Capítulo 31 - Um aperto no peito
Por Estela
Ainda naquele sábado, Enzo me ajudou a selecionar algumas roupas e organizar uma mala emergencial para a viagem repentina que eu estava prestes a fazer.
O quarto estava impregnado com uma tensão silenciosa. Cada peça dobrada parecia pesar o dobro, carregando o fardo emocional daquele momento.
Meu coração estava em pedaços.
Primeiro, pelo acidente de Bruno, segundo, pela distância abrupta que eu teria que colocar entre mim e o homem que estava ao meu lado, justo agora, quando a vida dele tomava um rumo tão importante.
Enquanto colocava uma blusa na mala, parei, olhando para o chão por alguns segundos.
– Enzo, você sabe que eu não queria ir assim, não sabe? – Minha voz saiu mais baixa do que eu esperava, quase um sussurro.
Ele parou de dobrar a camisa que tinha nas mãos e veio até mim, segurando meus ombros com firmeza.
– Eu sei, mi reina. Você está fazendo o que precisa ser feito. – Ele ergueu meu rosto com delicadeza, obrigando-me a encará-lo. Seus olhos castanhos tinham aquela profundidade calorosa que parecia sempre me acalmar. – Bruno é importante para você, e eu respeito isso.
Aquelas palavras aqueceram meu peito, mas também intensificaram minha culpa.
– Ainda assim, sinto que estou te deixando na mão. Você tem tantos planos...
Enzo sorriu levemente, um sorriso que não alcançou completamente seus olhos.
– Planos podem esperar. O que não pode esperar é você ajudar alguém que precisa. Vá com o coração tranquilo.
Antes que pudesse responder, a emoção tomou conta. Afundei meu rosto em seus ombros largos, buscando no calor do seu abraço a força para enfrentar aquele momento. Ele passou as mãos pelos meus cabelos, num gesto que parecia conter o peso do mundo.
– Às vezes, acho que você é bom demais para ser verdade. – Deixei escapar um suspiro abafado contra seu peito.
Ele soltou um riso suave, um som quase triste.
– Acho que já ouvi isso antes, lá no início. Mas, se for verdade, talvez você também seja boa demais para mim.
Enzo beijou o topo da minha testa, e eu fechei os olhos, tentando absorver aquele instante como se fosse o último, e se realmente fosse?
– Enzo, eu... eu preciso te contar uma coisa... – Minha voz vacilou, e eu senti um nó se formando na garganta.
Eu precisava falar sobre o bebê. Precisava dividir esse momento lindo que vamos ter juntos.
– O quê? – Ele afastou-se apenas o suficiente para olhar meu rosto, seus olhos cheios de expectativa.
Antes que eu pudesse falar, a campainha ecoou pela casa, interrompendo o momento. O som me fez estremecer levemente, como se tivesse sido arrancada de um sonho.
– Eu atendo. – Enzo disse, relutante, soltando-me do abraço.
Observei-o caminhar até a porta enquanto limpava discretamente os olhos com o dorso da mão. Quando ele abriu, uma figura familiar apareceu no batente.
Para minha surpresa – ou talvez nem tanto –, era Matías. Ele estava com uma mochila nas costas, os cabelos molhados grudados na testa e uma expressão de urgência.
– Graças a Deus ainda consegui pegar vocês em casa. – Ele disse, ofegante, passando os olhos rapidamente entre mim e Enzo.
Meu coração deu um salto, e minha mente foi inundada de perguntas.
– O que está fazendo aqui? – Foi tudo o que consegui dizer.
Matías deu um passo à frente, com um olhar que oscilava entre a seriedade e algo mais suave.
– Alicia me mandou mensagem. Ela explicou sobre o acidente do Bruno e mencionou que você talvez voltasse para o Brasil. Achei que seria bom ir com você... para ajudar no que for necessário.
Enzo olhou para Matías e, em seguida, para mim, como se estivesse analisando a proposta.
– Acho que é uma boa ideia, mi reina. Ficarei mais tranquilo sabendo que você tem companhia.
Meu peito apertou. Matías não estava ali apenas pela Alicia. Eu sabia disso, e ele também. A maneira como seus olhos demoravam um segundo a mais em mim deixava isso claro.
Ele estava ali, também, pelo bebê que eu esperava.
– E então? – Matías perguntou, com um meio sorriso que parecia disfarçar um nervosismo. – Vamos?
Hesitei por um instante, desviando o olhar para Enzo. Ele assentiu, encorajando-me com um sorriso calmo.
– Tudo bem. – Soltei um suspiro pesado antes de concordar com a cabeça.
Enquanto recolhia a última peça de roupa para colocar na mala, não consegui ignorar a sensação de que algo dentro de mim estava prestes a mudar para sempre. E eu sabia exatamente o porquê.
(...)
A parte mais difícil daquele dia – talvez de todos os últimos meses – foi me despedir de Enzo. O saguão do aeroporto parecia mais frio e impessoal do que nunca, e, enquanto o som abafado das rodas da minha mala ecoava pelo chão, meu peito parecia cada vez mais apertado.
Tentei controlar as lágrimas que insistiam em escapar, mas era como tentar conter uma tempestade com as mãos. Droga de hormônios, pensei, tentando disfarçar o tremor na voz e no corpo.
– Eu volto assim que o Bruno apresentar alguma melhora no quadro. – Minha voz falhou, quase um sussurro, como se a frase fosse mais para me convencer do que para ele.
Enzo se aproximou, e seus olhos encontraram os meus com aquela calma característica, como se estivesse tentando me ancorar. Ele passou a mão pelo meu rosto, secando uma lágrima que escapou antes que eu pudesse impedir.
– Sei disso, chiquita. Fique o tempo que precisar. Estamos falando da sua casa, dos seus amigos, da sua família. – Ele fez uma pausa, olhando fundo nos meus olhos. – Temos todo o tempo do mundo.
Aquelas palavras, tão cheias de confiança e carinho, deveriam ter me confortado, mas, em vez disso, fizeram meu coração encolher ainda mais. Por que doía tanto, então?
O som metálico e impessoal do autofalante do aeroporto cortou o ar, anunciando que o embarque para o meu voo já estava aberto. Meu coração se transformou em algo menor que um grão de arroz.
Enquanto o anúncio reverberava pelo saguão, minha mente parecia uma montanha-russa descontrolada. Eu rezava para que aquela sensação fosse só a gravidez, uma daquelas oscilações emocionais que vinham junto com os hormônios. Porque a alternativa – a ideia de que aquela despedida era mais definitiva do que eu gostaria de admitir – era simplesmente insuportável.
Mas por que minha mente insistia em me mandar esses alertas? Por que aquele peso parecia tão difícil de ignorar?
– Se cuida, e não se esqueça de que amo você. – A voz de Enzo me puxou de volta para a realidade. Ele afagou meus cabelos com ternura e, em seguida, inclinou-se para beijar meus lábios. O gesto foi doce, mas carregado de algo que parecia mais pesado do que ele deixava transparecer.
– Eu te amo. – Minha resposta saiu quase inaudível, quebrada pelos soluços que tentavam explodir no meu peito.
Nos abraçamos como se o mundo pudesse desabar a qualquer momento. Meu rosto se afundou em seu peito, sentindo o cheiro dele, tentando memorizar cada detalhe daquele instante. Quando finalmente nos soltamos, uma parte de mim parecia estar ficando para trás.
Sem olhar para Matías, que esperava a alguns passos de distância, caminhei na direção do portão de embarque. Cada passo parecia um esforço descomunal, como se meus pés estivessem presos no chão.
Antes de seguir em frente, arrisquei olhar para trás, mesmo sabendo que poderia me arrepender. E lá estava ele. Enzo ainda parado no mesmo lugar, observando-me. Seus olhos, tão intensos e carregados de tristeza, encontraram os meus.
E então me ocorreu: eram os mesmos olhos dos meus pesadelos.
Aqueles olhos. Aquele olhar.
Era como se uma parte de mim soubesse que algo estava prestes a mudar para sempre.
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Então...postei e sai correndo hahahaha
O que será que vem por ai?
Nem vou declarar nada aqui não!!
Um beijo da tia Vick!
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