Capítulo 14 - Feliz ao teu lado
Por Estela
Os dias foram passando sem muitas surpresas.
Minha situação com Otávio, meu chefe, como eu bem imaginava, não passou de uma pequena paranoia da minha cabeça. Nosso relacionamento, depois daquele dia, não havia ficado estranho e tínhamos voltado ao profissionalismo de sempre, o que me levou a crer que tudo aquilo não passou de um estado de euforia por conta de todo o sucesso que o escritório estava, cada vez, fazendo mais.
Já com Bruno, as coisas continuavam mornas. Ele já estava a alguns dias sem aparecer no escritório e estávamos conversando pouco por mensagens, o que corroborava ainda mais as teorias da conspiração feitas pela Alice a respeito de tudo aquilo.
Pelo sim e pelo não, decidi dar um tempo para que tanto ele, quanto eu, pudéssemos colocar a cabeça em ordem e voltar a conversar como dois adultos maduros.
Já com Enzo, eu não tinha nenhum tipo de reclamação, pelo contrário, tudo estava fluindo cada vez melhor, mesmo com os burburinhos a respeito de quem seria a namorada brasileira misteriosa do uruguaio.
Hoje era sábado, e como já estava começando a virar costume, Enzo encontrava-se em meu apartamento, brincando com meu gato.
- Chiquita, sei que parece arriscado, mas eu realmente gostaria de dar uma volta com você hoje à noite, quer dizer, existem tantos lugares aqui no Rio de Janeiro, não é possível que não haja um em que eu passe desapercebido. – Enzo colocou Salém no chão e caminhou até mim no sofá, deitando em meu colo logo em seguida.
- Bem, posso tentar pensar em algum lugar, apesar de que eu só consigo imaginar que você só se passaria desapercebido se fossemos para um bar bem pé sujo. – Ri com a ideia.
- Pé sujo? – Ele me encarou confuso.
- Sim! – Gargalhei. – Pé sujo é a mesma coisa de bar raiz, bar de bairro, com cadeira de plástico e litrão barato com alguns velhos bem bêbados de cachaça jogando sinuca.
- Me parece que você conhece bem esse tipo de lugar. – Ele me olhou desconfiado e com um sorriso divertido nos lábios.
- Digamos que fui criada em um bairro mais humilde, sei bem como é ir até esses lugares para comprar alguma coisinha que esteja faltando em casa para o almoço. – Dei de ombros.
- Me parece bom. – Um brilho no olhar de Enzo surgiu.
- Espera, não está falando sério, né? – O olhei perplexa.
- Porque não? Vou adorar conhecer as raízes da minha chiquita. – Ele gargalhou e eu o acompanhei.
- Tudo bem...pode ser que isso seja divertido. – Concordei com a ideia.
- Ótimo, iremos em um pé sujo então. – Enzo estava realmente muito empolgado com a nossa saída.
Desde o dia em que a nossa foto foi publicada nas redes sociais, Enzo e eu procurávamos ser bem discretos em nossos encontros, sendo a maioria deles na casa um do outro.
Hoje seria de fato a primeira vez que sairíamos para um lugar público desde o surgimento da fofoca.
Já estávamos prontos para levantar do sofá e irmos arrumar algo para comer, quando o telefone de Enzo tocou, evidenciando uma chamada de vídeo de um tal de Matí, e na hora me lembrei do rapaz que havia interpretado o Roberto Canessa no filme, e até então um dos melhores amigos do uruguaio.
- Ah, é o Matías, ele está enlouquecido para conhecer você. – Enzo se ajeitou ao meu lado, arrumando as madeixas. – Pronta para conhecer um dos meus melhores amigos?
- Acho que sim. – Sorri fraco, um pouco tensa por dentro.
Enzo me abraçou com sua mão livre e atendeu a ligação.
- ¡Maldita sea, Enzito! ¡Pensé que no me ibas a contestar! – O rapaz, que mais parecia um adolescente berrou do outro lado.
- No seas idiota, claro que respondería. – Enzo respondeu em seu espanhol perfeito. – Quero que conheça uma pessoa.
- Não me diga que finalmente vou ver em cores a futura Sra. Vogrincic? – Matías perguntou animado.
- Essa é Estela, mi chiquita. – Enzo virou o telefone para o meu lado e pude ver melhor as feições de Matías.
- ¡Hola bebé! Es un placer conocer finalmente a la mujer brasileña que le robó el corazón a mi amigo. – O loiro acenou do outro lado da tela.
Pelo pouco de espanhol que eu sabia, eu entendia que ele estava dizendo que era um prazer conhecer a pessoa que conquistou o amigo.
- É um prazer conhece-lo também, Matías. – Eu respondi acenando de volta.
- Enzito está te dando muito trabalho por aí? – O loiro mantinha um sorriso divertido nos lábios.
- Ah você não sabe quanto... – Ri comedida e Enzo revirou os olhos.
- Ei, Enzo! Espero que não demore a trazer para cá sua chica! – Matías voltou sua atenção para o moreno ao meu lado.
- Tá, tá, tá, agora chega, sim? Vou desligar, Estela e eu temos planos para hoje. – Enzo foi se despedindo.
- Uh...planos! Sei bem os planos. – Matías gargalhou de forma maldosa.
- Adíos, Matías! – Enzo desligou, soltando uma lufada de ar logo em seguida, o que me fez soltar uma risada.
- Desculpe pelo humor intenso de Matías, nena – Ele se virou para mim.
- Eu particularmente, gostei. – Sorri confiante.
Enzo me acompanhou e deixou um selinho em meus lábios.
O resto da nossa manhã/tarde seguiu de forma monótona. Cozinhamos juntos, rimos, dançamos e discutimos sobre o último albúm da Billie Elish.
Pouco mais das 18h, já estávamos seguindo para um bairro bem afastado do centro do Rio de Janeiro, e como combinado, escolhi o bar mais raiz que tinha por ali.
Assim que chegamos, a primeira coisa que fiz foi pedir uma dose de cachaça e entreguei para Enzo que me olhou desconfiado.
- Que tipo de bebida é essa? – Ele questionou.
- Digamos que é o teu rito de passagem, se você não tomar pelo menos uma dose de cachaça no Brasil, você viveu errado. – O encorajei. – Juntos?
Enzo respirou fundo e segurou o copinho em suas mãos, e depois de muito suspense, virou a dose de uma só vez, juntamente comigo.
- Dios mio! – Foi o que saiu de seus lábios logo em seguida. – Como consegue beber isso tão facilmente, chiquita?
- Anos de prática, mi amor... – Deixei no ar. – Vem, está tendo karaokê nos fundos.
Entrelacei meus dedos aos de Enzo e nos guiei até a parte interior do bar, onde uma fila se aglomerava para cantar.
- Não está pensando em cantar, né? – O uruguaio riu introvertido.
- Claro, e nós dois vamos fazer isso juntos. – Falei já na fila.
- Oh, não, não, nena! Eu não sou um bom cantor. – Ele tentou fugir.
- Eu muito menos, vem é a nossa vez. – O entreguei um microfone.
Escolhi o clássico dos clássicos para compor aquele momento: Evidências.
Assim que a melodia começou a ressoar, Enzo e eu cantávamos de forma bem descompensada, ele totalmente fora do ritmo e eu tentando ao máximo não rir do portunhol dele, mas foi no refrão que tudo se encaixou, mostrando que aquela música era um hino atemporal e sem fronteiras.
- E NESSA LOUCURA, DE DIZER QUE NÃO TE QUERO, VOU NEGANDO AS APARÊNCIAS, DISFARÇANDO AS EVIDÊNCIAS... – Cantamos juntos arrancando alguns gritos de alguns velhos que estavam acompanhando.
No fim da canção, Enzo recuperou o fôlego e me puxou para si.
- Soy tan feliz a tu lado niña.
O uruguaio me beijou, arrancando uma comemoração do público do bar.
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Podemos considerar o Encito um brasileiro naturalizado?!
Depois dessa eu acho que sim, né?
Deixem seus comentários e não esqueçam do voto <3
Um beijo da tia Vick!
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