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three

Acordei com uma mulher me balançando freneticamente.

- Ah, você não está morto. Eu perderia meu emprego. - Ela falou de modo entediado.

Eu a olhei assustado.

- Onde está o Harry? Quem é você?

- Harry está de folga, menino. Você não é a única preocupação dele.

Então ele não estava. Eu estava sozinho.

- Tome. Seus remédios. - A mulher deixou-os na minha mão enquanto mexia em potes de vários outros.

Neguei com a cabeça. Harry não me dava remédios.

- Você não vai tomar? - Neguei. - Prefere ficar gritando e seguindo ordem de pessoas inexistentes que nem louco?

Fiz que não novamente, as lágrimas invadiam meus olhos.

Mate-a.

Eu estava sozinho e pela primeira vez pensei em concordar com as vozes de boa vontade. A mulher não merecia viver.

Mas eu não podia fazer isso, Harry não gostaria.

- Você vai tomar esses remédios! - A mulher se aproximou de mim e tentou colocá-los na minha boca.

- Harry não me dá remédios. - Eu falei sorrindo ao lembrar do menino me ajudando.

Ela é má com você. Mate-a.

Eu assentia a cada vez que elas falavam. Eu queria a matar.

- Harry não é profissional. Agora tome essa merda. - Ela disse enquanto juntava os remédios que haviam caído.

Não deixe.

Quando conseguiu colocá-los na minha boca eu mordi seu dedo e os cuspi.

- Eu disse que não vou tomar nenhum remédio! - Prensei a mulher na parede e peguei a faca que estava em seu carrinho.

- N-não, Louis. - Ela estava encolhida na parede.

- Agora você sabe meu nome, huh?

Acabe logo com isso.

A raiva estava fervendo dentro de mim e a faca estava apontada ao coração da mulher a minha frente.

- Louis! - Uma voz rouca me chamou atrás.

Tire-o daqui.

- Saia! Agora! - Eu gritava sem olhar para ele.

- Lou, calma.

Mate-o.

Minha cabeça já estava doendo, meus ouvidos latejavam por uma guerra de vozes e de razão que acontecia dentro de mim.

Às vezes devemos deixar a razão de lado e seguir nosso coração. Mas esse não era o meu coração.

MATE-O!

Elas gritaram ainda mais alto e eu avancei na direção de Harry.

O coloquei em direção à parede e levei a faca até seu rosto fazendo pequenos círculos calmos com a ponta da mesma.

A mulher correu para fora e Harry estava encolhido enquanto me olhava com assustado.

Ele te odeia, Louis.

Ele me odeia. Eu sou um monstro. Eu preciso acabar com isso.

- Eu não vou te machucar. - Falei em direção ao menino de cabelos cacheados encolhido.

E mesmo sem pensar cravei a grande faca na minha barriga e caí de joelhos. Cada parte do meu corpo doía e as vozes estavam rindo de mim.

O sangue vermelho estava pelo chão e eu ainda segurava a faca com as mãos. Eu remexi ela para ainda sentir mais dor e as lágrimas caíam com frequência de meus olhos.

- Louis! - Harry gritou se abaixando na minha direção. - Uma ambulância! Por favor, uma ambulância!

Harry gritava e me segurava, balançando-me freneticamente.

- Fique comigo, Lou. Fique comigo.

Harry estava com medo. Com medo de perder seu emprego. Isso não iria acontecer.

- Você não vai perder seu emprego. - Eu falei com o restante de força que havia em mim.

As vozes na minha cabeça gritavam e riam e eu pedia para morrer cada vez mais.

Você vai morrer.

Eu assenti, a morte estava próxima e eu podia a sentir. Meu corpo inteiro latejava e meus pulmões imploravam por ar.

Eu estava morrendo.

- Mas eu perderei você. Você vale mais que qualquer emprego. - Harry disse passando suas mãos pelos meus cabelos.

Eu sorri e ali havia sangue. O menino alto de olhos verdes e cachos no cabelo se importava comigo.

Soltei a faca e coloquei minhas mãos em seu lindo rosto, perfeitamente desenhado e vermelho pelo sangue que havia nele. E agora fiz voltas com meu pequeno dedo.

- Desculpa.

Caí em seu colo e o deixei completamente encharcado, ele me colocou em uma grande maca branca. Tudo acabou escurecendo e a última coisa que vi foi as lágrimas nos olhos verdes de Harry.

- Tudo ficará bem.

E eu já não conseguia ver nada.

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