plans
June, 2019.
S/n tinha muito planos, e todos eles tinham início em New York.
Ela ainda vivia com os pais em Atlanta, em uma casa comum e em uma família sem muito drama. Namorava uma das garotas mais bonitas da escola, trabalhava em um café durante às tardes para juntar dinheiro e pensava todo dia em como queria chegar em New York City e dar início à aqueles que talvez seriam os melhores anos da vida dela - ao menos ela esperava que fossem.
New York City era outro mundo. A cidade gritava liberdade - e isso era tudo o que S/n queria.
Quando ela comentou que tinha sido aceita na NYU, Amanda - a namorada dela - foi a primeira a se animar. S/n tinha deixado claro que uma das aplicações que tinha enviado era justamente para a faculdade de New York, e enquanto os pais dela esperavam que as da Geórgia talvez bastassem, S/n já estava completamente decidida.
Ela foi aceita na GSU, mas a NYU era mil vezes mais atrativa.
Por isso ela pegou o dinheiro que tinha guardado, achou um lugar simples em Brooklyn Heights e conseguiu carona com uma garota que mal conhecia - apenas porque parecia o jeito mais barato de chegar em New York, levando em conta que ela não podia se dar ao luxo de gastar tanto no trajeto. Ela não estava indo morar num cubículo de dois cômodos atoa.
Em relação a viagem, foi Amanda quem organizou tudo e fez a conexão entre S/n e uma de suas melhores amigas.
Sadie.
As duas frequentaram algumas classes juntas e durante os últimos anos do colegial a amizade entre elas apenas cresceu. Sadie gostava mesmo de Amanda, elas saíam depois da escola e se divertiam sempre que conseguiam.
Ok, talvez falar que elas eram melhores amigas fosse um pouco demais mas durante aqueles quatro anos no High School as coisas tinham sido intensas e no fim de tudo, todo mundo meio que tinha essa falsa de impressão que os amigos eram grandes amigos e todos continuariam se falando para o resto da vida.
Isso talvez acontecesse - mas provavelmente não aconteceria.
Quando S/n começou a namorar Amanda, já no último ano do colegial, ela e Sadie viviam se desencontrando - era estranho, mas nenhuma das duas parecia realmente preocupada com isso. Elas tinham Amanda em comum e apenas isso.
Nada além disso.
Não estavam nas mesmas classes, não iam para os mesmo lugares... Nunca se viam.
Mas então a escola chegou ao fim, S/n disse o que pretendia fazer e Amanda logo pensou em Sadie, porque os planos da garota não eram tão diferentes.
S/n não sabia muito sobre Sadie, mas sabia que ela estava indo de carro para New York para estudar - e levando em conta que isso era o que ela também estava fazendo, parecia o suficiente no quesito informação.
— Eu vou sentir saudades — Amanda disse enfiando as mãos por dentro do cardigan de S/n, arrastando a palma na extensão das costas e então parando na metade. Ela sorriu de leve e se inclinou, beijando S/n pelo que parecia a terceira vez apenas naquele espaço de cinco minutos.
— Eu também vou sentir saudades — S/n disse quando Amanda se afastou. Ela gostava da garota, talvez não tanto como deveria, mas gostava. E com dezoito anos apenas gostar já era o bastante - ela não estava procurando o amor da vida dela.
— Promete que vai me ligar.
— Claro que eu prometo. Todos os dias.
— Todos os dias — Amanda sorriu e voltou a beijar S/n.
Dirigindo um Buick Verano, Sadie virou na rua de Amanda. Com recém completados dezessete anos, ela era extremamente bonita, ainda que não de um jeito óbvio.
E ela definitivamente chamava atenção.
Sadie parou o carro em frente a casa de S/n, e esperou até que ela e Amanda terminassem o que estavam fazendo.
Mas o beijo não parecia perto de acabar.
Elas estavam mergulhadas no próprio mundo em uma demonstração de carinho que talvez fosse um pouco desnecessária - Sadie revirou os olhos com aquilo.
Ela limpou a garganta - só que ela estava consideravelmente longe da varanda, e S/n tampouco Amanda ouviu. A garota mudou a posição no carro, buscando abrir a porta mas o movimento saiu completamente errado e ela encostou sem querer - ou talvez um pouco por querer - na buzina do carro, que soou extremamente alta assustando S/n e Amanda.
Amanda desviou a atenção para Sadie.
— Oh. Hey, Sadie! — ela acenou e quebrou o contato com S/n. Ela parecia muito animada — Essa é a S/n. S/n Hart. S/n, essa é a Sadie — ela as apresentou.
S/n alcançou a mala média que levaria e ajeitou a mochila nos ombros, ela então seguiu com Amanda na direção de Sadie que saiu do carro para cumprimentar S/n e Amanda direito.
Ela é bonita, foi a primeira coisa que S/n pensou.
Ela talvez não devesse mas não conseguiu não reparar na garota. No rosto dela, os olhos... O cabelo caindo pelos ombros e o sorriso calmo no canto dos lábios.
Ela é realmente bonita.
S/n estendeu a mão assim que chegou perto de Sadie e a cumprimentou com um aperto rápido. A situação era meio estranha, para ambas as partes.
— Você quer dirigir o primeiro turno? — Sadie perguntou.
— Não, não... Você já veio dirigindo, você pode começar.
S/n pediu para que Sadie abrisse o porta-malas e com a ajuda da namorada colocou o que levaria ali. Quando ela terminou, se voltou para a garota e a puxou para um último abraço.
— Me liga — Amanda pediu.
— Eu vou te ligar assim que eu chegar lá.
— Me liga antes disso.
— Eu te ligo no caminho.
— Eu te amo — Amanda disse - e não era a primeira vez que ela falava aquilo.
— Eu também — S/n devolveu do jeito dela e elas se beijaram naquela que seria a última vez por pelo menos algumas semanas.
Sadie já estava no carro e ela viu pelo retrovisor que o beijo tinha se aprofundado - como antes - então sem pensar duas vezes ela apertou na buzina mais uma vez porque ela não estava nenhum pouco disposta a aguentar mais uma sessão de beijos entre as duas garotas que talvez fossem durar cinco minutos com a impressão de serem duas horas.
S/n encarou Sadie pelo retrovisor e a mais nova disse um "foi mal".
Mas não tinha sido.
Ela não estava se importando em ter interrompido o momento.
— Eu tenho tudo planejado — S/n disse quando entrou no carro e observou Sadie seguir pelas ruas de Atlanta. Ela suspirou com calma e se virou, se inclinou em direção ao banco de trás para alcançar a pequena lancheira com frutas que estava ali e de lá tirou algumas uvas.
A viagem tinha acabado de começar.
— Bem, é uma viagem de 14 horas, o que dividindo nos dá sete turnos de duas horas cada ou então a gente pode apenas dirigir até aonde aguentarmos. Aceitas uvas? — ela ofereceu uma única uva na direção de Sadie.
— Não, mas obrigada. Eu não gosto de comer entre as refeições.
S/n assentiu e levou a uva até a boca. Ela mastigou e cuspiu a pequena semente na direção da janela, que por sinal não estava aberta - mas S/n mal tinha reparado nisso.
Ela era bem desligada, e ficar por perto por dez minutos era o suficiente para que Sadie conseguisse entender isso.
— Eu vou abaixar a janela — ela comentou e murmurou um "desculpa" logo em seguida — Eu espero que essa não seja uma daquelas viagens com silêncios longos e constrangedores.
— É, eu também — Sadie concordou.
Um silêncio longo e extremamente constrangedor se seguiu.
Claro.
Até que S/n o quebrou, porque ela odiava aquilo e se pudesse falar durante o trajeto todo ela falaria.
— Por que você não me conta a história da sua vida?
— A história da minha vida?
— Nós temos 14 horas para matar até chegar em New York.
— A história da minha vida acaba antes mesmo de chegarmos a saída de Atlanta — Sadie foi sincera — Quero dizer, nada aconteceu ainda. É por isso que eu estou indo para New York
— Para que algo aconteça com você?
— Sim.
— E o que você vai buscar lá?
— Eu quero ser atriz.
— Ah, então você quer interpretar outras pessoas. Viver outras vidas, talvez mais interessantes que a sua — S/n disse num tom mais ácido.
— É um jeito de olhar as coisas — Sadie deu de ombros.
— Vamos supor que nada aconteça com você. Vamos supor que você viva o resto da sua vida e nada aconteça e você não conheça ninguém e você não se torne ninguém e então você morra em um apartamento minúsculo em New York, em uma daquelas mortes que ninguém nem se liga e só duas semanas depois alguém sinta o cheiro pelo hall do apartamento e pense "ah, alguém morreu." — S/n disse de uma só vez, com o olhar focado na estrada.
Sadie desviou o olhar para a garota e reparou como ela parecia perdida após falar aquilo.
Com quem eu estou viajando?, ela se perguntou.
— Amanda mencionou que você é um pouco estranha.
— Foi o que atraiu ela para mim — S/n disse.
Não tinha sido. Ela e Amanda tinham começado a conversar porque estavam no mesmo grupo de estudos, e então a garota achou S/n engraçada - foi isso que a atraiu.
Bem simples.
— A sua estranheza?
— É. Você não é estranha de vez em quando? Tipo, sei lá, eu compro livros e então leio a última página deles para que eu saiba como acaba antes de começar. Isso, minha querida, é ser estranha.
— Isso é só idiota, não significa que você é "intensa" ou coisa assim, você sabe, né!?
— Você já pensou sobre a morte? — S/n perguntou cortando Sadie completamente e a ruiva se segurou muito para não revirar os olhos.
Mas ela respondeu - ou pelo menos tentou.
— Sim?
— Claro que você já pensou... Bem, eu passo horas e dias pensando sobre isso-
— E você acha que isso é legal?
— Olha, é só... Você sabe, quando alguma merda acontecer eu vou estar preparada e você não, é só o que eu estou dizendo.
— É, quando "alguma merda acontecer" enquanto isso você vai passar a sua vida esperando por isso? A morte? — Sadie perguntou mas não recebeu uma resposta, então ela continuou — O que você vai fazer em New York?
— Eu vou estudar, provavelmente vou virar advogada e ganhar dinheiro o suficiente para comprar um lugar legal no SoHo.
— Esse é o seu plano?
— É um bom plano — S/n deu de ombros — E é bem alcançável.
— Você vai ser uma advogada boa — Sadie comentou e S/n cerrou os olhos estranhando o comentário — Do tipo que faz testamentos, sabe? Você seria perfeita explicando para as pessoas que elas vão morrer — a mais nova continuou e S/n soltou esse risinho anasalado.
— É — ela desviou o olhar para encarar Sadie e observou o perfil da garota e um sorriso transbordando ironia no canto da boca dela — Eu seria mesmo.
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