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Capítulo 27 - Danilo

Leila e eu entramos em acordo quanto a algumas pendências da nossa convivência. Agora eu tenho que me vestir direito antes de sair do quarto toda manhã e ela aceitou voltar para casa todos os dias da semana. Leila também concordou em pegar uma carona comigo na volta do trabalho, porque acho meio chato ela ficar para cima e para baixo dentro de ônibus quando eu posso muito bem passar para pegá-la no escritório.

Fora nossa carona diária, não nos vemos com muita frequência. Ela sai cedo demais e se enfia no quarto para continuar a trabalhar assim que chegamos. De vez em quando ainda comemos uma pizza como jantar e jogamos conversa fora, mas não passa disso. Nosso primeiro final de semana de "casados" foi marcado por Leila andando do quarto para a sala, digitando no computador e mal respondendo minhas perguntas. Acabei ficando o dia fora e saindo à noite na esperança de aliviar um pouco da tensão dos últimos dias, mas só consegui mais estresse.

Tales me ligou assim que me sentei em um bar, e com apenas com a frase "não vai fazer nenhuma besteira e arrumar problemas com a Leila" ele conseguiu estragar minha festa. Seja lá qual for a besteira a qual ele se referia, foi o bastante para me afastar de qualquer mulher que olhasse para mim, sorrisse para mim ou chegasse perto de mim. Me dei conta naquele dia de que não conversei com Leila sobre como lidaremos com isso e eu ainda não sei como dizer que tenho minhas necessidades e que espero que isso não seja um problema para ela. Não somos casados de verdade, não devemos esse tipo de respeito um pelo outro, mas ainda assim não sei direito como tocar no assunto.

Exceto por um dia em que Andressa apareceu do nada na minha casa e que tivemos que fingir ser um casal apaixonado recém-casado, Leila e eu não tivemos nenhum problema e nem aconteceu nada consideravelmente interessante durante as duas semanas que se seguiram. Em compensação, meu trabalho está cada dia mais infernal. É tanto problema, tanta pendência, que às vezes chego na Eco Habitação sem saber o que fazer primeiro.

Vovô decidiu que quer tentar produzir uma linha de materiais de construção sustentável e que eu devo supervisionar todo o processo, o que está me sobrecarregando até os ossos. A preparação para a troca da presidência também está próxima, falta pouco agora para que vovô indique alguém. Pelas informações que Tales tem me passado, meu nome e o nome de Marcos são os mais cotados para a indicação, mas só na assembleia que irei saber se os acionistas vão seguir a indicação do meu avô ou se eles têm mais alguma pessoa em mente para assumir a presidência.

Espero do fundo do meu coração que os acionistas façam o que sempre fazem e sigam as decisões do meu avô, porque não estou me matando de trabalhar, nem me forçando a ficar acordado durante reuniões chatas para que eles simplesmente lancem a candidatura de Marcos ao cargo de presidente em plena assembleia. Se os acionistas concordarem com minha indicação, que é a mais certa para o momento, no máximo em dois meses eu já poderei rescindir o contrato com Leila e ambos estaremos livre desse problema em que nos metemos.

Alguém bate à porta da minha sala, chamando minha atenção e a de Mateus, que está comigo aqui há horas analisando as vantagens e desvantagens econômicas da produção da linha de materiais de construção sustentável. Camila entra com uma pilha de pastas nas mãos, que por pouco não cobrem sua cabeça, o que quer dizer muita coisa, já que ela é bem alta.

Camila praticamente joga as pastas sobre minha mesa e me fuzila com o olhar. Finalmente ela deve ter acabado todos os projetos pendentes com a equipe de engenharia e está torcendo com todas as suas forças para que eu não coloque defeito em mais nada. Passo os dedos pelas pilha, pensando no trabalho que tudo isso deu.

— Agora só falta a vistoria das obras em andamento. — Camila diz, tão mal humorada que Mateus se encolhe.

— E quando você vai fazer isso?

— Na terça-feira, no máximo. Só não fui ainda porque Alexandra estava ocupada essa semana.

Alexandra também está sobrecarregada até o pescoço. Ela nem tem mais tempo para fofocar com Marcinha sobre a minha vida de casado e não posso negar que isso me deixa muito satisfeito.

— Parece que estamos produzindo a todo vapor. — Mateus comenta, passando os olhos pela pilha de projetos. — Se continuarmos nesse ritmo, vamos ter que expandir a Eco Habitação.

— Já temos trabalho o suficiente só com a Eco Habitação, imagine duas ou três? Esqueça isso!

— Ah, acho que você devia pensar direito nisso, porque com Dr. Fausto investindo numa linha de produtos, nossa vida vai ficar mais fácil. Quem sabe consigamos até abrir uma fábrica da Eco Habitação no futuro.

— É meio cedo, Mateus. As coisas nesse mercado andam complicadas por causa da crise e ainda somos um nome recente. — Argumento, tentando deixar meus pés firmes no chão.

— Eu concordo com Mateus, mesmo não entendendo nada de administração ou economia. Estamos com uma demanda considerável de projetos fora da capital e até do estado, logo a Eco Habitação sozinha não vai dar conta. — Camila complementa, tamborilando os dedos longos sobre as pastas.

— Expandir... — Experimento o peso da palavra, sentindo meu coração se agitar com a ideia.

Quando meu avô me chantageou e praticamente me obrigou a assumir um cargo no Grupo Torres, minha única condição foi poder ter autonomia para tocar meu negócio do meu jeito. Montei minha equipe, escolhi minha sede, ajudei a projetar cada sala da Eco Habitação e fui sozinho atrás dos meus primeiros contratos. Eu queria me mostrar tão necessário e capaz quanto Marcos, mas no meio disso eu me vi encantado por cada pequena conquista que essa empresa me deu. Consegui muita coisa em apenas cinco anos, no entanto pensar numa expansão, filiais e em uma marca independente do Grupo Torres parecia um sonho distante. Agora, porém, estou quase pensando "e se...?".

— Vocês acham mesmo que talvez esteja na hora de considerar uma expansão? Até ontem queriam acabar com a Eco Habitação, eu contei à vocês.

Camila e Mateus assentem com convicção. Camila tinha acabado de sair da faculdade quando eu a contratei sem ter nenhuma experiência, porque gostei de como ela era sincera e responsável. Mateus foi uma indicação de Tales e a melhor coisa que já me aconteceu nessa empresa. Ele faz tudo o tempo todo, me salva em momentos em que estou completamente perdido com a papelada burocrática e era um ótimo companheiro de noitada antes de ter se casado no ano passado. Olhando para os dois, me sinto até meio velho. Foram cinco anos, mas às vezes parece muito mais tempo, considerando tudo que passamos para erguer a Eco Habitação e estarmos hoje falando sobre uma expansão.

— Vou pensar sobre isso depois, falar com meu avô e ver o que ele acha, afinal nós dependemos do Grupo todo para funcionar.

— Iiih, será que ele vai querer isso? — Mateus questiona, hesitante.

— Vovô está até fazendo a linha de materiais de construção especificamente para a Eco Habitação, por que ele não concordaria?

— Ah, porque você pode assumir o lugar dele daqui há um tempo na presidência, então talvez o Dr. Fausto ache que não é um bom momento para a expansão.

Tenho que controlar meu ego quando Mateus explica seu ponto. A conversa de que posso assumir a presidência está realmente circulando pelos corredores, mais forte do que eu imaginava, e isso é excelente. Assim como estou prevendo, em pouquíssimo tempo eu já estarei sentado na cadeira da presidência, comandando o Grupo Torres inteiro com minhas próprias mãos.

Olho para Mateus e Camila sem conseguir esconder muito bem minha alegria, contudo a expressão deles é como um banho de água gelada sobre minha cabeça.

— Que cara é essa de vocês dois?

Camila quem resolve tomar a iniciativa:

— Você está considerando mesmo aceitar o cargo?

Deixo escapar uma risada. Esse não é o tipo de pergunta que se faça.

— Como assim, Camila?

— É que a gente achou que você estava bem aqui, na empresa que você criou. Sei lá, sempre pareceu que você queria ver a Eco Habitação crescer...

— Mas ela vai continuar crescendo, com ou sem mim.

Mateus solta um suspiro e se levanta da cadeira, recolhendo seu notebook de cima da minha mesa.

— Será mesmo que a empresa vai continuar crescendo sem você? — Ele me pergunta de volta, com um tom de incredulidade na voz que me deixa sem saber como respondê-lo.

Me lembro da conversa que tive com Marcos certa vez. Ele me disse naquela ocasião que eu teria que fazer uma escolha entre o que eu gosto de fazer e o que eu quero fazer se quisesse chegar à presidência do Grupo um dia. Todas as nossas falas, todo ódio que senti das coisas que ele me falou e todas as horas de sono que perdi pensando nisso antes de dormir tomam conta dos meus pensamentos com uma força tão grande, que sinto uma fisgada acima do olho direito.

Camila e Mateus saem da minha sala em seguida, sem uma resposta convicta vinda de mim. Não vou mentir e dizer que não fico preocupado com o futuro da empresa quando eu sair daqui, mas esse é um problema que eu planejava resolver depois de ser nomeado. Estudei alguns nomes para ocuparem meu lugar e a verdade é que não fiquei muito satisfeito com ninguém que apareceu, por isso a pergunta de Mateus está martelando tanto na minha cabeça.

Será que vou conseguir alguém competente o bastante? Que tenha visão o bastante? Será que eu quero mesmo deixar tudo que construí aqui?

Mais tarde, quando passo na Electrical Measure para pegar Leila, a encontro em frente ao prédio com os amigos, olhando para a placa de identificação que acabou de ser instalada na fachada. Pelo que Leila tem me dito, falta pouco para eles inaugurarem, e ela não está se aguentando de empolgação, apesar de eu achar que ela precisa dar um tempo e respirar em algum momento.

Estaciono o carro e atravesso a rua correndo, com os olhos fixos em Leila. Nem preciso que ela se vire para enxergar o tamanho do sorriso que está estampado em seu rosto. Ver a alegria dela com a empresa só me deixa mais confuso com relação a Eco Habitação, entretanto, por mais incrível que pareça, não consigo me incomodar com a empolgação de Leila. Na verdade, eu até gosto de vê-la animada com alguma coisa.

Paro bem atrás dela, fazendo sinal para que Madu e Jonas não me delatem, e levo minhas mãos subitamente à sua cintura, fazendo-a dar um pulinho pelo susto. Leila se vira para mim, fechando a expressão lentamente.

— Sua sorte é que eu não sou cardíaca! — Ela reclama, enrugando a testa numa tentativa falha de parecer ameaçadora.

— Mas deve estar anêmica, estou te achando meio amarela, sabia? — Estendo as mãos para segurar o rosto dela, que se esquiva. — Se sua tia te ver assim, ela me mata.

— Eu estou ótima!

Eu a examino de cima a baixo, não muito convencido. Desde que eu a conheço, Leila sempre estampa o mesmo semblante cansado, mas é visível que ela está pior nos últimos dias. Pode ser coisa da minha cabeça e talvez ela esteja bem, porque eu realmente nunca a vi tão feliz na vida, mas eu fico me perguntando se ela tem dormido ou comido direito, já que trabalha tanto, mesmo quando está em casa.

— Ficou legal essa placa, hein? — Indico a fachada do prédio, mudando de assunto.

— Graças a mim, que tive que brigar com esses dois para escolherem amarelo e preto para a placa, ficou legal, sim! — Madu se gaba, apontando para si mesma.

Madu acena para mim em seguida e eu sorrio de volta. Estendo a mão para cumprimentar Jonas, que está de pé bem rente ao meio fio, e só então percebo que há uma quarta pessoa, bem ao lado de Jonas, cujo rosto eu nunca vi na minha vida, tenho certeza.

— Ah, esse é o Heitor, o contador que está nos auxiliando com algumas coisas. Heitor, esse é Danilo, meu... meu marido. — Leila nos apresenta, sorrindo meio sem graça.

Nem preciso pensar muito para decidir que não gostei muito de como Leila hesitou em me apresentar como seu marido. Já vai fazer um mês que estamos casados, ela já deveria ter superado essa fase de ficar escolhendo palavras quando se trata de mim.

— Ah, seu marido! — Heitor estende a mão para mim, escondendo mal pra caramba que ficou surpreso com a informação que acabou de receber. — Sua esposa é uma mulher incrível, parabéns!

— Sim, ela é incrível.

Heitor abre um sorriso nervoso, quase sem graça. Não consigo deixar de notar que ele está olhando demais para Leila, como se tivesse algo que ele quer dizer, mas que não faz ideia de por onde começar. Confiro o anelar esquerdo dela, confirmando que a aliança está ali, bem visível, caso Heitor não esteja muito convencido de que Leila e eu somos casados.

— Então você é o contador da start up agora? — Pergunto, mesmo não estando interessado.

— Não exatamente, só estou ajudando Leila em algumas coisas burocráticas. Mas quem sabe no futuro, quando a E. M. se tornar uma multinacional, né? — Ele dá uma risadinha sem graça.

Lanço um olhar para Leila, que eu espero que ela entenda como minha total antipatia pelo cara, no entanto ela não parece estar vendo nada de errado.

— Heitor está sendo uma mão na roda! — Jonas comenta, dando dois tapinhas nas costas de Heitor.

— Quê isso, eu só estou ajudando uma velha amiga.

Velha amiga?!

— Velha amiga? — Pergunto, não escondendo bem o suficiente minha surpresa.

Leila assente para mim, com toda calma do mundo.

— Acho que vou indo, então. — Heitor anuncia, e, para mim, ele já vai tarde.

— Amanhã passo lá na Contadoria para levar o restante dos documentos, Heitor. — Madu lembra, largando o celular um instante para prestar atenção na conversa.

— Sem problema! Mas qualquer coisa que precisarem, vocês podem me ligar. Leila tem meu número. — Ele nem tenta disfarçar ao sorrir para Leila.

— Eu ligo, pode deixar. — Leila sorri para Heitor de volta, aquele mesmo sorriso de fechar os olhos que ela dá quando está feliz.

Preciso admitir aqui que odiei aquele pequeno momento com tanta força, que chego a cerrar minhas mãos em punhos, afinal que diabos é isso que está acontecendo bem debaixo do meu nariz?

— Até mais! Bom descanso para todo mundo!

Heitor se despede de Jonas e Madu, apertando a mão deles e prometendo que vai aparecer de novo em breve. Quando chega minha vez e a de Leila, percebo que ele vacila um pouco, incerto se deve ou não fazer aquilo. Aposto que se eu não estivesse aqui, esse cara estaria beijando a mão de Leila, o braço e então... Não quero nem pensar no resto!

Me coloco entre ele e Leila e estendo minha mão, estampando o sorriso mais cínico que tenho:

— Tchau, Heitor! Bom descanso para você também.

Ele ainda olha para Leila uma última vez antes de se afastar pela calçada. Eu o observo andando apressado entre a multidão de pessoas que estão saindo do trabalho nesse horário. Não costumo ser o tipo de pessoa que julga os outros sem conhecer, mas acredito muito no fato de que há pessoas com quem o santo não bate e meu santo não bateu com Heitor. Cara estranho, todo engomadinho com a camisa social dentro da calça jeans, óculos de gente que lê o dia todo e um crachá pendurado no pescoço como se fosse uma espécie de troféu. Nem se ele nascesse de novo eu iria com a cara dele.

— Espera um minuto aqui, que eu só vou lá em cima buscar minhas coisas. — Leila diz, nem mesmo esperando pela minha resposta antes de desaparecer pela entrada do prédio.

Assim que ela não está mais por perto, me volto para Madu e Jonas:

— O que um contador que nem é o contador de vocês de verdade estava fazendo aqui?

Madu deixa escapar uma risada, enquanto Jonas ainda tenta ficar sério. Não entendi o motivo da graça, eu não fiz uma piada, só quero entender o que estava acontecendo aqui antes de eu ter chegado e por que Leila fazia cara de quem queria desaparecer todas as vezes que abria a boca.

— Heitor veio trazer uns documentos para que a gente assinasse, Danilo. — Jonas assegura.

— E os favores que ele está fazendo por vocês inclui se despencar até a E.M. só pra isso?

— Acho que ele só quis ser gentil. — Madu dá de ombros.

— Para mim, ele está sendo gentil demais.

Madu volta a rir, tão alto e descontroladamente que Jonas não se aguenta e explode em gargalhadas também. Fico parado de braços cruzados assistindo os dois gargalharem sem parar, ainda sem compreender o motivo daquilo. Não quero saber se Heitor conhece Leila há dez anos ou sei lá há quanto tempo, ela está casada agora e ele deveria ter mais respeito. Eu não saio por aí dando em cima da mulher dos outros, por que eu teria que simplesmente aceitar o cara secando Leila na minha frente?

Leila sai do prédio fechando os bolsos intermináveis da sua mochila velha. Ela para a alguns passos de onde estou e corre os olhos pelos amigos se dobrando de rir na calçada.

— O que deu neles?

— Como se esses dois precisassem de motivo para rir. — Respondo ainda meio ranzinza por Madu e Jonas estarem rindo de uma coisa que para mim é muito séria.

Dou as costas para os três e começo a atravessar a rua sem esperar por Leila. Quero chegar em casa logo e tomar um banho, porque de estressante e irritante já basta meu trabalho.

De onde estou ouço Leila dizer:

— Fechem tudo lá em cima antes de saírem.

— Leila! — Madu grita em seguida e deduzo que Leila já está longe deles.

Destravo o alarme do carro, encostando nele para esperar pela minha digníssima esposa, que está cochichando alguma coisa com a melhor amiga no meio da rua, em iminência de ser atropelada a qualquer momento. O pior é que a forma como as duas soltam risinhos e confabulam só consegue me deixar ainda mais incomodado.

Leila se livra de Madu e acaba de atravessar a rua correndo. Ela dá a volta no carro e se senta no banco do carona. Estou para entrar no carro também quando escuto Madu gritar:

— Aproveita sua crise de ciúmes para esquentar as coisas mais tarde, Danilo!

— Minha o quê?! — Eu grito de volta, indignado com o que acabei de ouvir.

Madu some pela porta do prédio com Jonas em seu encalço, nem se dando o trabalho de me responder. Crise de ciúmes? Sério mesmo que ela acha que eu estou com ciúmes? Por que eu estaria com ciúmes?

É, Danilo, por que você estaria com ciúmes...?

No caminho para casa, Leila e eu não trocamos uma palavra. Ela esteve entretida demais mexendo no celular e eu ocupado demais remoendo cada palavra que eu disse durante a curta interação com Heitor para tentar encontrar de onde Madu tirou que eu estava com ciúmes.

Eu concluo depois de muito pensar que ela e Jonas estavam rindo feito duas hienas, porque achavam que eu estava com ciúmes, quando na verdade eu só me senti pessoalmente desrespeitado. Para todos os efeitos, Leila é uma mulher casada e eu esperava que os caras respeitassem isso ao menos na minha frente. O que as pessoas vão pensar se verem um cara como Heitor dando em cima da minha esposa descaradamente? Era só isso que eu estava pensando o tempo todo, não há nada de errado nisso.

Assim que piso os pés em casa, a primeira coisa que faço é caminhar até a cozinha e beber alguns goles de água. Estou ofegante e de cabeça quente, e a água ajuda a acalmar os nervos. Leila passa pela cozinha com Sansão no colo, falando com ele como se fosse um bebezinho de meses e coçando sua barriga gorducha. Ela nem sequer brigou com ele por ter rasgado uma das suas blusas e eu sinto que a simpatia dela por esse cachorro vai estragá-lo ainda mais.

Ela volta para a cozinha alguns minutos depois e se senta numa das bancadas, me olhando de um jeito meio suspeito. Encho mais um copo com água gelada e o entorno na boca.

— Madu disse alguma coisa sobre esclarecer para você que Heitor é só um bom amigo. — Ela diz, rindo um pouco. — Não achei que precisasse falar sobre isso, mas conheço Heitor há bastante tempo. Ele costumava morar no bairro em que tia Célia mora.

— Você não precisa me explicar nada. O que Madu disse...

— Eu percebi que você ficou incomodado. — Leila me corta e eu engasgo com minha própria saliva. — Você está bem?

Bebo um gole d'água para amenizar a tosse, assentindo para ela.

— Eu só queria que você soubesse que não há possibilidade de eu me envolver com ele e colocar em cheque nosso "casamento". — Leila faz aspas com os dedos ao dizer a palavra casamento.

— Você sabe que não há possibilidade só da sua parte, né? Heitor me pareceu muito a fim de você e eu nem o conheço direito.

Leila morde o lábio inferior para disfarçar o sorriso. Sabia que ela não era inocente ao ponto de não perceber como o cara a olha. Até um cego consegue enxergar, como ela não enxergaria?

— Não aconteceu nada entre ele e eu anos atrás, não é agora que vai acontecer, Danilo. — Ela ergue a mão esquerda e aponta para a aliança.

— Isso daí, infelizmente, não impede ninguém de fazer nada!

Leila ri, girando a aliança e o anel de brilhantes no dedo anelar.

— Ele me respeita muito, sempre respeitou. Acho que só ficamos meio nostálgicos, nada demais. Enfim, pode ficar tranquilo, que para todos os efeitos eu sou uma esposa apaixonada, fiel e feliz!

Eu acredito em Leila, ela tem tanto interesse em fazer as pessoas acreditarem no nosso "amor" quanto eu, agora que a família dela inteira foi envolvida na nossa mentira. Mas ainda assim o ar meio sonhador dela ao falar do breve passado com Heitor me dá um nó no estômago. Pensei que só Heitor fosse o interessado, mas ela também está bastante interessada e isso é uma coisa nova que preciso assimilar.

O pouco que sei da vida amorosa dela é que há quase dois anos atrás Leila terminou um namoro de um jeito meio ruim, porque o cara, Rafael, achava que ela era fria demais e não conseguia estar com ele por inteiro. Confesso que tenho curiosidade de saber como ela age quando está interessada em alguém ou até apaixonada, pois tudo que conheço de Leila é uma mulher que prioriza trabalho acima de si mesma.

Mas mesmo assim, não consigo achá-la tão fria quanto o ex-namorado a fez pensar que é. No fundo, Leila só tem um jeito meio diferente de demonstrar afeto do que as pessoas, incluindo eu, estão acostumadas. Ela se lembra de pequenas coisas da vida de alguém, mas não é muito propensa a abraços e beijos. Todas as vezes que vejo Madu e Jonas a cobrirem de abraços, ela se encolhe, fica envergonhada e pede para que eles parem, e ainda assim ela consegue pegar um ônibus muito cedo para ir trabalhar e parar no caminho para comprar um café forte, como Jonas gosta, e um chá para Madu.

Essas coisas me fazem perceber todos os dias o quanto ela pode ser sensível debaixo de toda essa pose de indiferente. Leila é alguém que se aproxima de poucas pessoas e mantém menos gente ainda por perto, portanto se ela é amiga de Heitor, eu acho que posso deduzir que ele não deve ser assim tão ruim.

Quando não digo mais nada, ela se levanta da banqueta e começa a se afastar da cozinha. Exalo o ar dos pulmões, procurando as palavras certas. Somos o mais perto de amigos agora, eu deveria apoiá-la a encontrar alguém bacana no futuro e ser feliz com essa pessoa, se casar de verdade, ter uma penca de filhos e morar numa casa aconchegante como nos filmes ruins que Andressa gosta de assistir. No entanto, quanto mais tenho certeza de que isso é o certo a se fazer, menos quero fazê-lo.

— Leila!

Leila para de andar no meio da sala e se vira para mim. Por uma fração de segundos eu a vejo oscilar. Ela se apoia no sofá e pisca algumas vezes, como se não estivesse enxergando muito bem. Quando dou por mim, já estou correndo pela casa, temendo que ela caia ou desmaie bem na minha frente.

— Passou, passou... — Ela estende o braço com a mão aberta para me tranquilizar assim que me aproximo. — Foi só uma queda de pressão, eu estou bem.

— Eu achei que você ia cair dura. — Digo baixinho, com o coração quase saindo pela boca.

— Claro que achou, você exagera em tudo!

— Eu não sou exagerado, sou precavido e relativamente preocupado com a sua saúde, já que sua tia me fez prometer...

— Que vai cuidar de mim e me fazer comer direitinho. — Leila revira os olhos ao completar minha frase. — O que você ia dizer?

— Ah... — Preparo as palavras, eu devo apoiá-la, sei que devo.

Mas antes que eu pudesse dizer uma frase sequer, o celular dela vibra com uma notificação de mensagem. Leila o tira rapidamente do bolso e desbloqueia a tela, abrindo um sorriso enorme ao ler o texto. Sem querer — e talvez querendo — vejo que é uma mensagem de Heitor. Idiota.

Ela acaba de responder e guarda o celular, voltando a me encarar com os olhos brilhando por trás dos óculos.

— E então?

Tudo que eu tinha pensado em dizer fica preso na garganta e eu não consigo mais formular uma frase decente, porque minha mente está presa na imagem de Leila sorrindo lendo uma mensagem de Heitor.

Respiro fundo, buscando me acalmar de novo. É então que me lembro de algo que eu queria dizer há algum tempo e que agora parece bastante importante para mim.

— Eu ia dizendo que você não teria nenhum problema se eu saísse com alguém, né? Quero dizer, não somos casados de verdade, nem nada...

Minha pergunta a pega de surpresa, sei disso porque no instante que fecho a boca os olhos dela se desviam dos meus. Ela passa uma das mãos pela nuca, em um sinal de desconforto, e engole em seco algumas vezes.

— Acho que tudo bem se você tomar cuidado e não deixar ninguém saber, porque você vive naqueles sites de fofoca, e nenhum de nós quer que nossas famílias se deparem com um escândalo de traição no nosso casamento, né? — Ela sorri nervosamente, arriscando me olhar nos olhos de novo.

— Então para você tudo bem?

— Sim, por mim tudo bem.

Eu sorrio para ela, demonstrando que fiquei satisfeito com a resposta. Era o que eu esperava ouvir e nem foi difícil de dizer, não sei por que guardei aquele assunto por tanto tempo.

Entretanto, assim que ela vira as costas e entra no quarto, minha vontade é de começar a gritar comigo mesmo.

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