Say No
Eram mais de três horas da madrugada e o jovem Harry Judd ainda se encontrava apoiado no balcão do bar com várias garrafas de bebida em sua frente. Não havia ninguém no local além do jovem e do garçom que estava tratando de fechar o estabelecimento.
_ Com licença rapaz. O bar já está fechando. Quer que eu chame um táxi para levá-lo em casa? – O garçom disse ao último cliente da noite.
_ Por favor, me deixe ficar aqui mais um pouco. Não quero ir para casa agora. – O rapaz além de bêbado parecia deprimido.
_ Mas por quê? Algo ruim o espera lá? – O garçom estava preocupado com o rapaz que não se encontrava em bom estado.
_ Apenas terei meus pensamentos para me atormentar e ninguém para me distrair.
_ Bom, se você quiser pode conversar comigo, esses trinta anos de garçom me tornaram um ótimo ouvinte.
_ Sério mesmo? Eu gostaria disso. – Um pouco de otimismo surgiu na expressão do rapaz.
_ Espere só um instante. – O garçom fechou as portas do bar e após sumir por alguns minutos voltou com mais duas garrafas de cerveja. O homem se sentou numa poltrona que havia na lateral do estabelecimento e foi seguido pelo jovem.
_ Então rapaz, me conte o que te atormenta.
_ Harry, me chame de Harry. – O rapaz disse pegando a cerveja que lhe era oferecida pelo garçom.
_ Harry, eu sou o Paul. É a primeira vez que você vem aqui, certo?
_ É sim, eu precisava encher a cara para parar de pensar nela.
_ Imaginei que tivesse uma mulher envolvida. Na maioria das vezes é assim. E aí, como ela é?
_ Ela é linda, uma das garotas mais lindas que conheci. Também é inteligente, engraçada, doce e tem o melhor abraço do mundo. Não importava se o mundo estivesse desabando ao meu redor, ela fazia todos os problemas desaparecerem. Eu a conheci em um show. Tinha ido com meu melhor amigo, o Steve, e ela estava lá, linda como sempre. Me encantei por ela e não conseguia parar de encará-la. Ela estranhou aquilo e veio me perguntar a razão de eu não tirar meus olhos dela. Eu disse a verdade e ela riu. Lembro até hoje das palavras que saíram de sua boca: "Uau, que sinceridade. Gostei disso. A maioria dos caras arrumaria uma desculpa idiota.". Ao dizer isso ela riu, e eu ri junto. É impossível deixar de rir quando se ouve a maravilhosa risada dela. Nós conversamos um pouco e combinamos de irmos ao cinema na semana seguinte. É lógico que peguei o número do telefone dela.Foi no cinema que demos nosso primeiro beijo. Nem me lembro de qual filme estava passando, minha atenção toda estava voltada à ela.
_ E qual é o nome dessa garota? – Paul perguntou interessado.
_ O nome dela é Maria Fonseca, mas eu a chamava de Mura. – O rapaz sorriu ao falar dela. Era um sorriso melancólico, mas ainda assim um sorriso.
_ Então essa garota, a Maria, terminou com você? Ou não me diga que algo trágico aconteceu.
_ Nada disso, o culpado fui eu. Já namorávamos há um ano e dois meses. Tudo ia bem, tirando o fato de que eu era ciumento. Me afastei de meus amigos para ter mais tempo com ela, e me irritava o fato de ela não fazer o mesmo. Toda vez que ela saía com as amigas eu dava um pequeno ataque de ciúmes. Sim, eu sou um idiota e sei disso. Mas na época eu não via o quão excessivo era meu ciúme. Eu me achava no direito de agir assim, já que a minha namorada era linda e atraía vários olhares. Enfim, nesse dia ela tinha deixado de sair comigo para ir à inauguração de uma boate com algumas amigas. E como que para me provocar mais ela vestiu um vestido curto. Perdi a cabeça e brigamos feio. No dia seguinte vi uma foto dela na tal boate com um cara. Fui pedir satisfações a ela e não quis acreditar quando ela disse que o cara da foto era gay e namorado de um amigo dela. Eu disse coisas horríveis a ela e pedi que não me procurasse mais, já que estava tudo terminado entre nós.
_ E depois disso você veio para cá e encheu a cara. – Paul tentou adivinhar.
_ Na verdade não. – O rapaz respondeu. – Já faz quase um ano desde que isso aconteceu e eu nunca mais a vi. Dias depois descobri que aquele cara era realmente gay e me arrependi de tudo o que disse a Mura. Já morria de saudades dela e esse sentimento não diminuiu nem um pouco. Isso tudo me fez pensar e eu percebi o quanto errei. Até passei a me consultar com um psicólogo para aprender a controlar meu ciúme e conquistar Maria de volta. Mas mesmo depois de ter aprendido a me controlar eu não tive coragem de ir atrás dela.
_ Harry, aproveite enquanto ainda é jovem e faça o que quer. Se não com a minha idade você terá tantos arrependimentos que se tornará um velho amargurado. Vá atrás da Maria e diga a ela o que sente.
_ Bem que eu gostaria, mas não dá mais Paul.
_ Mas por que não?
_ Porque eu perdi minha vez. Ontem o Travis me ligou dizendo que precisava conversar comigo, então marcamos de almoçar juntos. Nos encontramos num dos restaurantes favoritos dele.
# Flashback On
Quando cheguei no restaurante Travis já estava me esperando. Me sentei de frente a ele e logo o garçom veio nos atender. Assim que o garçom se afastou com nossos pedidos Travis começou a falar.
_ Então Harry, já tem um tempo que quero te falar isso, e espero que não me leve a mal. E, bom, não tem uma maneira fácil de falar isso, mas eu quero chamar a Maria para sair, e não conseguiria sem a sua autorização.
_ Como assim sair? – Perguntei atônito.
_ Bom, sair mesmo, do jeito que as pessoas costumam fazer. Ela é uma mulher muito atraente, e como você terminou com ela eu pensei que poderia tomar conta dela no seu lugar.
Fiquei em choque e não sabia o que fazer, percebendo isso Travis rapidamente tratou de falar.
_ Me desculpe cara. Pensei que estaria tudo bem. Mas deixa pra lá, vou deixar Mura em paz. Me desculpe mesmo.
_ Está tudo bem, vá em frente. – Eu disse após me recuperar do choque. Ele é um cara legal, e eu sei que ela merece alguém legal.
_ Sério mesmo? De verdade?
_ Claro! Por que não? Não temos mais nada um com o outro. Eu estou bem com isso. – A cada palavra que eu dizia era como se uma faca perfurasse meu coração. Mas eu não podia demonstrar. Seria egoísmo demais da minha parte não permitir que ela saia com outras pessoas sendo que não estamos mais juntos.
_ Nossa cara, você não sabe como estou feliz. Muito obrigado! – Travis se levantou e me abraçou.
# Flashback Off
_ O que eu mais queria era ter dito para ele que não. Que eu ainda a amo e que pretendo ter ela de volta. Mas não tive coragem e com um sorriso forçado o encorajei a ir até ela.
_ Mas por que você fez isso Harry? – Paul parecia indignado ao dirigir a pergunta ao rapaz.
_ Ah, Paul, não sei se o senhor vai me entender, mas ela não ficará solteira para sempre. Em algum momento ela teria algo sério com algum outro cara. E se esse cara for o Travis eu sei que ela ficará bem. Eu me certifiquei disso.
# Flashback On
_ Travis, já que você vai chamar a Maria pra sair eu gostaria de te dizer algumas coisas. – Eu disse quando tínhamos terminado de almoçar.
_ Pode falar cara, estou prestando atenção.
_ Ela não bebe muito, odeia o cheiro de cigarro e não gosta de ficar sozinha, então sempre esteja com ela. Certifique-se de sempre, sempre se lembrar do aniversário dela. Ela simplesmente odeia quando se esquecem de seu aniversário. – Dei um sorriso ao me lembrar da vez que ela ignorou uma amiga por uma semana por ela ter esquecido o aniversário de Mura.
_ Legal, e o que mais? – Travis perguntou interessado.
_ Bom, a cor favorita dela é lilás e ela ama perfumes que tenham um toque de baunilha. E sempre que está doente ela gosta de tomar uma xícara de chocolate quente com marshmallow. – Pensei em dizer também que ela adora dormir abraçada e ser acordada por um leve beijo, mas seria doloroso demais, então parei por ali.
# Flashback Off
_ Não sei por que disse isso tudo a ele e sei que vou me arrepender muito por isso. E hoje ele me ligou para me dizer que a convidou para sair e que ela disse que ia pensar, mas sei que ela vai aceitar. Secretamente estou implorando para ele conhecer outra pessoa e desistir dela. Eu queria ter conseguido dizer a ele que eu ainda não consigo dormir à noite por causa dela.
_ Mas ela ainda não aceitou? – Paul questionou o rapaz.
_ Ainda não.
_ E você ainda a ama?
_ Claro!
_ Então por que você ainda está conversando aqui comigo e não foi lá reconquistar a mulher da sua vida?
_ Ela deve me odiar Paul, me mataria ver o ódio em seus olhos.
_ Se vocês se amam tanto como você me disse isso não vai acontecer. Você só vai ter ela de volta se tentar. – Dito isso o garçom se levantou, recolheu os copos e garrafas já vazios que se encontravam na mesa e foi para o balcão do bar. Quando olhou para trás Paul constatou que o rapaz havia saído e sorriu satisfeito.
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Harry desceu do táxi com pressa e nem esperou por seu troco. Atravessou a rua correndo e tocou a campainha da casa branca com jardim bem cuidado. Ninguém atendeu.
Tocou a campainha novamente, dessa vez pressionando o botão por cinco segundos.
Esperou mais um pouco e quando ia tocar a campainha mais uma vez a porta foi aberta por uma mulher jovem que parecia ter acabado de acordar.
_ Harry? – Ela disse surpresa e despertando completamente ao reconhecer quem estava do outro lado da porta.
_ Maria, por favor diga não.
_ Como? – Mura não entendeu o que o rapaz estava lhe pedindo.
_ Ao Travis. Diga não a ele. Você não vê? Que eu ainda te amo? Meu coração parece não conseguir deixar você ir. Diga a ele que não, diga a ele que seu coração ainda está esperando por mim. Eu te peço, diga não.
Fim
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