Capítulo 3
Me encarreguei de pegar toda a bagagem da viagem e leva-la para casa, pois da forma que a Nina estava, com certeza não lembraria que têm malas a esperando.
Estávamos morando com Donato, tinha sido uma ordem da agência nós três permanecermos no mesmo lugar, por questões de ser mais fácil para eles nos protegerem.
Nina discordava dessa ordem, falando que seriamos alvos fáceis por estarmos todos juntos, mas a agência não deu ouvidos a ela, desde então estamos aprendendo a conviver nós quatro juntos.
Tenho que admitir que morar no mesmo teto com eles dois, tem sido uma experiência peculiar, os irmãos Moralles parecem o tico e o teco, aquele desenho dos esquilos, vivem implicando um com o outro, mas quando a coisa aperta sempre estão presentes.
Entretanto estou preocupado, nunca vi a Nina perder o controle que nem hoje, algo muito sério estava acontecendo, não sei o que Donato aprontou, mas sei que quando ela chegar em casa, uma tempestade virá junto.
Levo nossas malas até nosso quarto, que fica no segundo andar da casa, conforme estou andando em direção ao cômodo, passo pelo quarto da pequena Speranza.
Apesar de nem tudo ser flores, uma coisa não posso reclamar, estou amando poder conviver diariamente com a minha sobrinha. Ela emana uma alegria na casa que não tem igual.
Dentro do quarto começo a desfazer as nossas malas, vou guardando calmamente o que estava limpo e colocando no cesto as roupas sujas de viagem. Assim que termino de desfazer as malas, resolvo tomar um banho para relaxar, pois o dia começou tenso.
Quando termino de colocar uma roupa confortável de casa, vou até a minha mesa de cabeceira para guardar o relógio que estava comigo. Quando abro a gaveta, vejo a caixinha preta.
Me sento na cama e pego a pequena caixa, me recosto na cama e fico olhando para o objeto. A abro e vejo o anel que a Nina tinha achado, o anel que eu a teria pedido em casamento se nada tivesse acontecido tudo que aconteceu.
Com o nosso reencontro, quando a vi usando o anel pensei que nos casaríamos, mas com a morte da minha irmã e todo o furacão que está acontecendo nas nossas vidas, Nina achou melhor adiarmos essa ideia, pelo menos até as coisas se acalmarem um pouco.
Eu entendi o lado dela, minha namorada viu minha irmã morrer em seus braços, pensou que eu também estivesse morto, entrou num jogo de espionagem de paraquedas, bem, resumindo, sua vida virou de cabeça para baixo da noite para o dia.
Nosso relacionamento começou muito rápido, muita coisa aconteceu em muito pouco tempo, mas não posso negar que fiquei triste com a recusa dela de se casar comigo.
Não disse isso para ela, pois ela estava precisando de mim naquele momento, precisava que eu fosse o seu porto seguro, não era hora deu questiona-la ou pressiona-la sobre o assunto.
Passo o dedo sobre a pedra de rubi em formato de coração, entalhada no anel de ouro amarelo. Meu coração se aperta, fecho rapidamente a caixa e a guardo novamente na gaveta, não era hora para isso.
Contudo, não consigo deixar de me perguntar se algum dia será a hora, se algum dia ela aceitará se casar comigo, pois eu não consigo mais imaginar a minha vida sem ela.
Saio do meu quarto e vou andando pelo corredor, paro em frente ao quarto da minha sobrinha, entro devagar no quarto e vejo que ela está sendo ninada, por uma das moças que trabalham na casa ajudando o Don, assim que a mulher me vê abre um sorriso.
Me aproximo das duas e peço para pegar minha sobrinha no colo, que estava brigando contra o sono. Fico admirando aquele ser indefeso e tão pequeno em meus braços, mas que me fazia sorrir toda vez que estava perto dela.
Com minha sobrinha nos braços me viro para a mulher e falo que ela pode ir, que eu a colocarei para dormir, a moça assente com a cabeça e sai do quarto.
Começo a andar pelo quarto, a balanço levemente em meus braços a ninando, Speranza esfrega os olhinhos com suas mãos e resmunga. Ela briga com o sono igual a minha irmã quando era bebê.
Com a lembrança da minha irmã, me veio uma ideia para faze-la dormir, quando Karina e eu éramos pequenos, nossa mãe sempre cantava para nós antes de dormir.
Busco na memória alguma música para faze-la dormir, e então me lembro de uma que me marcou bastante, puxo na memória a sua letra até lembra-la totalmente.
Começo a cantarolar a melodia e vejo que ela vai se acamando, conforme prossigo na música, minha sobrinha começa a cochilar. Estou com ela em meus braços e cantando quando vejo que Nina está parada na porta me observando.
Abro um sorriso quando a vejo e ela vem devagar até nós dois, continuo cantando a música para Speranza. Nina inclina a cabeça como se tivesse lembrando de alguma coisa.
- Come, stop your crying, it'll be all right, just take my hand, hold it tight... – Nina apoiou uma de suas mãos em meu ombro e olhou para Speranza - I will protect you, from all around you, i will be here, don't you cry.
Para a minha surpresa antes deu começar o próximo verso, Nina passou a minha frente e começou a cantarola-lo, numa voz que sempre que eu escutava ficava fascinado.
- For one so small, you seem so strong. My arms will hold you, keep you safe and warm. This bond between us, can't be broken. I will be here. Don't you cry.
Meu sorriso se alargou quando vi que nós dois ninávamos nossa sobrinha, ela passa os dedos delicadamente pelo rosto de Speranza, que neste momento está sereno, pois ela finalmente conseguiu dormir. O verso seguinte cantamos juntos, parecia que tínhamos ensaiado.
- 'Cause you'll be in my heart. Yes, you'll be in my heart. From this day on. Now and forever more.
Quando coloquei Speranza adormecida no berço, ainda ficamos alguns minutos a olhando dormir. Passei o braço pela cintura de Nina e nossos olhares se encontraram.
Aquela cena de nós dois juntos colocando nossa sobrinha para dormir, ficaria marcada na minha memória, pois ali eu soube que queria fazer isso muitas outras vezes com ela ao meu lado.
Saímos em silêncio do quarto para não acordar Speranza, fechamos a porta devagar e então Nina me guiou em direção ao nosso quarto. Assim que entramos no cômodo, eu soube que aquele momento mágico tinha passado.
- Ótima escolha de música, você leva jeito com bebês. – Ela sorri e se senta na cama.
- Phil Collins é um ótimo compositor, e eu sempre sonhei em cantar essa música para o meu filho ou filha, acho a letra dela linda – Dei um sorriso de lado e me sentei ao seu lado.
Vejo os olhos dela se tornarem mais doces, ela apoia as mãos na lateral do meu rosto e me beija. Um beijo cheio de carinho, intimidade e paixão, quando nos separamos ela suspira e então me encara nos olhos.
- Nós precisamos conversar – Assim que escutei essas palavras, um calafrio percorreu o meu corpo, pois nada de bom começa com essa frase.
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