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Capítulo Dez.

Capítulo 10

forjado no Inferno•

James

  As pessoas em muitas das vezes são decepcionantes e ao longo da minha vida eu fui me tornando uma e provavelmente acabei decepcionado Audrey ontem a noite, ela estava radiante, algo nela me chamava, me atraia. Eu a queria, porém ela com certeza não sabe o que quer, acredito que tudo está em conflito dentro dela e não quero me tornar mais um conflito estranho para ela.
Estou há mais tempo sem sentir isso dentro de mim do que eu posso contar e eu simplesmente quero fugir, a única pessoa que eu já amei morreu por minha culpa e Audrey não merece o mesmo e triste fim. Estou a observando dormir e em seu rosto vejo uma serenidade extrema, faz tempo que ela não tem seus ataques durante à noite, alguma coisa dentro dela está mudando drasticamente e eu estou gostando de acompanhar isso de perto. Seu peito sobe e desce em um ritmo de pacificidade que me tranquiliza de uma forma ádvena. Me deito com cuidado ao lado dela, seu cheiro é o perfume mais inebriante do mundo, fecho meus olhos e respiro fundo e deixo que o sono me leve para longe da realidade.

                                  Audrey

... Estou balançando e balançando e parece que vou levantar vôo, sinto o vento, o sol e essa sensação de infinitude. Eu sinto como se já tivesse experimentado isso.
- Papai? - uma menina de cabelos dourados está correndo ela é tão parecida comigo. - Papai? 
- Audrey, o que foi minha filha? - o homem sai de dentro da casa... Papai
- Eu não quero ir para casa da vovó hoje, fica comigo papai! - ela abraça as pernas do homem que possui uma aparência de exaurido, o homem pega a criança no colo.
- Não temos outra opção meu pequeno lírio. - o homem beija a testa da pequena, ele se dirige para dentro da casa. Tudo se mistura, o ar falta…

- PAI - acordei da pior forma possível e com um buraco no peito, foi a última vez que eu estive com ele, depois disso tudo virou de cabeça para baixo.
- Você está bem? - tinha me esquecido desse pequeno detalhe, eu ainda estou aqui. As vezes sinto que se não tivesse conhecido ele não iria conseguir me entender nunca, sempre fugi e fugi e agora tenho que lidar com a verdade e, a verdade é que talvez sejamos iguais e não opostos.
- Sim. Só preciso de água... Dormiu bem?
- Um pouco, sonhou com o que? Você grito "pai". - seus olhos estão perplexos. Eu. não sei o porquê de ter sonhado com ele, talvez por ter sido a última lembrança e com o passar dos anos eu fui esquecendo. Talvez os acontecimentos dos últimos dias tenham contribuído para que eu lembrasse dele, da figura que ele representava para uma garotinha indefesa, que o amava muito.
- Uma vez você chamou por sua mãe e eu não perguntei o motivo. - ao me manifestar saio do quarto indo direto para o andar inferior. De uma hora para outra era como se o quarto tivesse ficado pequeno para nós dois, a cozinha está arrumada o que me faz pensar se ele arrumou ou chamou alguém para fazer isso.
- Quer comer alguma coisa? - pergunto em um tom mais elevado, ouço ele descer as escadas.
- A gente tem que conversar. - ele simplesmente afirma, sem questionar se estou a fim. - Não é sobre ontem... Você precisa sair da cidade... Tecnicamente eu também, seu rosto está estampado por toda Los Angeles e um amigo meu que trabalha na polícia me avisou que eles estão chegando em mim também. - tento organizar as informações dentro de mim.
- NÃO. Eu não posso ser presa... ele era um monstro comigo... - minha voz praticamente não sai, estou em um estado de medo. Eu era a vítima.
- Vai ficar tudo bem, você não vai ser presa, ok? Nós vamos para longe, hoje à noite. - estou tremendo, não consigo raciocinar, meu corpo inteiro congela ao lembrar do homem do que matei á sangue frio. 
- Vem cá, relaxa. Vai dar tudo certo. Temos dinheiro suficiente e eu já tenho outro cliente. - James me abraça e eu não consigo retribuir, estou com medo, mas não sinto culpa, apenas medo de ser pega.
- Para onde vamos?
- Carolina do Norte. 

  Já está anoitecendo e James já colocou todas as nossas coisas em uma mala, eu não sabia que ele tinha tanta arma escondida em um simples quarto. Estou assistindo o jornal há quase meia hora e já apareceu minha foto três vezes, eu sei que é uma foto antiga mas não muda o fato de ser meu rosto.
- Você era bonita loira. - a voz de James está rouca e isso combinou com ele.
- Muito obrigada, mas sua opinião não faz muita diferença. Quando iremos?
- Você é insuportável sabia. - ele coloca as três malas lotadas de armas no chão da sala.
- Então... Como fez para ter esse arsenal particular? - o clima entre nós está voltando a ficar bom e uma certa fadinha está inquieta dentro de mim.
- Eu simplesmente achei. - sua resposta foi tão vaga, ele roubou? Como roubou tudo isso de uma vez? - Não acredita em mim né?
- Ao jugar pelo seu estilo de vida e as circunstâncias das quais estamos envolvidos, não. - um sorriso lindo se forma em seus lábios e automaticamente eu sorrio também.
- Você e essa boca inteligente. Daqui a meia hora iremos, ok? - eu assenti em concordância.
- Quem é a pessoa na Carolina do Norte?
- Um Padre. - ele simplesmente disse, um padre, a porra de um padre.
- Ficou louco, vai matar um Padre? - ele me olha com se eu tivesse contado uma piada. - Vai matar a porra de um Padre!
- Pra que tanta indignação? Ele é feito de carne e osso. - eu ainda não compreendo como ele pode fazer piada com isso. - Olha pra mim... Ele até pode dizer que é um homem de Deus, mas não é. 
- Não é... Ok isso basta. - ao ouvir sua risada eu fico mais leve, como se o fato dele ter acabado de falar que vai matar um Padre não fizesse diferença.
- Não sabia que era Católica. Você vai para o inferno sabia, de acordo com a sua religião. - eu o encaro com os olhos semicerrados e respiro fundo.
- Eu vou e você também. - James pega duas malas e sai indo em direção ao carro, que sinceramente não faço a menor ideia de onde surgiu, pego as outras duas e faço o mesmo que ele.
  Eu fico do lado de fora enquanto James tranca tudo, eu estou fugindo agora ou estou sendo eu mesma?, ou esse é meu propósito na Terra, minha condição é de fugitiva porém não é assim que me sinto, me sinto incondicionalmente livre.

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