07 • Sept
Robyn Moore
Quinze anos atrás...
É uma tarde quente de verão e meu pai me levou até o rio para brincar com as outras crianças. É domingo, sei disso porque papai me contou, no domingo descansamos. Exceto mamãe, ela tem que trabalhar na fazenda. Fazer o almoço para a família do homem que os paga.
Espero que ela traga sorvete de milho verde. Afinal, no calor, o sorvete de milho verde é a melhor coisa que existe. Na verdade, esse sorvete é bom sempre, poderia tomar até mesmo nos dias frios, mas meus pais não permitem.
— Robyn? — Meu pai me chama e eu já tinha mergulhado bastante. Eu sorrio para ele. — Venha aqui querida, tenho algo para você.
— Sorvete? — pergunto perto do rio e ele nega com a cabeça.
Vou correndo até o mais velho e ele coloca uma pulseira em meu pulso. É dourada, com um pingente marrom com forma de trigo. O mesmo trigo que ele cuida e planta e que o ajudo às vezes. Olho para ele curiosa. Por que ele está me dando isso?
— Para você, o que acha? É importante saber onde você pertence. — sorri para mim.
— Eu achei linda. — digo encantada. Uma lágrima escorre no seu rosto. Franzo minha testa. Por que ele está triste?
— O que houve papai? — pergunto preocupada.
— Lembra-se de Aaron?
Aaron é o meu irmão e papai disse que ele foi trabalhar em outra fazenda. Ele é mais velho que eu. Não consigo me lembrar muito dele, apenas da voz dele cantando para mim sobre as estrelas todas as noites, uma canção que eu canto quando quero dormir mas não consigo. Eu sinto saudades do meu irmão, mas precisavam de ajuda e o meu irmão é uma boa pessoa e foi ajudar. Foi o que mamãe disse e papai concordou
— Meu irmão me deu? Ele está voltando para casa? — pergunto sorridente e cheia de expectativas. Talvez papai esteja chorando de felicidade, mas não recebo sorrisos de volta. São notícias tristes.
— Não, querida, não foi ele que te deu. E o Aaron não vai mais voltar, Robyn. Porque ele... Ele morreu querida.
Agora...
Olho para o homem à minha frente esperando respostas. Estamos em silêncio faz um tempinho e eu quero saber onde meus pais estão. Preciso saber disso, eu quero vê-los.
— Por que a insistência nisso, Robyn? — Marcus pergunta me olhando curioso, eu reviro os olhos, sinto-me impaciente.
— Não me enrola, eu te dou parte do que eu ganho para entregar a eles. Agora estou fazendo uma pergunta simples, então me responda!
— Os seus pais te venderam para mim e do mesmo jeito você é devota a eles.
Eu pego o caderno de anotações de Marcus estressada com toda aquela situação, isso faz o homem se levantar imediatamente.
— Robyn me devolva isso! — pede e eu corro para o outro lado daquela sala folheando as páginas, a procura de algo, mas não encontro nada. É apenas um caderno de finanças e o homem mexe com muito dinheiro. Não deve ter nada dos meus pais aqui, por isso quando Marcus me alcança eu o deixo pegar o caderno.
— Os meus pais! — exijo.
— Eles morreram. — diz simples e franzo minha testa. Mentira, não podem ter morrido.
— Não morreram. Senão... — paro de falar e a tristeza invade meu corpo. Marcus não hesitou em falar isso. O mesmo jeito de falar que meu pai teve quando disse a mim que o meu irmão mais velho morreu. — Faz quanto tempo?
— Um... Dois meses? — diz sem importância. — Faz pouco tempo, Robyn.
— E você nunca pensou em me contar?! Seu filho da puta! — dou um tapa forte no rosto do mais velho sem pensar nas consequências.
Ele passou dias sem me contar sobre isso, que meus pais morreram. Ele não me disse nada e ficava pegando meu dinheiro. Eu odeio esse lugar. Eu odeio minha vida! Eu perdi meus pais e nem pude me despedir deles.
— Robyn! — Marcus avança para cima de mim, mas para quando escuta o som dos tiros. Nós dois nos assustamos com isso.
Eu não sei de onde vem o barulho dos tiros, muito menos Marcus, eu olho para janela que estava aberta e uma das balas acaba entrando naquela sala acertando um quadro. Abaixo-me imediatamente e Marcus corre para fechar a janela, mas isso é uma ideia muito ruim e um dos tiros o acerta. Solto um grito e novamente sinto meu corpo paralisar enquanto vejo o sangue do homem manchando o chão de madeira daquele escritório. O meu coração acelera e eu começo a chorar.
O medo invade meu corpo, tornando minha visão turva e os tiros continua. Eu não quero morrer, eu não quero morrer, eu não...
— Robyn? — Uma voz me chama e olho para frente. Vejo um homem com o rosto tampado e usando touca, vejo apenas seus olhos castanhos. Não o conheço. O homem está segurando uma arma, isso me deixa mais assustada e eu começo a mover meu corpo para trás até minhas costas baterem contra a parede.
Noto um colar em seu pescoço, o mesmo colar que meu pai tinha, com o mesmo pingente que da minha pulseira. Fico confusa, como ele sabe meu nome?
— Robyn é você mesmo? — pergunta de novo, não consigo dizer nada. Eu estou tremendo de medo.
— Sai daqui seu assassino! — Senhora Amber chega correndo para cima do homem com um facão na mão. O homem foge correndo para fora do escritório dando tiros para cima para assustar a todos.
— Lucie, tire Robyn daqui e Kaique chame um médico agora! — Ela grita.
A ruiva me ajuda a levantar e quando eu levanto ela arregala os olhos assustada. Lucie olhava em direção ao chão.
— O que foi Lucie? — pergunto preocupada e olho para baixo. Sangue, meu sangue.
— Ele te machucou? — Ela pergunta preocupada e eu nego com a cabeça.
O meu bebê.
— Meu bebê. É o meu bebê. — digo desesperada. A mulher me olha preocupada e me tira imediatamente daquele escritório.
{•••}
Era para eu ter ficado apenas um tempo neste bordel. Não mais do que minutos, mas agora já está anoitecendo. Eu fiquei a tarde chorando, quando o médico veio me ver confirmou que eu realmente havia perdido o bebê. Que poderia ter sido o susto que passei. Eu realmente me assustei. Realmente estou me sentindo triste.
Os meus pais morreram e eu perdi meu bebê. Apesar de terem dito que eu deveria descansar, eu não consigo pegar no sono. Não consigo me sentir bem, não consigo voltar para Harry. Eu apenas quero chorar.
— Robyn, trouxe comida. — escuto a voz de Natalie. Eu não olho para ela, não consigo, mas escuto seus passos. — Você poderia ter evitado tudo isso.
— Eu não poderia. — viro-me e olho para a loira. Já fomos amigas e eu preciso de alguém. Preciso conversar com alguém.
— Claro que poderia, você tem o Harry. Ele tira você disso, Robyn. Você sabe. Ficar aqui é se mutilar e você tem a sorte de ter alguém que te ame o suficiente para te tirar daqui. — fala e eu sinto um pouco de raiva em seu tom. Não acho que seja raiva de mim.
— Os meus pais morreram. — digo e mais lágrimas escorrem do meu rosto. A loira suspira e acaricia meu cabelo cacheado.
— Foram eles que te colocaram aqui, Robyn. — diz direta e eu suspiro.
— Eu sei, mas as coisas em casa estavam difíceis. — limpo meu rosto. — Você também é da Cidade Baixa, você sabe.
— Eu tive pais de verdade que morreram da praga, por isso eu parei aqui. Os seus pais te mandaram aqui e os pais de verdade lutam pelos filhos, os seus pais não lutaram por você. Eles te mandaram para cá porque era mais fácil. — Natalie foi rude. Fico olhando para a loira e ela suspira. — Robyn, tem alguém que quer lutar por você. Deixe eu chamá-lo para tirar você daqui. Você não precisa passar mais nenhum um dia aqui e nada mais te prende.
— Tudo bem. — digo baixinho, a mulher acena com a cabeça. — Obrigada Natalie. — A mulher sorri um pouco.
— Agora coma, você não comeu nada. — diz mandona e eu olho para o barato de comida. Milho com manteiga e um copo de suco.
{•••}
Não demorou muito até o carro do Harry vir me buscar e não demorou muito mais tempo até eu chegar naquela casa imensa. Ainda sim, os sentimentos de tristeza e melancolia invadiam meu corpo.
Ainda havia um sentimento triste pela perda do meu bebê, digo, talvez eu realmente não o tivesse, mas talvez, eu o tivesse. De toda forma, não queria que fosse assim, mas foi e eu me sinto estranha. Afinal, meus pais morreram, meu bebê se foi e eu não sei como dizer tudo isso a Harry, sequer consigo controlar a tristeza que sinto.
Natalie disse que meus pais não foram bons pais porque eles me deixaram em uma casa de prostituição, mas é uma vida complicada e nem sempre as melhores soluções são as soluções mais rápidas ou as pensadas imediatamente, a vida não é fácil e eu sei que eles poderiam ter encontrado outra escolha para mim, mas foi uma época difícil, uma doença se espalhando, a fome crescendo e as opções foram se perdendo.
Agora eles morreram sem ao menos saber como eu estava ou me deram a chance de tirá-los de toda a selvageria da Cidade Baixa. Eu os perdi sem ao menos dizer um adeus.
Assim que entro na casa, eu vou até o quarto de Harry, o homem estava deitado e me olha preocupado assim que me vê. As lágrimas voltam a escorrer no meu rosto.
— O que aconteceu, Baby?
— Meus pais morreram. — soluço.
— Ah Robyn... Eu sinto muito. — diz e eu vou até ele. Deito-me ao lado do homem e o abraço. Deixo minha cabeça em seu ombro enquanto as lágrimas continuam a cair com a mesma intensidade de mais cedo, como se fosse a primeira vez que eu estivesse chorando.
— Eu perdi o nosso bebê. — falo e ele respira fundo. O moreno beija o topo da minha cabeça e murmura que tudo bem.
As carícias de seus dedos são sentidas no meu braço, ele me conforta e me acolhe e eu me despedaço de todas minhas dores no seu abraço.
O moreno beija minha bochecha e eu me aconchego no seu abraço, ele geme baixinho.
— Desculpe. — acaricio sua nuca. Olho para ele e ele limpa meu rosto.
— Está tudo bem, estou melhorando. — concordo com a cabeça. — Você está sentindo dor? Digo, fisicamente?
— Não. — suspiro. — Aconteceu um atentado na rua da Casa Anjo Vermelho. Um dos homens atirou em Marcus, eu me assustei. Foi terrível e ele entrou lá dentro, ele me chamou pelo nome.
— E você o conhecia?
— Não, na verdade, não sei. Não consegui ver o rosto dele e ele tinha o mesmo colar do meu pai. Por um momento pensei que fosse meu irmão.
— Você disse que seu irmão morreu.— suspiro concordando com o moreno, afinal, foi isso que meu pai me disse e foi assim que ganhei a pulseira.
— Eu sei, talvez seja outro alguém que me conheceu na Cidade Baixa. Alguém que não me lembro. — esfrego meu rosto, estou me sentindo completamente confusa. — De toda forma, o médico disse que o susto pode ter sido o motivo do aborto.
— Então você irá descansar agora. Porque você demorou e tem duas olheiras enormes em seus olhos. — diz e eu fico olhando para os olhos verdes de Harry. — Não vai ser fácil, Robyn, mas você é forte. — Ele beija minha mão.
— Obrigada, Harry. — murmuro e deito minha cabeça no seu peitoral. O moreno fica acariciando minhas costas até eu cair no sono.
Na manhã seguinte, quando acordo, o moreno não estava na cama. Não escuto sons do banheiro do quarto e a porta está aberta. Eu sinto um pouco de cólica, mas o médico avisou que poderia acontecer e que eu deveria ficar alguns dias de repouso, uma semana, ele disse que eu deveria lidar com o luto, eu estou lidando com vários lutos nesse momento.
Por isso, quando entrei para debaixo do chuveiro para tomar meu banho, eu demorei mais do que o normal porque sentir a água quente nas minhas costas foi uma massagem relaxante e tem algo sobre a água e limpar meu espírito, eu sinto isso, por isso eu deixei que a água me lavasse, me levasse, ou melhor, levasse minha dor de mim. Não funcionou cem por cento, mas quando terminei, me senti melhor para descer as escadas e procurar pelo moreno. Ele ainda precisa ficar de repouso, mas eu o conheço e como seu ferimento não foi muito grave ele deve estar andando pela casa, pelo jardim, ou ainda, ele deve estar no escritório dele trabalhando e estressando sua cabeça.
Vou até o escritório de Harry e a porta está aberta. Escuto vozes e assim que entro lá eu vejo uma mulher. Cabelos negros longos, pernas longas e malas no chão. Harry está bravo olhando para ela, mas quando ele me vê sua expressão muda e ele parece assustado.
— Robyn? — chama-me baixinho. A mulher vira seu rosto me olhando. Os seus olhos são azuis, como o céu de verão, seus lábios são finos, mas não demais e o nariz é fino como de boneca. O seu rosto é simétrico, mas ela tem bochechas fofinhas. Não é uma mulher feia, mas o olhar que ela tem para mim não é dos mais simpáticos. Quem ela é?
— Oh! Então você é a Robyn. Prazer, eu sou a Kimberly a noiva de Harry. — diz esticando as mãos para mim e eu olho para o moreno dos olhos verdes chocada. Ele está me olhando espantado, mas nega um pouco com a cabeça. Que merda está acontecendo aqui?
— Noiva?!
— Sim, mas o Senhor Styles me avisou sobre a relação do Harry com você. Não me importo dele ter amantes, só vamos entrar em um acordo que ele passe todas as noites comigo.
Continua...
Notas: Oioi amores como estão?
Só tiro porrada e bomba nesse capitulo ne?
O que acharam do homem de capuz? Já sabem quem ele é? E as primeiras impressões da Kimberly uh?
Espero que tenham gostado. Beijocas. Anna. Xx
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