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Importância

As ruas e avenidas de Houston estão a abarrotar de gente, nas praças e nos parques, centenas de pessoas se divertem a correr, a jogar futebol americano, basket ou a fazer churrascos. No entanto, a equipa tática da SCUM, está sentada nuns degraus, à entrada do Sam Houston Park. Eles preparam-se para enfrentar Rodrigo Puriga. Eric também está com o grupo, desta vez, com o Livro do Calvário nas mãos, emprestado pelo seu velho amigo Ricci Scalone.

Eric: Está aqui, Maldição do Tormento Infernal, é um bocado pesado, enfeitiça-se um objeto, que se calhar é melhor ser um colar, neste caso, só pode ser retirado por quem enfeitiçou o objeto. Pode fazer com que a pessoa que sofre este tormento perca a totalidade da sua sanidade. Ou seja, ele vai perder a capacidade de fazer feitiços, vai ser preso e vai ficar doido. Não é das coisas mais éticas, mas sempre é mais aceitável do que matar o homem.

Damon: Dizes tu! O Lovecraft não concorda, a loucura, às vezes, é o pico do sofrimento psicológico humano, morto, tu não sofres, tortura é pior que morte por isso mesmo, temos de concordar. Não estou aqui para entrar no metafísico, atenção.

Eric: É difícil de argumentar contra isso.

Alice: "Loucura é um conceito que é difícil de compreender, apesar de se permanecer vivo, a mente está à beira da morte. A básica incapacidade de compreensão dos conceitos do que está a acontecer é o suficiente para deixar alguém à beira do precipício escuro que é a loucura."

O Sombra olha, horrorizado, para a filha, como se esta o tivesse assustado seriamente.

João: Precisas de ir ao psicólogo? Porque essa frase... essa assusta, até fiquei arrepiado por causa dessa merda.

Alice: Falas muito, para um assassino de criminosos em série. É uma frase de um escritor sueco sobre quem fiz um trabalho para Filosofia, no 11º ano, Gustav Hulm, o tipo escreveu muito sobre a loucura e sobre a possibilidade do Céu possivelmente não ser algo tão... bonzinho e bonitinho, porque ninguém consegue compreender a verdadeira forma de Deus e dos anjos e arcanjos. É uma leitura extensa, difícil e capaz de arrasar crenças. Ele seguiu-se muito pelas ideias do Nietzsche.

João: Se tu o dizes...

O Oracle começa a desenhar um círculo, a giz, à volta da zona do parque infantil, fazendo uma runa na areia.

Eric: Ok, agora, dentro deste parque de areia, ninguém faz um único feitiço, sem ser eu, o colar trata do resto, para quando o CPB o vier buscar.

Alice: Ao menos, despachamos este problema mais facilmente, sem ser necessário cometer aquele que, na lei, é o pior crime no cardápio. Moralmente, tenham as opiniões que quiserem, mas, legalmente, homicídio ainda é o pior crime. Por isso é que tive de dar corda às All Star para me pirar dali, que as autoridades ainda me davam cabo do juízo e ia acabar presa se não o fizesse.

João: Tu pegaste fogo a uma pessoa, que é uma das piores formas de matar alguém.

Alice: Moralismo de livro de autoajuda, tu mataste pessoas no Brasil com um martelo e uma pistola de pregos, queres comparar? Provavelmente, depois de dois minutos, ele já estava desmaiado por inalação de fumo, esses criminosos brasileiro que tu mataste sentiram dores piores do que o Bunny Hop, e durante mais tempo.

Damon: Tenho de concordar com ela, o que ela fez foi um bocado sinistro, já tu, foste doentio, eu vi fotos daquilo, transformaste a cara de um deles em papas. Foi violento, doloroso, tortuoso e horrível. Quase tão mau quanto a situação no Afeganistão.

João: Nada é pior que aquilo que fizemos no Afeganistão, o coitado do talibã ficou rasgado ao meio.

Eddie: Ele não disse que era pior, ele disse que era quase tão mau. São dois conceitos diferentes.

Eric: Seja como for, ele vai ficar maluco, mas não lhe vai acontecer mais nada. Além de ir para Holy Bridge.

Alice: Qualquer dia, esse barril de pólvora rebenta, também. Elektric, Freya, Plades, Daskalov, todos e mais um par de botas. Quando aquilo começar a dar para o torto, não quero estar perto daquela prisão.

Damon: Nem tu, nem eu, miúda, nem tu, nem eu. Aquela prisão está a abarrotar, se eles fogem, estamos quase condenados, e vão ter de vir os Icónicos para nos ajudarem.

Eric: O Plades e a Freya vão sair de lá, vão ficar na Prisão do Tártaro.

Damon: Prisão do Tártaro? É que eu não percebi essa, é uma coisa de magia que eu sou demasiado leigo para perceber?

Alice: É o Plano dos Mortos, a ponte de ligação entre a Vida e o Além, o Crax e o Taro são os reis do Tártaro e, principalmente, existe lá uma prisão, segundo o que eles contam. Ninguém consegue fugir de lá, até porque, o Zeus está lá preso há séculos. É milhares de vezes mais segura do que Holy Bridge, e olha que é dizer muito.

João: São os dois mais perigosos, é justificado, o Deriótelo é que deve estar a tratar das coisas para as transferências, imagino, não é propriamente algo que deva ser feito por um advogado normal. Não é fácil fazer um juíz engolir a ideia de mandar reclusos para um estabelecimento prisional num plano diferente, guardados pelo Cérbero e pela Tiamat.

A filha do Sombra solta um meio sorriso impressionado, depois de ouvir o que o pai acaba de dizer.

Alice: Olha só quem percebe de lore de D&D!

João: Miúda, eu jogava AD&D nos anos 90, numa garagem perto do Politécnico de Santarém. Respeita a minha idade, tenho 39 anos!

O Sombra solta um riso.

João: Não estavas à espera desta, pois não? Jogadores da quinta edição têm um jogo tão fácil.

Alice: Tomb of Horrors?

Damon: Joga Tomb of Horrors em AD&D ou em BX e a gente depois conversa sobre isso.

João: Foda-se, queres mais? Aquelas campanhas de BX do Joey Capadoscio, quando estavamos no Iraque, em 2005, cada cepa, cada morte.

Alice: Ok, quinta é fácil, D&D antigo é o Diabo em forma de jogo. E sim, a piada foi de propósito.


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