia acontecer mais cedo ou mais tarde. Pensando bem, até que demorou. — Ele toma um gole de café e me encara por cima dos óculos. — Inclusive, parabéns por ter aguentado mais de um mês.

— Estou me arrependendo de ter te contado, sabia? A minha ideia era que você me ajudasse a entender como me meti nessa confusão, mas você fica aí de gracinha, Tales!

— Tá bom, tá bom, não precisa ficar emburradinho assim! — Meu amigo estica o braço por cima da mesa para cutucar minhas bochechas, mas afasto a mão dele com um tapa.

— Dá pra parar?! — Estou perdendo a paciência. Era melhor ter continuado com tudo aquilo entalado na garganta ou comprado um diário, qualquer coisa seria melhor do que ouvir a risadinha de Tales.

— Parei, juro! — Ele ergue as mãos em sinal de defesa. — Mas é sério, seja sincero consigo mesmo, Danilo, você também sabia que isso aconteceria. Desde que você conheceu Leila, não te vejo saindo com mais ninguém. Tudo simplesmente gira em torno dela, do que ela quer e do que ela acha, e era questão de tempo até que você percebesse isso.

— Você está exagerando as coisas. Eu te disse, bebemos um pouco, eu estava chateado e ela estava muito perto, não foi nada além disso.

— Então você deve estar pronto para entregar o divórcio quando você voltar à São Paulo, né? Porque agora Leila pode solicitar a quebra do contrato a qualquer momento.

— Quebra do contrato? — As palavras escapam esganiçadas pela minha boca e preciso tomar um pouco do meu suco para molhar a garganta. — Por que Leila faria isso?

— Porque é o justo, Danilo. Você nem sequer conseguiu a indicação do seu avô, para que mais você precisa manter esse casamento? A menos que você, não sei, esteja se apaixonando pela sua esposa de mentirinha...

Me canso daquela besteira e nem mesmo deixo Tales terminar o que estava dizendo ao me levantar da mesa e sair andando sem olhar para trás. Tales é um idiota que fica brincando com coisas sérias. Eu estou com a cabeça fervilhando há dias por causa daquele maldito beijo e ele me vem com história de "apaixonado". Uma coisa não tem nada a ver com a outra, eu só estou preocupado em manter um relacionamento estável diante das pessoas para que... para que...

Para mais nada. Em tese, eu realmente não preciso desse contrato para mais nada. Então talvez Tales tenha certa razão sobre eu não precisar mais desse fingimento todo.

Dou meia volta em direção a mesa onde meu amigo ainda está tomando café tranquilamente.

— Você acha mesmo que Leila vai querer a quebra do contrato?

— Que motivos ela tem para ficar com você, Danilo? Você mesmo disse que os amigos dela descobriram, é uma questão de tempo até que os pais também descubram também, e ela, com certeza, vai querer evitar isso.

— Ela não pareceu que queria o divórcio... — Reflito, me lembrando da breve conversa que tivemos antes de eu ter viajado.

— Então dê você o divórcio de uma vez. Talvez ela só esteja aguentando tudo isso por causa da doença do seu avô, que por um acaso é mais saudável do que nós dois juntos. Você não precisa mais manter esse casamento, Danilo, libere Leila antes que você consiga bagunçar ainda mais a vida dela.

Tales está certo, o divórcio é a melhor coisa para nós dois. Entretanto, não consigo gostar dessa ideia. Não consigo mesmo.

— Mas ainda estou disputando a presidência, Tales, se eu me divorciar agora, vovô vai ter certeza que eu menti esse tempo todo e vai ser ruim para a minha campanha com os acionistas. — Contra argumento. Tem um fundo de verdade no que digo, afinal não quero que meu avô saiba do que eu fiz, principalmente depois da briga que tive com Marcos, muito menos quero que isso atrapalhe minha eleição.

— Nesse caso, você tem duas opções. — Ele ergue um dedo para mim, enumerando. — A primeira é tentar terminar esse contrato sem mais nenhum deslize e para fazer isso a única maneira que eu conheço é se afastar um pouco dela. A segunda opção — Tales ergue mais um dedo — é se jogar de cabeça nisso e ver no que vai dar.

Acho graça da última frase.

— Me jogar de cabeça no quê? Não há nada para eu me jogar de cabeça, Tales.

Ele se inclina um pouco para a frente, apoiando os cotovelos na mesa do café. O clima fica subitamente sério entre nós dois e fico receoso com o que está para sair da boca de Tales.

— É uma ideia tão ruim assim se apaixonar por Leila?

— Do que você está falando?

— Só me responda se é tão ruim assim gostar dela. — Ele insiste, sem nenhum resquício do deboche de antes. — A companhia dela é tão desagradável assim que você rejeita qualquer ideia de realmente ficar com ela?

— Claro que não! Eu adoro a companhia dela, você sabe disso.

— Então se você gosta de estar com ela, os dois estão livres e desimpedidos e sentem atração um pelo outro, qual o problema de tentar fazer esse seu casamento de mentira se tornar um casamento de verdade?

— O problema é que... É que... — Engulo as palavras, sem saber ao certo como concluir aquilo.

— O problema é que você nunca gostou de uma mulher ao ponto de querer se casar com ela. Na verdade, você nunca namorou direito, quanto mais pensar em casamento, Danilo, por isso toda a situação com Leila está te deixando confuso.

Claro que eu poderia continuar insistindo por mais duas horas com a história de que o que aconteceu não tem nada a ver com sentimentos, no entanto me vejo incerto sobre isso pela primeira vez. Eu me sinto tão confuso quanto Tales disse, afinal um casamento de verdade parece uma responsabilidade que nem Leila e nem eu considerávamos assumir, mesmo que em alguns momentos eu me sinta como um homem casado de verdade. Em contrapartida, eu nunca tive um relacionamento sério, nunca pensei em construir uma família com ninguém, então preciso considerar o fato disso tudo não passar apenas de efeito da convivência e nada mais.

Acordar e ir dormir olhando para Leila, dividir intimidades do dia a dia, ouvi-la falar por horas dos problemas da empresa e da família enquanto corta tomates na cozinha está mexendo demais com minha cabeça. O pior é que conforme o tempo está passando, mais e mais eu tenho a olhado — e desejado — como a mulher que ela é, e menos como a mulher que aceitou se casar comigo por dinheiro, só que daí a realmente estar apaixonado seria um caminho bem mais longo, não seria?

A verdade é que tudo em volta de Leila é muito complicado, ela é sensível a relacionamentos, não confia direito nas pessoas e eu não posso simplesmente levá-la para cama sem saber se gosto dela ou não, porque nem nos meus piores pesadelos quero magoá-la. Acho que primeiro eu preciso entender o que está acontecendo comigo e depois pensar no que fazer com isso e com ela.

— Suponhamos que você tenha razão e eu tenha algum interesse em Leila. — Arrisco, sentindo o peso das palavras deixarem minha boca seca de novo. — O que eu faço, Tales?

— Ah, meu amigo, não existe uma receita mágica. Só permita que as coisas aconteçam, sei lá.

— E se ela não quiser nada comigo?

Tales dá uma olhada no relógio e pede a conta ao garçom que circula pelo restaurante do hotel antes de me responder:

— Nesse caso, você pode beber e chorar no escuro, o que acha? — Ele tira a carteira do bolso e paga pelo que consumimos. — Hora de trabalhar, futuro presidente do coração da Leila!

Não dou risada da piadinha dele, mas também resolvo não contestar. Agora terei duas reuniões importantes e não posso continuar pensando no meu casamento, o que eventualmente vai acontecer se eu der corda para Tales continuar enchendo a minha cabeça com essa baboseira de namorar Leila de verdade.

Cumprimento algumas pessoas no saguão, sorrindo e perguntando como vai a família, mesmo sem me lembrar do nome da maioria deles. Preciso fechar bons negócios hoje e preciso me mostrar eficiente, são os votos dos acionistas que estão em jogo, ora, manter a compostura é fundamental.

Me afasto apenas um instante ao sentir meu celular vibrar repetidas vezes no bolso. Antes de desbloquear a tela, consigo ver que são mensagens de Leila. São algumas fotos e vídeos que demoram uma eternidade para carregar no meu celular. Não nos falamos desde que viajei, não faço ideia do que pode significar essa quantidade de imagens que ela me enviou a uma hora dessa da manhã.

Quando o download da primeira foto é concluído, sinto um fio de decepção percorrer meu corpo. As fotos e vídeos seguintes também só conseguem me deixar mais confuso com o que diabos Leila queria ao me enviar tantas fotos de um filhote de gato preto. Abro um dos vídeos e reconheço que o gato está andando todo desajeitado pela... minha sala?

— Ah, não, ela está de sacanagem! — Digo para mim mesmo, não acreditando no que estou vendo.

O download do último vídeo se completa e eu vejo Leila na tela, segurando o gatinho com uma das mãos enquanto se filma com a outra.

"Diga oi para a câmera, Dalila! Seu papai está te vendo do outro lado!" Leila ri, mexendo na patinha da bichana que agora sei ser uma fêmea.

Envio uma mensagem perguntando se ela ficou maluca para levar um gato para uma casa onde já tem um cachorro que dá trabalho para cinco bichos. A resposta vem em forma de imagem e eu nem sei por que eu ainda tento conter meu sorriso ao vê-la deitada no sofá com Sansão bem acomodado próximo ao seu rosto e a gata aninhada sobre sua barriga.

Minha casa está de pernas para o ar. Além de Leila, que deixa bagunça por onde passa, agora tem dois bichos morando debaixo do meu teto, e ainda assim eu não consigo parar de sorrir. Acho que chegou a hora de admitir que eu estou ficando maluco.

Depois que Tales fez aquele discurso floreado sobre eu estar começando a gostar de Leila como mulher, fiquei pensando mais do que o necessário no assunto. Pensei que seria uma boa ideia ter adiantado minha viagem depois do beijo para tomar algum ar longe dela e colocar a cabeça no lugar, mas nem tudo correu como eu imaginava.

Cada vez que eu me deitei para dormir na cama do hotel, cada vez que fechei os olhos, cada vez que me permiti respirar fundo, eu senti falta de casa. Senti falta de Sansão choramingando para eu pegá-lo no colo, do chão gelado da sala e, principalmente, de Leila andando pelos cômodos com uma camisa larga e uma caneta enfiada no cabelo cacheado.

Eu não soube direito como falar com ela durante esses dias, apenas tentei transparecer que estava tudo bem nas mensagens que trocamos, mas sendo honesto eu queria ouvir a voz dela em vez de apenas ler mensagens. Fiquei por um fio de ligar para ouvi-la nem que fosse por alguns minutos e a única coisa que me impediu foi o fato de eu ainda não entender o que está havendo comigo. Uma parte de mim quer desesperadamente beijar Leila de novo e de novo e de novo, enquanto outra parte minha quer apenas esquecer qualquer pensamento do tipo, focar na presidência da empresa e voltar a ter a mesma vida leve e despreocupada que eu levava antes desse casamento.

Contudo, mesmo tendo essa segunda parte racional e barulhenta dentro de mim, acabei pegando o primeiro voo disponível de volta para São Paulo assim que meus compromissos acabaram na sexta-feira. Nem cheguei a avisar Leila que estava voltando, porque sequer tive tempo entre fazer minhas malas e correr para o aeroporto. Deixei para trás a equipe que estava comigo na viagem e Tales, que não perdeu tempo para começar com a ladainha sobre eu estar me apaixonando por Leila. Me ocorreu ter feito uma besteira tomando a decisão de antecipar a minha volta para casa de tanto Tales buzinar nos meus ouvidos, mas esse meu pensamento foi se esvaindo conforme as horas passaram e eu me aproximei do meu destino.

Já é madrugada quando eu finalmente coloco os pés para dentro do apartamento. Puxo o ar com força, sentindo o cheiro de casa depois de tantos dias fora. Paro um instante na porta de Leila, pensando se eu devo ou não acordá-la para dizer que cheguei. No fim, decido por não incomodá-la, afinal o sono é importante para ela que não desliga nunca.

Giro a maçaneta da porta do meu quarto e nem me dou ao trabalho de acender as luzes. Vou direto para o banheiro, arrancando as roupas pelo caminho e as jogando no chão. Ao menos hoje, depois de tanto cansaço, vou me permitir fazer alguma bagunça no meu próprio quarto e deixar para me preocupar com a mala cheia de roupas sujas depois que eu acordar amanhã, de preferência após o meio-dia.

Nem me enxugo direito ao sair do banho e me enfiar nos shorts que passei a sempre deixar pendurado no banheiro depois que Leila passou alguns dias dormindo comigo. Eu gosto da sensação de estar molhado, me ajuda a ficar mais calmo para pegar no sono melhor, ainda mais hoje que estou com a cabeça cheia. Ainda no escuro, ando quase às cegas pelo quarto, guiado pela memória de onde ficam os móveis. Hesito por um instante antes de me jogar no colchão, porque Sansão pode estar em qualquer lugar aqui, então é melhor conferir para não correr o risco de machucá-lo.

É só quando acendo o abajur sobre minha mesinha de cabeceira que vejo que não estou sozinho. Como eu imaginei, Sansão está dormindo aos pés da cama, mas além dele há um montinho preto encolhido entre meus cobertores e alguém que conheço muito bem espalhada no meio do colchão. Não sei se fico feliz ou triste ao perceber que fui implicitamente despejado do meu próprio quarto pelos outros três moradores da casa.

Leila se mexe um pouco no colchão e se vira na direção da luz fraca do abajur. Ela pisca, sonolenta, tentando se focar em mim.

— Você já voltou? — A voz dela soa arrastada pelo sono.

— Não, você está sonhando comigo no momento.

— Deve ser por isso que você está sem camisa, igualzinho nos meus sonhos... — Ela diz aquela última parte baixinho, como se quisesse guardar aquele pensamento apenas para si.

Me apoio na mesinha de cabeceira e olho para ela, sério. É o sono, só pode ser o sono, porque do contrário ela não diria algo do tipo para mim.

Leila se apoia nos cotovelos e começa a se levantar, se espreguiçando um pouco. Eu preciso piscar para ter certeza de que sou eu que não estou sonhando ao vê-la vestida com o que parece ser uma das minhas camisetas velhas. Fica quase um vestido para ela e eu tenho a impressão de que gosto mais do que o recomendado daquilo.

— Você deve estar cansado. Me desculpe por ter dormido aqui, é que Sansão me enche toda noite para dormir com ele na sua cama.

— Então você devia ficar aqui. — Digo rápido demais, sem medir as consequências das minhas palavras. — Eu quero dizer, é que Sansão está dormindo tão bem, ia ser chato se ele começasse a choramingar sentindo sua falta.

— Eu acho que ele só fica chorão assim quando você está fora, mas agora ele vai ficar bem.

Leila desliza para fora da cama. A camiseta ergue um pouquinho de nada com o movimento, revelando um trecho da pele dela que eu, infelizmente, nunca tive a oportunidade de ver antes. Pensar nisso me deixa inquieto. Há muita coisa sobre ela — e sobre o corpo dela — que eu adoraria descobrir e desvendar, e eu sei o quanto esses meus desejos são perigosos.

— Vou levar Dalila comigo, está bem? Boa noite!

Estendo a mão por cima da cama e alcanço o braço de Leila antes que ela possa se virar e escapar para longe.

— E se eu te pedisse para... — Meu coração dispara no peito e eu paro imediatamente de falar. Eu não estou pensando coisa com coisa, eu não posso nem querer uma coisa dessas.

— Para...?

Mas a verdade é que eu quero, quero tanto que eu não dou a mínima se estou parecendo um idiota ou se vou ganhar um fora.

— Se eu te pedisse para dormir aqui hoje comigo?

— Eu... Eu... — Leila procura por uma resposta e eu entendo que fui longe demais com aquilo. Merda! Merda! Merda! Eu só faço merda!

Solto o braço dela rapidamente, temendo ter deixado as coisas ainda mais complicadas entre nós dois com aquela minha falta de tato para lidar com os meus próprios impulsos. Eu a deixei constrangida mesmo sem querer e eu nem consigo olhá-la direito de tanta vergonha que estou sentindo de mim mesmo.

— Boa noite, então. — Falo, me sentando na cama de costas para Leila e esperando que ela deixe o quarto o quanto antes para que eu possa voltar a respirar.

No entanto, o colchão se move suavemente debaixo de mim. Leila puxa o cobertor para si e se acomoda na cama em silêncio. Por minutos intermináveis, a única coisa que consigo ouvir é o som irregular das nossas respirações, se tornando cada vez mais audíveis conforme tomamos consciência do que está acontecendo.

Apago o abajur e me deito também, tenso da cabeça aos pés e consideravelmente arrependido de ter pedido à Leila que ficasse, já que ela estar aqui, bem do meu lado, parece tão pior do que vê-la desaparecendo pela porta sem olhar para trás. Eu tenho certeza absoluta de que estou ficando completamente maluco, perdendo a cabeça, precisando urgente de ajuda médica, pois nunca no meu juízo normal eu estaria desse jeito ao lado de uma mulher. Não sei o que Leila está fazendo comigo, mas eu não reconheço mais nem os instintos do meu próprio corpo e não sei dizer o quanto disso é ruim.

— Você... — Ela começa a dizer, o que me faz virar o rosto em sua direção. — Você foi bem de viagem?

— Correu tudo bem, sim. E você, ficou bem aqui?

Leila se acomoda melhor na cama, se deitando de lado e se virando para mim. Estamos a uma distância curta um do outro, contudo, se eu me manter quietinho onde estou, acredito que são poucas as chances de avançar os limites entre nós dois de novo.

— Para falar a verdade, você fez falta. Tudo aqui parece grande e vazio sem você.

Um sorriso inesperado brota no meu rosto. Eu não esperava ouvir algo daquele tipo, ainda mais depois de tudo que Tales disse sobre o divórcio. Contudo, saber que ela sentiu minha falta me deixa mais corajoso para confessar:

— Sendo sincero também, eu estava louco para voltar. Senti sua falta, mais do que eu achei que sentiria.

Silêncio. Só sei que Leila ainda está acordada, porque a respiração dela acelera, assim como a minha. Acho que até Sansão e Dalila conseguem sentir a força sobre-humana que estou fazendo para não beijar essa mulher de novo, já que ambos pulam da cama para o chão.

— Acho que perdi o sono. — Leila diz depois de alguns instantes.

— Eu também. Me conta o que você fez esses dias, mal conversamos.

— Eu visitei um advogado com Bruna para tentar resolver a situação do pai de Arthurzinho.

— Eu já ofereci um advogado bem competente...

— E não cabe a mim aceitar isso por ela, já te disse. — Leila me corta. Nem me surpreendo mais com essas opiniões dela. — Ah, conversei com sua mãe também.

— Minha mãe esteve aqui?

— Sim, e ela me contou sobre sua briga com Marcos.

Eu sabia que mais cedo ou mais tarde ela ficaria sabendo dos motivos por trás daquele roxo no meu rosto, eu só queria ter tido a chance de contar eu mesmo minha versão da história antes que vovô ou minha mãe fizessem minha caveira.

— Danilo, eu não sei direito como você se sente com relação a sua família, mas eu consigo sentir até no seu silêncio o quanto você ama e se importa com todos eles. Do contrário, você não teria tantas fotos deles na sua estante, fotos que você mesmo tirou quando ninguém estava olhando, inclusive.

— Nossa situação é complicada, Leila. — É tudo que tenho a dizer, até porque só consigo definir minha relação com minha mãe e Marcos assim.

— Vocês deviam conversar alguma hora, tentar vencer essa distância. É claro para mim que todo mundo está sofrendo com essa situação. Sua mãe sente muito pelo que você teve que suportar sozinho e acredito que Marcos também. Não sei, quem sabe se vocês conversassem e se abrissem...

Ela para de falar ao perceber que estou engolindo em seco ouvindo tudo aquilo. Não consigo explicar, mas escutar Leila falar sobre minha família me deixa umas 30 vezes mais arrasado. Passei muito tempo evitando esse assunto, evitando minha família, evitando demonstrar o quanto cada momento da minha vida após a morte do meu pai me marcou profundamente, contudo não consigo esconder de Leila como eu me sinto. Foi assim na noite em que cheguei em casa depois de ter brigado com Marcos e está sendo assim agora.

— Eles foram embora quando eu mais precisei deles... — Minha garganta se aperta e eu preciso respirar fundo para continuar falando. — Eles passaram tempo demais fingindo que eu não existia para se preocuparem comigo depois de tanto tempo.

— Você já disse isso para eles? Já disse como você se sente?

Não consigo nem respondê-la de imediato. Me dói demais pensar em tudo que passei, em todas as vezes que eu precisei do colo da minha mãe ou das vezes que eu queria brincar com Marcos como os outros garotos da rua faziam com os irmãos mais velhos.

— Éramos uma família antes do meu pai morrer, não sei o que fiz de errado para acabar assim. — Acabo desabafando, mal ouvindo minha própria voz.

— Ei — ela estende a mão, pousando-a sobre meu rosto —, você não fez nada de errado. Sua mãe e seu avô só queriam te proteger e acabaram cometendo um erro, mas ainda há chances de consertar tudo isso se você se permitir.

— Eu não sei se consigo, Leila, ao menos não sozinho. — Seguro a mão dela, fechando os olhos e inspirando profundamente.

Sinto o calor do corpo dela mais perto, a respiração calma se tornando mais alta, o cheiro da pele dela invadindo todos os meus sentidos e me deixando inebriado.

— Você não está sozinho. — Leila me garante e eu consigo sentir na alma o quanto ela está sendo sincera.

Acho que entendo naquele instante que não quero mesmo ter que assinar um divórcio daqui há alguns meses e fingir que não a conheço. Eu gosto dessa mulher, gosto de um jeito forte o bastante para disparar meu coração e me deixar sem ar apenas por estar assim tão perto; eu gosto dela o suficiente para não precisar sequer beijá-la ou tocá-la para ter essa certeza; eu gosto tanto dela ao ponto de não querer deixá-la se afastar nunca mais.

Puxo Leila de encontro ao meu peito e a abraço forte, porque é isso que meu coração quer e ele não está medindo muito as consequências agora. Para minha surpresa, ela apenas me abraça de volta, se encaixando perfeitamente junto a mim, como se tivesse nascido para caber dentro do meu abraço.

Não trocamos mais nenhuma palavra, apenas ficamos assim até cairmos no sono. Não sei se isso é a paixão que Tales tanto disse nos últimos dias ou sei lá o que, o que eu sei é que eu gosto muito, muito de Leila e eu quero na mesma intensidade que ela goste de mim.

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