01 • Une
Robyn Moore
Estou de frente a esse espelho há alguns minutos, pensando no que fazer. Eu poderia dizer que estou com febre hoje ou que eu não quero ir por indisposição. Só que o dia começou e eu tenho que me mover. Não posso parar, e eu já escuto a nota repetida de piano. Madame Amber acordou e ela não vai deixar ninguém dormir, porque quer todas nós trabalhando nessa manhã radiante. Ou ao menos energizadas para a noite, mas para isso precisamos nos mover agora.
Olho para a pulseira que ganhei dos meus pais quando eu era criança e bem antes de vir para cá. Um pingente em forma de moeda de cobre com um desenho de trigo. Éramos dessa plantação, não donos, apenas trabalhadores. Espero que eles estejam bem.
Eu pego o pó e começo a passar na minha bochecha tampando o hematoma que ganhei noite passada. Os drogados abandonados são os piores. Ainda tem os casados que sentem culpa depois, eles são ruins também. Jessie quase morreu por causa de um na semana passada.
Não é como se os problemas acontecessem sempre, mas eles acontecem e não são todas as pessoas que são gentis.
Assim que termino de passar o pó no meu rosto, escuto batidas na porta.
— Pode entrar — digo. A porta se abre e vejo Kaique. O menino de treze anos que vive para passar recados para nós aqui.
— Robyn, ele chegou.
— Estou descendo — digo e o garoto concorda. Ele sai do meu quarto fechando a porta.
Harry Styles ficou fora do país devido a negócios por quase um mês. Ele é um homem poderoso que herdou tudo do pai. Ele deveria me esquecer logo, mas não faz isso. Aparece aqui corriqueiramente e principalmente quando chega de viagens longas. Só que hoje, ele veio cedo.
Eu coloco um vestido com mangas curtas e uma rasteirinha Meu cabelo estava molhado porque já havia tomado banho então deixo ele solto. Desço as escadas, sigo até a varanda e encontro o homem no corredor observando o jardim da Casa Anjo Vermelho. Ele está usando terno e imagino que tenha chegado agora.
Eu fico ao lado dele.
— Bom dia, Harry.
— Bom dia, Robyn. Sentiu minha falta?
— Não, poderia ter demorado mais dois dias.
— Ótimo, três meses atrás você disse uma semana — olho para ele, e, um sorriso nasce no seu rosto, deixando-o simpático.
Observo Natalie e Maevee, elas passam por mim e Harry com um olhar nada agradável. Certo, elas não me odeiam, eu acho. Só que o moreno a minha frente ama me dá presentes e eles são caros. Muito caros. Logo, algumas mulheres daqui não gostam de me ver com ele, mas eu não consigo mudar isso.
— O que aconteceu com seu braço? — O moreno afasta a alça do meu vestido e eu faço careta quando ele toca onde meu braço bateu.
Eu disse, drogados abandonados são os piores.
— Eu estou bem, não precisa de preocupar — garanto e ele fica me olhando com atenção. A mão dele toca meu rosto, um pouco abaixo do olho e do hematoma que está lá também. Faço careta.
— Robyn, quem fez isso?
— Ninguém que importa. Eu estou bem — garanto novamente, o moreno, entretanto, continua inconformado.
— Conversei com Madame Amber, ela deixou você ficar essa semana comigo. — O rapaz muda de assunto e eu suspiro.
— Harry.
— Uma semana, Robyn. Já está feito, já paguei e você sabe das regras não pode dizer não.
— Você odeia ouvir um não.
— Odeio ouvir você dizendo não, quando quer dizer sim. Tem roupas para você lá, só precisa vir comigo. Tem até uma mesa de café da manhã nos esperando. — Nego um pouco com a cabeça.
Esse homem é incorrigível.
— Então o que estamos esperando? — sorrio um pouco.
{•••}
A cidade alta é um dos lugares agradáveis de Egan, ao menos esteticamente. Com uma urbanização verde, sistema de energia sustentável e tecnologia de ponta. Além do acesso facilitado a saúde, escola e outros serviços que acabam se tornando essenciais. Como um mercado enorme com todos os produtos que se precisa.
É de se imaginar que um lugar tão bom assim seja para poucos e realmente é. Egan é um país dominado, fruto da colonização, mas que foi governado por piratas, consegue imaginar?
Séculos atrás, os piratas se recusaram a se ajoelhar a coroa de reis que nunca viram ou se importaram para esse lugar e só ligavam para os lucros que conseguiam da mão de obra escrava. Então, eles entraram em uma luta. Uma luta justa, diga-se de passagem, mas quando conseguiram a independência, a selvageria tomou conta do lugar. Essa é a parte rica do país, a parte pobre é onde os descendentes de quem realmente construiu esse país vivem.
Onde as plantações de algodão, tabaco, indústrias de produção, o tráfico e a violência ficam. Onde eu nasci e fiquei até meus quinze anos. A minha mãe estava muito doente, quase morreu de uma endemia que atingiu a Cidade Baixa. Meu pai me vendeu, não queria perder o amor da sua vida e nem passar fome com ela, muito menos me deixar com fome.
Disse que seria melhor se eu ficasse na Cidade Alta. Eu cheguei na Casa do Anjo Vermelho aos quinze anos de idade, algumas pessoas dizem que um pedaço da Cidade Baixa vive lá. Não é mentira, mas não é a parte boa.
Cheguei virgem aqui. Eu não fazia ideia de como era valiosa até participar de um leilão. Eu fui bem vestida, passaram maquiagem em mim e me fizeram sentir linda.
Senhor Styles pagou caro por mim, de alguma forma aquilo parecia bom. Contudo, o motorista dele disse que eu já era a terceira prostituta que ele tentava levar ao filho e o que aconteceu com as outras duas não foi bom. O sentimento de entusiasmo acabou e o medo cresceu. Foi horrível e eu não queria castigos logo no meu primeiro dia. Tinha que me sair bem aqui para conseguir ajudar meus pais, essa era a única coisa que pensava.
Quando eu abri a porta do quarto encontrei um garoto como eu. Entretido em um livro que eu não sabia ler nenhuma palavra. Então, ele leu para mim e no dia seguinte, ele se cortou. Molhou o pano de sangue. Assim, o pai dele acreditou que o garoto dele finalmente virou um homem.
Pensei que nunca mais fosse vê-lo depois daquele dia e demorou três anos para voltar a vê-lo. Passamos a nos ver muitas vezes por semana, até que em uma dessas noites, houve a primeira vez, sem pressão de ninguém e foi bom.
Acabou que ele nunca mais parou de voltar e isso já faz dois anos. Agora vou passar a semana na casa dele.
Harry Styles é louco, mas poderoso também, ele sempre tem o que quer, ainda sim, sempre parece que falta algo. Não posso julgá-lo, também parece que sempre falta algo para mim também, a diferença é que eu não tenho tudo que quero.
— Você realmente se desliga de tudo quando entra no seu mundinho, Baby — Harry diz, viro meu rosto olhando-o. O carro já parou e estamos na sua imensa mansão. Ele sorri para mim e deixa a mão na minha coxa. — Venha.
Aceno com a cabeça e saio do carro, logo em seguida o moreno também sai e assim que entramos na casa fomos recebidos por Niall.
Niall é basicamente o braço direito de Harry, um jovem loiro simpático que trabalha aqui. O loiro de olhos azuis olha para o moreno e depois para mim.
— Robyn, quanto tempo! — diz sorridente.
— Olá Niall — sorrio. — Como está?
— Estou bem e você?
— Também estou bem.
— Mentira, alguém bateu nela. Chame Senhora Tina para cuidar dela— o moreno diz e eu o olho repreensiva. Ele levanta as sobrancelhas para mim e eu nego com a cabeça.
— Pode deixar, Harry. Também é bom te ver de volta, você não faz ideia de como Louis fica rabugento quando você está longe — Niall fala e o homem dos olhos verdes ao meu lado sorri.
Louis será o futuro dono das fazendas de algodão da Cidade Baixa, ele e Harry são grandes amigos. O moreno dos olhos azuis mais baixo que nós três aqui vive nessa imensa casa também. Digo, acho que como Harry ele não gosta muito do que herdou, não da parte da do luxo, tenho certeza que amam isso. A questão é o custo que veio com tudo isso que eles conquistaram apenas por serem filhos de pessoas poderosas. Dessa forma, quase todos os dias Louis vem para cá e passa o dia aqui.
— Louis está aqui? — Harry pergunta curioso, entramos na casa e Niall nega balançando a cabeça.
— Mas virá assim que souber que chegou. Junto do pai, a revolta da Cidade Baixa piorou e houve bombardeios três dias atrás.
Pois é, nada se ganha sem luta. As pessoas da Cidade Baixa vem lutando a dois anos para ter algo bom, mas sem grandes vitórias, apenas muito sangue. Ainda sim, não desistiram.
— Certo.
— Vou chamar Tina — O loiro avisa.
Harry e eu seguimos até a cozinha e eu sinto no corredor o cheiro de torta de maçã, aquilo faz minha barriga roncar e eu poderia devorar essa torta inteira agora. Assim que chegamos na cozinha, eu vejo que meu olfato estava certo, pois realmente tem uma torta de maçã na mesa.
— Você ainda gosta de torta de maçã, não é? — O moreno pergunta atrás de mim. Viro-me o olhando.
— É bom. — Um sorriso pequeno forma-se nos lábios dele. Nós nos sentamos nas cadeiras, uma de frente a outra e começamos a comer. Algumas empregadas estavam na sala de refeições, mas Harry as dispensou.
Havia tudo na mesa e elas não eram necessárias, às vezes eu me esqueço do quanto Harry Styles é rico, até vir para essa casa enorme com empregados para todos os lados. O pai dele morreu recentemente, mas ele ainda não assumiu totalmente as terras de tabaco que tem na Cidade Baixa. Seu avô está vivo, então o moreno a minha frente tem algumas coisas milionárias para herdar ainda. Muitas coisas, na verdade, e isso é assustador, um homem sozinho cheio de poder. Ainda sim, quando ele me olha, tudo que eu vejo é brilho em um olhar verde intenso. Ele parece ingênuo demais para tudo isso, mas a verdade é que eu não estou aqui quando ele trabalha, talvez ele se torne um demônio no trabalho e um anjo na cama. Ainda não tenho todas as respostas, estou apenas enchendo minha barriga com uma torta de maçã.
Eu já estou no meu terceiro pedaço, enquanto o moreno teve que se retirar para atender uma ligação, isso já tem alguns minutos. Uma das empregadas disse que Senhora Tina já chegou, também perguntaram se eu queria que preparassem meu banho, mas eu já havia tomado um banho assim que acordei. Não era necessário, ao menos por hora, afinal eu estou limpa.
— Vou ter que ir ao centro comercial — Harry avisa entrando na cozinha. Olho para ele enquanto mastigo o pedaço de torta. — Deixe um pedaço para mim quando eu voltar. — Ele beija o topo na minha cabeça.
— Se cuida, Harry — murmuro.
— Niall disse que o Payne irá fazer uma festa, você ainda gosta de ir?
— Sabe que a resposta é sim.
— Certo, devo chegar à noite quando estiver perto do horário da festa.
— Vou estar pronta ou podemos nos arrumar juntos. — Ele sorri maroto para mim.
— Até breve, Baby.
Ele sai e eu termino de comer o pedaço da torta de maçã e estava pronta para comer outro pedaço quando eu sinto um enjoo. Que merda.
Eu corro para o banheiro e vomito o café da manhã que minutos atrás eu estava amando, mas agora eu estou odiando porque está queimando minha garganta e fazendo meus olhos lacrimejarem. O meu coração está acelerado e eu odeio essa sensação. Só que vem piores e eu estou apenas adiando elas.
Quando eu sinto que meu estômago se esvaziou, acabo me sentindo bem e sem vontade de vomitar. Lavo minha boca e quando olho para o espelho me assusto com a Senhora Tina me olhando na porta.
— Tina! — digo brava e coloco a mão no peito. — Assustar as pessoas é feio.
— Ele sabe que está grávida?
— Eu não tenho certeza disso. Não quero ter certeza — respondo baixinho e olho para minhas mãos na pia.
— Vem, vamos cuidar desses hematomas feios, criança.
Eu limpo minha boca mais uma vez e vou até o quarto. Senhora Tina é a curandeira, ela cuida de várias famílias e em especial, ela fez o parto do Harry, de Louis e de outros garotos ricos da Cidade Alta. Além de ajudar famílias com enfermidades, machucados e essas coisas. Ela é uma senhora de cabelos longos e brancos, com olhos azuis pequenos e um sorriso simpático no rosto, mas ela tem uma mão forte e puxa a orelha quando precisamos. É uma mãe, mesmo nunca tendo escutado ela falar sobre seus filhos.
Sento-me na cama e a mulher abre a bolsa pegando a pomada.
— Não quer ter certeza se está grávida? Porque pode ser de outro homem? — Senhora Tina pergunta. Ela também é bem enxerida, mas eu não vou ignorar essas perguntas. Digo, venho escondendo isso de tudo mundo tem quase um mês. E talvez eu esteja mesmo grávida.
— O contrário — respondo com vergonha, faço careta quando a mais velha passa a pomada no meu rosto em cima do hematoma.
— Ele assumiria mesmo se não fosse dele, aquele garoto te ama, Robyn — diz e eu suspiro. Ele não deveria.
— Eu não posso ter um bebê.
— Não pode ter um bebê ou não pode ter um bebê dele? — Mordo meus lábios. — Querida, ele pode tirar você de lá. Só basta você pedir.
— Eu não posso sair enquanto não tiver certeza se meus pais estão bem — digo e sinto vontade de chorar.
Marcus sabe onde eles estão e ele não é meu fã. Digo, eu roubei pérolas dele quando estava na Casa, eu era uma adolescente idiota e queria fugir. Acabei criando uma dívida, porque enquanto fugia eu perdi as pérolas em um rio.
Só consegui quitar as dívidas por causa de Harry. Ele pagou para mim, tudo e mais um pouco. Marcus sabe onde meus pais estão, e por punição não diz. Mas ele me prometeu que manda parte do dinheiro que eu ganho para eles e eu acredito nisso, porque é a única coisa que eu tenho.
— Marcus diz que sabe onde eles estão, querida. Você não pode ter certeza se ele realmente fala a verdade. — A mais velha passa a pomada no meu braço e eu suspiro.
— Tem essa revolta e eu não posso arriscar perdê-los por um descuido, não posso sair de lá sem garantir que eles estejam bem. Eu sei que eu tive que vir para cá porque não tínhamos nada, Tina. Eu só quero encontrá-los e trazê-los para cá, seguros. Só que enquanto eu não souber, não posso fechar meus olhos e ir com Harry até o final do mundo. — Algumas lágrimas caem no meu rosto, limpo-as e fico olhando para o pingente da minha pulseira. — Eu não posso estar grávida, mas eu realmente posso estar.
— Ele vai mover montanhas por você. — A mais velha limpa meu rosto. — Você sabe disso. — Ela pega o teste de gravidez da bolsa e me entrega. — E você precisa ter certeza sobre isso, Robyn. — Olho para o teste. Eu suspiro.
Eu tenho que ter certeza disso. Mesmo sabendo que o resultado desse teste seja uma tragédia.
Continua...
Notas: Olá meus amores as postagens estão começando um pouquinho antes do previsto. Quem amou?
Bem, o que acharam do primeiro capitulo? Robyn tá prenhada mesmo?
Vou tentar postar nos finais de semana, mas nada garantido, pode ser que demore mais um pouquinho, mas vocês preferem sábado ou domingo?
Espero que tenham gostado desse primeiro capítulo. Vejo vocês em breve. Anna. Xx
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