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Capítulo 26 - Leila

Danilo fez questão de levar minhas coisas até o carro, como se bancar o meu chofer particular fosse apagar da minha cabeça que ele me deixou toda ansiosa e no fim só queria que eu bancasse a babá de cachorro. A sorte de Danilo nesta história toda é que eu adoro Sansão e esse carinho é recíproco, porque se aquele cachorro fosse uma peste feito o dono dele, eu não responderia por mim.

Madu e Jonas também se enfiaram no carro e estão tagarelando com Danilo o caminho todo, falando horrores da minha comida e sobre como minha tia faz o melhor lombo de porco assado do universo. As mulheres da minha família, em sua maioria, cozinham mesmo melhor do que eu, mas minha comida não é a coisa terrível que meus amigos fazem parecer. Porém, se depender de mim, Danilo nunca vai saber o gosto do meu tempero. Ele sobrevivia e se alimentava antes de eu ter ido parar na casa dele, pode continuar muito bem do mesmo jeito pelo resto da vida.

Por mim, eu teria vindo me despedir dos meus pais sozinha, mas fiquei pensando no que Danilo disse assim que me viu, sobre as pessoas já estarem esperando nosso divórcio. Madu e Jonas me encheram o saco a semana toda para voltar para casa, mesmo comigo inventando mil e uma desculpas para ter continuado na E. M. todos esses dias. Contudo, com o passar dos dias, ficou difícil fingir que estava tudo certo, já que Danilo fez o favor de desaparecer também. Eu tive que simular ligações e troca de mensagens para que meus amigos não ficassem ainda mais cismados, o que acabou com a minha dignidade. Se eu não convidasse Danilo para vir conosco à casa de tia Célia hoje, nem mesmo uma cena de beijo iria convencer meus amigos que meu casamento está às mil maravilhas, por isso estamos os quatro aqui, disputando com as músicas que tocam no interior do carro quem fala mais alto.

Particularmente, não estou muito disposta a participar da conversa, trouxe meu notebook e estou trabalhando, que é mais útil do que defender minha comida dos meus pseudo amigos, que até ontem gostavam e muito do que eu costumava cozinhar. Não descansei direito nenhum dia na última semana e preciso forçar um pouco minha visão para ler os documentos que aparecem na tela. É tanta coisa, mas tanta coisa, que fico perdida no meio da tentativa de resolver os problemas burocráticos da startup dentro desse carro em movimento. Acho que no fim não vai ter jeito, vou ter que ir atrás de pelo menos um contador para me ajudar com essa papelada toda.

As ruas vão ficando mais estreitas conforme nos aproximamos do nosso destino final, ao passo que o barulho dos meus amigos e de Danilo só aumenta. Estou quase me arrependendo de ter deixado que eles viessem comigo. Quase, porque no fundo eu sou uma idiota sentimental que ama ver todo mundo contente desse jeito.

Danilo alinha o carro rente ao meio fio em frente a casa de tia Célia e vira a chave. Meus amigos arrancam o cinto num piscar de olhos e pulam para fora, anunciando nossa chegada no portão. Me enrolo um pouco, guardando minhas coisas na mochila e só quando fecho o último zíper percebo que Danilo ainda está sentado no banco do motorista, me olhando meio apreensivo.

— O que foi? Por que não desceu ainda?

— Eu só quero saber se está tudo bem mesmo ir lá para dentro, com sua família, seus amigos e todo mundo...

A apreensão dele me arranca o primeiro sorriso do dia. Ainda não descobri como Danilo passa de um babaca que me faz de babá de cachorro para esse homem todo preocupado com minha família, mas ele tem feito isso com tanta frequência que é difícil ficar com raiva dele por muito tempo.

— Agora não tem mais o que fazer, então é melhor vocês se darem bem pelo menos.

— Eu me dou bem com seu pai, só para você saber. — Ele se gaba, o ego inchando tanto que quase bate no teto do carro.

— Mas Cleiton e minha mãe pensam que você é um cara rico que vai me usar e me jogar fora.

— Você também não me ajuda, Leila. Eu te disse tudo que você precisava saber para conquistar minha família e você não me disse nem que era do interior! — Danilo reclama, fazendo uma careta engraçada, igualzinho a uma criança que acabou de ter seu brinquedo favorito roubado por alguém.

Meu irmão aparece no portão e meus amigos não perdem um segundo para se enfiarem dentro da casa com a mesma algazarra que vinham fazendo no carro. Cleiton faz um sinal para que Danilo e eu desçamos, e entra logo em seguida, rindo de alguma coisa que Madu disse.

Coloco minha mochila no chão, me preparando para sair do carro, mas Danilo me segura no lugar, se inclinando por cima de mim para travar a porta. Detesto quando ele me segura ou me impede de fazer alguma coisa, me sinto como uma bonequinha de montar e desmontar. Ensaiando um resmungo mentalmente, me viro depressa demais para ele, provocando um choque entre nossas cabeças. 

— Aiiii! — Choramingo, acariciando a testa dolorida com os dedos. Eu já estava com a cabeça ameaçando doer, agora então tenho certeza de que vou dormir com enxaqueca mais tarde.

— Me deixa ver se você se machucou. — Danilo rapidamente acende a luz interna do carro e tira minha mão da testa.

A atitude dele é tão inesperada, que eu nem consigo reagir direito. Meu corpo fica rígido como um amontoado de pedras, minha respiração se prende na garganta e minhas bochechas começam a arder ao ponto de incomodar no instante que Danilo se aproxima para examinar o galo sobre minha sobrancelha esquerda. Para piorar, alguns botões da camisa social dele estão abertos e eu sou levada de volta para a cena terrível dele acordando de manhã com aquele cabelo bagunçado e aquela voz rouca de sono.

— Melhor colocar um gelo nisso. — Ele diz, passando o polegar pela minha testa, as mãos grandes ainda segurando meu rosto com cuidado.

Afasto as mãos dele o mais delicadamente que consigo e me espremo contra a porta do carro para tomar alguma distância.

— Você também vai precisar de gelo, né? Sua testa deve estar latejando, é melhor a gente entrar e colocar gelo em você. Quer dizer, colocar gelo nos galos, nas nossas testas.

Tenho vontade de me esconder numa caverna assim que fecho minha boca. Pelo visto, eu estou de volta a adolescência, com os hormônios ameaçando fazer uma combustão no meu cérebro. Coloco a mão na porta novamente para sair, mas como da primeira vez Danilo me mantém sentada no banco do carona, me segurando firme pelo cotovelo. A mão dele desliza distraidamente pelo meu antebraço até parar na minha mão, onde ele se demora um pouco mexendo no anel de brilhantes no meu anelar esquerdo.

— Primeiro me diz o que eu faço para sua mãe gostar de mim. Por favor?

Olho aflita para os dedos de Danilo praticamente entrelaçados aos meus. Quero que ele me solte, quero que ele fique alguns metros de distância, quero que ele pare de ser tão preocupado com o que minha mãe vai achar dele.

— Leila?

Me forço a olhá-lo nos olhos e esquecer qualquer besteira que estivesse prestes a passar pela minha cabeça. Penso melhor na pergunta que Danilo me fez, procurando formular alguma resposta decente, mas a verdade é que não tem uma fórmula para agradar minha mãe, a menos que ele, de algum jeito, consiga convencê-la de que me ama.

— Não se preocupe tanto com isso, só tente ficar mais relaxado e não dar muita importância para o que ela fala. Sua mãe não vai com minha cara também e nem por isso eu ligo para o que ela pensa de mim. — Tiro a mão dele do de cima de mim e escorrego para fora do carro. — Vamos logo, eu estou morrendo de fome!

Danilo não discute e me segue para dentro da casa de tia Célia. Arranco meus tênis e as meias na entrada, louca para pisar no piso frio da sala. Minha tia detesta que eu ande descalça, ela diz que eu posso ficar doente ou machucar meus pés, mas não dou muito ouvidos a ela no que diz respeito a algo tão minúsculo e prazeroso para mim.

— Lelê! — Arthurzinho solta um gritinho assim que me vê passar pela porta. Ele dispara em minha direção e eu me abaixo para recebê-lo de braços abertos.

Acho que estava com mais saudades daqui do que eu imaginei. Faz só uma semana, menos do que eu costumava ficar fora normalmente, e ainda assim parece que se passaram meses ou anos. É quase como se essa casa não fosse mais minha depois de tanto tempo andando descalça pelos cômodos.

— Vão lavar as mãos para comer! — Ouço minha tia gritando da porta da cozinha, trazendo para a mesa da sala uma travessa de comida que enche o cômodo todo com um cheiro divino.

Arthurzinho segura meu indicador, me arrastando com ele. Estendo a mão para Danilo, para que ele nos acompanhe.

— Vamos?

Ele abre um sorriso tímido e entrelaça os dedos nos meus. Sei que Danilo não se dá bem com a própria família, trazê-lo aqui, além de ser uma tentativa de fazer as pessoas pararem de desconfiar do casamento, foi uma forma de dar algum conforto a ele. Não nos conhecemos há muito tempo, mas é perceptível o quanto ele é um cara solitário e até carente, então fiquei pensando se minha família não poderia acolhê-lo ao menos um pouquinho. Ainda não gosto tanto da ideia deles se apegarem, contudo gosto cada dia menos da ideia de Danilo estar sempre sozinho.

Abraço meus pais e tia Célia, cumprimento meus primos e bagunço o cabelo de Cleiton antes de ir lavar as mãos para me sentar. A mesa de oito lugares ficou pequena para tanta gente, meus amigos tiveram que levar os pratos para o sofá para que Danilo e eu pudéssemos jantar. Eu até preferiria ir me sentar com eles, mas Danilo já está desconfortável o suficiente mesmo comigo sentada aqui com ele para que eu simplesmente o deixe sozinho diante do olhar afiado da minha mãe.

Me esforço ao máximo para demonstrar algum carinho por Danilo enquanto comemos, e sendo sincera, não é tão difícil. Não posso dizer que me acostumei com isso de me fingir de esposa apaixonada, só que preciso admitir que seria mais complicado se Danilo fosse uma pessoa desagradável. Estamos longe de ter uma relação confortável, acabamos de fazer as pazes por um desentendimento que nem deveria ter acontecido, mas eu acho que estamos caminhando para nos tornarmos algo semelhante a dois bons companheiros de casa.

Ajudo tia Célia a retirar os pratos e arrumar a mesa quando acabamos de jantar. Aproveito que meu pai e Cleiton resolveram puxar Danilo para conversar e levo minha tia até o quarto dela para podermos falar um pouquinho longe do resto das pessoas da casa.

— Tia, marquei uma consulta para a senhora em um médico particular. Já passei o endereço e tudo mais para Bruna levar a senhora lá na quarta-feira da semana que vem.

Minha tia deixa escapar um suspiro cansado. Ela alisa o lençol da cama de casal, sem conseguir olhar para mim.

— Olha quanto dinheiro você está gastando comigo...

— Não, nada disso! — Eu a interrompo. — É sua saúde, tia, é o mínimo. E a senhora também vai fazer todos os exames que o médico pedir, não importa o preço.

— Leila, você acabou de sair daquele emprego, como você vai fazer gastando todo seu dinheiro comigo?

— A E. M. está saindo do papel, em breve tudo vai dar certo!

— E se não der? Se esse casamento não der certo?

Estava demorando... Parece que minha família inteira consegue enxergar com clareza que meu casamento tem prazo de validade, que no caso é de seis meses.

Me sento ao lado de tia Célia, massageando minha nuca tensa. Meus olhos chegam a ficar pesados quando estou perto demais de uma cama e isso é um sinal mais do que claro que eu preciso descansar.

— Eu adoraria que a senhora parasse de teimar comigo.

Minha tia estende a mão e segura a minha, um sorriso ameaçando despontar em seus lábios.

— Eu só quero que você comece a pensar em você mesma e a fazer as coisas que você quer fazer, gastar seu dinheiro com o que você quer, sem ficar preocupada o tempo inteiro. Você ainda é uma menina, Leila, e tem tanta coisa na cabeça.

Abaixo minha cabeça para que tia Célia não veja que estou com os olhos cheios de lágrimas. Quero desabar, essa é a verdade, estou sendo levada ao limite há bastante tempo e sustentar toda minha mentira fica mais difícil quando estou sozinha com as pessoas que eu sei que se importam comigo. Nessas horas eu só queria poder contar o que está acontecendo e parar de enganar todo mundo, mas é tudo muito complicado e eu ainda não perdi o juízo para fazer uma besteira dessas.

— O que vocês tanto fazem aí? — Minha mãe aparece na porta do quarto.

Vejo a expressão dela mudar num piscar de olhos quando ergo meu rosto para encará-la. Minha mãe entra como um furação no quarto, preocupada.

— O que foi, Leila?

— Nada, mãe. Nós só estávamos conversando.

— Que conversa é essa que te deixou com os olhos marejados desse jeito? — Ela olha aflita de mim para tia Célia.

— Para de pressionar a menina, Luciana. Não está vendo que ela está cansada? — Minha tia repreende minha mãe. A diferença de idade das duas é de uns cinco anos, mas tia Célia parece bem mais velha às vezes.

— É algum problema com Danilo, Leila?

Balanço a cabeça, negando. No entanto, minha mãe não fica nem um pouco convencida.

— Você sabe que sempre pode voltar para casa, não sabe? Se ele falar mais alto que você, se ele fizer alguma coisa...

— Mãe, para! Não é nada com Danilo, ele é uma boa pessoa. — Eu a asseguro.

— Leila, essas pessoas ricas, elas costumam achar que a gente não vale nada. Eu fico preocupada...

— Danilo não é assim. — Sou mais firme desta vez. — Acreditem em mim, as duas, Danilo é uma ótima pessoa. Ele se preocupa com o avô, é muito carinhoso com as sobrinhas, cuida do cachorro como se fosse um filho e trabalha bastante.

Espero que minha mãe continue com sua ladainha desconfiada, contudo é de tia Célia que vem a pergunta:

— E com você, como ele é?

Nenhuma resposta me ocorre de imediato. Apesar de estar mais fácil conviver com Danilo, não sei direito o que dizer quando alguém me pergunta como ele me trata. Madu me faz as mesmas perguntas todos os dias e uma pane toma conta do meu cérebro todas as vezes que preciso falar sobre nossa suposta relação. Eu posso dizer que ele é educado, que me escuta e que está aprendendo a reconhecer os próprios erros, contudo isso não é o que se espera ouvir de uma mulher recém-casada. Nunca o vi se relacionando com uma mulher e a impressão que os sites de fofoca passam é que Danilo tem um péssimo caráter, portanto é possível que eu chegue ao final dos seis meses ainda sem saber se ele é confiável nesse ponto.

— Eu mostrei como está ficando o escritório? — Desconverso, já tirando o celular do bolso para mostrar as fotos para elas.

Bruna deve ter mostrado as fotos também, porque compartilho cada detalhe da nossa mudança com ela, mas mesmo assim minha tia e minha mãe deixam um pouco de lado a cisma com Danilo para ver cada cantinho da nova E. M. Sei que nenhuma das duas entende muito bem o meu trabalho e está tudo bem para elas, porque o que importa é que eu estou feliz como nunca estive em tempos.

Explico cada imagem que passa pela tela do meu celular, mostro onde será a sala que dividirei com Jonas, onde ficarão os comutadores de Madu e as prateleiras que espero encher de contratos em breve. Minha mãe gostou dos nossos móveis, ela disse que é tudo muito chique e que combina com as cores das paredes. Minha tia não gostou muito da parede verde escura na recepção e eu tive que explicar que é uma homenagem ao sofá da garagem, então sua expressão de reprovação amenizou um pouco.

Depois que conto para elas sobre as novidades da startup me sinto até mais leve. Gosto tanto de falar do meu trabalho, principalmente agora que está dando tudo certo, que esqueço dos problemas. Até perdi a noção do tempo em que estamos escondidas aqui, comigo tagarelando sem parar, e imagino que Danilo deva estar contando os minutos para ir para casa por causa do Sansão.

Levo minhas duas mães de volta para a sala, sob fortes protestos para que eu durma aqui. Acho graça, porque a casa de tia Célia é menor que o apartamento de Danilo e já está entupida de gente. Nem se pudéssemos dormir aqui, eu dormiria, seria desconfortável para todo mundo, mais ainda para Danilo, que teria que deixar Sansão sozinho a noite toda. Além disso, tia Célia estava com a ideia de que dormíssemos na cama dela e isso, sem sombra de dúvidas, está fora de cogitação.

Ouço a voz de Danilo antes mesmo de entrarmos na sala. A conversa parece interessante e animada, porque as frases dele sempre terminam em algumas risadas das pessoas no cômodo. Assim que adentramos a sala, minha primeira visão é Danilo sentado no sofá com Arthurzinho sentado em seu colo. Ele está gesticulando, rindo e tendo a atenção total da minha família e dos meus amigos sobre si. Esse homem nasceu para ser o centro do universo, nem sei por que ainda me surpreendo.

— Exatamente! — Ele exclama, estalando os dedos e apontando para Jonas. — O carro entrou no meio do mato, folhas e galhos quebrando no retrovisor, fiquei cego na hora e faltou isso aqui para eu ter atropelado aquele bode.

— Seu avô te mataria se você tivesse atropelado o bode dele! — Cleiton comenta aos risos.

— Mas não escapei de um sermão por ter pegado o carro sem ter idade para dirigir. Fico sem forças só de pensar nas coisas que vovô me disse! — Danilo leva uma mão à testa teatralmente. — Depois daquele dia, só fui ver um volante na autoescola.

— Imagino a confusão que foi. Paulo também deu um trabalho danado quando estava aprendendo a dirigir. — Diz meu pai com ar nostálgico.

Me sinto meio deslocada na conversa. Pelo que entendi, eles estavam falando sobre algum episódio da vida de Danilo que não faço ideia de qual seja. Não que eu saiba muita coisa sobre ele além do que pesquisei na internet, claro. Danilo e eu nos casamos, moramos juntos e minha família e amigos sabem mais sobre ele do que eu agora. Pode ser besteira minha, mas acho que as coisas não deveriam ser assim.

Pigarreio, fazendo com que olhem para mim.

— É melhor irmos para casa.

— Mas já? — Ele nem esconde a decepção. Se eu deixá-lo falar, Danilo vai varar a madrugada emendando um assunto no outro sem parar, pelo visto. Ao menos isso sei sobre ele: Danilo ama receber atenção.

— Sansão, Danilo, ele está sozinho em casa.

— Ah, sim! Verdade, verdade! — Ele balança a cabeça em concordância, se lembrando finalmente de que tem um cachorro que não se alimenta sozinho.

Bruna entra pela porta da frente no instante em que vou me despedir da minha mãe. Ela está vestida com as roupas brancas do estágio e arrastando a bolsa pelo chão, aparentando estar três vezes mais cansada que eu. Ela pisca os olhos sonolentos para as pessoas na sala e força um sorriso.

— Boa noite! — Bruna cumprimenta e é impossível para mim não perceber que tem algo errado com ela.

Arthurzinho não perde um segundo e já corre para abraçá-la. Infelizmente, esse menino está elétrico demais e vai dar um trabalhão colocá-lo na cama. Tento fazer contato visual para perguntar o que há de errado, mas Bruna apenas passa pela sala com Arthur no colo e vai para o quarto.

Estou para segui-la, quando Danilo se levanta do sofá e anuncia:

— Foi bom passar esse tempo com vocês, mas é melhor irmos.

— É... Sim. — Eu concordo, ainda preocupada com minha prima.

Danilo começa a se despedir das pessoas, prometendo ao meu pai que nós iremos visitá-los em breve no interior. Cleiton também se despede direito dessa vez, sem nenhuma gracinha e sem falar nada desagradável, como ele e minha mãe vinham fazendo. Abraço todos, deixando tia Célia por último.

— Fala com Bruna para me ligar, tia. — Eu peço, apertando suas mãos. — Eu notei o quanto ela estava estranha.

— Isso deve ser porque o pai de Arthurzinho apareceu, Leila.

— O quê? Quando isso aconteceu?

— Quarta-feira ele apareceu aqui querendo levar o menino na marra. A sorte é que Arthur estava na escola, mas depois disso ele tem vindo aqui todo dia infernizar Bruna.

Olho por cima do ombro de tia Célia para a porta fechada do quarto que eu dividia com Bruna. Óbvio que ela está exausta, eu nem posso imaginar como deve estar sendo para ela lidar com o pai de Arthur depois do desgraçado ter desaparecido por quase cinco anos. O menino só sabe que tem um pai pelo nome na certidão, porque se dependesse da boa vontade daquele infeliz em se fazer presente, até hoje Arthur não teria um sobrenome completo.

O que me deixa mais angustiada nessa situação toda é ter acontecido exatamente a mesma coisa com o pai de Bruna e João. O homem simplesmente acordou um dia e sumiu no mundo, deixando minha tia com duas crianças pequenas para criar. Na época, João era um bebê de meses e Bruna devia ter uns sete ou oito anos, no máximo. Agora a história está se repetindo de uma forma tão cruel quanto.

Mãos pousam em meus ombros e eu me encolho involuntariamente diante do toque repentino.

— Madu e Jonas estão nos esperando lá fora. — Danilo diz, apoiando o queixo sobre minha cabeça.

— Podem ir, ficou tarde demais e Leila não quer dormir aqui. — Tia Célia solta minhas mãos, sorrindo de um jeito que aperta ainda mais um nó na minha garganta. — Não deixe Leila se matar de trabalhar, Danilo. Olha para ela, chegou a emagrecer!

— Tia!

— Eu vou fazê-la comer e dormir direitinho, pode deixar. — Danilo aperta meus ombros de leve, como se para me lembrar que eu não posso mais me enfiar na E. M. por semanas ou as pessoas vão achar que estamos nos divorciando.

— Vou confiar em você, Danilo.

— Pode confiar! — Ele estende o braço e aperta a mão de tia Célia, fazendo-a gargalhar alto.

Fico imaginando a cara de tia Célia se descobrisse que Danilo ainda tem uma babá para cuidar dele. Acho que nesse casamento, em vez de um marido, eu acabei ganhando uma criança para cuidar, isso sim!

Minha família nos leva ao portão, numa procissão de gente escandalosa que fala alto e ri mais alto ainda. Eles acenam repetidas vezes, mesmo depois de entrarmos no carro e começarmos a nos afastar. Meu coração vai ficando mais e mais apertado conforme a casa de tia Célia vai ficando para trás. Eu queria ter tido mais tempo para ficar com meus pais, que eu não via há tanto tempo, e queria também poder estar com Bruna nesse momento difícil.

Assim como na ida, Madu, Jonas e Danilo voltam o caminho todo falando mais alto que o som do carro. A maioria dos assuntos tem a ver com lembranças vergonhosas da nossa época da faculdade, como quando Madu estava tão bêbada que deu em cima de uma garota que tinha namorado em uma festa, causando uma confusão tão grande, que quase paramos na delegacia de madrugada.

Participo da conversa dando um pitaco ou outro, mas eles nunca prestam atenção nas minhas versões dos fatos. Jonas e Madu preferem exagerar nas coisas, mais ainda quando essas coisas envolvem meus próprios vexames. Em alguma altura daquela barulheira, o nome de Rafael surge e fico imediatamente tensa.

— Acho que foi Rafael mesmo que nos levou para casa naquele carro velho que quebrava mais do que andava. Eu lembro que Leila ficava enjoada toda vez que entrava naquele carro, por causa do cheiro de chulé e coisa morta! — Jonas quase não termina de falar, pois Madu o soca nas costelas.

— Danilo, você pode nos deixar naquela esquina. — Madu estende o braço entre o banco do carona e do motorista, indicando a esquina da rua da casa dos pais de Jonas.

Danilo encosta o carro e meus amigos saltam, começando alguma briga lá fora que certamente vai durar a noite inteira. Eles estão tão envolvidos na discussão, que sequer prestam atenção quando Danilo arranca novamente com o carro. Só espero que eles não se matem porque tocaram sem querer no nome do meu ex-namorado na frente do meu "marido". Meus problemas com Rafael são apenas meus e detesto quando Madu ou Jonas ficam pisando em ovos no que diz respeito a ele.

Sinto meu celular vibrar no bolso com a chegada de uma mensagem. É Bruna perguntando se pode me ligar agora. Olho para Danilo pelo canto do olho, ele está concentrado no trânsito, cantarolando uma música baixinho. Apesar de querer muito falar com ela agora, não posso fazer isso com ele aqui. Respondo que amanhã de manhã eu ligarei para ela, pois vou chegar tarde em casa.

— Acho que sua mãe ainda não gosta de mim, mas seu pai definitivamente ama me ter como genro. — Danilo tira os olhos da estrada por um segundo para ver minha reação.

— Vocês pareceram bem próximos mesmo.

— Sei lá, toda vez que olho para o seu pai eu fico me perguntando como seria se meu velho ainda estivesse vivo. É besteira, mas eu fico pensando nisso.

— Não é besteira. E eu fico feliz que você esteja pensando no meu pai assim, com tanta consideração.

— Sua família é importante para você, Leila, eu não conseguiria ser indiferente a eles nem se tentasse.

Um sorriso enorme ilumina o rosto dele, tão grande e sincero que meu coração, que estava apertado esse tempo todo, se abranda um pouco. Uma espécie de sentimento desconhecido me invade aos poucos e eu não consigo descrevê-lo com exatidão, mas me parece uma mistura de alívio com uma alegria genuína que eu não sentia há sei lá quanto tempo.

Não sei ao certo o que isso significa, eu só espero que não desapareça no ar como fumaça assim que eu acordar amanhã.

Oie! Como estão?

Estou muito feliz por ver tantas estrelinhas no livro. Muitissimo obrigada por lerem e por todo apoio. Espero de todo meu coração que estejam gostando.

Nos vemos no próximo domingo!

Bjx,

Thaly =}

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