Capítulo 2 - A química e outras drogas
Por Estela
- Então Estela, me fale mais sobre você. – Enzo me olhava com uma certa empolgação refletida em sua íris, e meu Deus, que íris.
Foco!
- Não sei o que dizer, na verdade. – Dei de ombros percebendo o quão poderia ser cansativo aquele jantar por novamente ter que falar tudo sobre mim para um estranho, mas tudo bem, eu teria tido esse momento com o outro mesmo.
- Bem, vou começar as apresentações então, quem sabe assim você se solta um pouco. – Ele sorriu de canto. – Me chamo Enzo Roldán, fiz 31 anos em março, sou uruguaio e estou no Brasil a trabalho.
- Uruguaio? – Arqueei as sobrancelhas em sinal de espanto.
- Sim. – Ele riu. – Meu português é tão bom assim que você não percebeu?
- Olha, sinceramente, é sim. – Eu ri um pouco mais relaxada. – Tudo bem, meu nome é Estela Alencar, tenho 27 anos, sou advogada e nunca viajei para fora do país, apesar de que é algo que desejo fazer em breve.
Enzo me olhava de forma encantadora, quase como se estivesse tão hipnotizado por mim, quanto eu por ele. E só de pensar nessa possibilidade, senti meu rosto queimar.
- Você está nervosa de novo, algum problema? – Ele questionou.
Droga! Porque ele tem que ser tão observador?! Ou será que sou eu quem está entregando demais as minhas emoções?!
- Não estou nervosa. – Pigarreei. – Me fale mais sobre o seu trabalho, o que você faz? Ainda mais aqui no Brasil.
Enzo se recostou na cadeira em minha frente e enrijeceu os músculos, os quais estavam ainda mais definidos por debaixo da regata branca e semi transparente. Agora quem parecia nervoso era ele.
- Estou participando de um projeto artístico, nada muito importante. – Ele deu de ombros, parecia incomodado com a própria resposta.
Então você é um artista? De qual esfera? – Tentei arrancar um pouco mais.
- Sou aspirante a fotografo, gosto de ver o mundo através das lentes, me encanta. – A tensão em seus ombros diminuíram.
- Imagino que viaje bastante, então. – Sugeri.
- Um pouco. – Enzo sorriu de canto.
Devo dizer que sua resposta quebrou um pouco das expectativas que eu estava quase criando, mas levando em consideração que provavelmente eu não o veria mais depois daquela noite, eu deveria guardar qualquer tipo de intenção além daquele jantar, ainda mais levando em consideração que não éramos nem parar estar nos falando neste momento.
- Espero um dia ser igual a você e poder viajar bastante. – Soltei um suspiro.
- Seu trabalho é muito estressante? – Enzo apoiou seu queixo em sua mão direita, sempre olhando de forma intensa em meus olhos.
- Digamos que sim e não. – Ri tomando um gole de caipirinha logo em seguida. – Imagine um lugar onde praticamente tudo fica sempre nas suas mãos para resolver, um lugar onde tirar férias é artigo de luxo, pois então, esse é meu trabalho.
- Onde está a parte não estressante? – Ele questionou interessado.
- No fato de ser algo que é prazeroso de fazer, não me imagino fazendo outra coisa, gosto e muito de ser advogada. – Sorri com orgulho.
Enzo me acompanhou enquanto pedia ao garçom mais uma rodada de bebida, já estaríamos no 4º ou 5º copo, e se eu não me policiasse eu poderia muito bem dar um belo de um PT na frente dele.
- Espero um dia ter a honra de conhecer mais do seu trabalho, sou completamente leigo com qualquer coisa relacionado a leis. – Ele abriu um sorriso.
E uma ponta de expectativa apareceu no meu cérebro.
- Eu espero o mesmo não só em relação ao meu trabalho, mas também quanto ao seu, gosto de apreciar boas fotografias.
- Como tem certeza de que minhas imagens são boas? – Seu ar desafiador me fez perder o fôlego.
- Apenas tenho uma intuição forte. – Devolvi.
- Me diga, Estela, o que houve mais cedo antes que eu viesse até você?
– Enzo me hipnotizava com seus olhos castanhos quase verdes.
- É uma história curta derivada de histórias longas. – Desviei o foco.
- Eu tenho todo o tempo do mundo. – Ele aproximou seu rosto.
Se não fosse pela mesa, estaríamos perigosamente perto um do outro.
- Bem, como você deve ter constatado eu levei um fora, estava com um encontro marcado e o cara não apareceu, é a primeira vez que isso acontece, mas existe a primeira vez para tudo. – Dei de ombros. – Eu não o conhecia pessoalmente, faríamos isso hoje, mas talvez isso tenha acontecido como um sinal de que eu não devo ficar procurando em aplicativo de namoro alguém para dividir a vida.
- Você tem esse desejo? De encontrar alguém com que possa dividir a vida?
- Sim, tenho. Mas não vou procurar por isso novamente tão cedo. – Sorri fraco.
- Não está desistindo do amor, não é? – Enzo perguntou com um pouco de diversão, como se quisesse trazer leveza para a conversa.
- Não, nunca conseguiria, sou uma romântica incurável. – Sorri. – Mas vamos parar de falar de mim, o que um uruguaio como você está fazendo sentado com uma brasileira pé frio no amor? Era para você estar desfrutando das melhores baladas do Rio de Janeiro enquanto flerta com as meninas mais bonitas da cidade.
- Não sou fã de baladas, quanto menos pessoas ao redor, melhor. – Ele tombou a cabeça. – Fora que festa alguma supre a honra de desfrutar da sua companhia.
- E o que você estaria fazendo caso eu não tivesse tomado um furo com meu encontro? Você estava sozinho desde quando cheguei. – Era a minha vez de ser curiosa.
- Provavelmente eu tomaria mais alguns drinks e iria para o meu quarto descarregar as fotos que tirei ao longo do dia. – Ele deu de ombros.
- Então eu fui um efeito colateral não previsto para a noite. – Flertei levando o copo de bebida novamente em meus lábios, sempre sendo acompanhada dos olhos do uruguaio.
- Digamos que sim. – Ele riu. – E provavelmente eu também fui para você.
- Bem, eu costumo terminar o dia sozinha, não iria ser uma surpresa se isso acontecesse hoje também, então de certa forma, sim, você foi um efeito colateral não previsto. – Cruzei os braços.
- Não está sozinha agora. – Uma leve tensão começou a correr no ar.
Mas não era uma tensão ruim, era boa, atraente e hipnotizante. Algo nos olhos de Enzo me chamavam a atenção, eu sabia que eu já tinha visto aquele rosto em algum lugar, mas talvez com a bebida subindo cada vez mais em minha cabeça eu não conseguiria estabelecer uma linha de raciocínio tão boa para descobrir.
- Acho que passei um pouco do ponto na bebida hoje. – Desconversei.
- Não está acostumada a beber? – Ele pareceu um pouco frustrado pela quebra do clima.
- Não em grandes escalas. – Revirei os olhos. – Acho que talvez fosse melhor eu ir para casa, acredito que tenho tomado muito do seu tempo.
- Posso te acompanhar, se quiser. – Ele sugeriu e eu sorri como resposta.
Enzo sinalizou para que o garçom viesse até nós com a conta, por mais que eu tivesse insistido muito, o uruguaio fez questão de arcar com todas as despesas daquela noite me deixando um tanto quanto envergonhada.
Ao levantar da mesa eu percebi o quanto eu realmente estava sob efeito da bebida, tudo começou a querer girar e eu estava focada em não desmaiar na frente daquele homem.
- Você está se sentindo bem? – Enzo depositou gentilmente a palma de suas mãos em minhas costas como se quisesse me trazer algum tipo de suporte.
- Sim, está. – Menti.
Guiada por ele, seguimos até o hall do hotel onde paramos em frente ao elevador.
- Obrigada por me convidar para jantar, me senti um pouco melhor com tudo o que aconteceu. – Sorri gentil.
- Eu quem agradeço por ter aceitado o convite, fez com que eu conhecesse uma pessoa incrível. – Ele também sorria.
Novamente fomos preenchidos por uma tensão gostosa, aquele era o momento em que provavelmente nos despediríamos e cada um viveria sua vida no dia seguinte como se nada tivesse acontecido.
Percebi que Enzo me olhava com certa expectativa enquanto se aproximava um pouco mais de mim. Não estivemos tão perto durante o jantar como estávamos agora. Eu podia sentir o cheiro amadeirado vindo de sua pele e o calor de seu hálito.
Não recuei ao sentir as investidas dele, pelo contrário, fiquei parada, estática, esperando por aquilo que eu desejei durante a noite inteira, beijar aquele cara.
Como se ouvisse os meus pensamentos, Enzo me puxou delicadamente pela cintura com a mão direita, enquanto utilizava a esquerda para acariciar minhas bochechas.
O toque aveludado de seus dedos fez com que meu corpo arrepiasse da cabeça aos pés e eu sentia como uma corrente elétrica nos conectando a cada segundo.
Enzo se inclinou um pouco para chegar até meus lábios, e delicadamente os beijou, como se quisesse permissão para continuar.
Como sinal de consentimento, entrelacei meus braços ao redor do seu pescoço e tomei a liberdade de acariciar seus cabelos negros enquanto intensificávamos o beijo.
A química entre nós era algo inexplicável, eu podia sentir que a cada toque de suas mãos ao redor do meu corpo, algo dentro de mim acendia, e eu queria mais.
- Isso foi... – Comecei tentando recuperar o fôlego.
- Desculpe, eu não queria... – Ele já estava tentando se desculpar, claramente envergonhado.
- Não, não é isso! – Me apressei a dizer, inclinando-me rapidamente para cima.
E foi justamente esse gesto que me pegou.
No momento em que levantei a cabeça, rapidamente minha visão ficou turva e eu senti como se tudo o meu redor estivesse em câmera lenta, eu sabia que ia desmaiar, sabia que minha pressão estava mais baixa do que eu poderia sequer mensurar, só não sabia que ela iria estragar aquele momento.
Não consegui falar nenhuma palavra a mais, foi tudo tão rápido que eu só me lembro de sentir as mãos desesperadas de Enzo em volta de mim enquanto eu desfalecia em seus braços.
Eu havia apagado.
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Estou viajando mas não podia perder a oportunidade de postar mais um capítulo fresquinho!!
Espero que gostem! Não deixem de comentar e deixar uma estrelinha.
Um beijo da tia Vick!
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