14 • Quatorze
Robyn Moore
Eu ajudei a Senhora Tina a colocar novas mudas em novos vasos e a colher algumas folhas de Gingko. A árvore é algo que a mais velha aprecia muito, pois suas folhas atendem as necessidades de outras famílias.
Essa estufa na qual a mais velha trabalha foi cedida por Harry pouco tempo antes do seu pai morrer, o homem precisava de cuidados e apesar de não ser o melhor pai do mundo para Harry. Maicon Styles ainda era um pai.
De toda forma, mesmo depois da morte de Maicon, esse lugar continuou e ele é excelente não apenas para que a Senhora Tina trabalhe em paz, mas também é um esconderijo meu e de Harry. Não é um lugar onde as pessoas imaginam nos encontrar, exceto a mais velha que vive aqui e ela nunca foi um problema no relacionamento que tenho com o moreno. Na verdade, ela sempre foi um apoio e a pessoa que eu, principalmente, poderia recorrer quando necessitasse de ajuda.
Ela foi minha mãe enquanto eu estava longe da minha. Ela foi o mais perto da afeição materna que eu tive durante todos os cinco anos longe de casa e eu sou grata a ela. Senhora Tina significa muito para mim.
Depois de ter ajudado a mais velha, eu entrei na imensa casa. A noite havia chegado com um céu limpo e estrelado. A lua estava cheia e brilhante. Era uma noite bonita e fresca. Espero que seja uma noite boa, mas eu preciso manter na minha mente que Kimberly está aqui e talvez sua irmã também. Não sei quanto tempo a irmã da mulher ficará aqui e eu espero que não fique por muito tempo.
Um pensamento egoísta que vem para mim, desejando que tanto Kimberly quanto Celie poderiam ir embora juntas com a garantia de que não vão voltar mais. O mundo, entretanto, não costuma seguir minhas vontades e o que envolve a presença de Kimberly aqui é algo maior do que eu. Ela tem o sobrenome do meu homem e uma fortuna grande também.
Não é o tipo de mulher que irá embora facilmente, mesmo Harry dizendo que sim. Talvez ela nunca vá embora e eu terei de arranjar um jeito de lidar com ela. Seja lidando com uma amizade ou me desviando dos seus ataques. Nunca vou saber para onde a vida me levará, como me levará e principalmente com quem serei levada.
— O que anda pensando? — escuto a voz de Niall. Olho para o loiro e ele está caminhando em minha direção. Sorrio para ele.
Eu estou na biblioteca, era para eu encontrar algum livro, mas acabei me distraindo.
— Nada demais. — dou de ombros e logo meu amigo está ao meu lado. — Como você está? — Um suspiro pesado sai da sua boca. Lembro que Patrick queria conversar com Harry, algo muito sério está acontecendo?
— É sobre minha mãe e minha irmã. Elas moram perto da fronteira e alguns ataques aconteceram. Nossa casa pegou fogo.
— Elas estão bem? — pergunto preocupada.
— Elas estão com algumas queimaduras leves, mas bem. Apenas não tenho mais uma casa para voltar.
— Então era isso que seu pai queria com Harry?
— Sim, minha mãe e irmã virão para cá. Precisam de um emprego e Harry disse sim, mas ter perdido o lugar onde eu cresci... — Ele suspira e passa o dedo nos livros na estante à nossa frente.
Os olhos azuis se perdem em lembranças. Eu coloco a mão em seu ombro, o loiro me olha e eu sorrio um pouco, uma demonstração de compaixão.
— Nada pior que perder a casa. Só que pior ainda é perder a família e isso você não perdeu.
— Não — murmura e me olha. — Você vai gostar de conhecer elas.
— Se forem como você e Patrick, vou amar sim. — sorrio e meu amigo segura minha mão.
— Obrigada Robyn. — Apenas aceno com a cabeça. Eu sou amiga, amizades servem para isso. — Acho que a janta já está pronta e eu não vi você comendo de tarde.
— Porque não passou a tarde comigo. — pisco e o loiro nega com a cabeça.
— Vamos logo, Robyn — diz e começa a me puxar para fora da biblioteca.
No entanto, Niall está certo. Acabei não comendo de tarde, mas não é como se eu estivesse morta de fome. Na verdade, estou tranquila, talvez o problema viesse se eu não jantasse. Por isso, assim que chego na sala de jantar. Eu ignoro a presença de Kimberly. A irmã dela já havia ido embora, para minha felicidade, ter que aturar ela e a irmã seria algo que não teria tanta paciência assim.
Escuto a mulher dos olhos azuis sussurrar algo que com certeza não foi um elogio, mas eu decidi ignorar aquilo e não demorou muito para que Harry chegasse e se juntasse a nós. Desta vez, Kimberly queria atenção do homem que não estava nenhum um pouco interessado nela e eu até me divertia com aquilo tudo. Permanecendo calada, ouvindo as conversas frustradas que ela tentava começar com ele enquanto eu comia.
E me referindo a comida, o jantar estava delicioso e eu acabei terminando de comer quase que junto de Harry. Dessa forma, quando o moreno ia se levantar para sair dali, Kimberly segura o seu pulso.
— Amorzinho espera, eu fiz uma sobremesa para você — diz e Harry franze a testa.
— Você? — pergunta surpreso.
— Sim, torta de maçã. — sorri abertamente, ela olha em direção de Jeniffer e gesticula com a mão para a mulher.
A mais velha vai para cozinha e logo volto com um pedaço de torta de maçã. Harry me olha e eu dou um sorrisinho. Ele volta a olhar para Kimberly.
— Você fez isso sozinha? — pergunta desconfiado.
— Sim, minha irmã me ajudou já que as suas cozinheiras estavam ocupadas com a janta — diz brava. — Mas coma, é a melhor receita de torta de maçã. — Deixo meu cotovelo na mesa olhando atenta para tudo aquilo e bem no fundo torço para que ela tenha seguido a receita fraudada, que ela tenha sido boba a esse ponto. Eu preciso rir um pouco.
Não demora muito e Harry coloca um pedaço da torta na boca. Imediatamente ele cospe e faz careta.
— Que horrível! O que é isso?! — Harry afasta o prato e eu seguro minha risada.
— Eu... — Kimberly começa a falar e desisti. A mulher se vira para me olhar, eu dissimulo e tento parecer desentendida sobre tudo isso. — Foi você!
— Eu não fiz nada — digo simples. — Você, por outro lado, deveria aprender a cozinhar. Ou simplesmente deixar de ser bisbilhoteira. — levanto-me e ignorando o olhar confuso de Harry e o olhar perverso de Kimberly.
Sim, eu poderia ter falado com ele sobre isso. Entretanto, o 'plano' poderia acabar dando errado e no final comer um pedaço de algo ruim não é como se fosse provocar diarreia a ele como o que aconteceu enquanto ele estava em Mạngkr dæng e comeu uma fruta desconhecida.
Subo até o meu quarto e fecho a porta, eu vou até a penteadeira e suspiro alto. Eu não gosto de brigas, mas eu não sou do tipo que irá fugir, aprender a lutar e a gritar também são coisas importantes na vida. Não tem que ser apenas se encolher, esconder e fugir. Espero que isso tenha bastado, para que pelo menos, a mulher dos olhos azuis pare de ficar me bisbilhotando o tempo inteiro.
— Sua meretriz, puta, vadia, suja, pros...
— Hey! — digo alto e levanto minha mãe. Isso basta para interromper a mulher. Ela está olhando para mim furiosa, consigo vê-la pelo espelho a minha frente. — Não queria envergonhá-la, só que você tomou a decisão de ouvir minhas conversas, entrar no meu quarto e pegar minhas coisas — falo calma e solto meu cabelo. A mulher semicerrou seus olhos e eu pego o óleo de coco para passar no meu cabelo. Kimberly avança em minha direção e eu estava pronta para revidar qualquer tapa, eu estou nem aí se Harry vier para separar a gente depois, eu vou arrancar o cabelo dela se ela me tocar.
Entretanto, Kimberly não me bate, ela deixa sua mão na cadeira e chega sua boca perto do meu ouvido.
— Apenas lembre-se Robyn, você pode ter a simpatia delas para te ajudarem nesses planinhos, mas quem tem o poder sou eu — sussurra e eu continuo a encará-la pelo espelho. Minha expressão não se altera, não vou sentir medo disso, não vou me deixar abalar por isso. Porque eu já estive em lugares ruins e se tiver que estar em mais um, eu estarei e não morrerei por isso.
— Kimberly. Robyn. — escuto a voz grave de Harry. Ele está bravo e eu nem preciso encarar seu rosto e sua expressão zangada para confirmar isso. A mulher dos olhos azuis, vira imediatamente seu corpo e se afasta de mim.
— Amorzinho, é tudo culpa dela! — Kimberly acusa, eu reviro meus olhos.
— Pode deixar que eu vou resolver isso — Harry diz.
— Vai fazer o que? — Havia curiosidade no seu tom. Eu viro um pouco meu corpo para encarar tudo aquilo, mas como eu estou de costas para a Kimberly eu não consigo ver sua expressão. No entanto, a de Harry consigo ver muito bem.
— Apenas nos deixe a sós. — O moreno fala assustadoramente calmo.
— Amorzinho...
— Agora Kimberly! — Ele diz alto cortando a mulher.
— Você irá passar a noite com ela?
— Kimberly não quero gritar mais uma vez — O moreno diz firme e é surpreendente a forma como a mulher apenas acena com a cabeça e sai do quarto fechando a porta. Isso chega até a ser estranho. Por que ter tanta devoção a alguém que nitidamente não está interessado em você?
De toda forma, ela saiu do quarto e Harry veio até mim.
— Você poderia ter me falado da torta — murmura e se senta na cama.
— Amorzinho você é um ator horrível — debocho e ele revira os olhos. Eu finalmente começo a passar o óleo de coco no meu cabelo.
— Foi sua ideia?
— Senhora Tina. — desembaraço meu cabelo. — Estava tão ruim assim? — Olho-o
— Horrível, tinha canela, você sabe que eu odeio canela. — Ele faz careta. Solto uma risada.
— Sei sim. — Faço duas tranças. Quando termino de pentear meu cabelo eu me levanto. — Você deveria voltar para seu quarto.
— Eu estou no meu quarto, Robyn. — Ele me puxa pela cintura. Sento no colo do moreno. — Estou na minha casa. — Beija meu pescoço e eu passo a mão no cabelo dele. — Você vai sair que horas amanhã?
— Cedo, pouco depois do sol nascer — respondo e olho para o homem. Os seus olhos verdes ficam me encarando e eu sorrio. — Nem acredito que eu vou mesmo ver minha mãe depois de todo esse tempo, parece um sonho — falo empolgada.
— Você encontrou sua família, Robyn. — sorri e acaricia meu rosto. — Vou arranjar um jeito de trazer sua mãe para cá. Lany vendeu algumas de suas terras de trigo para um novo milionário, Ben Offley. Liam disse que ele é tranquilo e talvez ele me ajude com isso se eu explicar a situação. — concordo com a cabeça.
Ben Offley, por um momento penso se eu devo dizer que esse novo milionário, é o homem que queria que eu fosse a amante dele, mas com certeza esse tipo de informação eu posso deixar guardada para mim. Não é algo importante se Ben nunca me ver. Além disso, existem outras coisas para pensar e uma ansiedade rodeando meu corpo de todas as formas possíveis. Amanhã vou ver minha mãe. Isso é a única coisa que importa para mim no momento.
— Robyn? — Chama-me baixinho, olho para ele e o moreno passa o dedo no meu queixo. — Tudo bem?
— Vou ver minha mãe. — sorrio imensamente. Seguro o rosto do moreno. — Minha mãe! — digo vibrante e ele sorri. Eu o beijo e deixo com que os sentimentos para além da ansiedade invadam meu corpo.
Deixo que Harry tenha razão sobre esse quarto ser dele, porque no final, realmente é e eu aproveito que ele está aqui. Aproveito que não estou com sono e Harry também aproveita.
{•••}
Acordei antes do sol nascer. Harry havia esperado eu dormir para sair do quarto, apenas sei disso porque quando eu acordei ele não estava mais lá. Quando desci as escadas depois de me arrumar, Jeniffer disse que eu havia acordado muito cedo, bem antes de Harry.
Apenas sorri para a mais velha de cabelo castanho avermelhado, disse a ela que veria alguém importante e Jeniffer preparou um café para mim enquanto eu contava que iria ver minha mãe depois de cinco anos. Não conto minha história para todo mundo, não com muitos detalhes, mas muitas vezes eu acredito que não preciso encher minha história de detalhes, principalmente para a mais velha que está comigo na cozinha, que apesar de morar na Cidade Alta, não é como se ela fosse rica. Ela veio da Cidades Baixa, disse que sua mãe trabalha na fazenda de um dos gerentes e que só veio para cá, graças a Angela, a mãe de Harry. Jeniffer gosta de me contar sobre a mãe do moreno, elas eram amigas, quase a mesma idade e Angela Styles era tão bondosa quanto o filho. O oposto de Dave e um pouco de Maicon, mas não em totalidade.
Eu gostaria de ter conhecido a mãe de Harry, mas ela morreu quando o mesmo tinha doze anos.
— Maicon era um homem bom. — Jeniffer suspira. — Depois que Angela morreu, ele deixou de ser o que era, ele mudou. Por parte, acredito que ele queria deixar o filho forte, mas só sabia ensinar na forma que o pai dele ensinava. Apenas não funcionou porque Harry tem muito de Angela dentro dele, o tipo de essência que não se perde. E você alimenta essa essência.
Eu olho para minhas mãos. Alimentar a essência de alguém. Logo eu? Parece irônico, mas não entendo como o amor funciona, muitas vezes esse sentimento prega peças em mim e anda ao lado do Universo, unindo o que pode. Ou talvez o amor peça para que o Universo não se quebre em injustiças e ódio. Às vezes o amor apenas consegui pedir.
— Robyn? — escuto a voz do meu irmão e sorrio. Levanto-me rapidamente e ele sorri divertido para mim. — Vamos?
— Com certeza.
Despeço da mais velha e vou com meu irmão até o centro da Cidade Alta, havia muitas pessoas ricas pelas ruas que passamos, eu quase não venho aqui nem mesmo para fazer compras. Normalmente, eu compro roupas de uma costureira, mas o ateliê dela é na sua própria casa e outra vezes Harry quem me traz presentes. Além disso, nunca me senti atraída em fazer compras demais, preocupava-me com outras coisas.
De toda forma, meu irmão estaciona o carro de frente a um prédio cinza com janelas escuras. É a central de comunicação e onde as pessoas se comunicam, havia pessoas com roupas caras e baratas. É um dos poucos locais onde todos usam, independente da classe, pergunto-me até quando. Espero que continue, essa central de comunicação não pode desaparecer, ela é importante e será por onde eu irei ver minha mãe depois de cinco anos.
Aaron e eu subimos até o terceiro andar e não sei quanto tempo ao certo demorou até entramos em uma cabine de comunicação holográfica, ao mesmo tempo que pareceu ter demorado, pareceu ter sido rápido e o meu irmão mais velho disse algumas coisas para mim. Ele disse que mamãe mora com uma prima chamada Emma que talvez eu não vá me lembrar dela, mas ela é uma grande amiga de mamãe que ficou anos distante porque teve que trabalhar em outra fazenda quando eu era menor. Realmente, não me lembro dela, mas meu irmão parecia gostar dela, então talvez eu goste dela também.
De todo modo, quando meu irmão apertou o botão, os vidros de dentro da cabine mudaram de cor para azul e alguns números verdes ficaram refletidos nele. Eu estava atrás de Aaron e segurava com firmeza o meu pingente. A frase do meu pai dizendo sobre eu não esquecer de onde eu vim e onde pertenço soam alto em minha cabeça, até que eu escuto a voz de minha mãe.
— Aaron, você parece cansado. É o seu novo chefe? Ele é exigente? — ela diz preocupada. A mesma voz suave de que me lembro, a voz da minha mãe. Eu não consigo controlar minha ansiedade e vou imediatamente ao lado do meu irmão.
O holograma da mulher está a minha frente, é colorido e se não eu tivesse notado que ela estava flutuando a minha frente eu ia acreditar que ela estava mesmo ali. Minha mãe me olha e meus olhos se enchem de lágrimas. Megan Moore continua uma mulher bonita, poucas rugas no rosto, uma pele negra brilhante, um pano cabeça escondendo o cabelo crespo como o meu e um vestido laranja com retalhos, minha mãe.
— Mamãe. — As lágrimas escorrem do meu rosto sem qualquer controle.
— Robyn.
Continua...
Notas: Ooi meus amores como estão?
Gostaram do capitulo? Espero que sim.
Ate breve. Anna. Xx
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