Capítulo 22 - Leila
Caos.
Está aí uma ótima palavra para definir minha vida agora. O incrível é que enquanto tudo está completamente fora do controle, eu estou sorrindo, grogue e sonolenta pelo calmante que Andressa me deu mais cedo. Para ela é normal que a noiva se sinta ansiosa e inquieta, então era completamente compreensível meu estado de nervos quando cheguei à mansão do avô de Danilo.
Estico um pouco meu pescoço para espiar o jardim lá fora pelo vidro da janela. Nossos poucos convidados já estão chegando, acomodando-se nas cadeiras brancas alinhadas de um lado e outro de um caminho de pétalas brancas sobre a grama. Há um pequeno altar enfeitado com rosas e toalhas rendadas no fim do corredor de pétalas, onde meu pai e meu irmão estão de pé, conversando alguma coisa com o irmão de Danilo e Dr. Tales, digo, Tales. Se eu não estivesse dopada, eu provavelmente estaria preocupada com o teor da conversa, mas não é o caso.
A cabeleireira que está enrolando meu cabelo pede gentilmente para que eu me endireite na cadeira, para não correr o risco dela me queimar com o modelador de cachos, e eu a obedeço, porque ainda estou ciente de algumas coisas para saber que uma queimadura com esse troço dói bastante. Passo minhas mãos pelo robe de seda branco, admirando a beleza das minhas unhas bem feitas e decoradas com um strass tão brilhante quanto o meu anel de noivado. Sorrio preguiçosamente, erguendo a mão direita para ver o anel melhor. Odiei essa joia no começo, mas hoje eu preciso admitir que eu até gosto dos brilhantes. É o que minha mãe diz sempre, a gente se acostuma até com o que não gosta.
Falando nela, eu ainda não sei definir se estamos bem. Nunca achei que as ligações de casa significavam que minha mãe e meu pai estavam vindo para São Paulo ficar alguns dias com a minha tia, que não anda muito bem de saúde, muito menos que Cleiton quem teve essa brilhante ideia depois de eu não ter dado resposta sobre as peças de computador que ele me pediu para comprar. No fim, fomos todos pegos de surpresa, uma surpresa que não agradou a nenhum de nós.
Minha última conversa com minha mãe me fez duvidar de verdade desse contrato e das minhas atitudes. Ouvi-la dizer que queria que eu fosse feliz e que eu estava jogando tudo fora para amarrar minha vida a um homem que mal conheço doeu muito, principalmente porque sei que ela está certa. Minha mãe queria me ver casada um dia, com uma pessoa que eu escolhesse e que me escolhesse de volta, não com um homem que não tem nada a ver comigo, e isso porque ela nem sabe dos nossos motivos, pois se um dia minha mãe ao menos sonhar com o contrato eu não sei mesmo o que ela seria capaz de fazer.
Entretanto, essa foi minha decisão e serão as minhas consequências, e meu único arrependimento até aqui é não ter conseguido deixar minha família de fora de todo o problema em que me meti. Se tudo acontecesse de novo e Danilo tivesse me oferecido dinheiro por um casamento de seis meses, eu provavelmente teria aceitado ainda mais rápido do que da primeira vez se soubesse o quanto isso mudaria a minha vida e a vida dos meus amigos.
A segunda parte do investimento caiu na conta da E. M. na manhã seguinte após eu ter enchido a cara num barzinho qualquer e falado mais do que eu devia para Danilo. No contrato estava expresso que a segunda metade do dinheiro viria após o casamento, e apesar de eu ter questionado Tales mais de uma vez sobre aquilo, a única resposta que tive foi que Danilo queria ter certeza que eu não iria desistir, como se eu fosse dar para trás aos 45 do segundo tempo tendo tido um mês para fugir disso.
Mas não importa a intenção, se era aquilo mesmo ou sei lá o que se passou pela cabeça de Danilo, o importante é que o investimento veio em boa hora. Madu e Jonas ficaram radiantes, fazendo mil e um planos. Nós três saímos no mesmo dia para olhar alguns pontos interessantes onde pudéssemos estabelecer um escritório decente e achamos o terceiro andar de um prédio pequeno, mas muito bem localizado que coube perfeitamente no nosso orçamento. Estamos planejando as cores das paredes, a disposição dos móveis, a iluminação do ambiente e tudo mais para deixar nosso cantinho o mais aconchegante e profissional possível. Depois de anos de espera, nós finalmente vamos poder começar e nada no mundo pode tirar isso de mim.
Graças ao investimento da E. M., fiquei bastante ocupada durante o restante da semana e pude me desligar desse casamento até ontem, quando Danilo apareceu na garagem para levar o que restava das minhas malas. Usei a desculpa do trabalho para não o acompanhar até onde será minha casa pelos próximos meses, mas a verdade é que eu não estou nada confortável em ficar sozinha com ele depois de tudo que falei sob o efeito do álcool. Pelo que eu me lembre, acabei tocando no nome de Rafael e isso era a última coisa que eu deveria ter feito. Se Danilo tinha alguma dúvida, agora ele tem certeza do quanto eu sou fracassada em todas as áreas da minha vida.
Por sorte, Andressa se dispôs a organizar a cerimônia na casa dos avós de Danilo, então não tive dor de cabeça com absolutamente nada e nem precisei ver meu "noivo" durante o restante da semana. Andressa até tinha feito a reserva do vestido que experimentei na loja outro dia, caso eu mudasse de ideia, e conseguiu resolver em cima da hora no cartório toda a implicação da mudança do local do casamento. O máximo de esforço que tive que fazer e que, aliás, estou fazendo é ficar sentada nessa cadeira, recebendo os cuidados de uma princesa do século passado.
Bruna entra no quarto de mãos dadas com uma das sobrinhas de Danilo. Ela está bonita em vestido longo azul clarinho. Minha tia, que nem se recuperou ainda da mais recente crise com as hérnias, teve que costurar roupas novas para a minha família, porque era mais fácil e mais em conta do que comprar. Olho para Valéria toda elegante em seu vestido de grife, depois para minha prima com o vestido que tia Célia costurou, e sinto um aperto no peito. Era esse tipo de coisa que eu queria evitar não contando do casamento.
— Mãezinha, minha barriga está doendo. — Ana Clara choraminga, passando as mãos pela barriga.
Valéria pousa sobre a cama o buquê de flores que esteve montando pelas últimas duas horas e se ajoelha diante da filha.
— Você comeu os docinhos escondida, não comeu?
Ana Clara tenta mentir, se escondendo atrás de Bruna.
— Sim, ela comeu. Ela tem algum problema com açúcar, derivados de leite ou algo do tipo? — Bruna pergunta, examinando o rostinho corado de Ana Clara como a quase enfermeira que ela é.
— Ana Clara tem um pouco de intolerância à lactose, mas ela é teimosa e come essas coisas quando não tem ninguém por perto.
— Crianças... Eu tenho um menor que Ana Clara, mas que é igualmente terrível! — Bruna sorri, passando a mão pelo cabelo da menina. — Tem algum remédio que você costuma dar à ela?
— Tem sim, vou pegar na bolsa. Obrigada por ter cuidado dela. — Valéria fica de pé, segurando a mão da filha. — Espere só até ter seus filhos, Leila. É isso todo dia, todo dia!
Eu sorrio para ela, sentindo um calafrio percorrer minha espinha. Se casamento nunca esteve nos meus planos, bebês menos ainda e muito menos bebês de Danilo. Uma risada arranha minha garganta só de pensar naquela besteira.
Bruna espera que Valéria e Ana Clara saiam e fechem a porta antes de se virar para mim. Ela observa em silêncio a cabeleireira trabalhar no meu cabelo, esboçando um sorrisinho satisfeito com o que vê. O único espelho está pendurado numa parede longe da tomada e estou curiosa a manhã toda para saber como estou ficando, mas confio em Bruna e em suas reações.
— Estou bonita, não estou? — Pisco meus olhos inocentemente para ela.
— Só não gostei muito da escolha do seu batom. Poderia ter mais cor, já que você está meio pálida.
— Acho que as noivas usam tons mais claros mesmo. — Dou de ombros, indisposta a pedir para que refaçam qualquer coisa da maquiagem. — Eu gostei, gostei dessas coisas brancas e puras e etéreas, me sinto quase uma fada!
Bruna não diz nada, se limitando a apenas me lançar um olhar suspeito. Apesar disso, eu consigo imaginar o que está se passando pela cabeça dela e na cabeça da maioria das pessoas que entraram nesse quarto hoje. Eu mal falei desde que me sentei nesta cadeira e meus olhos marejam o tempo todo, não comi quase nada do que trouxeram para mim no café da manhã e ainda me entupi de calmante. Os parentes de Danilo podem até achar que estou emocionada e ansiosa, mas Bruna me conhece, ela sabe que eu não estou nada bem.
A cabeleireira termina meu penteado e eu aproveito a presença de Bruna para me ajudar com o vestido. Andressa está organizando tudo pela casa, Madu, pelo que eu vi, ainda não chegou e minha mãe fez questão de não vir me ver hoje ainda. Eu tive a impressão de ter ouvido a voz dela no corredor, mas não passou disso. Definitivamente, não era assim que eu esperava me casar um dia.
— Você vai ter que tomar cuidado quando andar, porque esse salto vai afundar na grama. — Bruna se abaixa diante de mim, me ajudando a subir nas sandálias prateadas.
Concordo com ela. Quando eu estive no jardim outro dia, eu calçava sapatilhas e ainda assim meus pés se afundaram na grama fofa, com saltos será três vezes pior. Não sei se Andressa pensou nisso, provavelmente não, mas ao menos meu pai vai me levar ao altar e me ajudará se eu tiver dificuldades, espero.
Solto o vestido sobre meus pés e caminho ansiosa até o espelho. Me surpreendo com meu cabelo, os cachos modelados ficaram ótimos, semi presos por alguns grampos de pérola muito delicados. A maquiagem também está ótima, com o batom coral mais claro, combinando perfeitamente com a sombra marrom das minhas pálpebras. E o vestido... Bom, ele e eu sabíamos que fomos feitos um para o outro desde que nos esbarramos naquela loja cafona.
— Você está tão bonita, Leila. — Bruna sorri, analisando os detalhes da minha produção. — Deveria tapar seu umbigo, inclusive.
Deixo escapar uma risada. Ela tem falado sobre tapar umbigos e canalizar energia desde que assumi meu relacionamento na sala da casa de tia Célia.
— Acredita em mim, nenhuma energia negativa vai me pegar! Meu signo é forte.
— Signos não têm nada a ver com isso! — Bruna finge falsa irritação com a minha falta de conhecimento.
Eu a ignoro, ainda sorrindo, olhando para mim mesma no espelho. Noto um vulto conhecido pelo reflexo, e me viro rapidamente para a porta, onde minha mãe está parada, parecendo ainda decidir se vai entrar ou não. Ela está chateada e se sentindo deslocada nesse lugar chique e enorme, assim como me senti quando Danilo me trouxe aqui pela primeira vez. Não é nosso lugar, não é nossa casa, essa não sou eu, e ela, de alguma forma, sabe disso.
— Mãe... — Eu deixo escapar um murmúrio trêmulo pelas lágrimas que estou segurando há tanto tempo.
— Não, não se preocupe. — Minha mãe ergue as mãos, pedindo para que eu não avance nenhum passo. — Eu só queria ver seu rosto, ver se você estava bem.
Ela me olha mais uma vez de cima a baixo, ainda parada à porta. Minha mãe me conhece para saber que estou para desmoronar, por isso ela não se aproxima mais do que isso. Os lábios dela formam um sorriso que não me convence muito e ela me olha nos olhos, contendo muito do que eu sei que ela quer dizer.
— Danilo está lindo também. Ele parece tão nervoso, andando de um lado para o outro.
— Ah... Imagino. — Volto a sussurrar, sem ânimo.
— Talvez ele ache que Leila vai fugir ou algo assim. — Bruna diz, o que faz minha mãe rir um pouco.
— Acho melhor avisar aquela moça que está organizando as coisas que você está pronta, para não atrasar ainda mais o casamento. Onde já se viu, o casamento era às nove e já são quase onze, as pessoas estão todas no sol.
Minha garganta se aperta mais um pouco com a preocupação dela, mas me obrigo a sorrir. Ela veio saber se está tudo bem comigo, então preciso parecer bem tanto quanto eu puder.
— Podem ir, me esperem próximas ao altar. — Encorajo-as a irem, mesmo estando desesperada por algum tipo de consolo da minha família.
Bruna e minha mãe me olham uma última vez antes de saírem, acenando um tchauzinho ao fecharem a porta. A cabeleireira faz o mesmo logo após, me deixando sozinha no quarto. Minhas pernas esperam apenas que não haja mais ninguém por perto para começarem a pesar uma tonelada. Vou aos tropeços até a cama, onde caio sentada, sem ar e tremendo.
Eu me sinto tão culpada e exausta, tão mesquinha e egoísta, e eu nem consigo me arrepender do que estou fazendo. Estou secretamente me apoiando à desculpa de que tudo que estou fazendo é para orgulhar meus pais algum dia e realizar meus sonhos, que nem sequer considero dar um ponto final nisso. Não recuei quando eles descobriram e muito menos estou pensando em recuar agora. Talvez isso faça de mim uma pessoa péssima, mas essa era minha única chance e eu não quero desistir dela.
Nem estou recuperada ainda quando Andressa aparece para me levar ao jardim. Passo pelos corredores e portas da casa sem enxergar ou ouvir muita coisa, apertando o buquê de lírios brancos nas mãos. O efeito do calmante está lentamente deixando meu corpo e eu sinto meu coração acelerando conforme dou um passo e depois outro.
Rostos conhecidos se viram em minha direção, sorriem, dizem que estou linda. O som da marcha nupcial ecoa pelo ar abafado e vejo meu pai se aproximando para me levar ao altar. As mãos dele estão frias quando seguram as minhas e passam meu braço pelo dele. Tenho certeza ali de que se meu pai não estivesse do meu lado, eu já teria caído no meio de toda essa gente, já que meus joelhos estão me traindo de novo.
— Você está bem? — Meu pai diz baixinho para mim, sorrindo para que ninguém perceba sua preocupação.
— Não sei. — Acabo respondendo. Eu sempre fui incapaz de mentir para ele.
— Quer ir embora?
Ergo meus olhos para o meu pai, percebendo que ele está falando sério. Querer e poder, de repente, se tornam uma coisa só, pois sei que ele me tiraria desta casa sem pensar duas vezes se eu ao menos concordasse com a cabeça. Nunca estive diante de um conflito tão grande, sinto como se meu peito estivesse para se dividir ao meio. Sei que preciso seguir com isso, é o que eu tenho que fazer, mesmo sendo difícil, mas agora está complicado ignorar a ideia de desistir.
Desvio meu olhar do meu pai, me voltando para o altar e para o homem que me espera a apenas alguns metros de distância. É como nos meus sonhos ruins, eu vejo o rosto de Danilo, vejo minha família, meus amigos e estou de braços dados com meu pai sobre uma grama recém-cortada. Entretanto, aqui há a família de Danilo também, há Andressa, que preparou isso com tanto carinho, as sobrinhas de Danilo agarradas à Arthurzinho e Seu Fausto, apoiado em sua bengala, sorrindo para mim.
Engulo em seco, escondendo as lágrimas em algum lugar dentro de mim de novo. Não sei como tive coragem de pensar em ir embora sabendo que Seu Fausto está tão feliz com o casamento do neto que ele tanto ama. Isso tudo não se trata apenas de mim e da Electrical Measure, se trata de Danilo e da família dele também, portanto eu não posso voltar atrás, não vou voltar atrás.
— Não quero ir embora, pai. — Digo o mais firme que consigo. — Me leve ao altar.
Ele sorri mais aliviado e deposita um beijo em minha testa. Então, me guia pelo caminho de pétalas até o altar.
A presença serena do meu pai ajuda um pouco a conter meus nervos e permito-me respirar conforme avançamos, arriscando um sorriso ou outro para as pessoas. Meu coração ainda parece que vai sair pela boca e eu continuo com as palavras da minha mãe sobre eu estar jogando minha felicidade fora incomodando bem no fundo da minha cabeça, contudo me sinto mais capaz de enfrentar tudo isso agora.
Vejo Danilo deixando o altar e andando pelo corredor de pétalas para me receber, igualzinho aos meus sonhos. Minha mãe estava certa, ele realmente está bonito em um terno claro e sem gravata. Ele cortou o cabelo desde a última vez que nos vimos e acho que essa é a primeira vez que consigo enxergá-lo como o cara de 30 anos que ele é. Todo esse tempo, enxergo Danilo como um playboy metido que pode comprar o que quer, só que hoje, no entanto, ele está diferente. Não sei precisar como, mas ele está e tenho a impressão de que prefiro ele assim, ao menos me dá menos vontade de esmurrá-lo.
Ele sorri largamente e beija minha mão, como eu imaginei que ele faria quando esse momento chegasse. Depois de trocar um cumprimento com meu pai, Danilo assume o lugar dele e me leva pela distância restante até o altar. A cerimônia improvisada não vai demorar muito, porque o importante mesmo é assinar os papéis e juizes de paz e os escrivães de cartórios não costumam se delongar com falas enfáticas sobre o sagrado matrimônio.
Mal presto atenção ao que o juiz de paz está dizendo, prefiro ocupar minha cabeça observando os mínimos detalhes que Andressa preparou para o casamento. Ela conseguiu um fotógrafo, um conjunto para tocar a marcha nupcial e uma tenda bonita, sob a qual estão um bolo de uns cinco andares e algumas fotografias emolduradas em quadros de todos os tamanhos. A miopia até me atrapalha um pouco, mas consigo ver que são registros péssimos do pedido de casamento do mês passado. Achei uma foto dessas na galeria do meu celular outro dia e passei algum tempo olhando para a minha cara e rindo da situação. Se Andressa soubesse, se alguém aqui soubesse...
Aperto os lábios para não rir, mas meu esforço vai por água abaixo assim que Danilo me olha. Ele esquadrinha meu rosto com a mesma atenção que dediquei aos detalhes da ornamentação do casamento, alargando o sorriso conforme os segundos vão passando e meu próprio sorriso vai sendo substituído por uma ardência incômoda nas minhas bochechas.
Ele se inclina um pouco para sussurrar no meu ouvido:
— Você está bonita.
Aquilo me pega de surpresa. Eu sei que estou bonita, a maquiadora e a cabeleireira fizeram um ótimo trabalho, mas ouvir aquilo vindo dele faz minhas bochechas queimarem um pouco mais. Acho que o calmante ainda está agindo nos meus nervos, porque só isso explica essa minha reação patética a um elogio sem nenhum propósito.
Madu e Andressa aparecem no meu campo de visão, suspirando e tirando fotos com seus próprios celulares, apesar de ter um fotógrafo bem atrás de mim...
Me toco imediatamente do porquê do elogio de Danilo. A foto deve ter ficado linda quando ele se inclinou para falar bobagem no meu ouvido e melhor ainda quando eu reagi como uma adolescente. Tenho vontade de puxar meu braço do dele, mas me contento em apenas fuzilar a mão dele girando distraidamente meu anel de brilhantes.
O juiz de paz pede para que troquemos as alianças e, não me surpreendendo em nada, as sobrinhas de Danilo vem saltitando até o altar com uma cestinha decorada nas mãos. Dentro da bendita cesta estão um par de alianças douradas presas uma à outra por uma fita vermelha de veludo. Danilo pega as alianças com cuidado, dando um beijo na bochecha das meninas, e então toma minha mão esquerda.
Eu entendo o peso da troca de alianças, toda a comoção do momento em que você deixa de ser você para ser você e outra pessoa para todo sempre, como diz a Bíblia, e Danilo encena aquilo direitinho, deslizando o aro pelo meu anelar esquerdo. Não tenho o mesmo talento do meu agora esposo para a atuação, mas me esforço para parecer emocionada e estupendamente feliz ao colocar a aliança no dedo dele. Danilo aperta minha mão, sorrindo de uma orelha a outra sob os cliques constantes do fotógrafo.
O escrivão lê toda a ata do casamento e indica os papéis onde devemos assinar em seguida. Minha letra consegue ficar ainda mais feia do que no contrato, para variar. Os dois contratos mais importantes da minha vida e eu os assinei como o meu nariz!
— A partir de agora vocês são oficialmente marido e mulher! — Ouço o escrivão dizer após nossas testemunhas assinarem também.
Uma salva palmas interminável acompanhada por gritos e assobios ressoa pelo jardim. Danilo segura minhas duas mãos e me olha através de todo aquele caos, como se quisesse me dizer alguma coisa. Sussurrar não vai adiantar por causa do barulho e eu não sou boa com expressões faciais, o que o está deixando claramente frustrado.
O escrivão chama nossa atenção, se inclinando sobre o altar improvisado.
— Vocês podem se beijar, se quiserem. — Diz ele entre risadinhas.
O beijo, claro! É agora que os noivos se beijam. Sim, meu Deus, é agora!
É agora...
Espero que Danilo faça alguma coisa, mas ele não se move. O jardim e a precipitação de um beijo entre nós dois devem lembrá-lo de momentos desagradáveis e a culpa daquilo é minha por ter feito uma cena desnecessária da outra vez. Dou um leve puxão nas mãos dele, assentindo de leve para que ele entenda que está tudo bem fazer o que temos que fazer para que essa gente toda não ache ainda mais estranho esse casamento às pressas. Só que desta vez é Danilo que parece não entender meus sinais.
Vejo meu irmão franzindo a testa e conversando alguma coisa com minha mãe, que está de novo com aquela cara de quem sabe todos os meus pecados. Aquilo é o suficiente para que eu mesma comece a me mover.
Acabo com a distância entre Danilo e eu, apertando as mãos dele de volta para que ele se toque do que precisamos fazer. Os saltos me ajudam a ficar numa altura razoável para que eu não precise praticamente me pendurar no pescoço dele como no pedido de casamento. Eu só preciso agora que Danilo abaixe o queixo alguns centímetros, só isso e tudo vai se encaixar.
— Danilo...
Nem mesmo termino o que eu ia dizer, porque Danilo me entende e resolve fazer alguma coisa.
A proximidade leva para longe o ar dos meus pulmões e me arranca alguns arrepios involuntários. Não fecho os olhos de imediato, eu o assisto encostar os lábios nos meus primeiro, quase como se temesse ser estapeado de novo. As mãos de Danilo soltam as minhas para envolver a minha cintura num abraço que me leva para ainda mais perto dele e meu coração acelera tanto ao ponto de eu ficar preocupada se alguém pode ouvi-lo além de mim.
Me forço a pensar em qualquer coisa que não seja a sensação dos lábios dele lentamente deslizando pelos meus ou o rastro de calor que está se alastrando por todo meu corpo a partir de onde suas mãos estão tocando, mas minha mente resolve que é um bom momento para não pensar em nada.
Contudo, tão rápido como quando se aproximou, Danilo se afasta. Eu pisco algumas vezes para tentar desanuviar meu raciocínio, que tornou-se mais lento de uma hora para a outra, e procuro olhar para qualquer lado que não seja para o rosto dele. O fotógrafo dispara flashes em nossa direção, fazendo gestos para que possamos posar para as fotos e isso, infelizmente, estraga meus planos de tentar evitar os contatos físicos com meu "marido".
Não consigo saber se Danilo se sente tão estranho e desconfortável quanto eu estou me sentindo. É ridículo estarmos sorrindo para essa câmera sob o olhar das nossas famílias, fingindo que estamos felizes, quando na verdade o único motivo que me trouxe aqui foi dinheiro e o único motivo que trouxe Danilo aqui foi a morte anunciada do avô, mas tenho a impressão de que nada disso significou muita coisa para ele.
E é por isso que nada desse circo todo que armamos deve significar algo para mim. Os atores e atrizes fazem coisas o tempo todo, é o trabalho deles. O meu trabalho é ser uma esposa convincente e apaixonada. Então, quando o fotógrafo pede para que nós nos beijemos mais uma vez, eu apenas sorrio e o faço sem reclamar.
❤
Finalmente casados! :)
Demorou, mas o casamento finalmente aconteceu hahaha
Obrigada por estarem acompanhando! Sou muito grata sempre por tirarem um tempinho para conferir os capítulos.
Nos vemos no próximo domingo!
Bjx,
Thaly =]
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