Capítulo Onze.
Capítulo 11
•É incompreensível morrer e, principalmente aceder que a morte está conectada a nós de forma inexorável•
Audrey
James e eu estamos tendo uma conversa bem franca um com o outro, mas quando vêm a tona o assunto "pai" as lembranças se desvelam, abrindo um portal para o passado, minha voz embarga, meu corpo fica gelado e aos poucos as lágrimas caem copiosamente e o clima entre nós dois volta a ser um absoluto silêncio, ele concentrado na estrada e eu tentando lembrança da minha infância dramática.
— Eu acho que estou enlouquecendo. - digo por fim.
— Ao meu ver, você está se libertando das suas amarras e isso é doloroso. Acredite. - James ainda se mantém concentrado no volante, porém sua mão direita ainda permanece sobre a minha perna. Estamos na estrada tem quase 12 horas e James me contou tantas coisas - em sua maioria eram lembranças de um garoto que não teve escolhas - e aos poucos é como se eu fosse conhecendo-o melhor e cheguei a conclusão que somos duas pessoas quebradas.
— Não acha melhor pararmos? - pela primeira vez ele tira o olhar da estrada. — Já está ficando de noite.
— Mas só falta três horas para chegarmos. - ele volta a sua atenção para o volante.
— Por favor.
Estamos em um quarto simples de hotel de estrada, com uma cama no centro e um banheiro do canto direito, há também uma televisão bem pequena no canto superior esquerdo, meu cabelo molhado formou uma pequena poça de água em cima do edredom. James está terminando o seu banho, na televisão velha passa um seriado antigo de policiais ou agentes do FBI, um tanto quanto tosco.
— Está com fome? - viro minha cabeça para o lado, James acaba de sair do banho.
— Não, não estou com fome. - ele larga a toalha em cima da poltrona verde musgo e logo em seguida acende um cigarro.
— Isso faz mal. - falo voltando a minha atenção para a televisão.
— Jurava que não, obrigado pela informação útil.
— Eu não gosto e você sabe o motivo! - James se levantou resmungando e vai em direção ao banheiro, ouço o barulho da descarga e ele volta para cama.
— Você tem sorte que eu gosto da sua presença. - James profere cada palavra com a ironia dançando em seus lábios, e só de escutar uma pequena risada dele, mesmo que por meros segundos, minha alma parece aquecer automaticamente.
— Só da presença? - Mais uma vez ele sorri e eu me sinto arrebatada por um simples sorriso. Ele apaga a luz do quarto e se deita virando para o meu lado oposto.
— Boa noite Pardal. - é perceptível em seu tom de voz o cansaço. Me viro para o outro lado me encolhendo em posição fetal.
— Boa noite Sr. Death...
Ainda com os olhos fechados eu sinto um arrepio na nuca que se alastra por toda a extensão do meu corpo, me causando uma sensação maravilhosa e eu sei que esse arrepio é causado pela respiração de James, que dormia com seu braço pesado em cima de mim.
James sobreviveu tanto à captura da primeira vez, quanto a morte da segunda, e isso fazia dele um fugitivo do próprio destino cruel. Hoje ele irar matar alguém, mas isso não me afeta - talvez afete - mas não sinto. James na maioria das vezes se mostrava um homem sério, talvez ele quisesse manter uma reputação ou algo assim, mas ninguém que venha ter medo desse homem alto de presença assustadora, sabe que ele baba às vezes enquanto dorme, seus cabelos bagunçados tiravam dele o ar de assassino, ele dormindo é tão vulnerável, me levanto com tamanha dificuldade por conta do sono que ainda persistia em ficar grudado em mim.
James
Faziam exatamente três minutos que eu havia parado no estacionamento da grandiosa igreja e estou esperando as pessoas saírem, enquanto isso Audry lia uma revista sobre facas e armas que ela achou no porta luvas. Eu me acostumei com a presença dela, me acostume com o seu perfume, ela tem uma facilidade de se perder em pensamentos e ficar distante da realidade, apenas concentrada em seu mundo e eu adoraria saber o que se passa em sua linda cabecinha enquanto lê sobre armas.
— Bom... As pessoas estão saindo. - comento e ela olha para a igreja e depois volta sua atenção para a revista.
— Parece que sim... Eu irei mesmo participar? - acho que é a quinta vez que ela pergunta a mesma coisa, ela de fato é a única pessoa que eu consigo suportar, se fosse qualquer pessoa no mundo fazendo a porra da mesma pergunta mais de uma vez no dia eu mataria, a paciência não é uma qualidade que eu tenho em abundância.
— Claro que vai, já deixei isso bem claro antes de sairmos. - ela tem o brilho no olhar e que me enche de energia o que sinceramente é estranho, mas gosto da sensação que ela me causa.
— Não sei se o seu plano vai funcionar, ele é um padre, e eu sei os pecados dele, mas não acredito que ele vai ceder tão facilmente. - ela é ardilosa, é boa em avaliar situações e fica sexy quando está receosa.
— Você é talentosa, acredite. - ela apenas olha pra mim exibindo o seu sorriso encantador e sai do carro, ela fica linda em vestidos soltinhos, tentador, eu vou até os fundos da igreja e estaciono o carro. Espero que ela consiga atrair a atenção do padre.
Eu estou bem perto deles, Audry fez com que ele a levasse para uma sala pequena e meio afastada e com pouca iluminação o que era perfeito pra mim, tiro do bolso da jaqueta a minha faca e vou me aproximando vagarosamente da porta entreaberta.
— Minha flor, você é tão bela... Fico triste ao ouvir seus relatos, mas espero lhe ajudar, vai ser um prazer ajudar uma jovem tão astuta como você. - velho seboso nojento, protegido pela droga do seu Deus e religião.
Abro a porta sem fazer um ruído sequer, porém Audry percebe a minha entrada e coloca sua mão na face do homem para que ele não note nada, faço sinal de silêncio pra ela.
— Eu não sei como posso agradecer o senhor, Padre. - eu mais uma vez tento andar sem ser notado e ela atua lindamente, minha atriz perfeita.
— Não se preocupe minha criança, eu sei... - não espero ele terminar, pressiono a lâmina contra o pescoço do homem que agora entrava em pânico.
— Era assim que as crianças gritavam por suas vidas, por seus corpos, pela inocência. - o homem se debate enquanto eu afundo a faca em sua carótida dando a volta com a lâmina dentro de seu pescoço, a vermelhidão em minhas mãos era com um deslumbre, Audry não grita ou faz qualquer coisa, simplesmente assisti.
— Ele está morto?
— Claro... Você está bem? - ela abre um meio sorriso e sai da pequena sala. Retiro a faca do corpo já sem vida e a limpo em um lenço e guardo tudo no bolso. Saio da igreja o mais rápido possível...
De baixo da água morna eu limpo o sangue em meu rosto e mãos, a água deixa meu corpo todo mole uma sensação gostosa percorre a minha coluna vertebral e as lembranças dos meus beijos com Audry tomam meus pensamentos; o cheiro dela, entra por minhas narinas como se ela estivesse no banho comigo. Desligo imediatamente o chuveiro antes que eu começasse a fazer o que não queria. Me seco e visto minha roupa e ao me retirar do banheiro vejo Audry me olhar com aqueles malditos olhos perfeitos e provocativos, esse pequeno ser é a droga de um anjo caído.
— Como você está? - confesso que até a voz dela me deixa excitado. Amaldiçoado seja as pessoas que a fizeram com tanta perfeição.
— Eu? eu estou ótimo. Quero saber de você! - ela caminha até mim e sem aviso me abraça, Audry possui um cheiro tão bom.
— Eu gostei do que vi. - ela se afastou para que pudesse falar olhando pra mim. — O sangue... Você... Eu não tive medo nem por um segundo. Foi como se o meu cérebro entrasse em um estado pavoroso de prazer com o que você estava fazendo. Talvez eu seja doente da cabeça. - assim que termina de se expressar ela senta, parece até aliviada de ter contado.
— Se você é eu também sou.
— Isso foi um consolo? Foi péssimo. - eu definitivamente estou preso à ela.
— Bom, pelo menos eu me importo. - eu sento ao lado dela apoiando uma mão em sua perna.
— Ok Sr. Death, acho melhor irmos embora.
Novamente indo rumo a algum lugar juntos, talvez meu destino seja viver assim. A noite estava fresca e Audry sorria pra mim, observar ela é uma das coisas que eu aprendi a gostar, eu não canso de olhar para a imensidão de seus olhos e contemplar o achado que o destino me deu. Nada mais importava quando ela sorria pra mim, porque é como se o mundo parasse de girar, e eu só conseguisse ver a maldita garota incrível no banco do carona. Ela me olhava e eu sei que dentro dela algo dizia a mesma coisa, como se as nossas almas conversassem em silêncio, será difícil demonstrar isso que está dentro de mim para ela, é um novo campo minado do qual eu nunca andei e não sei onde irá explodir.
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