I'm sorry mom
Acordo de madrugada com um choro no banheiro do quarto da minha mãe e mordo meu lábio, passo minha mão por meu rosto e me sento na cama de casal, acendo alguns abajures, levanto e vou em direção ao banheiro, dou algumas batidas e tudo fica um silêncio, ouço o barulho da descarga e então o barulho da torneira, minutos depois a porta se abre e vejo minha mãe com os olhos inchados e vermelhos.
- Você está bem? - pergunto com a voz trêmula e ela apenas nega com a cabeça e volta para a cama.
Eu sabia que ela odiava quando eu a pegava chorando.
- Volte a dormir Lauren, você tem aula amanhã. - sua voz sai embargada e então suspiro a olhando por uns segundos, me aproximo da cama e me deito ao seu lado - Desculpa por me ver assim.- murmura e sinto meu coração se quebrar.
Eu resolvi ficar em silêncio até que a ouço fungar por uns instantes então aperto meus olhos ao me lembrar que tudo aquilo foi a minha culpa.
- Me desculpa mãe. - murmuro a olhando e sinto um choro se instalar em minha garganta - Eu não deveria ter dito, eu não queria que você e o papai se separassem. - falo sentindo meu lábio começar a tremer indicando que um choro iria começar - Se eu soubesse que vocês iriam se separar eu jamais teria aberto a minha boca... Me desculpa. - me aproximo dela e a abraço começando a chorar de arrependimento por ter sido o motivo da separação dos dois.
- Lauren, querida olhe para mim. - minha mãe diz me abraçando e sua mão acaricia meu rosto - Isso não foi sua culpa. - diz assim que olho em seus olhos - Nunca se culpe por isso. - diz.
- Se eu não tivesse dito que era lésbica o papai não teria me expulsado de casa então vocês não teriam brigado e... - pela primeira vez desde que chegamos, eu desabo em um choro desesperado e agoniante que eu havia guardado para ser forte por ela - Você não deveria ter saído de casa comigo, foi um erro você ter feito isso.
- Lauren, escute o que eu digo. - beija minha testa na tentativa de me acalmar- Eu amo você e não me arrependo de absolutamente nada que eu fiz, quando eu descobri que estava grávida de você, eu fiz um juramento de sempre te proteger, de tudo e de todos. - afundo meu rosto em seu pescoço e então a abraço da melhor forma que eu conseguia - O meu divórcio com seu pai foi culpa dele por ser tão intolerante, ele ter me proibido de ver seus irmãos foi culpa dele... O que me dói não é o divórcio, é saber que o odio cegou o seu pai a ponto dele destruir uma família tão unida. - acaricia minhas costas enquanto eu chorava a dor de ter meus pais separados, meu pai sentindo nojo de mim, eu ter meus irmãos longe de mim, minha mãe sofrendo tanto assim e pela minha família ter acabado.
- Eu amo os seus irmãos, eu realmente os amo muito mas saiba que eu faria tudo de novo se fosse preciso. - sua voz vacila por um instante entregando o choro que ela segurava - Eu amo você, Lauren. Eu nunca iria me perdoar se deixasse você sair pela porta de casa sem um destino. Nunca se culpe por isso, estamos entendidas? - afirmo com a cabeça e então ela me aperta ainda mais contra seu corpo - Não chore mais, por favor. - pede com um fio de voz e então eu tento parar de chorar mas eu precisava soltar tudo o que eu estava segurando.
A voz do meu pai gritando que tinha nojo de mim, que eu era o pior erro dele, que ele nunca mais queria me ver na frente dele, que eu era uma lésbica nojenta e outras coisas que eram motivo dos meus piores pesadelos e de até eu sentir uma pontada de medo em meu coração quando escutava a palavra "lésbica" ser proferida da boca de qualquer um, começam a passar por minha mente intensificando meu choro. Tudo o que minha mãe e eu passamos a dois meses atrás começa a voltar tudo a tona como um soco no estômago.
Soluço sentindo meu peito queimar pela dor insuportável de não ser aceira por uma das pessoas que eu mais amava e minha mãe permanece em silêncio.
Quando eu me assumi minha mãe ficou um pouco arredia mas quando meu pai me expulsou de casa, ela foi a primeira a dar a cara a tapa para me defender e quando chegamos em um hotel, ela começou a me encher de perguntas tentando me entender e apagar aquele preconceito que ela tinha por causa da religião. Depois que ela ficou quase meia hora em silêncio digerindo tudo, ela me olhou com tanto amor que eu chorei de felicidade quando ela pronunciou as palavras "eu te amo e te aceito como você é, sua orientação sexual não vai diminuir meu amor por você, irá apenas aumentar por saber que você confia o suficiente em mim pare contar isso".
O que mais eu sentia raiva era que mesmo meu pai tendo feito isso, ele continuava sendo uma das pessoas que eu mais amava na vida. Eu não conseguia sentir raiva dele e isso fazia com que eu sentisse raiva de mim.
- Eu amo você, mãe.- murmuro depois de minutos que a minha crise crônica de choro passa e ouço um suspiro vindo dela.
- Eu amo você mais que tudo, nunca se esqueça disso. - sussurra e afirmo com a cabeça - Vá lavar o rosto, eu vou preparar um chá para nós. - fala subindo sua mão por minhas costas até chegar em minha nuca e fazer carinho ali.
- Está bem. - murmuro e ela beija o topo da minha cabeça antes de se levantar e sair do quarto, me levanto e vou para o banheiro vendo o meu estado assim que me olho no espelho.
Meus olhos estavam inchados e vermelhos assim como o meu rosto, meu nariz estava vermelho e meus lábios também estavam. Meu rosto estava banhado por lágrimas e meu cabelo bagunçado.
Eu apenas respiro fundo e lavo meu rosto, assou meu nariz e então volto para o quarto, me sento na cama e passo minha mão por meu rosto até meus cabelos.
Isso não está certo, eu quem deveria estar cuidando da minha mãe e não desabando quando ela mais precisa de mim.
- Eu sei o que você está pensando. - a voz da minha mãe ecoa pelo quarto e viro minha cabeça em direção a porta a vendo caminhar até mim com um pequeno sorriso no rosto e duas canecas de chá nas mãos - Não pegue o peso do mundo para você. - me entrega uma caneca e então beija a minha cabeça novamente.
- Eu quem deveria estar cuidando de você. - resmungo dando um gole no chá de camomila e minha mãe se senta ao meu lado.
- Você cuida de mim desde que tudo aconteceu e eu sou a sua mãe, eu quem devo cuidar de você. - sua voz doce faz com que eu me acalme um pouco e então olho para frente - Você é uma das melhores coisas que já me aconteceu abelhinha. - diz o apelido que ela me chamava quando pequena e isso me faz rir.
Olho no relógio e eram 2:27am, quando eu termino o chá eu vou novamente escovar meus dentes e me deito quase toda por cima de minha mãe a fazendo rir quando resmungo que era para ela me abraçar.
Eu realmente estava amando a nova relação de mãe e filha que minha mãe e eu estávamos construindo aos poucos.
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