Capítulo 7 - A lenda de Salen. Parte II
Ponto de vista - Amélia Romnly.
Quatro semanas já tinham se passado, 28 dias, 672 horas. E eu não tinha notícia alguma de Salen.
Nesse meio tempo não ousei entrar em sua casa, sua esposa ficou por lá o tempo todo. Rosa. Era uma mulher muito bonita, alta e magrela. Ostentava cabelos escuros e compridos, e grandes olhos azuis. Mas sua personalidade não era nada mais do que estragada. Admito que nunca cheguei a conversar com a mesma frente a frente, mas ouvia por intermédio não apenas de Salen, mas também da vizinhança, que a moça não era flor que se cheire, e Salen a traía descaradamente comigo. Sei que não devia me orgulhar disso. Mas se eu fosse casada com ela, também a trairia.
Um enjoo repentino me tirou de meus pensamentos e me fez correr para a janela. Coloquei a cabeça para fora da mesma e vomitei no canteiro de flores bem abaixo de minha janela. Pobres flores.
Tentei não fazer muito barulho para não alarmar meus familiares. Eu já estava nesse ciclo desde a partida de Salen, e eu jurava que estava sofrendo de tristeza. Quem me dera que isso fosse verdade.
Voltei minha cabeça para dentro do meu quarto novamente e senti o quarto girar. Tive que me segurar com força no batente da janela para não cair com tudo no chão. Me apoiei na parede até chegar em minha cama, aonde me sentei e respirei fundo.
O mundo ao meu redor girava.
O que diabos estava acontecendo comigo? Estava tentando melhorar aquela sensação, sentando na minha cama quando a porta do meu quarto foi aberta e minha mãe apareceu, sorridente.
Sua expressão mudou completamente quando me viu passando mal. Ela correu em minha direção e se ajoelhou, tocando na minha testa.
- Amélia. Há quanto tempo está se sentindo assim?
- Faz...pouco tempo. - tentei encará-la, mas olhar para frente me deixava pior.
- Está enjoada mais uma vez?
- Estou tonta. - disse, me deitando e fechando os olhos. Aquela sensação estava me matando.
- Amélia... - minha mãe disse, se levantando, pude perceber em sua voz certo receio. - você é preservada não é, minha filha? - gelei.
Ser preservada significa virgem.
Eu não era virgem.
- Mãe, a senhora acha que eu... - me levantei rapidamente, ignorando a tontura e olhando para minha mãe, sentia que as lágrimas já começariam a descer.
- Você é preservada, não é Amélia? - ela estava estressada, e eu finalmente comecei a chorar. Ela entendeu tudo. - quem é o pai? - perguntou, em suspiro e eu neguei.
- Eu não posso estar grávida, mãe, eu não... - ela interrompeu a minha fala com um tapa certeiro no meu rosto.
- Você é uma meretriz! - gritou e eu comecei a chorar, negando desesperadamente. - dormiu com um homem antes do casamento! - gritou e levou as mãos à cabeça. - quem é o pai, Amélia? - não respondi e ela me puxou pelos cabelos. - quem é o pai? - gritou e eu chorei, por causa da dor que aquele gesto causava.
- Eu...
- Fora da minha casa! - gritou.
- Mas e se eu não estiver grávida? - perguntei, em meio aos soluços. Ela ainda puxava-me pelos cabelos e me encarava com raiva.
- Você continua sendo uma vergonha. - me puxou com o força, me arremessando para fora da cama. - quero você fora, já! Antes que seu pai volte e tenha que se deparar com esse desgosto.
Chorava de forma desesperada. Eu não estava grávida. Eu não podia ter um filho de Salen.
- Mãe... - tentei argumentar em meio ao choro mas ela me interrompeu, com um grito.
- Fora, agora!
- Não tenho pra onde ir. - disse, bem baixo, quase em um sussurro, enquanto encarava o chão.
- Não me importa, Amélia. - ela caminhou até a porta do meu quarto e apontou para fora dele. - saia logo, menina. Se você tem a ousadia de engravidar, pelo menos tenha a ousadia de contar ao pai.
O pai estava a quilômetros de mim.
- Você vai mesmo me expulsar por uma acusação boba? Eu não estou grávida mãe. - disse, agora firme.
- Olhe nos meus olhos e diga que você não dormiu com ninguém. - eu não conseguiria mentir na sua cara.
Continuei encarando o chão, as lágrimas caindo agora de forma mais controlada.
- Eu sabia. - suspirou. - fora Amélia, eu não estou brincando. - me levantei devagar, tentando me recompor.
Ela estava me expulsando de casa.
Eu estava grávida. Eu estava grávida?
Eu poderia estar grávida.
Eu era uma vergonha.
Caminhei devagar até passar pela porta do meu quarto. Olhei bem nos olhos da minha mãe, antes de sair de casa. Sentia raiva dela. Uma raiva que nunca pensei em sentir, não por ela. Então olhei para minhas mãos, que estavam trêmulas e a encarei mais uma vez.
Se eu soubesse que seria a última vez que a veria, teria me despedido direito.
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- Chegamos. Cadê o ouro? - Louslen perguntou, balançando sua mão gorducha na minha frente. Ajeitei meu capuz e respirei fundo, logo em seguida coloquei uma mão no meu bolso e puxei uma moeda de ouro lá de dentro. Mas antes de entregá-la ao senhor perguntei.
- O senhor tem certeza que Salen está ali dentro? - ele assentiu com a cabeça. - Ok então. - passei a moeda para sua mão e acariciei minha barriga. - agradeço pela carona. - ele abriu um largo sorriso.
- Agradeço pelo ouro. - fiz uma careta e revirei os olhos. Esses camponeses de hoje em dia.
- Pode me ajudar a descer? Pode não parecer mas essa barriga pesa. - foi a vez dele de revirar os olhos.
- Não estava no contrato isso, mocinha.
- Que contrato? - perguntei, sem paciência.
- O que eu estabeleci desde o momento que você me pediu uma carona.
- Faça-me o favor! - exclamei, virando as costas para o homem e descendo sem ajuda da sua carroça. - você é mesmo um cavalheiro. - provoquei e ele assentiu com a cabeça.
- Boa sorte ali dentro. E uma dica...não fale para ninguém o seu verdadeiro nome.
- Assim como eu não falei para você? - ele pareceu surpreso, juntando as sobrancelhas, mas bufou, chicoteando os cavalos, que por sua vez avançaram.
Louslen foi embora. Eu estava sozinha de novo...não, não! Desculpa! Me repreendi, levando mais uma vez a mão para minha barriga e a acariciando.
- Chegou a hora de conhecer o papai. - disse, para mim mesma, ou melhor, para meu filho.
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Eu tinha saído de casa faziam 4 meses. E sim, eu estava grávida, como você já pode deduzir. E eu sabia que era de Salen. Só podia ser dele.
Descobri que Salen estava no castelo por meio de mexericos, e desde o começo tracei meu caminho. Eu precisava encontrá-lo. E a medida que andava, minha barriga crescia e minha disposição diminuía. Mas eu não desisti. Demorei 4 meses para chegar ali. E agora, eu só queria ir embora.
Se Salen estava no castelo, ele havia destronado Joshua. Isso significa que agora ele será rei?
Consegui entrar no castelo pelos fundos e rapidamente me misturei na multidão que caminhava. Me deixei ser levada pela mesma. Eles deviam estar indo para o rei. Hoje era o dia das reclamações, dos pedidos, pelo que via ali.
O rei. Será que o rei agora era Salen?
A multidão virou em um corredor e eu fiz o mesmo, apenas para dar de cara para um salão imenso.
As pessoas pareciam miniaturas perto do tamanho daquele edifício, e as altas colunas que sustentavam a estrutura eram cobertas de ouro. Olhei para cima e percebi que no teto havia desenhos em tons de azul. Me sentia abençoada por poder ver aquilo. Sorri involuntariamente. Era lindo. Olhei para frente e percebi que estava atrasada, e a multidão estava bem a minha frente. Corri para alcançá-los, e percebi que formavam uma fila. Olhei então para o lado e o vi.
Salen estava sentado no trono. No trono do rei.
Ele usava a coroa e tudo mais. Senti meu corpo virar gelatina apenas ao vê-lo, e meu coração bateu mais forte.
Ele estava ainda mais lindo. O cabelo loiro e comprido estava bem penteado e distribuído de forma regular nos dois ombros e suas roupas vermelhas e gigantes lhe davam um ar de intocável, que podia causar medo facilmente.
Mas não a mim.
Continuei caminhando atrás da multidão e parei ao lado de um homem alto. Todos formaram um "u" ao redor de Salen, e eu não conseguia parar de olhá-lo. Todos conversavam ate que subitamente um silêncio se seguiu e eu vi que todos se curvaram, então fiz o mesmo.
A barriga me atrapalhou um pouco e eu me senti mal tendo que me curvar na frente do pai do meu filho, mas mesmo assim o fiz.
- Sejam todos bem vindos, podemos começar. - Salen estava de pé agora, sorrindo. Aquele sorriso me matou. Senti que podia morrer satisfeita, apenas por ter visto aquele sorriso mais uma vez. Senti uma lágrima escorrer pela minha bochecha e sorri.
De um a um, as pessoas saiam de seus lugares e iam até o meio, replicar ajuda para Salen, ou apenas para bajula-lo, e ele escutava todos com atenção.
Salen sempre foi um homem tão bom, até hoje me pergunto aonde ele se perdeu. Mas isso é assunto para outra hora...
A quantidade de pessoas foi diminuindo com o tempo e eu aguardava a hora de poder falar com o meu Salen sozinha.
E eu esperei, até a última pessoa se pronunciar.
- Próximo. - gritou Salen e eu olhei para os lados. Não havia mais ninguém ali. Senti minha respiração falhar e meu coração apertar.
Caminhei devagar até o meio do salão, com uma das mãos na barriga e a cabeça baixa. O que será que ele faria quando me visse? Será que ele aceitaria nosso filho? Meu coração estava disparado. Ainda não tinha o encarado. Primeiro fiz a reverência, até que finalmente levantei o olhar e encarei bem a fundo os olhos azuis, do meu Salen.
- Amélia... - ele me reconheceu de cara e eu sorri. Sorri até a alma. Sorri por Salen estar vivo, e sorri por ter a honra de vê-lo mais uma vez.
***
Olá!
Mais um capítulo bônus que não é da Hay!!
Espero que tenham gostado!
Esse capítulo ficou muito corrido, eu sei, mas "a lenda de Salen" não pode se estender muito! Então tenho que correr. E também não pode ser muito grande...senão não conseguirei postar como bônus. Então, estou em um dilema de vida kkk. (Que bagunça isso aqui kkkk)
Eu não revisei esse capítulo antes de posta-lo por motivos de: não deu tempoo! Então...me desculpa qualquer erro de coerência ou de português!
Não se esqueça de compartilhar comigo o que está achando e o que supõe que Amélia e Salen tem a ver com Hayley e Ravi! Hein?! ;)
Não se esqueça também de votar, que ajuda muito na divulgação da história e me deixa muito feliz!
Beijos para cada um, Bely.
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