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Capítulo 47 - A Batalha Final.

Olá amores, então, alguém aqui está ansioso para ler sobre a batalha? Espero que simmm hahahaha. Apesar da demora, consegui finalizar esse capítulo com muito amor e carinho.
Espero que surpreenda vocês.

Comentem o que estão achando e a reação de vocês nas cenas ! Estou muitooooo ansiosa para ler Hehe. Big beijo e boa leitura ❤️

Ps: leiam a segunda parte do cap (depois dos asteriscos) ao som dessa música sensacional que está nas mídias do capítulo...vale a pena hehe.

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Parte I.

Um dia depois.

Eu não sabia que pior que uma luta era o que vinha antes dela. Quando um bruxo chegou gritando "Por Salen! Eles estão muito próximos, precisamos nos organizar" eu entrei em pânico. O meu sangue pareceu andar ao contrário e o meu rosto ficou mais pálido que o normal.

Minhas mãos tremeram com a ansiedade e eu tive que me segurar em Ravi para não despencar de cara no chão. Jop riu da minha agonia, parecendo feliz demais com a possibilidade de um combate tão próximo.

Ravi e Jop eram os únicos que estavam comigo quando a notícia foi explanada, mas logo em seguida, a sala lotou de forma que eu temi não conseguir mais respirar.

Alberg foi o primeiro que veio em minha direção. Vestindo uma armadura cintilante e carregando um capacete na mão ele me pediu para acompanhá-lo até o porão, de onde soltariam Kioto e Rosa. Eu assenti e segui-o, Ravi fez o mesmo, preocupado em acalmar a fera enjaulada uma vez que era o único que conseguia essa façanha.

Eu já desci naquela manhã vestida como uma verdadeira guerreira. Lembro-me de ter rido de nervoso ao apoiar em meus ombros uma armadura prateada extremamente pesada por cima do vestido vermelho e confortável que fui obrigada a usar. Se eu preferiria lutar com uma calça legging? Óbvio. Se eu preferia não lutar de forma alguma? Mais óbvio ainda.

Ravi também não saia atras no quesito "guerreiro". Sua armadura era quase tão bonita e brilhante quanto a de Alberg, uma vez que a rainha Vitória fez questão de vesti-lo como o príncipe galanteador que ele não era.

Ainda não tinha visto Drago, imaginei então que ele estivesse com Bela, o que seria com certeza o mais sensato a se fazer. Ele havia me dito que lutaria como um Trox, depois disso, pareceu reflexivo demais. Talvez tenha ficado apreensivo em ter toda a sua mentira vindo à tona de uma vez só. Bom, eu ficaria, pelo menos.

Uma vez ou outra, principalmente quando ficávamos em silêncio durante o caminho até o porão, eu pensei em Amélia. Ela surgia na minha cabeça apenas para me desestabilizar. Eu imaginava mil formas de me desculpar. Imaginava mil formas de me precaver. Minha avó não era mais a mesma pessoa, isso havia ficado claro na nossa telecomunicação, mas de certa forma, a ficha ainda não havia caído. Ainda tinha esperanças que ela poderia estar secretamente do meu lado, tinha esperanças que fosse tudo encenação, mas ao mesmo tempo tinha medo de estar sendo otimista demais.

- Quero ver minha filha antes de sairmos – Rosa anunciou, assim que guardas soltaram o cadeado de sua jaula, permitindo a sua saída. Ela caminhou até ficar a minha frente, encarando-me com os olhos claros irritadiços.

- Claro – soltei, cruzando meus braços.

- Alberg pode acompanhá-la – Ravi anunciou, respirando fundo.

Alberg pareceu animado com a sugestão de Ravi. Eu não atrevi me meter. Contudo, sabia que Drago que não gostaria muito disso, mas não tinha muita escolha, afinal, não podia negar uma visita a filha de seus pais biológicos antes de um confronte que talvez desse fim às suas vidas. Não queria ser a responsável por qualquer "falta de adeus". Não queria ser a coração de gelo da história.

- Acompanhe-me, Ro...

- Não toque em mim! – Rosa alertou, tirando seu braço do campo de alcance de Alberg, cortando sua fala pela metade e caminhando escada acima, com um Alberg derrotado logo atras.

Ficamos então, só Ravi, os guardas, eu, e Kioto, até que Kioto foi solto e Ravi meteu-se na frente da fera para guia-la de forma segura até o corredor em que as outras pessoas estavam. Kioto obedeceu-o, caminhando afetado sem ligar muito para os guardar, até chegar a minha frente, sentando-se subitamente, quase em cima do meu pé.

Prendi a respiração com a proximidade.

- Muito obrigada – Ravi agradeceu os guardas por mim, uma vez que eu estava nervosa demais para o fazer com Kioto encarando-me daquela forma. – Podem nos deixar a sós por um tempo? – pediu por fim. Os guardar o acataram, claro, subindo as escadas e nos deixando sozinhos. Kioto resmungou alguma coisa quando Ravi, corajosamente, deu tapinhas em sua cabeça, sorrindo. Ele me encarou logo em seguida, com uma expressão sapeca no rosto, mas ao mesmo tempo, ilegível. – Quer acaricia-lo?

Perguntou. Ele estava brincando comigo?

- Não, obrigada – disse, deixando claro que aquela resposta era óbvia.

- Você já o acariciou alguma vez? – perguntou, curioso, enquanto usava uma das mãos para acariciar o focinho de Kioto.

- Já – respondi, respirando fundo, encarando a escada logo em seguida, ansiosa. – Nós deveríamos subir...

- Quando? – não deu o braço a torcer, ignorando meu último comentário.

- Isso importa? – perguntei, incrédula. – Precisamos subir, Ravi, estão nos esperando.

Ravi bufou.

- Eu sei disso, Hayley – abaixou a cabeça, encarando a fera, que fechava os olhos com o carinho. Exatamente igual fazia quando Amélia o apresentou a mim pela primeira vez. – Eu sei.

Finalizou sua frase sem sorrir, percebi então que havia algo errado com as suas palavras. Franzi minha testa.

- O que aconteceu, Ravi?

Ele voltou seu olhar para mim, sorrindo.

- Eu só estava lembrando de umas coisas.

- Que coisas? – perguntei, cruzando os braços.

- Você se lembra do dia em que nos conhecemos? 

Sorri fraco. Claro que eu me lembrava. Havia acabado de chegar em Scaban, estava perdida, sendo guiada por Petrici em uma carroça que eu tinha conseguido subir apenas por ter fingido um assalto e usado meus saltos como desculpa. O castelo dele era lindo. Ele era lindo. Tudo era tão... incrível e diferente... até Jop aparecer e estragar tudo.

- O que tem esse dia? – perguntei, encarando-o esperançosa.

- Eu apenas estava me lembrando de como as coisas costumavam ser antes de...

- Antes que eu chegasse e acabasse com a sua vida?

- Antes que você chegasse e me libertasse de tudo aquilo – corrigiu-me, ainda sem tirar a mão da cabeça enorme de Kioto. – Sabia que eu cai direitinho na sua história de pobre estrangeira que havia sido saqueada na estrada?

Sorri.

- É porque eu sou uma ótima atriz.

Ravi sorriu de volta.

- Não se ache tanto assim, Hayley – encarou-me a fundo. – Naquela época você não costumava ser tão irritante.

Fiquei boquiaberta.

- Você também – cruzei meus braços. – Até você chegar naquele quarto e me agarrar pelos ombros porque eu tinha visto a pintura alaranjada eu te achava bastante galanteador.

Ravi encarou-me sem expressão.

- Eu nunca pedi desculpas por aquele dia, pedi? – neguei com a cabeça. – Perdoe-me, eu estava sendo guiado pelos bruxos.

- Não precisa pedir desculpas por isso, Ravi, já passou. E eu sei disso...

Ravi respirou fundo, finalmente cortando o carinho que dava em Kioto, pendendo seu braço mais uma vez ao lado de seu corpo. Kioto pareceu não ligar muito.

- Naquele dia em que nos conhecemos pela primeira vez, lembro-me de ter adorado o seu nome.

- O meu nome? – perguntei, surpresa.

- Sim – sorriu fraco. Ele não sorria assim fazia um tempo. – Nunca havia conhecido uma Hayley antes. Não é um nome típico daqui.

- Sério? – perguntei, incrédula. Isso era interessante. – Quer dizer que eu sou a única Hayley da sua vida? – perguntei, sorrindo de canto.

- Você é a única mulher da minha vida, Hayley.

Senti que prendi minha respiração.

- E eu gostaria de ficar aqui embaixo pra sempre... relembrando o passado. Mas temo em pensar que precisamos subir... – completou logo em seguida, respirando fundo.

Concordei de primeira, ainda um pouco sem jeito e sem ar.

- Mas antes... – chamou a minha atenção. – ...eu quero que você saiba que não importa o que aconteça... mesmo que...

- Não vai acontecer nada, Ravi – cortei-o, firme. Ele não ligou, continuando logo em seguida.

- Eu quero que você saiba que eu sou muito grato por tudo que você fez por mim. Eu sou muito grato por ter me dado a chance de ficar ao seu lado – fez uma pausa. – Eu sou muito grato por ter me perdoado depois de tudo que eu fiz.

Respirei fundo.

- Por que você está dizendo isso agora, Ravi? – consegui perguntar, limpando a minha garganta.

- Hayley... você sabe o motivo...

Sim, claro que eu sabia, mas doía admitir. Doía admitir que eu não tinha controle mais de nada, que aquele podia ser nosso último momento a sós. Doía admitir que eu não fazia ideia se teríamos um futuro. Eu não queria morrer, não agora que eu tinha encontrado uma nova família.

- Hay? – chamou-me, tirando-me de meus pensamentos. – Está tudo bem?

Ravi era a minha família. Afirmei para mim mesma, finalmente.

- Está – comecei, atordoada, suspirando logo em seguida. – Eu só... – fiz uma pausa. – Eu amo você.

Ravi sorriu fraco.

- Eu também – caminhou na minha direção, puxando delicadamente a minha cabeça e beijando a minha testa. – Eu também amo você, Hayley – dito isso, ele apoiou por iniciativa própria a minha cabeça em seu peito. Acariciando o meu cabelo.

Senti seu perfume invadir minhas narinas, embriagando-me.

Eu estava apavorada. Completamente apavorada. Mas havia tomado uma decisão essa manhã, e não voltaria atras.

Eu estava com medo, mas mesmo assim, iria. Sempre acreditei que a diferença entre um herói e um qualquer era exatamente essa. Nunca realmente acreditei que um herói não sentia medo, nunca fui adepta do herói no cavalo branco. Para mim, todos têm um pouco de herói em si ao acordar todo dia e enfrentar o mundo. Para mim, a diferença entre um herói e qualquer outro é exatamente isso. O herói não é invencível ao medo, ele apenas ignora-o e vai, mesmo com medo ele vai. E vence. E hoje, eu havia escolhido ser uma heroína. Porque para mim, coragem era questão de escolha. E heroísmo não passava disso.

E eu iria ser uma heroína. E de certa forma, eu fui.

Nós subimos as escadas de mãos dadas, Kioto veio logo atrás. Chegamos no salão principal logo em seguida. A multidão pareceu me engolir. O mundo pareceu despencar, junto com a minha pressão, mas assim que Jop anunciou que estávamos partindo, engoli toda a insegurança que eu antes tinha e soltei minha mão da de Ravi. Eu precisava ser forte por eles. Eu precisava salvar Scaban por mim. Eu precisava ser a minha própria heroína.

- Hayley! – escutei meu nome ser chamado de forma delicada e doce, percebi então que Bela, vestida com um vestido maravilhosamente lindo e cor de rosa descia as escadas de forma apressada. Uma criada corria, preocupada, logo atrás.

Sorri ao encarar a pequena abrir caminho e correr exatamente em minha direção, ajoelhei-me, já preparada para o impacto que logo em seguida seu corpinho frágil e infantil faria ao bater de frente ao meu em um abraço desajeitado.

A pequena passou seus bracinhos pelo meu pescoço, puxando meu cabelo sem querer.

- Ai... ai... – resmunguei, acariciando seu cabelo macio. – Você vai me deixar careca desse jeito – anunciei, brincando. Escutei-a sorrir. Era a primeira vez que ela me abraçava daquela forma, ou de qualquer outra. Não acredito que iria embora sem me despedir dela...

- Desculpe-me, tia Hayley – soltou, delicada, enquanto soltava-se de meus braços e me encarava delicadamente. Sorri com o "tia".

- Quem te disse para me chamar de tia, hein?

- Drago – respondeu. Sorri mais forte. Claro que havia sido ele. – Por que, você não gosta? – perguntou, parecendo preocupada. Neguei rapidamente com a cabeça.

- Você pode me chamar como quiser, Belinha – fiz uma pausa, tocando seu nariz, sentindo-me estranhamente nostálgica. Bela analisou minha expressão por alguns segundos.

- Está nervosa? – perguntou, sabiamente. Fiz uma careta.

- Um pouquinho.

- Você vai ganhar, não vai? – indagou mais uma vez, esperançosa. Brinquei com algumas mechas de seu cabelo.

- Claro que vou – soltei, baixinho. – Vou ganhar e vou trazer toda a sua família de volta.

- Eu posso ir também? – arregalei os olhos.

- Claro que não, Bela, alguém tem que cuidar da vovó Vitória! – ela pareceu compreender.

- Você tem razão – soltou.

- Claro que eu tenho! – sorri. Bela voltou a me abraçar então, subitamente. Assustei-me com o gesto repentino.

- Eu vou cuidar muito bem deles, tia Hayley – Bela anunciou, em meu ouvido. – Cuida bem deles lá também, certo?

Ela era tão linda...

- Com certeza, Belinha – respirei fundo. – Confia em mim.

***

Salen já estava parado nos esperando quando chegamos no local demarcado. Quem o demarcou? O próprio Salen, em conversas com um dos bruxos que estavam do nosso lado. Qual era o local demarcado? A fronteira entre o reino dos Troxs e o Reino Canby. A quantidade de pessoas que havia lá? Mais do que o esperado.

Chegamos silenciosamente, apenas para dar de cara com Salen, parado na frente de um bando de sujeitos usando capas escuras misturados com outros usando roupas normais, ou quase isso. A primeira coisa que eu reparei foi que Amélia não estava com ele. Não soube entender se aquilo era algo bom ou ruim, mas não tive tempo de pensar muito sobre aquilo, não quando continuávamos a chegar cada vez mais perto de seu exército.

Nós estávamos em maior número, o que foi um sopro de ar fresco. Os soldados doados pelo rei Ian nos foram de longe sinônimo de muitos sorte, mesmo esses sendo humanos, aumentavam quantitativamente nosso exército, o problema começava quando a quantidade de bruxos negros aumentava qualitativamente o exército de Salen. 

E aquilo tudo... era quase doentio. Como as pessoas podiam simplesmente marcar de se matar dessa forma? Como havíamos chegado a isso, Deus?

Bom, agora não tinha mais o que fazer.

Caminhávamos em cima de neve macia e fria. Não estava assim quando passamos por ali, não sabia mais quanto tempo atrás, mas durante esse meio tempo, havia esfriado consideravelmente.

Agradeci a criada mentalmente por ter insistido para que eu usasse um vestido de manga comprida como aquele.

Paramos de andar apenas quando ficamos a mais ou menos um ou dois quilômetros de distância dele. E foi aí que toda a adrenalina pesou no meu corpo, fazendo-me tremer.

Salen estava parado com os braços, ou melhor, o braço, cruzado na frente de seu peito. A capa preta enorme escondia todo o seu cabelo claro, mas seus olhos azuis e frios eram capazes de congelar o clima de longe.

Nós estávamos posicionados de acordo com a estratégia de Alberg. Ele estava na minha frente, Ravi, Drago e Rosa estavam do meu lado. Kioto estava bem à frente de Ravi, e não pareceu muito feliz em encontrar Salen, rosnando para este de forma brutal. Bom, ele tinha rosnado para Rosa antes, mas ela parecia ter conseguido acalma-lo. Não indagaria, problemas do passado...

Ravi tinha presa a cintura uma espada enorme, Drago carregava um arco preso ao pescoço, Alberg ostentava um escudo em mãos e uma espada na cintura, eu carregava apenas uma faca na minha meia calça e Rosa, nada.

Os bruxos, e Jop, estavam atrás dos humanos, que por sua vez, estavam atrás de nós, preparados com escudos, lanças e arcos. Esperava que isso servisse.

Atrás de nós havia um bosque. Um bosque denso, com árvores altas e verdinhas. Tínhamos um plano de usá-lo no futuro.

Salen, após alguns minutos nos encarando, puxou um dos bruxos pela capa e sussurrou alguma coisa em seu ouvido. Prendi minha respiração, forçando minhas pálpebras para enxergar o que acontecia ao mesmo tempo que abraçava a mim mesma por causa do vento gelado que batia no meu rosto.

O bruxo foi liberado logo em seguida, parecendo atordoado, então começou a caminhar em nossa direção. Perdi o ar, em pânico.

- O que isso significa? – perguntei em um sussurro a Drago, que estava mais próximo de mim. – O que devemos fazer?

- Acho que ele está querendo mandar uma mensagem – Drago apontou, bufando. – Devemos escuta-la.

Mordi meus lábios, voltando novamente meu olhar para a capa escura que vinha em nossa direção, manchando a neve clara com a sua escuridão.

Cada vez que ele chegava mais próximo, eu tinha vontade de correr na direção contrária. Mas não poderia, nem se pudesse. Faz sentido? Espero que faça, porque na minha cabeça, nada fazia sentido naquele momento.

Ter que esperar a "mensagem" de Salen chegar na boca de um bruxo possuidor de magia negra era tortura. Ainda mais quando ele era tão devagar...

- Se ele tentar alguma coisa, você o acerta com magia, entendeu, Hayley? – Alberg perguntou, sem ao menos me encarar.

- Claro – respondi, com o coração na boca.

- Ele não é imbecil o suficiente para tentar alguma coisa – Rosa apontou, sem se preocupar em falar baixo. Alberg também não encarou-a.

- Nunca se sabe... tudo é possível quando se trata do meu irmão.

Isso parecia cada vez mais ser uma verdade.

A fala de Alberg culminou por coincidência na aproximação significativa do bruxo, que ao perceber nosso nervosismo com a sua presença, levantou os braços no sinal universal de rendimento. Engoli a seco.

- Eu trouxe uma mensagem de Salen – anunciou, parecendo quase tão ansioso quanto nós, enquanto parava a uma distância significativa da ponta de nosso grupamento, também conhecida como Alberg.

- Aproxime-se, bruxo.

Ele ordenou, fazendo com que o homem caminhasse cuidadosamente em sua direção, ainda com os braços estendidos.

- Fale – ordenou mais uma vez, assim que o bruxo estava suficiente perto.

- Ele quer falar com sua neta antes de tudo – soltou, encarando-me rapidamente. Respirei fundo, levantando meu queixo, piscando diversas vezes para disfarçar meu desconforto. Alberg assentiu imediatamente com a cabeça, afinal, já havíamos combinado que isso aconteceria caso Salen quisesse ou não.

Mas ao ouvir aquilo ali, no presente, no meio daquela neve, não pareceu mais algo tão sábio a se fazer.

- Ela não irá sozinha – Ravi anunciou, encarando-me preocupado.

- Eu vou com ela – Rosa anunciou, dando um passo para frente, assustando o bruxo mensageiro. – Não será problema, não é mesmo, Mike?

Ela o conhecia? Quando o bruxo negou com a cabeça, assustado, pareceu que sim.

- Não. Você não vai – Drago foi firme. – Eu vou.

Engoli a seco, sem paciência, sentindo minhas mãos suarem de forma descontrolada.

- Rosa me acompanha – anunciei, afinal, eu havia a prometido que proveria um encontro com Salen em troca de sua ajuda no planejamento de batalha. Hora de pagar minhas dívidas. – Sem mais discussões. Vamos.

Anunciei, encontrando forças suficientes para me locomover na direção do bruxo, passando por Alberg e respirando fundo. Graças a Deus não teve mais reclamações.

- Se algo acontecer... dê um sinal – Alberg soltou, assim que passei ao seu lado. Assenti com a cabeça. Rosa veio logo atrás de mim. – Cuide-se, Rosa.

Falou por último. Rosa ignorou-o. Se eu estivesse com cabeça o suficiente para pensar em algo além de Salen, teria sentido pena dele.

Quando finalmente cheguei ao lado do bruxo ele abaixou seus braços e fez um sinal para que eu e Rosa caminhássemos na sua frente. Não pensamos duas vezes, seguindo lado a lado na direção de Salen.

Não conseguia ao menos respirar. Minhas pernas se moviam no automático e meu queixo, estava empinado por uma simples questão de aparência. Eu tremia. Não sabia se por conta do frio ou do medo que sentia ao diminuir cada vez mais a distância entre meu avô e a minha pessoa. Lembro de ter me virado uma hora para enxergar o que acontecia atras de mim, e ter cruzado meu olhar com o de Kiotos, que estranhamente, parecia pronto para me seguir.

Rosa murmurava algumas coisas em voz baixa. Parecia quase indiferente a nossa aproximação, encarando friamente Salen nos olhos. Eu tentei fazer o mesmo, mas logo desisti, voltando meu olhar para tudo ao redor dele, menos ele. Ainda não tinha nutrido coragem suficiente para isso.

Quanto mais andávamos, mais longe parecíamos estar, o bruxo caminhava mais devagar que nós, logo atrás. E eu, bom, estava brutalmente anestesiada com aquela situação. Será que Salen queria me matar? Ali. Agora. O que ele queria comigo, afinal? Conversar? Eu não fazia ideia e a expectativa me corroía por dentro.

Nossos passos ficaram cada vez mais regrados, precisos, e mais rápidos também. A ansiedade movia-me mais rápido do que eu aspirava.

Quando estava a poucos metros de Salen, consegui enxerga-lo com os olhos fixos na minha movimentação. Engoli a seco. Seu olhar era tão sem expressão que me causava arrepios. Como alguém podia ser tão frio como ele? Quem era ele?

Perdi todo o foco nos meus questionamentos quando percebi que no máximo dez passos me deixariam cara a cara com aquele bruxo, e aquele exército. Senti minha respiração falhar. Rosa não pareceu abalada, chegando perto dele antes de mim.

O bruxo mensageiro aos poucos passou para a minha frente, encaixando-se mais uma vez no meio de todos aqueles outros quase clones seus. O cabelo claro de Salen escorregou para fora do capuz e brilhou com a pouca luz solar. Percebi então o quão parecida a cor de seus cabelos era da do meu. O quanto seus olhos se assemelhavam aos meus. O quanto ele parecia com alguém prestes a morrer de tédio, não como eu.

Estava tão perdida em meus pensamentos que quando dei por mim. Estava frente a frente a ele. Tive que me segurar para não demonstrar o susto, prendendo a minha respiração, com o meu coração batendo na palma da minha mão. Podia sentir minhas veias pulsando. Tudo parecia silencioso até demais e eu só queria parar de sentir medo...

- Salen – soltei, levantando o queixo e respirando fundo. Ele fez uma reverência com a cabeça, encarando-me a fundo, antes de voltar seu olhar para Rosa e fazer o mesmo.

- Olá, esposa – soltou, alto. Rosa encarou-o com a expressão petrificada.

- Olá, esposo – fez uma reverência lenta. – Como anda a vida de mestre da magia negra e amante de Amélia Romnly?

Salen encarou-a sem expressão.

- Anda ótima. Bem satisfatór...

Ele não conseguiu terminar sua fala, pois Rosa inconsequentemente deu um tapa certeiro em seu rosto, que ecoou por todo o terreno congelado e deixou a todos boquiabertos. Eu não tive outra reação senão encarar tudo aquilo assustada. Rosa limpou sua mão no vestido antes de respirar fundo e sorrir para o marido.

Salen levou sua única mão ao rosto, acariciando-o enquanto recobrava sua postura e encarava a mulher. Ele sorriu.

- Continuando... – voltou a falar, como se nada tivesse acontecido. – ...a vida com Amélia não podia estar melhor... aliás... falando nela... – assobiou subitamente, assustando-me. Franzi a sobrancelha. – Venha dar um olá para as convidadas, querida.

Oh não...

A multidão de bruxos que se posicionava ao lado direito de Salen abriu passagem rapidamente para alguém que caminhava de forma certeira em seu meio. Não acreditei nos meus olhos quando eles reconheceram quem aparecia ali.

Amélia.

Amélia usava um vestido de veludo preto que cobria-a do pescoço aos dedos do pé. Seus cabelos castanhos caiam em ondas pelos seus ombros e seus olhos da mesma cor estavam direcionados diretamente a mim. Senti minha garanta se fechar.

Aquilo não podia ser possível. Aquela não era Amélia. Ela estava completamente diferente. Seu olhar me causava arrepios. Sua presença me dava vontade de chorar. Tudo aquilo era demais. Senti tudo rodar ao eu redor.

Ela caminhou bem devagar na direção de Salen, que estendeu a sua única mão para ela, que não demorou muito para segura-la, posicionando-se ao lado desse. Senti que ia vomitar.

- Olá, Hayley – cumprimentou-me, friamente. Não tive reação alguma. Sentia apenas que podia desmaiar a qualquer momento. – Olá, Rosa – fez o mesmo em relação a ela. Não consegui encara-la mais. Tive que abaixar o olhar para pegar um pouco de ar.

Aquilo só podia ser um pesadelo. Saber que isso podia acontecer era um coisa, estar vivendo isso era algo completamente diferente. Ficar frente a frente a uma Amélia completamente indiferente era apavorante. Doía. Machucava. Ainda mais porque eu tinha consciência que tudo era culpa minha. 

- Gostei de sua armadura – Amélia apontou, encarando-me, levantei meu olhar para encara-la, sentindo meus olhos marejarem assim que focaram em seu rosto rígido, sentindo meu peito doer.  – Lembre-se de não usar muita magia, trás consequências, não é mesmo, Rosa?

Não aguardei a resposta dessa, desviando o olhar mais uma vez, piscando diversas vezes, tentando recompor-me. Aquilo só podia ser uma estratégia baixa de Salen para me desestruturar, não podia dar esse gostinho a ele.

- Está tudo bem, querida? – Amélia perguntou. Pude sentir o veneno escorrer de cada palavra pronunciada. Respirei então, bem fundo, encontrando forças para voltar a encara-la. Ela pareceu indiferente ao meu feito.

- Está tudo ótimo – afirmei, conseguindo finalmente controlar as lágrimas que ameaçaram despencar. – Eu só achei que... – fiz uma pausa, continuando logo em seguida. – Só achei que você fosse mais forte que isso, Amélia.

Ela gargalhou, deixando-me confusa, não esperava essa reação.

- Assim como você deveria ter sido? – começou, encarando-me. – Afinal, foi você que veio para Scaban. Foi você que foi fraca, Hayley. É por sua causa que todas essas pessoas provavelmente vão morrer. Inclusive seu amado Ravi.

Prendi minha respiração, sem entender como me sentia direito. Foi um golpe baixo e bem forte, mas não podia me deixar abalar. Ignore, Hayley. Eles querem te testar. Você é mais forte que isso.

- Salenvoltei a conversa mais uma vez para ele, tentando apagar Amélia do meu campo de visão. – Por que fui chamada?

Ele pareceu surpreso com o meu posicionamento repentino, mas não demorou mais de meio segundo para se recompor. Ótimo. Conversar com Salen era mais seguro, ele não tinha tanto efeito sobre mim quanto tinha a minha avó.

- Eu gostaria de oferecer mais uma vez – disse, firme, sem delongas. – Gostaria de oferecê-la uma oportunidade de paz.

Cruzei meus braços, limpando a minha garganta.

- Que proposta seria essa?

- Prometo poupar todos os seus homens se você vier para o meu lado.

- Nunca – fui firme e rápida. – Você terá que me matar antes disso.

Percebi que Rosa inquietou-se do meu lado. Salen encarou-me sem reação.

- Eu posso fazer isso agora – apontou, fazendo um gesto com sua única mão. Encarei-o com a testa franzida. – Ou eu posso simplesmente ameaça-la – não entendi o que isso quis dizer de primeira mas assim que vi-o apontar para algo atras de mim, temi já saber.

Virei-me para enxergar o que acontecia, dando de cara com Ravi, despencando com força total no chão, provavelmente desacordado. Salen estava fazendo isso. Entrei em pânico. Não! Ravi...pelo amor de Deus!

- Ou podemos lutar de forma justa – apontei, gritando enquanto voltava a encara-lo, desesperada. Salen pareceu afetar-se com o meu posicionamento. – Deixe-o em paz e lute de forma justa. Lute com o sei exército. Lute conta mim! – apontei desesperada em minha direção. – Afinal, pra que você teve todos esse trabalho? – Salen encarou-me, sem abaixar o braço. Entrei em pânico, sem saber o que fazer. Usei minha última arma. – Ou você está com medo?

Aquelas últimas palavras pareceram atingir Salen como golpes, fazendo-o imediatamente abaixar o braço e me encarar. Respirei fundo, aliviada, virando-me para encarar o meu grupo logo em seguida. Consegui perceber que Drago conseguia levantar Ravi, finalmente, que estava visivelmente acordado. Senti um peso sair de minhas costas. Graças a Deus!

- Você quer que lutemos de forma justa, Hayley? – perguntou, visivelmente irado. – Pois então lutaremos, prepare-se pra...

- Espera – Amélia ordenou, tocando seu braço, Salen encarou-a irritado. Ela não se importou em ao menos encara-lo, estava preocupada demais com algo atrás de mim. – Aquele é Kioto?

Oh não...

Salen bufou.

- De que importa, Amélia? Quer que eu o mate?

- Não! – exclamei, por impulso. Amélia negou com a cabeça, ignorando a nós dois, em seguida, colocou as mãos em volta de seus lábios, fazendo um formato de concha. Ah não, Amélia...

- Kioto! – gritou, chamando-o. Droga. – Kioto, venha cá!

O som de sua voz ecoou até finalmente parecer alcançar os ouvidos da fera, que virou a cabeça para o lado, como se estivesse tentando reconhece-la. Não Kioto, não!

- Kioto! – investiu mais uma vez. Senti meu coração palpitar.

Ravi ainda levantava-se quando pareceu perceber o que acontecia.

Não o deixe vir, Ravi, por favor.

Mas ele não teve tempo de fazer nada porque Kioto não demorou mais de meio segundo para começar a correr em disparada na minha direção. Por Deus, não!

- Droga – Rosa exclamou, colocando em palavras todos os meus pensamentos. Kioto ficaria ao lado de Amélia agora? Meu Deus do céu, havia sido uma péssima ideia tê-lo trazido para a batalha. Por que eu sequer considerei esse possibilidade antes? Idiota, Hayley, muito idiota!

Kioto avançava rápido com uma flecha, fazendo meu coração disparar cada vez mais. Eu ia morrer do coração. Isso não podia estar acontecendo. Tremi.

O animal parecia sem direção alguma, encarei de relance Ravi chutar a neve e tacar coisas no chão, justamente o que eu queria fazer.

Subitamente, algo estalou na minha cabeça. Talvez eu pudesse parar Kioto com magia! Pena que era uma ideia idiota. Amélia ou Salen anulariam a minha magia de iniciante com uma facilidade absurda.

Bom, não tinha o que fazer, apenas rezar e esperar que Kioto nos alcançasse. Que foi o que ele fez alguns segundos depois, diminuindo a velocidade dos passos ao se aproximar de nós. Encarei-o bem a fundo. Desesperada. Ele me encarou de volta.

- Por favor não escute-a, Kioto – sussurrei para mim mesma, especialmente nervosa. – Por favor...

- Kioto! – Amélia exclamou, chamando a atenção do animal, que desviou o olhar de mim imediatamente, balançando de forma alegre seu rabo enorme para ela. – Venha aqui, meu anjo.

Chamou, e ele foi. Infelizmente ele foi. Bufei.

- Mas que droga, Kioto! – gritei, por impulso, me arrependendo no segundo seguinte que abri a boca. Kioto paralisou no seu lugar.

Prendi minha respiração, desesperada. Ah não, caraca! Caraca. Caraca. Pensei em pedir desculpas para ele, mas seria idiota. Bem idiota. Mais idiota do que o que eu tinha dito antes.

A fera paralisou no seu lugar. Percebi que seu rabo parou de abanar. Jesus Cristo!

Kioto virou-se bem devagar em minha direção, pousando seu olhar avermelhado em cima de mim. Não respirava mais. Será que ele iria comer os meus olhos?

Foram alguns segundos de muita tensão, que para a minha felicidade, não terminaram da forma que eu imaginei. Kioto não ameaçou comer o meu rosto, pelo contrário, pareceu esperar que eu dissesse alguma coisa. Continuei a encara-lo atordoada. Ele parecia esperar algo de mim. O que seria isso? O que ele queria de mim?

- Kioto, venha aqui, meu amor – Amélia pediu, agachando-se. Kioto voltou a encara-la, balançando o rabo um pouco menos expressivamente. Ela sorriu. – Eu senti muito a sua falta, sabia? – Kioto continuou a caminhar na direção de Amélia. Prendi minha respiração, soltando instintivamente:

- Kioto, essa não é Amélia – a fera voltou a me encarar, paralisando mais uma vez. Amélia fez o mesmo, com o olhar irado contrastando o sorriso em seu rosto. Não consegui mais calar a minha boca. – Kioto, ela está possuída pela magia negra. Está querendo te usar – o animal virou a cabeça, parecendo tentar me entender. Repeti então, sem escrúpulos. – Ela não é mais ela mesma. Acredite em mim, por favor. Eu preciso da sua ajuda pra salvá-la.

Encarei o olhar vermelho da fera bem a fundo, pela primeira vez, foi aí que eu pude enxergar algo. Um brilho. Algo diferente. Ele parecia me entender... parecia... assentir. Meu Deus, ele parecia conversar comigo. Senti meu coração acelerar com aquela possibilidade.

- Não a escute, querido... – Amélia pediu mais uma vez, esperançosa, mas para a surpresa geral, Kioto rosnou.

Amélia recolheu suas mãos imediatamente, com a expressão assustada. Encarei-a boquiaberta. Kioto cheirou o ar, antes de finalmente pousar o seu olhar em sua dona. Então rosnou mais uma vez, mostrando os dentes.

Amélia encarou-o incrédula.

- Kioto... – o nome da fera sendo pronunciado por Amélia acabou sendo o motivo de aparentemente maior raiva por parte da fera, que avançou subitamente em sua direção. Ameaçando-a. Amélia levantou-se devagar. Pude perceber então, algo estranho passar por seu olhar enquanto ela escutava sua fera ameaçar morde-la. Percebi algum remorço, ou algo parecido com isso. Mas foi tão rápido e passageiro que temi estar esperançosa demais.

Balancei minha cabeça para afastar esses pensamentos.

- Kioto – chamei-o, sorrindo logo em seguida com a vitória. Eu havia o chamado, havia conversado com ele, e não estava mais com medo. – Kioto, volte para Ravi, por favor...

Pedi, ansiosa. Kioto encarou-me, caminhando afetado em minha direção. Mordi meus lábios, sorrindo para este, percebi então, que se ele pudesse sorrir de volta, o faria.

- Ah...diabos! – Salen exclamou, chamando a atenção de todos. – Esse animal medonho já deu para mim.

Dito isso, sem mais explicações, Salen apontou sua mão única na direção de Kioto, usando sua magia negra para fazê-lo debater-se de dor. O gemido saiu de sua garganta de forma tão estridente que senti meu próprio coração virar pó. Senti a dor em mim, e aquilo me causou náuseas.

Kioto continuou a se debater por alguns segundos até que eu finalmente conseguisse alinhar meus pensamentos e entender o que devia fazer. Sem pensar muito, usei toda a minha motivação para jogar tudo de ruim que consegui pensar em cima de Salen, apontando em sua direção.

Queime. Pensei, enquanto o encarava. E foi o que pareceu acontecer exatamente, pois assim que senti algo dentro de mim se revirar, Salen pareceu sentir um incômodo, tossindo e pendendo pra frente.

Amélia estava paralisada em seu lugar. Não tive tempo de prestar muita atenção nela. Ela nao importava agora. Kioto importava!

- Pare com isso! – Salen urrou, irado, levando sua mão única até a sua barriga que se eu estivesse fazendo tudo certo, estaria borbulhando agora.

- Deixe Kioto ir – gritei de volta, girando minha mão, queimando-o com mais força. Ele pareceu perder a respiração. Alguns dos bruxos ameaçaram se meter, Rosa neutralizou-os. Agradeci-a mentalmente. Kioto continuava a chorar. Deus! –Deixe-o ir. Agora! – gritei uma segunda vez, sentindo que sangue escorria pelas minhas narinas. Não conseguia respirar direito, ainda bem que Salen também não.

Depois de parecer pensar muito, tomado provavelmente pela raiva e pela dor, ele abaixou a cabeça, e então Kioto parou finalmente de se debater e chorar e eu pude parar de me destruir ao tentar machucar Salen.

Quando eu pude tirar minha cabeça daquela magia, foi como se saísse de uma piscina. Parecia que eu está submersa, e só agora conseguia novamente respirar. Levei uma das minhas mãos ao meu nariz, limpando o sangue que ali tinha escorrido, logo em seguida, ofegante. Não demorei muito então para correr até Kioto, agachando-me para toca-lo.

Não hesitei, surpreendentemente nenhum segundo, sentindo-me extremamente bem ao tocar em seu pelo e sentir sua respiração. Por que eu nunca havia feito isso antes?

- Você vai ficar bem – anunciei, em um sussurro, retirando a neve que havia ficado grudar em seu pelo macio.

Estava tão concentrada que só voltei a me localizar mais uma vez ao escutar a gargalhada estridente de Salen. Foi aí que encarei-o, assustada. Percebi então, que ele já havia se recuperado completamente do meu ataque, e não parecia mais irado, pelo contrário, havia algo divertido em seu olhar.

- Você sabe que ninguém me atinge assim há décadas? – anunciou, caminhando em minha direção bem devagar, não recuei, encarando-o com a expressão fechada. Kioto começou a se levantar aos poucos. Segui sua movimentação com o olhar por todo o caminho, até que ele passou na frente de Amélia e estendeu a mão para mim. – Você tem certeza que não quer se juntar a mim e salvar a todos? Última chance, Hayley.

Engoli a seco, encarando-o da forma mais nitidamente irada que consegui, limpando o último filete de sangue que ainda escorria pelo meu nariz brutalmente.

Ele achava que eu era o que? Uma bruxa igual a ele? Não acreditei que ele pensou que agora eu mudaria de ideia. Patético.

- Que a guerra comece, Salen.

Anunciei, firme, enquanto me colocava rapidamente de pé, sem a sua ajuda. Determinada. Irritada. Irada. Desviando o olhar do seu e me virando de costas sem escrúpulos. Comecei então a caminhar na direção de meu grupo. Meus amigos. Sem olhar para trás. Percebi que Kioto e Rosa vieram atrás de mim. Percebi ainda que Salen riu.

- Até daqui a pouco então, netinha – soltou, alto, mas eu não o deu ouvidos, continuando a caminhar. Respirei fundo. – Não pense que pegarei leve porque é da família.

Fiz uma careta, sem conseguir evitar.

- Muito bom – gritei em resposta, continuando a caminhar, sem encara-lo. – Pois farei o mesmo.

***

- Você está bem? – perguntei, assim que cheguei perto o suficiente, correndo na direção de Ravi. Ele abriu os braços, visivelmente preocupado igual a mim.

Abracei-o antes de receber sua resposta, escondendo o meu rosto em seu peito, me permitindo respirar fundo. Ele estava bem, graças a Deus!

- Você está bem? – perguntou, com a voz trêmula, acariciando meu rosto enquanto respirava fundo. – O que diabos foi que aconteceu lá?

Perguntou, levantei então, minha cabeça, soltando-me de seu abraço, respirando fundo enquanto encarava seu rosto.

- Ele te machucou? – perguntei. Ravi me ignorou, levantando meu queixo com as sobrancelhas juntas, para analisar meu rosto.

- Você sangrou?

Ignorei-o.

- O que aconteceu lá? – Drago perguntou também, caminhando até ficar ao meu lado. – Você está bem, Hayley?

Respirei fundo, segurando a mão de Ravi, tirando-a lentamente de meu queixo e guiando-a até seu peito. Segurei-a alguns segundos ali até ter finalmente coragem de falar, encarando Drago.

- Salen está vindo nos atacar, com força total.

- Amélia está com ele – Rosa completou, cruzando os braços, percebi que Alberg acariciava as suas costas.

- Como ela está? – Ravi perguntou mas eu não me dei o trabalho de respondê-lo, voltando meu olhar para o grupo de Salen e percebendo que ele me encarava. Respirei fundo. Ele estava pronto.

- Vamos seguir a estratégia de Alberg – anunciei, alternando meu olhar por todos que estavam no meu campo de visão. Ravi, Drago, Alberg, Rosa e até mesmo Kioto, que encarava-me de volta bem de perto. – Todos estão cientes do que vamos fazer primeiro, não estão?

Assentiram com a cabeça como resposta. Alberg pronunciou-se:

- Os meus homens também estão cientes, Hayley.

Respirei fundo.

- Ótimo – soltei, voltando meu olhar para Salen mais uma vez, que tinha o braço dado a Amélia e me encarava. Fiz um sinal positivo com a cabeça para que ele entendesse que estava na hora. Ele pareceu compreender-me. Aquilo fez meu sangue congelar de vez. Engoli a seco. – Preparem-se – comecei, voltando meu olhar rapidamente para Alberg. Sentindo minha respiração falhar. – Situe seus homens.

Ele assentiu com a cabeça, virando para encara-los, gritando palavras de ordem logo em seguida.

- Boa sorte – Ravi sussurrou em meu ouvido, fazendo-me paralisar. – Te vejo no fim da batalha.

Assenti com a cabeça, sem encara-lo. Se o fizesse, temia perder o foco. Respirei fundo, umedecendo meus lábios secos.

- Até mais – foi só o que consegui dizer, sentindo meu coração se apertar.

Levantei meu queixo mais uma vez, respirando fundo. Nós tínhamos alguma chance contra Salen? Peguei-me pensando. Precisávamos ter. Teríamos.

Inspirei todo o ar que conseguia mais uma vez quando os comparsas de Salen começaram a se movimentar, correndo, escondendo o seu líder ao passarem a sua frente e enfrentarem a corrida de suas vidas. Senti o vento gelado congelar meus músculos.

Que Deus nos proteja. Pensei, sentindo minha cabeça doer.

- Preparar – Alberg gritou, chamando a atenção de todos, fazendo com que a adrenalina pulsasse em nossas veias. A multidão que corria em nossa direção causava arrepios mais cabulosos do que qualquer coisa que já tivesse experimentado na vida.

Podia ouvi-os gritar, alguns com capas escuras, alguns com machados e arcos nas mãos. Imaginei o pior, não consegui evitar. Senti minha garganta se fechar. Estava acontecendo.

- Um – Alberg começou a contar, alto, para que todos pudessem escutar mesmo com o barulho estridente e ensurdecedor dos passos brutos de nossos oponentes assim como suas risadas e palavras de ódio. – Dois – continuou, fazendo com que eu prendesse a respiração. Salen e Amelia há muito haviam sumido do meu campo de visão. Não sabia dizer se isso era algo positivo ou não. – Prontos no... – percebi que Alberg em pessoa respirou fundo. – Três – soltou, por fim, parecendo me anestesiar. – Que a sorte esteja a nosso favor, companheiros – finalizou, segurando rapidamente a mão de Rosa. Engoli a seco. Tínhamos que ir agora! Encarei-o, assustada. Eles já estavam muito próximos. Grite, Alberg! – Agora!

E então nós colocamos nosso único plano em pratica. Nos viramos e começamos a correr, sem pensar duas vezes, na direção contrária. Em direção ao bosque.

Nunca corri tão rápido e de forma tão desesperada na minha vida toda. Precisávamos adentrar aquele matagal antes que eles nos alcançassem . Precisávamos neutralizar pelo menos, o fogo dos Troxs. E estávamos para isso, fugindo daqueles homens sedentos por nosso sangue.

A fuga da morte era algo apavorante.

A adrenalina tomava conta das minhas veias. Meu cabelo batia no meu rosto. O vento gelado deixava difícil respirar. Estava sendo completamente guiada pela adrenalina. Minhas pernas guiavam-se sozinhas. E eu só ia em frente.

Corremos mais rápido que os guerreiros de Alberg, passando em meio a eles, escutando seus passos metálicos e precisos.

Olhei para os dois lados uma hora. Kioto corria no mesmo ritmo que eu. Drago estava mais à frente. Ravi estava bem ao meu lado, bom, estava, até que um soldado entrasse na sua frente e ele ficasse para trás.

Minha respiração ofegante somava-se com a dor em minhas pernas e a ansiedade, deixando-me quase cega.

Só conseguia enxergar o bosque a minha frente. O quanto ele chegava cada vez mais perto, na mesma proporção que os bruxos de Salen o faziam.

E eu só conseguia correr. Quase anestesiada pelo pânico e pela incerteza. Tinha que dar certo aquele plano tinha que...

Meu pensamento foi cortado pela metade quando subitamente, o rapaz que corria ao meu lado despencou no chão, sendo pisoteado logo em seguida. Apressei meu passo, desesperada, boquiaberta, tentando entender o que tinha acontecido enquanto encarava-o ser pisoteado atras de mim. Enjoos percorreram o meu corpo. Ele tinha sido atingido por uma flecha. Estava coberto de sangue. Perdi o foco por alguns segundos.

Mas, graças a Deus, Drago fez questão de me salvar de meu súbito lampejo de confusão, puxando-me pelo braço, forçando-me a seguir o fluxo junto com seus passos. Não conseguia respirar.

- Continue a correr, linda – orientou, tirando-me de meu desespero. – Não olhe para trás.

Obedeci-o, sendo guiada por seus passos, tendo que acelerar meus próprios para manter o mesmo ritmo.

- Perdi Ravi e Kioto – anunciei, ofegante, ansiosa. Uma flecha passou por cima de nossa cabeça, acertando alguém mais à frente, Drago puxou-me, desviando o nosso caminho do desfalecido. Prendi a respiração. As árvores estavam muito próximas agora. Só mais um pouco.

- Eles estão bem – Drago bradou, aumentando o passo ao chegar perto demais das árvores. Mais um pouco e finalmente entraríamos no bosque. Meus pés já estavam a essa hora, amortecidos por causa da neve congelante. – Prometo que eles estão bem.

Mais alguém caiu mais à frente. Drago apertou meu pulso.

- Feche os olhos – obedeci-o sem ao menos questionar, sendo guiada completamente às cegas. Senti que desviamos mais um pouco para esquerda, então senti o cheiro de mato e um vento mais congelante ainda bater em meu rosto. Os gritos altos e amedrontadores me causavam arrepios. – Pode abri-los.

E foi o que eu fiz, apenas para constatar que tínhamos estrado no bosque. O céu ficou mais escuro e denso lá dentro.

- Será que isso vai dar certo, Drago? – perguntei, ofegante, ansiosa. Drago soltou meu pulso, tive finalmente autonomia para guiar meus passos.

O matagal era mais denso do que esperávamos, o que de certa forma, era uma vantagem, contudo, ficava difícil de correr com o mesmo gás tendo que pular troncos e raizes de árvores grossas e altas.

A capa vermelha dos nossos bruxos voava bem a minha frente, se eles seguissem o nosso plano, parariam daqui a pouco.

- Dará sim – gritou de volta, afastando uma teia de aranha muito bem estruturada para conseguir passar, segui-o, virando rapidamente para enxergar o que vinha atrás de mim. Não era possível entender quem era quem mais. Mas de certa forma, tudo parecia mais seguro agora que não estávamos mais em campo aberto. Bom, apenas parecia.

Meu peito apertou. Não enxerguei Ravi. Nem ninguém. Nem mesmo Kioto.

Pessoas despencavam do nada no chão, outras viravam-se e lutavam. Senti que perdi o ar. Ela estavam lutando. Isso não podia ser bom.

- Drago... acho que nos alcançaram – afirmei,tateando o ar ao meu lado, tentando encontrar Drago, engasgando com as minhas palavras, mas não tive sucesso. Me virei então para encara-lo. Mas ele não estava mais lá. Entrei em pânico. – Drago? – desacelerei meus passos, apoiando-me em um tronco de árvore, ofegante ao extremo, enquanto voltava meu olhar para todos os lados, tentando encontrá-lo. Mas não consegui. Ele havia sumido.

Todos haviam sumido de meu campo de vista. Entrei em pânico.

Mas não tive tempo de preocupar-me muito com isso, pois antes que eu conseguisse pensar em qualquer outra coisa, senti alguma coisa voar por cima da minha cabeça. Dei um gritinho com o susto, voltando meu olhar rapidamente para o tronco no qual eu estava apoiada, encarando nitidamente a flecha, fincada fundo nesse. Engoli a seco. Tinha passado muito perto da minha cabeça.

Meu Deus.

Voltei rapidamente meu olhar para o que acontecia a minha frente, surpreendendo-me ao enxergar de relance um homem alto, segurando um martelo completamente encharcado com sangue encarar-me. O sorriso em seu rosto me deixou apavorada. Ele sorria para mim. Um sorriso assassino. Entrei em pânico.

Por instinto, fiz o movimento mais óbvio e esperado possível. Voltei a correr.

Meu coração não sequer batia mais, ele apenas se jogava na parede de meu peito, bombeando nada mais que terror.

Tropecei em minhas próprias pernas ao pular por cima da raiz da árvore na qual estava apoiada, exposta em consequência do pouco acúmulo de neve.

Virei-me para encarar o que acontecia mais a vez, dando de cara com o sujeito correndo atrás de mim. Ele sorria. Meu. Deus. Entrei em pânico, soltando o ar todo de uma vez, agachando-me rapidamente para puxar a faca que estava presa na minha meia calça.

Levantei meu vestido com a mão trêmula em uma velocidade recorde, puxando de uma vez só o objeto gélido que estava até então em contato com a minha pele.

O homem estava muito próximo quando eu comecei a correr
novamente. E ele vinha atras de mim.

Jesus, por que ele não se preocupava com os outros milhares que corriam ao meu lado?

Segurei a faca com a minha mão suada, correndo o mais rápido que conseguia, desviando de galhos, escorregando de vez em quando na neve.

Virei para trás outra vez, a tempo de ver o meu perseguidor bater com o martelo com força na cabeça de um bruxo vermelho que tentava me ajudar. O bruxo caiu no chão, provavelmente morto.

- Oh Deus – desesperei-me, dando de cara com um amontoado de corpos atingidos por flechas. Senti náuseas. – Ignore, Hayley, ignore.

Ordenei a mim mesma, desviando deles, tentando camuflar-me em meio às árvores.

Passei por uma multidão de bruxos vermelhos que davam as mãos e corriam na direção oposta, prontos para atacarem. Eles haviam começado a se espalhar. Troxs não estavam se inflamando. Pelo menos essa parte do plano estava dando certo.

Corri. Corri tão rápido que tudo passava ao meu lado como se fosse um borrão.

Corri muito, até que finalmente não aguentei mais, obrigando-me a me apoiar em um tronco de árvore qualquer, de costas para o que acontecia, escondendo-me, tentando controlar a minha respiração. Fechei os olhos por alguns segundos. Meus ouvidos zuniam. Minha cabeça rodava. Minhas mãos tremiam tanto que temia derrubar a faca.

Onde estavam meus amigos? Todos tinham sumido. Deviam estar lutando, precisava ajudá-los! Não podia ficar correndo!

Respirei fundo, engolindo a seco diversas vezes.

Seja corajosa, Hayley.

Lembrei-me dos corpos, fechei então meus olhos.

Seja uma heroína, Hayley.

Apertei a faca em minhas mãos. Eu precisava voltar para lá. Eu tinha vantagem. Eu tinha a magia. Precisava encontrar Salen. Mas meu Deus...era tão apavorante...

Não. Não era apavorante.

Seja forte, Hayley.

Eu seria forte, tinha que ser forte...pela minha família.

Juntei então, todas as forças que ainda tinha para desgrudar-me de meu esconderijo, caminhando bem devagar em direção a confusão.

A alguns metros enxerguei alguns rapazes lutando. Mais a frente, havia mais dezenas. Não me deixei abalar.

Com o coração na boca, tentei respirar fundo e esvaziar a minha mente. Precisava lutar. Não podia ser uma convarde.

Pulei mais alguns amontoados de raizes, mordendo meus lábios, encaminhando-me para o meio da multidão. Foi aí que eu vi então, um bruxo preto, distraído o suficiente em apagar um humano magicamente para que eu chegasse perto.

Corri discretamente em sua direção, chegando de fininho pelas suas costas. Respirei fundo.

Faça isso, Hayley. Ordenei-me, tremendo logo em seguida ao pensar...

Desmaie.

Feito isso, o bruxo subitamente caiu no chão, despencando. Comemorei a minha vitória mágica. Eu estava muito
boa nisso ultimamente.

O humano que eu havia salvado não se preocupou em me agradecer, correndo na direção contrária, atras de outro bruxo. Eu devia ter feito o mesmo.

- Olá, princesa das trevas – alguém sussurrou, no meu ouvido antes de puxar-me pelo pescoço, subitamente, enforcando-me. Fui levada para trás, sem ar. Debatendo-me em pânico. De onde ele tinha surgido? – Salen queria que eu guardasse você para ele.

Não conseguia falar nada. Meu pescoço estava sendo brutalmente esmagado por aquele sujeito que eu sequer sabia quem era. Debati-me, desesperada.

Precisava fazer alguma coisa. Vamos lá, Hayley...

- Ele quer você viva e seja seu presente.

Ignorei sua fala, juntando todas as minhas forças para conseguir mexer o meu braço e fincar com força a faca que estava em minhas mãos na perna do sujeito, que por sua vez, soltou um grito com o impacto, soltando-me por reflexo.

Inspirei todo o ar de uma vez assim que fui solta, caminhando torta para frente. Tive tempo de tossir algumas vezes antes de escuta-lo urrar de dor. Coloquei-me ereta, ofegante, com o meu cabelo próprio cabelo atrapalhando a minha visão.

Virei-me para encara-lo, percebi então que se tratava de um bruxo negro.

- Menina idiota – gritou, puxando de uma vez o objeto de sua coxa, que jorrou sangue logo em seguida. Engoli a seco, dando um passo pra trás. – Venha comigo, venha – abriu os braços, caminhando em minha direção.

Não, obrigada. Pensei, antes de magicamente fazer aparecer uma espada na minha mão. Ele sorriu fraco com o meu feito.

- Sabe lutar com espada? – perguntou, sarcástico. Caminhou rapidamente em minha direção, chegando muito perto. Muito, muito perto. Entrei em pânico. – Então vamos brinca...

Não deixei-o terminar sua fala, fincando o objeto em seu peito rapidamente, sem ao menos pensar. O bruxo não teve reação, apenas gritou, levando as mãos trêmulas até o local do ferimento, manchado de sangue. Engoli a seco, puxando a espada de uma vez, assustada com o que tinha feito. Ele caiu no chão, debatendo-se de dor. O buraco que eu tinha feito tinha facilmente acertado o seu coração.

Entrei em pânico.

Ele parou de se mexer.

Tropecei em meus próprios pés, caminhando para trás. Por Deus eu tinha matado um homem!

- Hayley, Hayley...

Não tive tempo ao menos de sentir remorso uma vez que alguém pronunciou de forma sarcástica o meu nome bem atrás de mim. Virei-me com a espada coberta de sangue posicionada na frente do meu corpo, por puro instinto de sobrevivência.

- Temos que levá-la para Salen – tratava-se de um segundo bruxo de magia negra, que caminhava em minha direção. Apontei, ofegante, a lâmina da espada em sua direção. Eu não o deixaria chegar mais perto. Não se atreva a chegar mais perto! Gritei, mentalmente.

- Será mais fácil se você não resistir – uma segunda voz advertiu, vindo de trás de mim, virei-me assustada, ainda protegendo-me com o objeto. Outro bruxo pulava o corpo do amigo morto, caminhando em minha direção. Prendi minha respiração.

- Somos três contra uma – mais uma terceira voz advertiu, vindo em minha direção pelo meu lado direito. Todos pararam subitamente, cercando-me.

- Não lute, Hayley, será melhor dessa forma.

Respirei fundo, sentindo um calor absurdo mesmo havendo neve congelando meu pé.

- Será melhor só se for para vocês – anunciei, ajeitando o punho da espada em minha mão. – Acredito que saibam que sou muito boa com magia.

Menti, sem escrúpulos. Queria intimida-los e de certa forma, incentivar-me. Estava em pânico, afinal, sozinha para lutar contra três.

Mas eu não podia desistir.

- Você pode ser boa, mas estamos em maior número – o bruxo que estava atrás de mim advertiu. Ignorei-o, pensando em um plano. Não consegui pensar em nenhum.

- Acabe logo com isso vai, menina – um dos bruxos me desafiou, dando um passo em minha direção. Não demorei então, para agir, sem pensar duas vezes. Cortei o ar com a lâmina da espada, pousando-a em seu ombro, que saiu favorecido por causa da capa, que protegeu-o do corte certo, apenas prendendo no tecido.

Droga.

O bruxo segurou o objeto pela lâmina, cortando seus dedos, e jogando-o de forma firme na grama. Fiquei boquiaberta.

Ele sorriu.

- Ainda bem que a sua habilidade é com a mágica, não? – debochou, fazendo seus companheiros rirem. Não me deixei abalar, pensando rapidamente em algo que temi não ser possível desfrutar aqui.

Mas com magia tudo era possível.

Subitamente, um explosivo com pólvora e tudo surgiu na minha mão. Sorri. Os bruxos encararam-me sem entender.

- O que é isso? – perguntaram, confusos. Sorri, preparando-me mentalmente para acende-lo.

- Isso se chama explosivo – expliquei, dando alguns passos rápidos para trás, eles estranhamente me deixaram caminhar. – Uma forma de magia – afirmei, erroneamente. Eles me encaram confusos. Acendi com a minha mente uma pequena faísca na ponta do gatilho, que começou a se queimar. Corri para trás, sentindo o calor do objeto queimar meus dedos. Precisava jogá-lo e correr o mais rápido possível.  – Espero que a aproveitem.

Soltei por último, os três olhavam-me sem entender quando eu finalmente percebi que estava na hora. Arremessei então, o explosivo de forma certeira na direção dos bruxos, correndo em disparada na direção contrária logo em seguida.

Corri por exatos dez segundos antes que tudo explodisse. Tive tempo de esconder-me atrás de uma árvore para tentar de certa forma, proteger-me do impacto, que não foi tão expressivo quanto eu esperava, mas foi bem mais do que o necessário.

O barulho ensurdecedor seguido do clarão fizeram com que eu tampasse meu ouvido e fechasse meus olhos.

Senti meus ossos tremerem, tendo que me segurar a força no trono para não cair.

O que não foi o suficiente. Despenquei de costas no chão, batendo com a cabeça.

Meu ouvido ainda zunia quando de alguma forma, consegui abrir os olhos e enxergar o topo das árvores de forma embaçada. Mas eu devia ter batido com a cabeça muito, muito forte, uma vez que eu jurava enxergar um deles caindo em minha direção.

Acontece que não era alucinação.

Entrei em pânico, sem conseguir reagir.

Tinha uma árvore caindo em cima de mim!

Com um grito entalado na minha garganta só consegui tampar meu rosto com um dos meus braços, usando o outro para me apoiar, repleto de neve e buracos.

Não enxerguei então, nada. Apenas o silêncio pairou, e eu achei que tinha morrido.

Que jeito estupido de morrer, não?

Contudo, foi só quando eu escutei o som de uma respiração bem próximo de mim que consegui abrir os olhos, assustada. E foi então que eu vi.

Amelia estava ali. Assustei-me, sentindo meu coração ir a boca. Dei algumas engatinhadas para trás antes de finamente ver que ela usava a sua magia para segurar a árvore que iria cair exatamente em cima de mim.

Ela tinha me salvado.

Prendi minha respiração.

Ela, delicada, fechou os olhos e pousou a árvore seguramente bem ao seu lado.

Ela tinha salvado a minha vida. Encarei-a incrédula, esperançosa, ofegante.

Ela finalmente olhou para mim, ostentando um corte profundo em sua bochecha e os olhos petrificados. Ela parecia completamente confusa. Mais que eu. Nenhuma das duas se mexeu por alguns instantes, até que ela resolveu cambalear, parecendo completamente arrependida.

- Eu não sei porque eu fiz isso – soltou, encarando suas mãos como se não as conhecesse, parecendo atordoada. Enxerguei lágrimas se formarem em seus olhos. – Eu... eu...

- Amélia – chamei-a, desconfiada. Ela voltou seu olhar arregalado e úmido em minha direção. – Amélia, lute – incentivei-a, recebendo nada em resposta.

Ela desviou o olhar do meu, levando as mãos a cabeça. Sua respiração fazia barulhos terríveis. Senti vontade de abraçá-la. De conversar com ela. De fugir. De fazer qualquer coisa, menos continuar sentada ali. Mas não sabia o que devia fazer.

- Preciso sair daqui – anunciou, para si mesma, completamente insana, cambaleando para longe de mim. Engatinhei em sua direção, desesperada.

- Não, não, Amélia! Fique! Eu posso te ajudar...

- Eu preciso sair daqui – repetiu, encarando-me rapidamente. – Você não entende, eu preciso sair daqui.

Senti minha garganta se fechar ao encarar o seu estado. Meus olhos se enxergam de lágrimas. O que eles tinham feito com ela?

- Perdoe-me, Hayley – pediu, gritando logo em seguida. Pareceu um grito de dor. Peguei-me apavorada com aquela situação. – Droga, eu não consigo controlar eu... – fez uma pausa, respirando de forma ofegante. – ...preciso sair daqui.

Dito isso, ela começou a correr para longe de mim. Gritei o seu nome. Ela virou para me encarar. Senti meu coração apertar até virar pó ao enxergar a angústia em seu rosto.

- Cuide-se. Eu vou cuidar de você quanto tudo isso acabar. Eu prometo – anunciei, sentindo meus olhos vazarem em lágrimas. – Eu prometo, vó.

Percebi que uma lágrima escorreu pela sua bochecha antes que ela voltasse a correr para longe de mim, deixando-me sozinha mais uma vez, naquele amontoado de neve. Levei um tempo para conseguir respirar novamente. Meus olhos estavam embaçados e meus pensamentos bagunçados. Mas tudo aquilo havia provado uma coisa. Eu ainda podia salvar Amélia.

Parte II.

Caminhava atenta em meio ao matagal fechado. Tinha uma espada em mãos, apesar de não saber usá-la muito bem, e o pensamento completamente voltado para a batalha.

Não fazia ideia se estávamos vencendo. Não tinha enxergado nenhum dos meus amigos. Estava sozinha e apavorada naquela floresta.

Alguns Troxs haviam me encurralado metros atrás. Tinha conseguido acertar um no pescoço com a espada, os outros dois tive que usar magia. Isso somava mais três mortos para a minha cota de homicídios. Sentia-me mal por aquilo, extremamente mal, mas o que eu poderia fazer? Era matar ou morrer. E eu não poderia morrer agora, não antes de ter encontrado Salen.

Na verdade, não poderia morrer nunca. Não queria que essa batalha fosse o meu ponto final. Muito menos o ponto final de um dos meus amigos.

Então eu precisava matar Salen.

Sabia que estava sendo mais ambiciosa que poderia ser, mas ao meu ver, deveria arriscar as minhas fichas todas agora. Toda aquela batalha havia sido para aquilo, afinal. Todas aquelas mortes serviam para uma coisa, a morte de Salen.

E se ele já estivesse morto? Daria graças a Deus. Não importava quem o tivesse matado, o que importava é que ele estivesse morto, certo?

Meus pensamentos foram cortados pela metade quando escutei um barulho estranho vindo da minha direita. Segurei o punho da espada com força na minha mão, atenta. Prendi minha respiração, tentando não fazer barulho ao caminhar lentamente na direção do som previamente exposto aos meus ouvidos, nervosa.

Dei um passo. Dois passos. Então percebi que os barulhos tinham aumentado e que eram ritmados. Passos. Respirei fundo. Alguém corria na minha direção. Jesus!

Não tive tempo de sair do caminho antes que o corpo de alguém em uma velocidade absurda esbarrasse brutalmente com o meu, levando-me ao chão imediatamente, caindo em cima de mim ainda por cima!

Soltei um barulho incoerente ao ter meus pulmões esmagados pelo peso daquela pessoa, que não demorou muito para sair de cima de mim.

- Hayley? – sussurrou, surpresa. Tentei enxergar quem era apesar da falta de ar. Franzi minha testa quando o fiz.

- Rosa?

Ela tampou a minha boca com uma das mãos. Arregalei meus olhos, surpresa.

- Salen está aqui – explicou, falando baixo. Senti que perdi o ar de vez. – Fale baixo.

Ordenou logo em seguida, tirando a mão da minha boca e estendendo-a para me ajudar a levantar. Aceitei sua ajuda, reclamando de dor nas costas por todo o percurso, até finalmente ficar de pé.

- Você está bem? – perguntei, em um sussurro, limpando a neve de meu vestido e procurando minha espada, que tinha voado com a minha queda.

- Estou – anunciou, parecendo atordoada. – Alberg estava ferido – soltou, respirando fundo. – Tive que deixá-lo pelo meio do caminho – percebi que ela estava verdadeiramente preocupada.

Engoli a seco.

- Seus homens cuidarão dele, Rosa – sussurrei, tocando seu ombro.

Ela assentiu com a cabeça, desviando o olhar.

- Temos que sair daqui.

- Não – soltei, abaixando-me para pegar a minha espada, suja de sangue e agora também neve. – Preciso encontrar Salen.

- Você está louca? – perguntou, incrédula, baixo. – Você não vai derrota-lo dessa forma.

- Ele precisa morrer.

Rosa bufou.

- Claro que precisa, mas precisamos de ajuda para isso.

Mordi meus lábios.

- Você viu alguém pelo caminho? – prendi minha respiração, ansiosa por sua resposta.

Ela negou com a cabeça.

- Desde que me separei de Alberg estou sozinha.

Assenti fraco.

- Rosa, precisamos acabar com ele – soltei, voltando ao assunto inicial, o que a fez arregalar os olhos.

- Temos?

- Eu preciso da sua ajuda... – Rosa bufou.

- Eu tenho uma filha me esperando em casa, Hayley.

Assenti com a cabeça.

- E eu prometi a ela que a levaria da volta. Acredite em mim.

Rosa cruzou os braços. Encarei-a esperançosa.

- Não posso, Hayley, sinto muito.

Suspirei. Droga. Plano B.

Espera.

Eu tinha um plano B?

- Ora, ora... mas temos a família inteira reunida aqui? – paralisei, encarando Rosa em pânico. Sabia muito bem de quem aquela voz grossa pertencia. E ela tinha vindo tão subitamente que temi estar alucinando.

- Salen – Rosa soltou, prendendo a respiração, encarando-o, provavelmente, por cima de meus ombros.

- Não nos víamos com tanta frequência desde o dia que eu morri, não é mesmo, esposa? – continuei paralisada, apertando em consequência do nervosismo o punhal da minha espada. Ainda não tinha me virado para encara-lo. Rosa levantou o queixo.

- Ainda bem, não? – sorriu. Percebi que Salen gargalhou em resposta.

- Ainda bem – concordou. – Já pode se virar, netinha.

Obedeci, respirando fundo e virando-me para encara-lo. Seu olhar gélido de sempre me causou arrepios.

- Justamente quem eu estava procurando – apontou em minha direção. Sorri, em meio ao nervosismo.

- Digo o mesmo.

Salen não deixou de me encarar, estalando os dedos logo em seguida.

- Rosa, você pode nos dar alguma privacidade? – perguntou, cordialmente, encarando-a. Prendi minha respiração. Não, Rosa, não dê. Ajude-me. Implorei mentalmente.

Rosa demorou para responder.

- Temo que não possa fazer isso, querido marido.

Engoli a seco. Obrigada. Obrigada!

- Rosa – perdeu a paciência. – Saia daqui, querida. Você tem uma filha, não tem?

- Você está me ameaçando, Salen?

- Estou – soltou, sem cerimônias. – Vá embora.

Engoli a seco. Ele a mataria se ela ficasse ali.

- Rosa – chamei-a, sem me virar para encara-la. – Vá embora.

- Não – foi rápida. – Marido, você não acha que já me evitou demais?

Senti minha garganta se fechar.

Salen deu um sorriso torto.

- Não o suficiente – soltou, dando de ombros, logo em seguida, puxou o capuz para fora da cabeça, liberando seus cabelos loiros e rebeldes. – Só não diga, querida, que eu não te dei uma chance.

Ele entortou seu pulso. Entrei em pânico.

- Não!

Tive tempo de gritar apenas isso, antes de ouvir um barulho inconfundível.

Senti que não conseguia mais respirar. Meus olhos marejaram.

Pisquei diversas vezes. Meu coração palpitava tristeza.

Eu não queria acreditar.

- Ro-Rosa? – gaguejei, desesperada. Sem resposta. – Rosa? – tentei mais uma vez. – Rosa? – foi aí que a ficha finalmente caiu. – Não...

Eu tinha prometido a Bela...

Não consegui mais evitar despejar as lágrimas depois disso. Não precisei olhar para entender.

Ele tinha a matado. Covardemente. Sem motivos. Do nada.

Subitamente, uma mistura de sentimentos desconhecidos tomou conta de mim. Encarei então Salen, que continuava indiferente, com aquele olhar gelado pousado em mim. Foi aí que eu senti muita raiva dele.

Ele tinha matado Rosa de graça, covardemente. Ele tinha matado tanta pessoas. Ele tinha destruído Amélia. Ele era um monstro.

- Seu monstro! – gritei, sentindo a raiva tomar conta de mim, lágrimas desceram pela minha bochecha de forma desesperada. – Seu – usei magia para atingi-lo, fazendo-o bater com as costas no tronco da árvore. Queria machuca-lo. Queria matá-lo. Investi mais uma vez, triturando seus miolos. Ele urrou de dor. – Monstro!

Completei finalmente, caminhando com a espada arrastando pela neve em sua direção. Ele protegia sua cabeça com as mãos. Minha magia estava fazendo efeito.

Cheguei perto o suficiente, encarando-o bem a fundo. Ele sorriu, ainda em dor.

- Esse é o melhor que pode fazer? – perguntou, puxando a espada da minha mão com a sua magia, arremessando-a para bem longe. Assustei-me, encarando-o sem expressão.

Ele pareceu livrar-se da minha magia, logo em seguida, tirando as mãos da cabeça e caminhando em minha direção.

– Brigue como alguém da minha família, Hayley – provocou, chegando perto e empurrando-me, cambaleei para trás, com os olhos embaçados pelas lágrimas e a surpresa. Ele era muito forte. – Lute como minha neta.

Respirei fundo. Ele queria que eu lutasse? Pois então lutaria, mas de forma justa.

Fiz com que aparecesse uma espada na mão de Salen, e uma na minha. Ele sorriu.

- Sabe usar uma espada, Hayley?

- Não – admiti, ofegante. – Mas como você só tem uma mão... tenho certa vantagem.

Ele deu de ombros.

- Se você diz...

Dei um passo para frente, sem esperar segundas ordens, apontando a espada na direção de seu pescoço. Ele levantou-o, ajeitando sua capa, que voava, encobrindo-me com sua escuridão.

- Eu adoraria ensina-la como lutar com uma espada um dia – anunciou, levantando a sua própria e tocando na minha. Engoli a seco. – Você sabe que é só pedir que eu deixo tudo isso pra trás e desisto de te machucar, não sabe?

Encarei-o friamente.

- Você matou Rosa.

Salen abaixou a lâmina da minha espada com a sua, fazendo um barulho irritante.

- Ela não importava nada para mim – soltou. – Nem para você, Hayley – levantou a sua espada, usando a sua lâmina para afastar um fio de cabelo meu que caia sobre o meu rosto. Paralisei, respirando fundo. – Você por outro lado... – continuou, apoiando sua lâmina no meu ombro bem coberto pela armadura. Encarei-o a fundo, desafiando-o a me matar. – Você é da minha família – fez uma pausa. – Você é filha da filha que eu nunca conheci e você sabe... eu sempre quis ter filhos...

Empurrei delicadamente a lâmina afiada de seu objeto de luta para fora do meu ombro, tomando cuidado para não cortar meus dedos no processo. Salen não resistiu.

- Você não faz parte da minha família, Salen – soltei com desgosto. – Eu odeio você.

Percebi que ele engoliu a seco.

- Sendo assim... – começou, largando a espada de uma vez só, na neve, ajeitando as mangas de sua capa logo em seguida. – ...acerte-me com o seu melhor golpe.

Sorriu, abrindo os braços.

E foi o que eu fiz, soltando um urro abafado ao cortar o ar com a lâmina antes de tentar atingir Salen. Ele deu um salto para trás, desviando de meu golpe. Encarei-o com raiva.

- Tente outra vez – ordenou, abrindo os braços.

Dei uma corridinha para a frente, concentrada, cortando mais uma vez o ar, errando Salen de primeira, mas assim que voltei com o movimento, de cima para baixo, acertei em cheio o rosto do bruxo, que levou a sua única mão ao rosto, cobrindo o corte que eu tinha aberto em sua pele, surpreso.

Sorri com a pequena vitória.

- Melhor – colocou, limpando o sangue que havia manchado a sua mão em sua capa, em seguida deu um passo para frente. – Continue.

E foi o que eu fiz, tomada pela raiva, cortando diversas vezes o vento, rodando, agachando, cortando pedaços de tecido, sentindo-me uma verdadeira lutadora ao acertar cortes certeiros no pé e no rosto dele, duas vezes seguidas.

Mas foi só quando eu consegui chegar perto o suficiente para dar meu golpe final que tudo mudou mais uma vez.

Quando eu tive abertura suficiente para fazer o que queria, finquei a espada na barriga de Salen, sem ao menos pensar antes de agir. Foi aí que me assustei.

Eu tinha atravessado a espada pela barriga dele. Meu. Deus.

Salen urrou de dor, levando sua única mão até a lâmina do objeto, que estava preso horizontalmente em sua pele. Soltei-o sem ao menos perceber, caminhando para trás.

Deus. Eu tinha conseguido espetar a barriga de Salen!

Ele fez uma careta.

- Quer saber – soltou, deixando evidente que o tinha machucado bastante. – Já chega disso.

Dito isso, ele puxou com sua única mão a lâmina para fora de sua pele, sem ao menos se importar com o corte que havia feito em seus dedos por causa disso, deixando-me perplexa.

Metade da espada estava dentro de sua barriga. Jesus. Não achei que isso fosse possível com aquela quantidade de pano o protegendo.

Assim que o objeto deixou sua pele, ele jogou a espada para cima, fazendo-a milagrosamente voltar com o punho para baixo, diretamente para a sua única mão. Depois do showzinho, ele virou a lâmina da espada para baixo e fincou-a na neve, usando sua mão para tapar seu ferimento logo em seguida.

Estava sem reação.

- Você não me deu opção, Hayley – anunciou, dando um passo em minha direção, parecendo sentir toda a dor do mundo. Engoli a seco. – Vou ter que lutar injustamente.

Respirei fundo. Soltando logo em seguida:

- Acerte-me com o seu melhor golpe.

E foi o que ele pareceu fazer, sorrindo antes de encarar-me. Foi aí que senti meu joelho falhar.

Minha visão ficou turva. O mundo inteiro girou, e eu cai no chão.

Ele tinha me acertado com o seu melhor golpe. E doía.

Consegui gritar de dor no momento exato em que despenquei na neve pouco macia. Sentia tudo dentro de mim queimar. Sentia uma vontade absurda de abrir a minha barriga. De me coçar. De arrancar aquela parte de mim.

Era terrível. Não sabia ao menos descrever.

- Hayley? – escutei meu nome ser pronunciado, mas não conseguia processar nada que chegava ao meu cérebro, tudo que ele pensava era dor, dor dor. Você está se desfazendo, Hayley. Você está morrendo.

Virei-me de barriga pra baixo, sem saber ao menos porque havia feito aquilo. Estava completamente aérea.

Enxerguei de rabo de olho Salen sentar-se, com a sua única mão coberta de sangue. Rosa estava caída, com os olhos abertos, brancos e secos bem à frente. Senti vontade de vomitar.

- Hayley...por favor fale comigo... – escutei alguém dizer, em seguida senti que fui obrigada a me virar de barriga pra cima. O mundo inteiro girou. Tive que me encolher para não morrer de dor. – O que está acontecendo? O que está acontecendo? – continuou a gritar, mas eu não consegui responder. Não conseguia mais respirar. Meu Deus, o que ele tinha feito comigo? – Fique comigo, Hayley – continuei a ouvir alguém dizer, não sabia quem era. O mundo andava em câmera lenta. – Não feche os olhos. Não feche esses malditos olhos! Abra os olhos, Hayley!

Eu havia os fechado? Não sabia dizer, não sabia como dizer, só me lembro de ter desligado e depois disso, só Deus sabe.

***

Olá para quem leu até aqui. Como estamos? Hahaha.

Espero que todos estejam vivos depois de quase cinquenta horas lendo essa capítulo IMENSO. Afinal, 12066 palavras não é pros fracos. Maratona Scaban hein kkk. ufa!

Masss apesar da enormidade (acabei de inventar essa palavra simmmm) o que acharam? Eu espero de coração e alma que tenham gostado! Eu fiz com muito amor e gastei um final de semana inteiro nesse capítulo haha.

Ele ia ser dividido em duas partes, mas preferi deixar só um um enormezinho haha. Gostaram disso ou ficou muito pesado?

Eu não vou me prolongar muito aqui porque honestamente, estou cansada haha, então, por favor, digam para a tia aqui o que acharam desse TCC que eu fiz pra vocês kkkkk.

Quero ouvir também especulações. O que Salen fez com a Hayley? O que vai acontecer? Quem morreu e quem não morreu? Quem salvou Hayley? Ela morreu? Drago morreu? Kioto morreu? Amelia? Saleeen? Quero ver o que vocês acham que vai acontecer em seguida...já adianto que é algo bem diferente hahaha.

RIP Rosa 🌹⚰️

Enfim, amores. Já deu de falar por hoje, obrigada pela paciência comigo e por todo o amor que sempre me dão.

Não sei se leram no meu perfil mas meu enem foi adiado pra Dezembro 😒. O que isso significa? Só Deus sabe! Mas...teve capítulo novo kkkk.

Anddd agora falta um pouquinho só pro fim de Scaban, viu? Socorro kkkkk.

Um cheiro em cada um. Amo vocês. Big beijo e até os comentários haha, Bely.

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## perguntinha bônus.

44) Sobre Amélia, há esperanças?

Sem opções, só sim ou não hein ahahaha.

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Capítulo postado no dia 06/11/16.
Todos os direitos reservados

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