Capítulo 04 - Leila
Minha cabeça parece que vai explodir. Não importa quantos comprimidos para dor eu tome, nem quanta força eu faça para dormir, meus olhos não se fecham e minha mente não para. O motivo: eu estou desempregada!
Não faço ideia de como vou contar para a minha mãe sobre isso. Todo o esforço que meus pais fizeram para me manter em São Paulo, todas as noites de sono que perdi, todas as lágrimas que chorei para me formar na faculdade... Tudo resumido a baixa da minha carteira de trabalho.
Luís fez um bom acordo comigo, mas não vou conseguir me manter e nem manter a Electrical Measure por mais seis míseros meses se eu não arranjar um emprego decente logo ou conseguir um investidor para essa startup que parece fadada ao fracasso.
Estou cansada de programar e reprogramar esse aplicativo problemático e não conseguir colocá-lo em prática, porque não temos dinheiro. Já fiz alguns bicos com Madu em festa de gente rica, já ajudei Jonas no trabalho dele de animador de festa infantil e não sei mais o que me resta fazer para levantar uma grana. Sinto que estou com os pés atolados em areia movediça, afundando e afundando e afundando.
Bocejo um pouco e me permito fechar os olhos para apreciar o silêncio e a escuridão. Estou há tantos dias com os olhos pregados na tela desse computador, que sinto que minha retina vai descolar. Eu tinha planejado me consultar com o oftalmologista no mês que vem, mas agora nem isso eu posso mais. Minha vida, que já era ruim, agora está um verdadeiro pesadelo. Se essas eram as mudanças que meu sonho com casamento sugeria, sinceramente...
Sinto mãos quentes em meus ombros e um rosto se aproximando do meu. Abro meus olhos de repente e relaxo o corpo, porque, graças a Deus, Jonas resolveu ter piedade de mim e veio me fazer uma massagem.
— Que tal você ir para a casa da sua tia dormir um pouco?
— Apoio! — Grita Madu, jogada no sofá verde mofado sem tirar os olhos da tela do notebook enfeitado com adesivos horrorosos.
— Não dá! — Giro minha cabeça de um lado para o outro para tentar aliviar a tensão. — Precisamos deixar tudo pronto para a apresentação na Feira de Startup na semana que vem, ou vocês se esqueceram?
— Você por um acaso deixa a gente esquecer? — Madu levanta uma sobrancelha para mim e me fulmina com o olhar. Ela sabe ser bem intimidadora quando quer, o que é bom na maior parte do tempo, já que eu não boto medo nem numa criança.
Jonas aperta alguns pontos nos meus ombros e eu me encolho um pouco ao sentir dor. Ele tem as mãos mais leves e acolhedoras que conheço, contudo não importa o quanto eu implore por uma massagem, esse egoísta só faz alguma coisa se Madu ou eu estivermos prestes a desmaiar. É o caso agora, acho.
— Se matar pela E. M. não vai te fazer mais rica, Leila, muito pelo contrário. — Jonas me repreende, apertando ainda mais os pontos tensos nos meus ombros. — Você está toda travada!
— Digam algo que não sei. — Murmuro meio chateada.
Já ouvi esse discurso dos meus amigos umas dez vezes desde a semana passada, mas o que eu posso fazer? Eu sequer tenho algo para me ocupar além de tentar fazer essa startup dar certo.
— Vejam só quem está aqui nesse site de fofoca! — Madu diz aos risos. Ela agarra o notebook e arregala os olhos, se divertindo sabe-se lá com o quê.
Jonas e eu trocamos um olhar desconfiado. Esse tempo todo achávamos que Madu estava trabalhando em alguma coisa importante, porque desde cedo ela mal tinha aberto a boca, só que pelo visto ela deve estar, no mínimo, fuçando perfis de subcelebridades na internet.
— Viu alguma "patroa" sua aí, Maria Dulcineia? — Jonas provoca, deixando minha massagem no meio do caminho para ir ver o que de tão engraçado Madu achou na internet.
— Madu! — Ela o corrige praticamente rosnando. — E elas não são minhas patroas, você sabe muito bem o nome da dona da empresa de cerimonial!
Jonas a ignora, se jogando praticamente em cima de Madu ao se sentar no sofá, que mal cabe uma pessoa, quem dirá duas.
— Que inferno, Jonas! Qual a necessidade de se esparramar em cima dos outros? — Madu esbraveja, esmurrando Jonas inutilmente.
— Hum... Vamos ver o que temos aqui! — Ele continua ignorando os protestos de Madu ao pegar o notebook das mãos dela e se espalhar ainda mais no pouco espaço do sofá.
Desde que os conheço, Maria Dulcineia e Jonas vivem num eterno morde e assopra, mas é só excesso de amor. No começo, quando os vi pela primeira vez discutindo alto na biblioteca da faculdade, eu poderia jurar que se detestavam, no entanto, se a gente observar bem de perto esses dois, é possível ver o quanto eles se gostam e que fariam tudo um pelo outro.
Jonas e Madu tornaram meus anos de faculdade menos pesados, me aceitaram como amiga e ainda concordaram em entrar de cabeça no meu plano maluco de levantar do subsolo uma empresa. Não existem palavras no meu vocabulário para expressar meu carinho e gratidão por essas duas figuras. É por causa deles que continuo tendo sonhos de conseguir botar a Electrical Measure de pé, então, nem que eu tenha que continuar me sacrificando um pouco, eu não vou me permitir desistir agora.
— Ah, não, Leila! — Jonas solta um berro, dobrando-se sobre o próprio corpo para rir.
Me arrasto da minha mesa capenga até o sofá. Agora, até eu, que não sou muito chegada em redes sociais e fofoca de gente rica, fico curiosa para ver o que de tão engraçado Madu descobriu.
— Me deixa ver.
Jonas e Madu soltam mais algumas gargalhadas antes de virarem o notebook para que eu possa ver o que de tão hilário está circulando na internet. É uma foto de dois homens, que aparentemente foram pegos de surpresa pela câmera no meio de uma festa brega que Madu me pôs para trabalhar no fim de semana passado. Só que o engraçado não está no primeiro plano daquela foto maldita. O engraçado é o que há ali atrás, que, no caso, sou eu.
— Hã?! — Agarro o notebook para olhar direito. — Mas quê? O que eu estou fazendo aqui?
— Sei lá, acho que essa foi a hora que a dona da festa foi cumprimentar os convidados, lembra? Você me disse que tinha entrado um confete dourado na sua boca. — Madu me recorda, voltando a rir como uma hiena.
Tiro e recoloco os óculos no rosto para ter certeza de que não estou enxergando errado. Não estou. Sou eu ali, infelizmente sou eu! De tantos momentos na minha vida para me tornar algo comentado na internet, fui aparecer logo assim, com a boca aberta engasgando com um confete no meio de uma festa de gente rica. O pior é que estou numa foto com Dr. Tales, que provavelmente vai olhar para essa imagem e nunca mais me levar a sério na vida. E eu aqui, pensando toda iludida que poderia conversar com ele para me arranjar um emprego no Torres, já que ele é "o cara" naquela empresa gigante.
— Por que eu sou assim? Por que logo comigo?
— Leila, está tudo bem. Nem é tão ruim... — Madu se esforça para me consolar, mas desiste no meio da frase e volta a rir.
— E isso está em todo canto?
— Está, sim! Já estou vendo seu futuro como meme nas redes sociais, Leila! — Jonas apenas piora meu desespero. Ele parece ter prazer em ver o parquinho pegando fogo, esse delinquente.
— Ai, meu Deus! O que eu faço? O que eu faço?!
— Pelo menos o foco não é você por enquanto. — Madu tenta amenizar a situação. — Parece que um desses dois aí está namorando a Simone, a dona da festa, então as fotos deles no evento estão sendo muito compartilhadas, não somente essa.
Olho para os dois homens na foto com um pouco mais de atenção. Preciso colocar um dedo estrategicamente na minha cara para não começar a chorar de vergonha. Dr. Tales é um homem bonito, porém simples. Ele sempre corta o cabelo muito curto e não abre mão dos óculos, que tornam o rosto simpático dele ainda mais atraente. Pensando bem, aquela festa foi a primeira vez em que o vi mais despojado, já que todas as vezes que ele aparecia no escritório para conversar com Luís sobre alguma proposta do Grupo Torres para adquirir a Solar, estava todo engravatado e segurando uma pasta de documentos toda chique. O porém é que, pelo que já ouvi, Dr. Tales namora há anos, então a menos que ele tenha terminado o relacionamento, não acho que seja ele o namorado da blogueira, o que me leva a observar melhor o homem ao lado dele.
Não vou dizer que ele é feio, porque ele está bem longe disso, mas Dr. Tales faz um pouco mais meu tipo. O homem ao lado dele na foto é alto demais, precisei olhar tanto para cima no dia daquela festa, que fiquei com dor no pescoço. Ele tem um rosto difícil de esquecer, nariz reto, olhos escuros e confiantes, além de um sorriso que poderia fazer dele um grande sucesso na televisão. Eu definiria aquele homem como bonito na mesma intensidade que deve ser uma grande dor de cabeça.
Ah! Uma luz se acende na minha cabeça quando me lembro da forma como a blogueira dourada praticamente voou para cima dele na festa. Ela tinha sido bem simpática e atenciosa com todo mundo, mas sabendo agora que poderia haver um interesse a mais naquele cumprimento em especial, a cena que testemunhei do abraço dos dois fez mais sentido.
— Esse aqui da esquerda que é o namorado dela. — Aponto para o homem na foto.
Madu pega o notebook das minhas mãos e dá zoom na foto. Me sento no braço do sofá e a observo pesquisar em todos os buracos da internet para saber de quem se trata. Sinceramente, me sinto até aliviada por não ser o foco dessas fotos, apesar da minha cara péssima no plano de fundo chamar mais atenção do que eu gostaria. Quem sabe ainda há uma chance de Dr. Tales nem ter visto isso e continuar a me levar a sério, porque ele me disse que poderia contar com ele se eu precisasse de algo e eu ainda preciso de um emprego.
— Dulcineia, acho que você ganharia mais se fosse trabalhar. — Jonas alfineta com os olhos pregados na tela do notebook. Ele a critica, mas não deixa de ser curioso.
— Cala a boca! — Madu, mais rápido do que um piscar de olhos, lhe devolve a alfinetada com um beliscão que vai deixar marcas na pele clarinha demais de Jonas.
Meu celular começa tocar em algum lugar na nossa garagem apinhada de equipamentos e meu coração gela só de pensar que pode ser meus pais ou minha tia. Não falo com eles desde a semana passada, estou passando os dias pedindo ao meu irmão mais novo e a Bruna para que digam a minha família que estou bem e trabalhando muito. Sei que mais cedo ou mais tarde vou ter que atender as ligações e responder as mensagens, mas quero postergar isso ao máximo.
Deixo meus amigos no sofá e volto para minha mesa antes que eles comecem de novo com frases como "você tem que encarar isso de frente" e afins. É domingo e a Feira de Startups será na quinta, então não posso e nem vou gastar minhas poucas energias com meus problemas pessoais agora. Temos pouquíssimos dias para fazer isso dar certo e convencer alguém a nos emprestar seu dinheiro. Claro que tentamos arrumar investimentos de todas as formas possíveis e nunca deu certo porque nosso aplicativo ainda era muito falho, só que desta vez sinto que finalmente pode ser diferente.
Não quero dizer nada, pois prefiro sempre ser pé no chão, mas a demissão da Solar me deu um gás a mais. Realmente eu tive mais tempo para me organizar e me preparar para me apresentar numa feira grande com pessoas que podem acreditar de verdade no nosso trabalho. Pode ser que Luís estivesse mesmo certo sobre eu ter que me dedicar somente a uma coisa ou pode ser que meu desespero esteja levando minhas capacidades a lugares desconhecidos. Em todo caso, está dando mais ou menos certo.
— Aqui, achei! — Madu diz toda empolgada.
Eu olho para ela por cima do meu computador e abro um sorriso. Minha amiga está desperdiçada nessa startup. Com seu talento como programadora e pseudo-investigadora, ela deveria estar no FBI.
— Eu sabia que o conhecia de algum lugar, ele namorou aquela atriz da novela da novela das nove ano passado.
— Que atriz, Madu? — Jonas questiona.
— Marcela Corrêa! Ele a traiu, sei lá, um rolo do tipo. É o neto do dono daquela construtora fodona...
Paro de prestar atenção em Madu quando ouço meu celular tocar novamente. Respiro fundo e procuro por ele entre as pilhas de papéis amassados e marca-textos espalhados pela minha mesa. Assim que encontro o aparelho, vejo um número desconhecido piscando na tela rachada. Deslizo o dedo pelo botão verde e atendo.
— Alô?
— Oi... Oi, Leila? — A voz do outro lado da linha faz meu coração errar uma batida. Eu já a escutei demais na vida para não reconhecê-la.
— Sim... sou eu.
— É o Rafa aqui. Tudo bem?
Preciso de um instante para recuperar minhas forças, porque não consigo conceber aquela ligação do meu ex-namorado às 18h00 de um domingo.
— Leila? — Ele volta a dizer quando fico muito tempo sem falar nada.
— Ah, oi! Eu estou bem, sim. E você?
— Eu estou indo. — Ele dá uma risadinha meio sem graça. — Eu estou por aqui nas redondezas da E.M., será que a gente pode se ver rapidinho?
— O... o... quê?! — Gaguejo mal acreditando no que acabei de ouvir. — Você quer me ver? Você quer me ver, tipo, agora?
— Sim. Se você não estiver ocupada...
— Não estou! — Eu o interrompo um pouco rápido demais. — Onde eu posso me encontrar com você?
❤
Faz um ano, oito meses e dezessete dias que Rafael e eu terminamos, e preciso confessar que desde que rompemos de vez, numa noite abafada na porta da casa da minha tia, eu esperava por uma ligação dele.
Ficamos juntos entre idas e vindas por quase três anos e antes dele eu não conhecia nada, nada mesmo do mundo dos homens. Passei boa parte da vida com o nariz enfiado nos livros e não aproveitei minha adolescência como deveria. Pouco tempo depois de entrar na faculdade acabei me envolvendo com Rafael, e nesses um ano, oito meses e dezessete dias eu não tive nada sério com ninguém, então ele continua até hoje sendo o máximo que conheço de amor.
Na verdade não sei se o que vivemos durante dois anos, onze meses e quatorze dias pode ser considerado amor, mas não vou nem tentar mentir e dizer que ele não mexe muito comigo. Seja porque nosso término definitivo ainda não entra na minha cabeça ou seja porque ele realmente foi uma parte importante da minha vida que não quero esquecer. Seja o que for, eu estou com as mãos trêmulas quando empurro a porta de vidro da lanchonete onde combinamos de nos encontrar.
Queria ter tido tempo de, pelo menos, tomar um banho antes de sair da garagem, no entanto tive que me virar lavando o rosto e amarrando o cabelo num rabo de cavalo apertado. Nem arrisquei pedir a Madu que me ajudasse passando corretivos nas minhas olheiras, porque ela sequer me deixaria sair se soubesse da ligação de Rafael. É aquilo, você pode até perdoar o seu ex-namorado, mas a sua amiga jamais vai perdoá-lo.
Eu vejo Rafael sentado numa mesinha num canto afastado da lanchonete. Preciso prender meu lábio inferior entre os dentes para não sorrir feito uma idiota. Rafael nunca gostou de lugares com muito movimento e aqui não está exatamente sossegado. Tem criança pulando para todos os lados, casais conversando e rindo, grupos de adolescentes tirando selfies e fotos da comida. Pensei em sugerir a ele para nos encontrarmos em outro lugar, só que eu precisava me escorar na desculpa de levar lanches para os meus amigos para evitar as perguntas que surgiriam se eu só colocasse o celular no bolso e descesse a rua.
Rafael me vê e acena para que eu vá até ele. Quanto mais me aproximo, mais tenho certeza de que meu coração vai sair pela boca. Ele continua o mesmo, com os cachos escuros caindo sobre os olhos, a barba por fazer, os ombros largos cobertos por uma camisa de flanela xadrez. Eu poderia morrer ali mesmo, sem nem dizer um oi.
— Meu Deus, Leila, você não mudou nada! — Ele diz assim que me aproximo.
— Acho que meu cabelo cresceu um pouco.
Rafael inclina a cabeça para ver melhor meu rabo de cavalo.
— Acho que não.
— Eu estava brincando.
— Ah! — Ele gargalha e parece genuíno. É ridículo como ele consegue me deixar toda boba só de sorrir!
Um garçom se aproxima da nossa mesa com uma bandeja nas mãos. Ele coloca um copo de suco de laranja, batata frita e um x-bacon egg na minha frente. É o que eu sempre pedia quando Rafael e eu saíamos para comer. Meu rosto fica quente só de ver que ele ainda se lembra desses pequenos detalhes sobre mim.
— Eu pedi para você, imaginei que poderia estar com fome. Ainda se enfia todos os finais de semana na garagem dos pais de Jonas?
— Até que eu consiga algum investidor minha vida vai ser essa.
— Você vai conseguir logo. Seu projeto é bom.
Eu dou a ele um sorriso sem graça. Rafael sabe que ter um projeto bom não é o bastante para ter sucesso. Ele também tinha seus planos durante os anos da faculdade e abandonou tudo para estudar para concursos federais. Às vezes eu me pergunto se eu não devia fazer como ele e ir em busca de uma vida mais estável e calma.
— Leila, na verdade... — Rafael me olha meio receoso. — Eu te chamei aqui porque tinha uma coisa para falar com você.
Me sento mais ereta e afasto a batata frita que estava prestes a comer. Estou com fome, mas estou mais a fim de ouvir o que fez Rafael me chamar até aqui.
— Você sabe que eu tenho estudado para o concurso do Instituto Federal, mas que não consegui ainda, não sabe?
— Sei. As coisas são assim mesmo, na hora certa você vai conseguir.
— Então, é complicado, eu tenho estudado muito e feito poucos projetos. A grana está ficando meio curta. — Ele dá uma risadinha sem humor.
Enrugo a testa ao ouvir aquilo. Espero que Rafael não queira me pedir dinheiro emprestado, porque ando mais dura que a madeira desta mesa.
— Eu sei como é, também não ando muito bem em questões financeiras. Fui até demitida da Solar recentemente.
— Eu fiquei sabendo da sua demissão e é mais ou menos por isso que estou aqui.
— Como é?
— Leila — Rafael se inclina um pouco para frente, como se quisesse me confessar um segredo —, não me entenda mal, por favor, mas você poderia me indicar para a sua vaga na Solar?
Eu vou à lua e volto ao escutar aquilo. Faz um ano, oito meses e dezessete dias que terminamos e essa é a primeira vez que Rafael me chama para sair depois desse tempo todo. Temos um relacionamento amigável, conversamos um famigerado "oi, tudo bem? Estou bem também. Boa sorte" quando nos esbarramos na rua, mas nunca, nunca mesmo dentro desses quase dois anos nos sentamos num lugar para conversar. E ele me convidou hoje para comer algo só porque quer meu antigo emprego.
Meu... Antigo... Emprego!!!
Quero começar um barraco e enfiar esse x-bacon egg na goela dele, e a única coisa que me impede de fazer isso é que arrumar uma briga pode me fazer parar numa delegacia. Eu ainda tenho meu réu primário e meu nome limpo nos órgãos de proteção ao crédito, não posso perder um dos meus mais valiosos bens por causa dele.
Respiro fundo algumas vezes para estabilizar minha voz antes de dizer:
— A gente ficou junto por dois anos, onze meses e quatorze dias. Terminamos há um ano, oito meses e dezessete dias e isso é tudo que você tem para me dizer, que você quer que eu te indique para o meu antigo emprego?
Rafael fica pálido e se encolhe um pouco em sua cadeira. Pelo menos ele parece ter um pouquinho de vergonha na cara.
— Me desculpe, me desculpe mesmo! Eu não te pediria isso se não estivesse numa situação difícil. Eu estou com aluguel atrasado, luz, água... Leila... — Ele abaixa a cabeça, passando as mãos pelo rosto e cabelo até uni-las na nuca. — Eu não devia mesmo estar te pedindo isso...
Ainda bem que você sabe, penso em dizer, mas não abro minha boca. Rafael é orgulhoso e até prepotente, o que é bastante irritante, então quando ele diz que não me pediria isso se não estivesse na pior, eu me vejo inclinada a acreditar.
Tudo bem, fico sensibilizada com a situação. Talvez quem não tenha vergonha na cara sou eu, mas Luís não me quer mais na empresa e Rafael parece estar precisando de um emprego o quanto antes. Ignorar o pedido dele não vai fazer de mim alguém melhor, muito menos me fazer sentir bem.
Ele terminou comigo quase dois anos atrás dizendo que nunca tinha me amado? Sim, ele terminou. Ele disse também que eu era entediante e sem graça? Disse também. Isso tudo ficou revirando minha mente e consumindo minha autoestima por meses a fio? Óbvio que sim! Mas ainda assim eu não consigo odiá-lo. Eu não sou esse tipo de pessoa e nem quero ser. Rafael é meu ex-namorado e temos um passado que ainda me incomoda, só que ele ainda é um bom profissional e está procurando emprego.
E é apenas aquilo que me faz ficar de pé e estender a mão para ele:
— Tudo bem, me entrega seu currículo.
❤
Tem que ser muito gente boa mesmo pra arranjar emprego pro ex embuste, né? Santa Leila!
Estão gostando do livro? Espero de todo o meu coração que sim! Como vocês já devem ter percebido, o romance por aqui vai ser desenvolvido de segundo plano. Eu procurei dar mais atenção aos personagens num primeiro momento... Enfim, não percam a fé hahah
Muito obrigada por lerem e até o próximo domingo!
Bjx,
Thaly :)
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