20 • Vingt
Robyn Moore
Três semanas depois...
Eu estou grávida.
Eu torci para que isso de fato acontecesse, mas eu não pensei que fosse ser possível, que poderia dar tão certo assim. Porém, a senhora Tina disse para mim: Você é uma menina jovem, uma idade boa.
A mais velha sabe sobre minha tentativa de engravidar. Dar a luz a um bebê que não é meu para que minha mãe fique mais perto. Para que ela fique segura, de alguma forma, a senhora Tina me ajudou nisso, não me olhou torto quando disse o que faria. Diferente de Harry e Aaron.
Contudo, eles acabaram tendo que me entender que eu faria isso, eles aceitando ou não. Agora eu estou grávida.
Contudo, mais coisas aconteceram, a reunião que Harry teve com o rei não foi uma das melhores. O moreno me disse que o Harry parecia querer concordar com ele, o homem parecia disposto a ceder alguns pedidos dos revoltosos, mas que nem todos os homens da mesa concordaram com isso. Nem devo dizer que isso estressou o moreno de uma forma que foi difícil de acalmá-lo e para mais, tropas foram mandadas para a Cidade Baixa e isso não irritou somente a Harry, mas a mim também.
Obviamente os Revoltosos não aceitaram aquilo bem, mas eles não têm as melhores armas. A consequência de tudo isso: Um regime militar em Egan, ou ao menos em uma parte do país. Isso é caótico demais e espero que não seja um regime tão duro para com as pessoas que estão lá. Mas uma parte de mim, sabe que o que está acontecendo não é nada bom. Contudo, mesmo com esse regime eu irei reencontrar minha mãe depois de cinco anos e isso me alivia. Ontem mesmo conversei com ela, disse a ela que conseguiria trazê-la para cá. A mais velha sorriu, porém, não disse a ela o preço que estou tendo que pagar por isso.
Tenho a certeza que ela negaria e apesar da negação de Harry e Aaron a da minha mãe é a única que não posso aceitar, bem, não até ela estar aqui. Dessa forma, fiquei conversando com ela sobre outras coisas, contando sobre histórias, falando sobre o presente e com toda certeza sobre o futuro também. Conversar com minha mãe me anima e é minha terapia.
Saio do quarto e começo a andar pelos corredores. Harry não está em casa, mas não é a ele que vou avisar sobre minha gravidez. Irei até a mansão Offley. Preciso dar essa notícia a eles.
Enquanto ando pelos corredores, eu escuto um soluço. É um choro e não demora muito até perceber que é Kimberly. Ela ainda está aqui, ontem Harry brigou com ela, porque ela não aceitou muito bem o fato do divórcio. Ela não quis assinar os papéis, mas aquilo não abalou o moreno e ele disse bem alto como se fosse um decreto de que ela sairia daqui hoje mesmo.
O moreno vai anular o casamento com a Kimberly se ela não aceitar o divórcio. Nada vai impedi-lo disso e ele usará todo o poder que tem para mandá-la embora. Com certeza, deve ser por isso que ela chora e eu estou prestes a ignorar isso. Entretanto, ao escutar a voz dela, eu paro para escutar. É involuntário, mas eu fico curiosa, pois a morena de olhos azuis está chorando muito.
— Celie, você precisa me ajudar — Ela funga. — Ele não pode anular o casamento, se ele fizer isso papai irá me mandar para a Pensão Don Suárez.
Pensão Don Suárez é apenas um nome dado a um local onde pessoas deserdadas, filhos rebeldes ou em situações mentais delicadas vão. Não é um lugar de boa reputação. Lembro-me de uma mulher que fugiu antes de ir para lá e foi direto à Casa Anjo Vermelho. Ela implorou para que a Senhora Amber a deixasse ficar, a Casa era melhor que a Pensão e aquilo me deixou com medo e me fez pensar que eu poderia estar em um lugar pior.
É exatamente esse lugar na qual o pai de Kimberly ameaça levá-la, caso ela for uma mulher divorciada e isso não faz sentido. Infelizmente, alguns velhos costumes ainda se mantêm em Egan e a morena dos olhos azuis pode não ser mais a melhor esposa para algum outro homem poderoso. Entretanto, a vida não deveria se resumir a casamentos, bem, não casamentos dessa forma.
— Celie por favor... — funga. — Precisa me ajudar. Não posso ir para lá, não posso perder esse lugar por causa de uma prostituta. — Então a morena se vira. Seus olhos azuis me encararam repleto de lágrimas. Ela desliga o comunicador holográfico e antes de dizer algo para mim eu vou em direção as escadas rapidamente. Não quero nenhum tipo de briga, eu sinceramente quero resolver minha vida.
— Robyn espera! — Kimberly grita e eu a ignoro. — Robyn, por favor, me ajuda. Eu não posso ir para essa pensão, eu vou morrer lá — A mulher diz desesperada.
Eu quero ignorar isso, mas eu não posso. Acabo virando meu corpo para encarar a morena dos olhos azuis, mas ela está desesperada demais. Tão desesperada que quando eu me viro é o mesmo momento que ela acaba se desequilibrando, ela iria cair em cima de mim e eu a empurro para trás, mas quando eu faço isso, quem acaba caindo pelas escadas por desequilíbrio sou eu.
— Meu Deus, Robyn!
{•••}
— Você queria matá-la!
Harry grita e isso me faz sentir dor de cabeça. Uma dor maior do que antes e nem havia notado o quanto minha cabeça doía até prestar mais atenção em toda gritaria.
Com quem Harry está gritando?
Espera... Eu caí da escada!
Meu Deus, o bebê. Eu não posso ter perdido. Isso seria um desastre e poderia demorar mais meses para eu conseguir engravidar de novo. Além disso, Ben e Rachel podem mudar de ideia se eu tiver perdido o bebê e a chance de ter a minha mãe perto de mim seria algo perdido.
Não perdi esse bebê. Simplesmente não posso.
Escuto Harry gritar novamente e a agitação quase, e, apenas quase não me faz perceber que estou no hospital e quando a realidade de onde eu estou chega observo no monitor como os meus batimentos cardíacos estão acelerados. Volto a escutar o grito do moreno e ao olhar em direção do barulho, olho pela imensa janela de vidro do quarto ele está brigando com Kimberly.
A mulher parecia devastada. Bem, ela parecia desesperada antes e agora enquanto Harry grita com ela, a mulher parece pior.
— Ele não para de gritar com ela desde que chegou. — viro-me e vejo Aaron. Meu irmão sorri um pouco para mim. — Como você está?
— Minha cabeça está doendo.
— Precisou de dois pontos na testa — explica e eu levo minha mão na testa sentindo o curativo e um incômodo maior.
— Eu cai tão feio assim?
— Sim — Eu suspiro e meu irmão fica me olhando com atenção. — Mas você realmente caiu ou ela te empurrou?
— Eu não sei, digo, não lembro direito. Apenas dela gritando... — mordo meus lábios e os olhos castanhos do mais velho continuam me olhando com atenção. Quase chega a ser o mesmo olhar de papai quando queria descobrir se eu mentia. Não estou mentindo.
— Vocês brigaram?
— Não, dessa vez não. — Sou sincera ao dizer isso.
Depois da nossa briga semanas atrás, acabei me sentindo bastante envergonhada e prometi a mim mesma que não queria mais brigar, sequer absorver tudo o que Kimberly poderia fazer contra mim. Na noite daquele mesmo dia, Harry ficou sabendo o que houve e disse para Kimberly que faria de tudo para ela sair dali. Desde aquele dia ela também se acalmou e acredito que o motivo tenha sido controlar a situação, evitar isso, porém, não teria como evitar algo assim.
Afinal, Harry estava decidido a se separar dela antes mesmo de estarem juntos e agora, ela está desesperada porque foi ameaçada de ir à pensão Don Suárez. Um lugar hostil, uma prisão para deserdados e doentes. As histórias daquele lugar são como se houvesse algum inferno nesse país e eu apenas me arrepio de medo apenas de imaginar estar ali. Não sei o que faria se eu fosse a ameaçada de ir até lá.
Com certeza, estaria desesperada como Kimberly está.
— Robyn? — Aaron me chama e eu o olho. Meu irmão parece preocupado e eu mordo meus lábios.
— Se Harry se divorciar, Senhor Hawkins enviará ela para a Pensão Don Suárez. — Meu irmão abre um pouco a boca.
— Isso é bizarro.
— Eu ouvi a conversa, não queria ter ouvido. Kimberly se desesperou. — Começo a me lembrar do que aconteceu com mais nitidez à medida que falo sobre. — Iríamos as duas cair, mas eu consegui empurrar ela, quando eu fiz isso eu acabei caindo — explico e meu irmão suspira.
— Você acordou! — Harry diz, interrompendo a conversa com meu irmão.
Olho em direção a porta e o vejo. Seus olhos verdes me encararam brilhantes e ele veio rapidamente até mim e senta na beirada da maca. Olho para a porta pois vejo Kimberly e ela está com lágrimas nos olhos.
É a primeira vez, depois de todo esse tempo que eu vejo algum traço de sinceridade nela. A mulher não queria me jogar da escada ou me ferir. Ela apenas quer estar segura, como todas as outras pessoas. Ela não é assim tão diferente de todos nós. Existem correntes prendendo ela também e a forma que ela lida com elas, não foi a melhor para mim. Ao menos até esse momento. Agora, eu consigo entender que sua reatividade contra mim foi para se proteger.
— Hey, Baby. — sinto a mão de Harry em meu rosto. — Como você está? — pergunta e olho para o moreno. Os olhos verdes dele me encaram preocupados e eu não consigo sorrir e mentir.
Eu estou preocupada com o bebê.
— Eu estou grávida — murmuro.
Vejo quando Kimberly sai correndo do quarto. Escuto meu irmão suspirar alto.
— Eu vou atrás dela — Aaron diz, ele não está pedindo e eu apenas aceno com a cabeça e observo o mais velho sair do quarto.
— Grávida? — Harry pergunta e eu concordo com a cabeça. Algumas lágrimas escorrem do meu rosto.
— Não posso ter perdido o bebê — soluço. O moreno acaricia meu couro cabelo e beija o topo da minha cabeça.
— Tudo bem, meu amor. Tudo bem. — Os braços de Harry me seguram e eu choro.
Estou assustada e quero o médico aqui para me dizer que esse bebê está bem. Não posso ter o perdido, porque ele significa a volta da minha mãe. Ele significa que eu vou tirar a mulher que me gerou, quem me criou e passou a vida inteira trabalhando mais do que vivendo em um ambiente melhor. Essa gravidez, é o preço que eu estou pagando e quero terminar de pagá-lo, porque é algo que traz benefícios para todos, é sobre vida e amor.
Eu preciso ter esse bebê.
— Senhorita Moore? — escuto uma voz feminina. Olho em direção a porta e vejo uma mulher de branco. O cabelo afro preso em um coque e um pequeno sorriso se forma em seu rosto. — Como você está?
— Estou sentindo um pouco de dor na cabeça.
— Sim, é normal, vou pedir para administrar mais uma dose de analgésico certo? — fala calma e eu concordo. Procuro em seu jaleco um nome. Encontro um. Doutora Marilyn. Certo, ela tem nome.
— E o bebê?
— Eu sou obstetra e vim conversar com você sobre isso também. — A mulher dá mais alguns passos para dentro do quarto e Harry segura minha mão. — O bebê está bem, ainda está no início da gestação e pela queda sua placenta se deslocou um pouco. Dessa forma, recomendo repouso de duas semanas para que o feto continue a se desenvolver e sua placenta volte à posição inicial.
— O bebê está bem? — pergunto. Eu me sinto tão aliviada que sequer prestei atenção em tudo que a mulher a minha frente disse sobre repouso e desenvolvimento. Essa gravidez realmente é real.
— Sim — sorri. — Vou querer você em observação por mais duas horas por causa do corte na cabeça, mas se você não sentir mais nada, irei te dar alta ok?
— Tudo bem. Obrigada.
Marilyn sai do quarto depois de murmurar sobre o meu analgésico e que eu deveria começar meu plano de pré-natal. Essa médica não é a mesma que me consultei na clínica de Reprodução Assistida, a Doutor Stuart e nós vamos nos encontrar na próxima semana. Bem, terei de dizer a ele para começarmos o pré-natal.
As coisas estão funcionando apesar do susto e isso é bom. Afinal, tem tantas coisas acontecendo em Egan agora que ter minha mãe por perto é algo que almejo.
O regime militar está se tornando um inferno, as notícias que saem sobre a Cidade Baixa é que as coisas estão controladas, mas sei que é mentira. O meu irmão tem certeza disso, mas os Revoltosos que aqui estão podem fazer pouco, porque são poucos os que estão na Cidade Baixa podem estar morrendo de maneira bruta e censurada. Mamãe não me fala muito sobre, acho que ela tem medo.
Quando penso nisso, apenas consigo concluir que algumas coisas irão estourar. E que dessa vez, o estouro será grave.
Com isso, ter a minha mãe perto é tudo que quero. Melhor do que a incerteza sobre sua segurança e saúde. Do que pode acontecer e eu não tê-la por perto para ajudá-la de alguma forma. Devo isso a ela, entregar a ela uma vida melhor.
— Vou mandar Kimberly embora agora mesmo— Harry diz desviando totalmente os meus pensamentos. Olho para o moreno confusa. — Ela te machucou.
— Ela foi sincera quando disse que não fez por querer — digo e isso faz o moreno me encarar confuso. — Nem chegamos a brigar.
— Mas vocês já brigaram —Ele me lembra.
O moreno está certo do que quer e se ele dissesse que iria anular esse casamento semanas atrás, eu iria apoiá-lo. Inclusive, seria eu quem me encarregaria de levar as malas de Kimberly para fora da casa. Agora, contudo, é diferente, porque a mulher de cabelos pretos e olhos azuis vai pagar um preço caro. Um preço pelo qual eu não sei se vale a pena ser pago, porque ela entrou em um casamento errado.
Esse país já está a própria loucura, levá-la para um lugar assim seria como dar a ela uma sentença de morte e infelizmente, isso é algo comum. Minha mãe dizia histórias sobre as filhas dos fazendeiros que foram levadas para lá, porque eram rebeldes, ou porque engravidaram antes do casamento. Garotas que não obedeciam às regras agressivas impostas a elas. Mamãe também me disse, que já enviaram um homem porque ele estava em relacionamento com outro homem. O chamaram de louco, mas mamãe disse que ele havia sido uma das melhores pessoas que a fazenda de trigo já teve.
— O pai dela vai levá-la para a Pensão Don Suárez— falo baixinho e o homem franze a testa. Encaro seus olhos verdes e ele parece confuso. Não deveria estar confuso, afinal, eu fui direta no disse sem tirar nem pôr. É isso que irá acontecer com Kimberly se houver divórcio.
— Você tem certeza?
— Absoluta, ouvi ela pedindo ajuda para Celie — respiro fundo e seguro a mão de Harry. — Não quero ser responsável por mandá-la para um lugar que fará a ela coisas piores que eu tive.
— Não pode comparar as coisas, Robyn.
— Não quero ser culpada de ter matado ela — digo direta. Ele suspira. — Deixa eu conversar com ela e nós vamos arrumar isso, uh. Podemos encontrar outra saída.
— Tudo bem — diz baixinho. Um sorrisinho forma em meus lábios e novamente o alívio percorre meu corpo.
Espero estar fazendo o certo, algo dentro de mim acredita que sim. Apenas não quero me deixar por vencer na ideia de que existem apenas dois lados, o bem e o mal. Quero acreditar que Kimberly não é uma mulher cem por cento má. No início, ela não foi, afinal, ela apenas quis determinar o seu lugar como esposa. Porém, me lembro dela dizer que poderíamos viver juntas. Seu erro foi pensar que os sentimentos que existem entre mim e Harry são insignificantes.
Erro maior ainda foi o de Dave Styles em querer que o neto se relacionasse com uma mulher que ele não amava, para manter o status da família. Infelizmente, eu entendo o seu lado que é cruel a mim.
— É melhor você descansar mais um pouco — O moreno diz e volta a tocar meu rosto. — O que acha?
— Pode ser, mas eu queria comer primeiro. — faço um biquinho e Harry ri baixo.
— Certo, vou ver com a enfermeira. — Ele se levanta e caminha até a porta. — Não saia daqui.
Eu sequer tenho outra opção, mas eu obedeço a esse pedido e deixo com que Harry cuide de mim.
Quando o moreno voltou, ele estava com comida e também arranjou um livro para lermos, ele disse que eu não precisava conversar com Kimberly agora. Porém, pediu para Aaron dizer para ela se acalmar. Acredito que em algum momento, enquanto eu estava mais dormindo do que acordada naquele quarto de hospital, ela quis ver como eu estava, porque eu acabei ouvindo Harry falar com alguém que eu estava dormindo.
Eu realmente dormi, mais cedo do que estava acostumada e quando saí do hospital dormi por todo o percurso. Acredito que foi por conta dos analgésicos, mas, mesmo assim o meu corpo se sentia agitado de uma forma estranha. Não era sobre Kimberly, Harry ou minha gravidez. Sequer era sobre Ben e Rachel. Estava sentindo um aperto no coração e uma sensação triste, uma ansiedade sem razão.
Contudo, eu estava dominada pelo efeito do cansaço que aquele analgésico me trouxe e acabei apagando na cama. Não sei se teria sido melhor ter continuado acordada e pegado as coisas no exato momento que elas ocorreram.
Porém, tragédia é tragédia.
Continua...
Notas: Oiiii como estão?
O que vocês acham que pode ter acontecido ein amores??
Espero que estejam gostando. Anna. Xx
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