Por Estela

O sol da manhã de segunda feira preencheu o quarto de Enzo, incomodando um pouco minha visão. Olhei para o lado e notei o uruguaio dormindo pesadamente e com o corpo relaxado. Havíamos dormido tarde na noite anterior, e a lembrança do motivo arrancou um sorriso involuntário dos meus lábios.

Catei a camisa de Enzo que estava jogada no canto do quarto e a vesti sem cerimônia. Caminhei a passos cautelosos até a janela e fechei as cortinas com o intuito de melhorar a qualidade do sono de meu namorado, apesar de que eu duvide muito que ele esteja sentindo qualquer tipo de incômodo naquele momento.

Ajeitei o cobertor em seu corpo e guiei meu corpo até a cozinha, onde me dispus a preparar um café. Uma e Ada, ao perceberem que eu estava mexendo nos armários, automaticamente vieram ao meu encontro, relando o corpinho em meu calcanhar.

- Vocês estão com fome, não é, meninas? – Me abaixei para as acariciar.

Alguns ronronados se manifestaram, dando ainda mais firmeza para a afirmação a pouco feita.

Coloquei a água do café para esquentar e providenciei a comida das gatinhas.

Ao final da tarefa, peguei meu notebook e o liguei em seguida. Precisava marcar uma reunião com Otávio com urgência para resolver a questão da minha permanência no Uruguai.

Mandei uma mensagem para o meu chefe e em menos de cinco minutos ele já havia me respondido, alegando que poderia conversar naquele mesmo instante.

Mais que depressa, fui até o closet e peguei um vestido mais comportado, não ficaria de bom tom se eu aparecesse em uma câmera, trajando as vestes do meu namorado na frente do meu chefe e pai do meu melhor amigo.

Voltei para a cozinha e me preparei para a chamada.

- Estela! Como vai? Aconteceu algum problema? – Otávio se pronunciou assim que a chamada foi iniciada.

- Oi...está tudo bem, não aconteceu nenhum problema. – Sorri gentil. – Desculpe se a mensagem acabou fazendo você pensar o contrário.

- Não se desculpe, foi só um pensamento que me ocorreu, afinal, você está de férias. – Ele deu de ombros do outro lado da tela.

Aquele era o momento de falar.

- Bem, era sobre isso que eu queria conversar com você, se possível. – Comecei e Otávio assentiu com a cabeça, me dando permissão para prosseguir. – Gostaria de estender um pouco mais a minha estadia fora do Brasil e assumir os processos de forma remota, se isso não for atrapalhar, claro.

Otávio ficou em silêncio por alguns segundos. O semblante dele era estático, como se não estivesse esperando por aquilo, e eu poderia entender seu espanto, afinal, tudo tem acontecido tão rápido, que nem eu mesma estava certa de que havia digerido toda essa situação cem por cento.

- Bem, confesso que não estava esperando por isso. Na verdade, já estava contando com a sua volta no próximo mês. – Ele respondeu por fim.

- Entendo, e vou entender caso a resposta seja negativa. – Eu já estava me preparando para o pior.

Otávio novamente ficou em silêncio, me gerando ainda mais ansiedade.

- Por quanto tempo pretende ficar..."afastada"? – Ele teve cautela ao pronunciar a última palavra.

- Honestamente? Ainda não sei, pretendo descobrir hoje à tarde, mas acredito que não seja mais do que seis meses. – Falei de forma honesta.

- Certo, podemos tentar fazer um teste pelo próximo mês e ver como funciona, mas se eu perceber que seu rendimento continua comprometido, não terei outra alternativa ao não ser te obrigar a fazer uma escolha. – Otávio exibia um semblante sério, o qual raramente eu estava habituada.

- Garanto que não irei falhar com você. – Assegurei, mesmo que no fundo eu ainda estivesse com medo daquela promessa.

- Vamos ver como será, você já me garantiu uma vez, espero não estar cometendo um erro em te dar outro voto de confiança. – Ele soltou um suspiro.

- Obrigada, Otávio. – Me limitei em agradecer.

Ele assentiu e finalizamos a chamada.

- Estava em reunião? – Enzo apareceu no corredor com os cabelos bagunçados e trajando uma calça de moletom, estava impecável.

- Bom dia! – Abri um sorriso disfarçado. – Não quis te acordar.

Enzo caminhou até a minha direção e depositou um beijo em minha cabeça, acariciando meus cabelos em seguida.

- Trabalho? – Voltou a questionar.

- Estive conversando com Otávio sobre minha permanência no Uruguai. – Soltei, por fim.

- E como ele reagiu? – O moreno quis saber.

- Não posso falhar enquanto eu estiver aqui, eu não precisei ser muito esperta para entender que ele não ficou muito feliz com a minha solicitação, mas também não negou. – Bufei. – Então basicamente não posso me dar ao luxo de desfocar das minhas obrigações.

- Não quero que a sua permanência te prejudique no trabalho, se sentir que não é o momento, eu vou entender... – Enzo começou, mas eu o interrompi.

- Eu vou ficar, e está tudo acertado, no fim as coisas vão se ajeitar.

- Estarei contigo para o que der e vier. – O uruguaio me assegurou.

- Por falar nisso, a escolha do cast vai ser hoje? – Mudei o foco da conversa, rapidamente.

- Sim, logo após o almoço, Matías vai nos encontrar lá no teatro. – Enzo se recostou em meu colo, estava manhoso assim como suas gatas mais cedo.

- Matías também vai fazer o teste? – Estranhei.

- Não. – Enzo riu. – Ele disse que vai só para me dar um apoio moral e para te fazer companhia enquanto realizo a audição.

- Isso que eu chamo de amizade de milhões. – Ri nasalmente.

Enzo e eu enrolamos o quanto podíamos no sofá, em alguns momentos ele me usou de cobaia para passar algumas falas que ele teria que interpretar logo menos, mas em todas as nossas tentativas de fazer uma cena romântica entre o mocinho e a mocinha, acabávamos rindo e muito. E tudo isso devido a minha péssima vocação para atuar.

Por volta das 13h já estávamos prontos e indo até o teatro que ficava na avenida central de Montevideo, e como esperado, Matías já estava nos esperando do lado de forma mexendo em seu telefone.

- Incrível como você sempre chega antes de nós. – Falei assim que ficamos frente a frente com o argentino.

- Estelinha! – Ele me abraçou de forma carinhosa. – Encito!

- Não finge que não viu a gente, Matí. – Enzo revirou os olhos, com um sorriso divertido nos lábios.

- Achei melhor encontrar vocês antes que o seu cão de guarda aparecesse te farejando. – O mais novo deu de ombros, coçando a cabeça. Com certeza estava se referindo ao agente do amigo.

- E por acaso ele já chegou? – Quis saber o mais velho.

- Está lá dentro, por isso achei melhor espera-los aqui fora. – Matías apontou para a construção atrás de si.

- Acho melhor entrarmos, então. Matías, você se importa em fazer companhia para Estela enquanto eu realizo o teste? – Enzo ajeitou a jaqueta no corpo.

- Mas é claro que não, vou adorar fazer comentários ácidos sobre os atores com a minha nova amiga. – O mais novo jogou uma piscadela para mim, arrancando um riso comedido de minha parte.

Seguimos em direção a entrada do teatro, Enzo foi na frente e Matías e eu procuramos algum lugar mais afastado para acompanhar os testes. Algumas filas de rapazes e moças apreensivas começavam a se aglomerar, o que na visão de Matías, era extremamente normal.

Nos ajeitamos na penúltima fila do teatro e esperamos até o momento em que Enzo fosse chamado.

- Ah não, isso não pode ser real. – Matías coçou a cabeça, nervoso, ao ouvir Enzo ser chamado para subir ao palco.

- O que houve? – Perguntei, sem entender a reação do rapaz ao meu lado.

- A garota que vai fazer o teste com o Enzo agora... – Ele estava branco.

- O que tem? É alguma peguete sua? – Ri nasalmente.

- Antes fosse. – Ele engoliu seco.

- O que tem a ver então? – Revirei os olhos.

- É a Miranda, ex namorada do Enzo. – Ele soltou de uma vez.

De forma automática, virei minha cabeça para frente do palco a tempo de ver os dois se aproximando. Enzo visivelmente desconfortável, e ela...bem, ela estava sorrindo para ele como se estivesse feliz com os acasos da vida.

Aquilo só podia ser brincadeira.

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Demorei mas apareci, peço perdão pela demora, pessoal!

Tive um congresso no final da semana passada e voltei doente...enfim, hoje que estou tentando retomar um pouco minha rotina.

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Um beijo da tia Vick <3